sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Portugal. FANTASMAS DO PASSADO



Pedro Adão e Silva* - TSF, opinião

"De forma distinta, os principais protagonistas políticos portugueses encontram-se presos a fantasmas do passado, dos quais têm dificuldade em libertar-se."

Numa notável conversa com a escritora Marilynne Robinson, publicada no New York Review of Books, o Presidente norte-americano sublinhava que a "América é famosa por ser "a-histórica". Essa é uma das nossas forças - esquecemo-nos das coisas. Quando pensamos noutros países, continuam a debater argumentos com 400 anos, e com consequências sérias" (parte 1 e parte 2).

Claro está que Barack Obama está a referir-se a clivagens profundas em muitas sociedades, que se reproduzem ao longo do tempo, e que marcam de forma violenta o presente. Não é esse, claramente, o caso de Portugal.

Ainda assim, o ponto permite-nos olhar para o atual contexto político e em particular para os discursos proferidos na tomada de posse do novo Governo. De forma distinta, os principais protagonistas políticos portugueses encontram-se presos a fantasmas do passado, dos quais têm dificuldade em libertar-se.

Quando Passos Coelho, esta sexta-feira, sublinhava que "mesmo nestes tempos difíceis, praticámos o diálogo e o compromisso" e que "esse sentido do compromisso e da negociação será agora renovado e fortalecido", as palavras chocam com a realidade e o passado é um espetro que fragiliza a promessa de Passos Coelho. Depois de quatro anos de postura adversativa, em que as pontes com os partidos da oposição foram quebradas (logo na primeira avaliação da aplicação do memorando de entendimento), o mesmo tendo acontecido com os parceiros sociais, é pouco ou nada credível que os próximos anos possam ser diferentes. É difícil acreditar que Passos Coelho será um primeiro-ministro diferente daquele que foi até agora.

António Costa tem, também, fantasmas do passado a persegui-lo, ainda que de natureza muito diferente. Num momento em que uma alternativa que ofereça estabilidade depende da capacidade de entendimento entre os partidos de esquerda, há dúvidas legítimas sobre a consistência desse entendimento. 40 anos de conflitualidade e uma quase-impossibilidade de comunicação à esquerda, não podem deixar de se projetar sobre o futuro. É possível acreditar que o diálogo à esquerda será diferente do que foi até aqui?

Poderíamos, a este propósito, ficar convencidos que o Presidente ainda em exercício não tem problemas com o seu passado. Nada de mais errado. Hoje, por exemplo, foi penoso ouvir Cavaco Silva a auto-citar-se para afirmar que "a ausência de um apoio maioritário no Parlamento não é, por si só, um elemento perturbador da governabilidade. A ausência de maioria não implica o adiamento das medidas que a situação do País reclama". Estas palavras chocam com os sistemáticos apelos que Cavaco Silva fez no último par de anos em torno da necessidade de um governo com apoio maioritário (basta recordar a comunicação ao país de 22 de Julho, dia em que convocou as legislativas) e, pior, estão aí para mostrar que o país não aprendeu nada com o que se passou entre 2009 e 2011.

No fundo, para ultrapassarmos o bloqueio político em que nos encontramos, de uma forma ou outra, temos de aprender com o exemplo norte-americano. O desafio dos próximos tempos é tornarmo-nos "a-históricos" e aprendermos, coletivamente, a esquecer os fantasmas do passado. Quem o fizer com maior mestria e de forma mais convicente, assumirá a liderança política do país.

*Politólogo e comentador do Bloco Central TSF

Portugal. Carlos César: diálogo à esquerda "será conclusivo quando for finalizado"



O líder parlamentar do PS responde às declarações de Jerónimo de Sousa, sobre conversas "inconclusivas", com a garantia de uma "procura de convergência". Compromissos internacionais são para cumprir de acordo com programa socialista. César subscreve algumas das "considerações" de Cavaco Silva.

Carlos César, líder da bancada socialista, diz desconhecer, de forma detalhada, as declarações do secretário-geral do Partido Comunista - que admitiu que as negociações foram, até ao momento, "inconclusivas" -, mas adianta, no entanto, que o PS está a desenvolver um "trabalho de procura de convergência, que será conclusivo quando for finalizado".

Carlos César diz que, por agora, as conversas tendo em vista a criação de uma alternativa de governo estão a "correr bem".

E acrescenta: "O PS não deixa o país sem governo e, portanto, se este governo for derrubado, e tudo indica que sim, será substituído por uma alternativa com apoio parlamentar e uma alternativa estável e duradoura".

"Uma coisa é cumprir e outra é estar de acordo"

Depois de ouvir o presidente da República insistir na necessidade de Portugal mostrar "fidelidade" aos compromissos internacionais, o líder parlamentar do PS e presidente do partido afirmou que os socialistas se comprometem a cumprir esses compromissos, mas que, "uma coisa é cumprir" e que outra, diferente "é estar de acordo".

Carlos César garante, no entanto, que nas conversas à esquerda é ponto assente que a questão europeia e dos compromissos internacionais vai ser seguida de acordo com o programa eleitoral do PS.

"Em matérias de compromissos internacionais e europeus, o que releva [nas negociações] é aquilo que resulta do programa de Governo do PS. E nisso somos claros. Não recebemos lições, no nosso país, sobre o nosso compromisso europeu", afirma Carlos César.

Em declarações na Assembleia da Republica o líder parlamentar do PS disse ainda concordar com algumas das "considerações" de Cavaco Silva sobre as "fragilidades" do país, do ponto de vista económico, social e financeiro.

Carlos César entende que as palavras do chefe de Estado contrastam com a "promessa do amanhecer feito, durante a campanha, pela direita".

O dirigente socialista referiu-se ainda ao executivo de Pedro Passos Coelho, que hoje tomou posse, como tendo um "potencial de instabilidade", salientando que "é importante ter noção de que o nosso país sem estabilidade não tem governabilidade".

João Alexandre – TSF – foto Manuel de Almeida / Lusa

Portugal: A ESQUERDA TAMBÉM APRENDE



O PS começou a aprender que quanto mais se parecer com a direita, mais os cidadãos se identificarão com as alternativas à esquerda.

Boaventura de Sousa Santo – Carta Maior

Tudo leva a crer que a esquerda portuguesa começou a entender que o ciclo político iniciado com a Revolução de 25 de Abril de 1974 está a terminar e que todos juntos talvez sejam suficientes para inverter o processo de decadência estrutural que a coligação de direita iniciou com a ajuda da troika. No sentido que lhe atribuo, decadência significa divergência progressiva, em vez de convergência progressiva com o rendimento médio europeu e os indicadores sociais que lhe estão associados. A prazo, se houvesse convergência, os jovens portugueses teriam tanta necessidade de emigrar como os jovens alemães ou finladeses. Está em curso o processo oposto.
 
Não é ainda claro o que cada partido aprendeu. O Partido Socialista (PS), com 32% dos votos contra 36% da coligação de direita, começou a aprender que quanto mais se parecer com a direita menos a direita precisa dele e menos precisam dele os cidadãos e cidadãs que, inconformados com as políticas de direita, começam a identificar alternativas à esquerda. Se aprender esta lição, terá igualmente que aprender que vai ser necessário organizar alguma rebeldia a nível europeu, com sabedoria e aliados europeus. Sem renegociação/restruturação da dívida e com o actual Tratado Orçamental, a decadência é fatal com ou sem exercícios fantasiosos de macro-económia. Aprenderá?  Não esqueçamos que a ignorância estrutural no PS é muito alta. Só isso explica que Francisco Assis, dirigente da ala direita do partido, esteja à espera que o partido lhe caia nas mãos. Se isso acontecer, terá o triste privilégio de ser o coveiro do PS.
 
O Bloco de Esquerda (BE), com 10% dos votos, e o Partido Comunista Português (PCP), com 8%, (ambos a crescerem mas o BE a crescer dramaticamente e a ultrapassar pela primeira vez os comunistas) aprenderam que os portugueses lhes deram demasiados votos para poderem ser apenas votos de protesto. Durante a campanha eleitoral ouviram muitas vezes o apelo dramático: “tirem esta direita do poder”. Os portugueses querem soluções governativas de esquerda e contra a austeridade. Mas para poderem fortalecer uma alternativa política, os dois partidos deveriam entender-se entre si e não apenas cada um deles com o PS. Aqui a história pesa muito. 
 
O novo Partido Livre (PL), constituído em grande medida por  dissidentes do BE, não conseguiu eleger ninguém. Mas com o PL a esquerda também aprendeu. O Livre foi uma presença talvez passageira mas salutar no panorama político português porque introduziu  duas inovações, uma programática e outra organizativa. No plano programático, foi a primeira força política, depois do  25 de Abril, a pôr a unidade de esquerda no centro da sua agenda política, uma unidade assente em bases programáticas credíveis. Foi a única força política que abraçou convictamente a democracia directa e participativa na eleição dos seus candidatos e se articulou de modo não proprietário com movimentos sociais autónomos, como foi o caso do Movimento de Cidadãos por Coimbra (CPC). Em geral, e salvo situações de total descrédito das forças políticas dominantes (como actualmente em Espanha), as grandes inovações políticas não são bem acolhidas em processos eleitorais, dominados por rotinas, lealdades e aparelhos. Mas o facto de não beneficiarem quem as introduz não quer dizer que se percam. A inovação programática introduzida pelo Livre foi decisiva para a mudança estratégica (e não apenas táctica, ao que parece) do BE no sentido de, já na campanha eleitoral, se abrir a uma aliança com o PS que no passado parecia ser o seu inimigo principal. Trata-se de uma aliança condicionada por linhas vermelhas, mas, mesmo assim, uma disponibilidade nova.
 
O Livre conseguiu impor parte da sua agenda, mas poderá aprender com a sua vitória? Para isso, deveria equacionar dissolver-se em nome da unidade de esquerda por que lutou desde que se realizassem as seguintes condições: o BE mostra que a unidade de esquerda é, para os tempos que se aproximam, a melhor decisão estratégica; adopta a inovação organizacional do Livre, a democracia directa no interior do partido, acabando de vez com vanguardismos, leninistas ou não; mostra-se disponível para acolher os activistas do Livre, a grande maioria deles ex-militantes ou ex-simpatizantes do BE, se estes assim o entenderem; a direção do Livre põe à discussão nas suas bases, votantes e simpatizantes a hipótese da dissolução nas condições referidas, e o voto é pela dissolução. Qualquer que seja o resultado, será um momento alto de pedagogia política de esquerda. Se a decisão for a não dissolução, o Livre terá um mandato mais forte para continuar. Se o Livre se dissolver, os movimentos sociais que se articularam com ele nada têm a perder. O CPC, por exemplo, continuará a sua luta por resgatar Coimbra das oligarquias políticas medíocres e corruptas que a têm destruído. Em próximos períodos eleitorais serão os partidos a necessitar do CPC, e não o contrário. 

Portugal. A REAÇÃO DA OPOSIÇÃO À TOMADA DE POSSE DO GOVERNO A CURTO PRAZO



"Em breve, este Governo empossado será substituído"

O XX Governo Constitucional tomou posse esta sexta-feira no Palácio da Ajuda, em Lisboa.

O líder da bancada parlamentar do PS, Carlos César comentou o facto de a coligação Portugal à Frente (PàF) ter assumido funções esta sexta-feira.

"O PS tem consciência da situação que o país hoje atravessa. E, por isso, não pode deixar de subscrever algumas considerações feitas pelo Presidente da República. Desde logo o reconhecimento das fragilidades económicas, sociais e financeiras que o nosso país atravessa que contrastam com a propaganda eleitoral da Direita", afirma.

Carlos César diz ainda concordar com o discurso de Cavaco Silva quanto aos compromissos europeus. "Não deixamos também de subscrever a ideia no que concerne à necessidade do Governo que vier a ser constituído estar em compromisso com os ideais europeus", assegura.

"O nosso país sem estabilidade não tem governabilidade", garante.

Para o socialista, "o Governo que hoje foi empossado tem um potencial de instabilidade e tem o vírus da sua incapacidade de promoção de uma maioria parlamentar".

Relativamente ao acordo que o PS tem vindo a discutir com a Esquerda (PCP e Bloco de Esquerda), Carlos César explica que as negociações ainda estão a decorrer. "Temos vindo a trabalhar na existência de um acordo que garanta uma maioria estável".

"Aquilo que hoje posso dizer é que os esforços que temos vindo a desenvolver estão a caminhar bem. Em breve, este Governo empossado será substituído. Muito em breve teremos condições para recuperar a estabilidade política", admite.

"O PS não deixa o país sem governo e portanto, se este governo for derrubado será substituído por uma alternativa", remata.

Notícias ao Minuto

Cavaco fez "um louvor ao governo santo"

Presidente da República apelou ao diálogo do PSD/CDS com os restantes partidos.

Marisa Matias foi muito crítica em relação ao discurso do Presidente da República na cerimónia de tomada de posse do novo Governo.

A candidata à Presidência da República pelo Bloco de Esquerda assumiu que “o Presidente tem toda a legitimidade formal e política para dar posse a Passos Coelho, mas mais uma vez aproveitou esta ocasião para fazer um louvor ao governo santo”.

Desta forma, entende a bloquista que a função do “árbitro da democracia em Portugal, como é o caso do Presidente, seria perfeitamente dispensável”.

“Lamento que o Presidente tenha feito um discurso de costas voltadas para o país e os problemas concretos que os portugueses vivem”, acrescentou Marisa Matias, frisando que “a rejeição ou aprovação” deste Executivo não está nas mãos do chefe de Estado mas da Assembleia da República.

Notícias ao Minuto

Cavaco promove "discussão política alheada da realidade"

Para o líder parlamentar do PCP, as palavras de Passos Coelho no seu discurso de tomada de posse mostram que, quando o Governo cair, este tenciona culpar a Esquerda pelo seu fracasso.

João Oliveira que o discurso de Cavaco Silva durante a tomada de posse do novo Governo provam que a forma com que o Presidente da República encara as necessidades dos portugueses são uma "falácia".

"É cada vez mais clara a extensão e dimensão da responsabilidade [de Cavaco] pela instabilidade que criou no país ao decidir indigitar Passos Coelho para formar Governo", apontou o líder parlamentar do PCP.

"Aquilo que é preciso é uma solução que corresponda aos problemas dos portugueses e retire o país do afundamento em que se encontra", o que não pode ser dado por um Governo de Direita sem maioria absoluta, considera João Oliveira.

"Também remeter para uma referência em abstrato sobre compromissos internacionais [...] é procurar fazer uma discussão política alheada da realidade do pais", disse em declarações aos jornalistas no Parlamento.

Quanto ao discurso do primeiro-ministro hoje empossado prova que "a propaganda que o PSD e CDS quanto recuperação do país afinal era uma propaganda mentirosa" e que, "perante a seria probabilidade do fracasso" deste Governo, "Passos Coelho começa já a preparar a responsabilização de outros".

João Oliveira garante ainda que as negociações com o PS prosseguem sem "instabilidade nenhuma", mas diz que o seu partido não quer iludir ninguém quanto as suas "diferenças de perspetiva" com Partido Socialista.

Questionado sobre uma eventual preferência sobre uma moção de rejeição autónoma do PCP ou em conjunto com outras forças políticas, o líder parlamentar comunista disse apenas que "A durabilidade de qualquer solução governativa resulta das opções políticas que sejam feitas".

Notícias ao Minuto

Os Verdes acusam Cavaco de permanecer em "negação"

O partido Os Verdes acusou hoje o Presidente da República de permanecer em "negação" face ao resultado das últimas legislativas, reforçando os ecologistas a ideia de que "existem condições" para ser formado um executivo da iniciativa do PS.

"O Governo hoje empossado é um Governo que não tem condições para fazer passar um programa na Assembleia da República e, por isso, caso todos os partidos assumam as suas responsabilidades, este executivo será inviabilizado nos próximos dias 9 e 10 de novembro, dias para os quais está agendada a discussão do programa do Governo, sujeito a moções de rejeição já anunciadas", dizem Os Verdes em nota enviada às redações.

Face ao discurso hoje proferido por Cavaco, os ecologistas consideram que o Presidente da República "continua em estado de negação no que respeita ao resultado eleitoral que levou o PSD e o CDS a perderem a maioria" parlamentar.

"Por mais que o Presidente da República não se conforme com esta nova correlação de forças políticas entre os 230 deputados, a verdade é que ela existe e inevitavelmente determinará a XIII legislatura", prossegue o partido ecologista.

E continua a nota: "O PEV reafirma que existem condições para se formar um Governo da iniciativa do PS e para se criarem políticas em Portugal que contrariem o ciclo de empobrecimento, de precariedade e de desinvestimento fomentado pelo anterior Governo, políticas positivas para as quais os Verdes farão questão de dar o seu contributo, como é sua responsabilidade e compromisso sempre assumido".

Pedro Passos Coelho foi hoje empossado primeiro-ministro do XX Governo Constitucional, pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, durante uma cerimónia no Palácio da Ajuda, em Lisboa. Na cerimónia, o Presidente da República afirmou que o executivo de Pedro Passos Coelho tem plena legitimidade constitucional, reiterando que em 40 anos de democracia a responsabilidade de governar sempre coube a quem ganhou as eleições.

Nos próximos dias 9 e 10, o Governo apresentará o seu programa à Assembleia da República. PS, PCP e BE anunciaram a intenção de apresentar moções de rejeição que, a serem aprovadas, implicam a demissão do Governo.

Lusa, em Notícias ao Minuto

"Daqui a 15 dias és tu", disse Mesquita Nunes a João Galamba

PS foi representado na tomada de posse do novo Executivo por João Galamba.

Nos momentos que antecederam a cerimónia de tomada de posse do novo Governo, Adolfo Mesquita Nunes cumprimentou o socialista João Galamba à entrada do Palácio da Ajuda, em Lisboa.

O breve cumprimento entre ambos foi presenciado por uma jornalista da RTP, que reproduziu a frase dita pelo secretário de Estado do Turismo ao líder da bancada do PS.
“Daqui a 15 dias és tu que subirás esta escadaria”, terá dito Mesquita Nunes a João Galamba.

Perante a divulgação desta informação, fonte do CDS reagiu assegurando que a frase terá sido formulada em forma de pergunta: “Daqui a 15 dias és tu que subirás esta escadaria?”. Fica a dúvida.

Notícias ao Minuto

Angola. A DIPLOMACIA SADO-MASO DE PORTUGAL




José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

Numa rápida passagem por Lisboa, o jornalista Rafael Marques aceitou participar num debate no Jornal das Oito, da TVI, na passada terça-feira, que contou também com a participação de um diplomata português cujo nome não ficará na História. O referido debate, editado, ou seja, não publicado na íntegra, tem circulado nas redes sociais, por iniciativa de círculos ligados ao regime angolano, como exemplo de uma suposta “sova” que o “traidor” Rafael Marques teria levado do diplomata português cujo nome não será recordado.

Fui assistir ao debate. O que vi foi outra coisa. Na verdade, o que vi deixou-me um tanto espantado, não obstante conhecer bem a tradição de submissão da diplomacia portuguesa perante o regime angolano.

O diplomata cujo nome não ficará na História insinuou que a justiça angolana funciona melhor do que a portuguesa, comparando o caso dos jovens democratas presos, com o do antigo primeiro-ministro português, José Sócrates. O entusiasmo do diplomata português na defesa das posições do regime angolano era tal que parecia estar ali como representante desse mesmo regime. Quem escutasse o debate desconhecendo a nacionalidade e o passado do referido diplomata, que, ao que parece, foi Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, ficaria convencido que o mesmo trabalha para a Embaixada de Angola. O diplomata cujo nome não será recordado chegou ao ponto de afirmar que, cito, “as violações dos direitos do homem tratam-se no Comité dos Direitos do Homem das Nações Unidas, não se tratam no Rossio.”

Juro! O homem disse realmente aquilo.

Gravei a conversa e voltei atrás para confirmar: “As violações dos direitos do homem tratam-se no Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas, não se tratam no Rossio.”

Disse mais, a concluir: “A diplomacia não se faz com estados de alma.”

A mim parece-me que, muito pelo contrário, a diplomacia tem de ser exercida com toda a alma, em todos os seus infinitos estados. Uma diplomacia desalmada não é nem diplomacia – é pura hipocrisia. Relações assentes em pura hipocrisia nunca resistem à dura prova do tempo.

Muito mais grave é a ideia de que os cidadãos não têm o direito de protestar contra as violações dos direitos humanos, onde quer que estas ocorram. Têm o direito e têm o dever. Entre outros objectivos, tais protestos servem para despertar do seu sono letárgico aqueles políticos e diplomatas que, nos estados democráticos, deveriam estar a lutar pelos direitos humanos, em todas as instâncias apropriadas, ao invés de defenderem ditadores e ditaduras.

Nesta diplomacia da submissão, em tudo idêntica a uma relação sado-masoquista, Portugal apanha, pede desculpa e finalmente agradece.

Os resultados da diplomacia desalmada de Portugal estão à vista. Basta ler os editoriais anti-portugueses do Jornal de Angola. Cito apenas o primeiro parágrafo do mais recente de todos:

“A cruzada anti-angolana já não pode ser ignorada. O nível que atinge a ingerência portuguesa nos assuntos estritamente angolanos só encontra paralelo em duas ocasiões: quando Angola proclamou a sua independência em 1975 e quando se aproximava a derrota da UNITA de Jonas Savimbi, antes de 4 Abril de 2002. Nesses dois momentos, a raiva cravada e sempre latente na sociedade portuguesa, pronta a declarar-se à mínima oportunidade, manifestou-se de forma prejudicial para as relações entre os dois países.”

O que eu vi, portanto, foi um homem íntegro, um homem de que todos os angolanos se podem orgulhar, Rafael Marques, defendendo os interesses do seu país e do seu povo. E vi um diplomata cujo nome a História não guardará, a defender – contra os interesses de Angola e de Portugal – uma ditadura à beira do fim.

Angola. TALENTOS E PROGRESSOS



Jornal de Angola, editorial

Costuma-se  dizer  que  um país se faz com homens e livros.  A valorização     do capital humano é  nos dias de hoje uma  necessidade incontornável.  Sem capital humano de elevado valor não poderemos  atingir o progresso.

O investimento no sector da Educação constitui pois uma opção que  deve  ser uma  das grandes prioridades  de qualquer país que prossiga  o aumento do nível de desenvolvimento humano. O processo de construção de desenvolvimento passa por uma  educação de alto nível,  que proporcione  a formação  de quadros altamente qualificados.

Os países que  apostaram na   educação e  que valorizam os  seus quadros  têm tido resultados positivos ao nível dos  vários sectores  produtivos.  Com quadros bem formados, pode-se ter no país  boas empresas, públicas ou privadas, e boas instituições do Estado. 

Felizmente, já temos no país  mais de uma dezena de  estabelecimentos de ensino superior que todos os anos formam várias centenas de quadros. É certo que a quantidade de quadros formados e que saem anualmente das universidades e de outras escolas superiores é animadora, mas temos de  começar a olhar para a qualidade.

A qualidade do nosso ensino é assunto que continua a  suscitar   preocupação  das nossas autoridades, em particular as que estão ligadas à Educação. E ainda bem que há esta preocupação, uma vez que  o que  todos nós   pretendemos é que haja no país quadros nacionais capazes de resolver os problemas da sociedade. Que não haja apenas a preocupação de se formar   um grande número de quadros. Que as universidades e escolas superiores  tenham também  a preocupação de  licenciar para  o mercado de trabalho quadros bem formados  para  que estes tenha oportunidade de conseguir  emprego  e  ao mesmo tempo  contribuir para   potenciar em termos produtivos   vários sectores da actividade económica. A economia desenvolve-se também  se contar com  capital humano  que  seja  empreendedor e inovador.

É preciso pois que haja atenção em relação aos nossos talentos que saem  do ensino médio e superior. As empresas que são um  segmento indispensável para alavancar  a economia  devem estar também focadas nos melhores quadros que são formados  pelas  nossas instituições  de ensino  médio  e superior. É preciso que se crie a cultura de as empresas interagirem com os estabelecimentos de ensino  para  poderem, se for caso disso,   recrutar e seleccionar quadros  que possam contribuir para  o desenvolvimento de unidades  de produção  de diversa natureza.

Estamos envolvidos num processo de diversificação da economia, que  se deve fazer com quadros qualificados. Diversificar a economia implica a existência de quadros qualificados em várias áreas do saber, porque são vários os sectores produtivos a  desenvolver.  

É pois pertinente que se descubram e  se  valorizem os talentos que temos no país. A classe empresarial  deve ser activa neste processo de descoberta   de  talentos para que estes possam servir  a produção , em termos de qualidade e quantidade.

Era bom que as empresas  se  preocupassem em estabelecer  parcerias com estabelecimentos  de ensino, para que possam absorver os “cérebros” para  os seus projectos produtivos, o que resultaria  em  benefício para toda a sociedade.  Há no país pessoas com competências e habilidades capazes de ajudar empresas  a  ter bons resultados. 

Sabe-se que nem tudo vai bem no nosso ensino, em termos de qualidade, mas isso não deve impedir que as unidades produtivas estabeleçam uma cooperação com instituições escolares, com o  objectivo de se identificarem  os quadros que podem  ajudar a consolidar projectos empresariais.

Há hoje no país uma grande comunidade estudantil ao nível do ensino médio e superior, ao mesmo tempo que vai aumentando o número de empresas. As empresas, se tiverem  actividade produtiva,  podem tornar-se grandes empregadoras, com capacidade para admitirem quadros médios e superiores que se formam em diferentes regiões  do país. As instituições de ensino médio e superior devem estar atentas  ao processo de diversificação da economia  e estarem alinhadas com as necessidades   dos  nossos  sectores  produtivos.
As instituições de ensino não devem estar alheias ao que se passa ao nível da diversificação da economia. É o  sector do Ensino que vai proporcionar à  produção quadros para que sejamos auto-suficientes em vários  produtos, evitando-se a importação do que podemos  produzir internamente.

A auto-suficiência em banana é um bom incentivo para  produzirmos cada vez mais  noutras áreas. Somos sim capazes de produzir no nosso próprio país  muitas coisas e  até de ter excedentes para exportar. O que é preciso é  trabalho, muito trabalho, a fim de  construirmos o bem-estar. O progresso constrói-se com trabalho. Não temos outra alternativa. Se trabalharmos intensamente,  havemos  de  viver melhor.  O nosso empresariado  tem , no quadro da diversificação da economia,   uma grande oportunidade  de  mobilizar  talentos, para   que os seus projectos  sejam rentáveis  e duradouros.    

O LABORATÓRIO AFRICOM – VIII



 Martinho Júnior, Luanda

Os relacionamentos dos Estados Unidos para com Angola, espelharam sempre a dialéctica entre os“lobbies” internos de suporte aos republicanos e democratas, articulados a conexões de carácter elitista em África.

Os republicanos têm-se mantido sobretudo suportados pelos “lobbies” do armamento e do petróleo, enquanto os democratas têm vínculos com o apoio sobretudo do “lobby” dos minerais.

Essa dialéctica financeira e sócio-política norte-americana, é imprimida em função dos interesses da aristocracia financeira mundial, assim como de suas ligações e conexões espalhadas pelo mundo, África incluída.

Desse modo os Estados Unidos garantiram sempre uma interpretação dos fenómenos “no terreno”que permitia uma síntese-analítica em relação a Angola que se baseava na observação duma íntima correlação entre os fenómenos de natureza físico-geográfico-ambiental (petróleo, gás e minerais incluídos) e as culturas humanas, sem perder de vista a inserção do país no contexto e nas conjunturas regionais, tendo em particular atenção os interesses norte-americanos na África do Sul e no Zaíre.

Em 1975 a administração Ford seguia a estratégia de Henry Kissinger para Angola, dissonante dos interesses das multinacionais do petróleo anglo-saxónicas instaladas em Angola e isso apesar do Presidente Agostinho Neto ter garantido a continuidade desses interesses, assumindo a sua segurança em relação às instalações e aos seus perímetros externos.

Desde então, derrotados em 1975 os etno-nacionalismos apoiados pela CIA, por Mobutu e por Botha, o “lobby” dos minerais foi determinante para a contínua agressão das SADF a Angola e pela trajectória de Savimbi, a coberto do “apartheid” (até 1992) e, posteriormente, a coberto de Mobutu (de 1992 a 2002).

Os interesses no ouro, na platina e nos diamantes, instrumentalizando o cartel dos diamantes, referiam-se ao histórico elitista oxfordiano de Cecil John Rhodes, espelhado então pela Anglo American, como pela De Beers sob a batuta do clã Oppenheimer, o que era tido como factor principal na abordagem dos interesses capitalistas para com Angola.

A exploração sem limites de mão-de-obra negra na África do Sul, respondia aos interesses do“apartheid” tal como a “guerra de fronteiras” por parte das South Africa Defence Forces instaladas no norte da Namíbia.

Posteriormente a riqueza mineral do Congo, outro grande produtor de diamantes, garantiu os laços indispensáveis, quer para “ter na mão” Mobutu, quer Savimbi, algo que para muito contribuiu Maurice Tempelsman, (de acordo com Janine Farrell Roberts no seu livro “Blood Stained Diamonds” e em intervenções em suporte da Congressista Cynthia McKinney, ela própria muito crítica em relação às políticas norte-americanas em África).

O “lobby” dos minerais interessava-se pelo miolo de África, “do Cabo ao Cairo”, pelo que Savimbi aninhava-se perfeitamente ao regime do “apartheid” (desde a “Operação Madeira” a 1992), à sombra do qual fez evoluir sua máquina de guerra, enquanto foi possível às SADF equacionarem a“guerra de fronteiras” a partir do território da Namíbia ocupada, durante quase toda a década de 80 do século passado.

As vantagens de Savimbi eram tão evidentes nessa altura, que até a administração republicana de Ronald Reagan, que estreou conceitos neo liberais na sua orientação, considerou Savimbi, a par dos contra da Nicarágua e de Bin Laden no Afeganistão, um privilegiado “freedom fighter”…

Quando a Namíbia se tornou independente, Savimbi (profundamente conhecedor das características físico-geográfico-ambientais do país), perdia a sua base de retaguarda no Sudeste de Angola e teve de mudar entre 1991 e 1998, seu sistema de apoio externo para o Zaíre de Mobutu (onde pontificava Maurice Tempelsman uma entidade incontornável dos diamantes ligado ao cartel) e mais tarde para a Zâmbia, de onde continuou a saga definida previamente sobretudo pelo cartel dos diamantes.

Perdeu a bacia do Okawango, para ganhar as bacias ricas de diamantes aluviais do Kwango, do Kassai e do Kwanza!

Em “Jonas Savimbi, combats pour l’Afrique et la démocratie” (“Demain l’UNITA”), escrito com a fiel colaboração do professor togolês da Sorbonne III, Atsoutsé Kokouvi Agbobli, a geo estratégia e a ideologia dos interesses do “lobby” dos minerais era explicada: Savimbi assumia a base de apoio dos “autóctones” contra os “crioulos”, do “interior” contra o “litoral”, dos “autênticos nacionalistas pan-africanos”, contra a “cultura lusitana sinónimo de discriminação racial”, de “nacionalistas autênticos” contra a “coalizão perpetuando dominação colonial e racial”, a dialéctica possível para quem, sem abdicar no fundo dum etno-nacionalismo sectário, começou a catapultar as suas acções a partir da retaguarda na Zâmbia e no Zaíre da “autenticité”.

Desse modo, as bacias hidrográficas carregadas de diamantes aluviais do Kwango, do Kassai e do Kwanza, tornar-se-iam sua obsessão, pois era a partir dos seus recursos que ele implementaria sua última saga de guerra, enquanto instalava seu Quartel-General no Andulo, próximo do centro geográfico de Angola e no perímetro da região central das grandes nascentes.

O “alvo a abater” era a própria identidade angolana em formação, o manancial humano de sustentação do MPLA, com população concentrada precisamente num triângulo com base no litoral e vértice na região central angolana das grandes nascentes, onde, longe das fronteiras, a angolanidade se demarcava da amálgama sócio-cultural e sócio-política do continente e por tabela dos Congos.

A saga do cartel dos diamantes, uma componente importante do “lobby” dos minerais, foi ainda possível enquanto Mobutu se manteve sem grandes contrariedades no poder em Kinshasa, todavia, quando a partir dos Kivus a rebelião de Laurent Kabila crescia, apoiada pelo Uganda e o Ruanda, já na década de 90, a geo estratégia desse “lobby” foi obrigada a “revisão”, até por que a ascensão de Paul Kagame no Ruanda tinha a alavanca desse “lobby” com evidência na administração democrata de Bill Clinton, um “rodes schollarship” que antes havia sido Governador do único Estado norte-americano produtor de diamantes, o Arkansas…

Se a “revisão” do contexto angolano foi feita pelos democratas, na sequência da ascensão de Paul Kagame e do declínio evidente de Mobutu, (uma “revisão” que implicou o reconhecimento político-diplomático de Angola), Savimbi persistiu na “guerra dos diamantes de sangue”, interpretando de forma errada o reconhecimento de Angola por parte dos Estados Unidos, precisamente durante a administração democrata de Bill Clinton.

Nesses termos Savimbi, sem se aperceber dos sinais de declínio, que alicerçou seu poder na exploração desenfreada de diamantes aluviais nas bacias do Kwango, do Kassai e do Kwanza, apostava tudo na confrontação contra um governo que era obrigado a ter no petróleo seu principal sustentáculo económico e financeiro, ou seja, chocou frontalmente com os interesses do “lobby” do petróleo em Angola, precisamente no litoral, quando atacou o Soio.

Essa situação foi imediatamente compreendida pelo sistema de interesses republicanos nos Estados Unidos e dos seus aliados conservadores e ultraconservadores da NATO (particularmente na Grã Bretanha e na França), o que permitiu ao governo angolano de então, recrutar a “Executive Outcomes” a fim de passar ao contra-ataque, reforçando a capacidade de intervenção das FAA dentro e fora das fronteiras (nos dois Congos).

Com a extinção das gloriosas FAPLA, as FAA estavam nessa altura ainda longe de atingir as capacidades ao nível da ameaça de Savimbi, quando atacou o Soio e dominava nos ricos vales pejados de diamantes aluviais do Kwango, do Kassai e do Kwanza.

O “lobby” do armamento, do petróleo e do gás nos Estados Unidos, por via dos republicanos, não perdeu mais de vista as vantagens conseguidas no terreno pelas FAA e aproveitou-as para as suas conexões e ligações ao governo angolano, influenciando por outro lado na diplomacia envolvente, nomeadamente em relação ao quadro de conversações, como na direcção do Golfo Da Guiné, dos Congos e dos Grandes Lagos.

Esse ambiente foi provocando na UNITA um inexorável desgaste, que começou, entre outros fenómenos sócio-políticos internos e externos, com o afastamento cada vez maior a Savimbi, por parte de seus quadros, dentro e fora do espaço nacional.

Por razões de sua própria sobrevivência e “mandando para as urtigas” a ideologia de combate de Savimbi, muitos militantes da UNITA refugiavam-se no litoral abandonando o interior, contribuindo para o rápido crescimento de concentrações urbanas como Luanda e o “complexo”Benguela-Catumbela-Lobito, evidenciando o potencial do fortalecimento da angolanidade (que nos permite hoje fazer o exercício fundamental de unidade na diversidade).

A situação da “orfandade” angolana, serviu de base para os republicanos se decidirem, quando ascendeu George W. Bush ao poder, a lançar um programa ousado em direcção a África (a Angola, ao Golfo da Guiné e aos Grandes Lagos), tirando partido da cultura de responsabilidade em relação ao petróleo alicerçada pelos dois Presidentes angolanos, António Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos.

O “petróleo para o desenvolvimento” em África tornava-se assim num engodo que possibilitava a criação do AFRICOM, precisamente na mesma altura em que Savimbi, em Fevereiro de 2002, pagava com sua própria vida a teimosia mal-avisada de sua persistente actuação, esgotados os apoios do “lobby” dos minerais, fragilizada sua base humana de apoio dentro e fora do território nacional e estando decidido o “processo Kimberley”, que evitava os “diamantes de sangue”!

A 26 de Fevereiro de 2002 o Presidente José Eduardo dos Santos visitou oficialmente os Estados Unidos e, com os Presidentes do Botswana e de Moçambique, foi recebido na Casa Branca por George W. Bush.

O poderoso Corporate Council on Africa, com o apoio da ExxonMobil, da ChevronTexaco, da BP e da Ocean Energy, com a presença de Maurice Tempelsman, Walter Kansteiner e de outras entidades ligadas aos negócios de petróleo e diamantes em Angola, recebeu com pompa e circunstância num jantar e nesse mesmo dia, o Presidente angolano.

O fim da “Iª Guerra Mundial Africana” tornou propício o plano de ofensiva em relação a África, por parte da administração republicana de George W. Bush e importantes sectores conservadores do espectro sócio-político norte-americano seriam chamados para a gestação, no berço, do AFRICOM, a par da implementação duma “nova era” de relações entre os Estados Unidos e Angola, mesmo assim, por razão do carácter sócio-político típico do capitalismo nos Estados Unidos da América e tal como eu sempre sustentei com base nas leituras fundamentadas em vários desenvolvimentos em África, não livres de futuras ambiguidades, manipulações e ingerências!

Os norte-americanos sempre estiveram longe da fermentação do Movimento de Libertação em África, sempre tiveram dificuldades em compreender as motivações africanas, a razão histórica profunda de elas existirem, as aspirações legítimas e visionárias e isso foi, é e será uma enorme dificuldade para, garantindo independência e soberania, continuar o rumo de Angola na longa batalha contra o subdesenvolvimento!

Fotos:
- 1 – Foto do Presidente angolano no Corporate Council on Africa, a 26 de Fevereiro de 2002, quando proferia a sua intervenção; 
- 2 – Savimbi “freddom fighter” de Ronald Reagan, um apogeu transitório e efémero sob a articulação do “lobby” dos minerais; foto do encontro de Ronald Reagan com Savimbi, a 30 de Janeiro de 1986; 
- 3 – Capa do livro de Savimbi, compendiado pelo professor da Sorbonne III, o togolês Atsutsé Kokouvi Agbobli.

A consultar:
- Breve monografia angolana – http://5---breve-monografia-angolana.blogspot.com/
- General Beto Traça – histórias da guerrilha do MPLA – http://www.opais.net/pt/opais/?id=1647&det=1473&mid=322
- Portugal deixou a PIDE colaborar com apartheid - Óscar Cardoso – http://www.angonoticias.com/Artigos/item/42856/portugal-deixou-a-pide-colaborar-com-apartheid-oscar-cardoso 
- Operação secreta lançou a guerra suja – http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/operacao_secreta_lancou_a_guerra_suja 
- UNITA pagou abastecimentos com três mil toneladas de marfim – http://jornaldeangola.sapo.ao/reportagem/unita_pagou_abastecimentos_com_tres_mil_toneladas_de_marfim 
- UNITA: The Battle in Angola
Freedom vs. Communism – http://www.conservativeusa.org/angola.htm
 
- Atsutsè Kokouvi Agbobli – http://www.agbobli.org/atsutse_kokouvi_agbobli.php 
- As missões estratégicas para a paz no continente – http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/as_missoes_estrategicas_para_a_paz_no_continent 
- Is Bill Clinton A Descendant
Of Cecil Rhodes? – http://www.rense.com/politics6/rhodes.htm
 
- Basta de matanzas y saqueo en el Congo – http://www.inshuti.org/extracto.htm
- Congresswoman Cynthia McKinney – http://muhammadfarms.com/covert_action_in_africa.htm 
- O MUNDO SOB A DOUTRINA BUSH E A GLOBALIZAÇÃO – http://www.escolagabrielmiranda.com.br/hotpot/8serie/texto8.htm

General brasileiro que defendeu "luta patriótica" foi exonerado e muda de cargo



O general brasileiro Antonio Hamilton Martins Mourão, que defendeu a "luta patriótica" como solução para a crise política, foi exonerado do cargo no Comando Militar do Sul e colocado num lugar mais burocrático, na Secretaria de Economia do Exército.

A exoneração, com data de quinta-feira, foi divulgada hoje pela imprensa local. Na prática, a mudança de cargo deixará o oficial sem contactos diretos com efetivos militares.
Em setembro, o general Martins Mourão criticou o governo durante um encontro com oficiais da reserva em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, sul do país, em que defendeu a "luta patriótica".

"Neste momento de crise, toda consciência autónoma, livre e de bons costumes precisa despertar para a luta patriótica, contribuindo para o retorno da autoestima nacional, do orgulho de ser brasileiro e da esperança no futuro", disse então o general, citado pelo portal de notícias G1.

Em entrevista ao G1, Martins Mourão afirmou que, com "luta patriótica", se estava a referir ao "esforço e empenho de todos os patriotas no sentido de sobrepujar a crise".

FYB // EL - Lusa

Brasil. NÉSTOR, LULA E O SEGUNDO TURNO



As campanhas do segundo turno, pela experiência brasileira, têm sido decisivas para as vitórias eleitorais na direção de uma sociedade mais humana.

Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir

Estavamos na campanha do segundo turno, em 2010, quando fomos fulminados pela noticias da morte de Néstor Kirchner. Lula correu a representar a todos nós, quando nossos corações se voltavam para Néstor, para todos os argentinos e para a Cristina, em particular

Sabíamos tudo o que o Nestor representava, como ele foi fundamental para, junto com Lula e Hugo Chávez, lançar o processo de integração regional e fechar definitivamente o caminho para a ALCA. Sabíamos como Néstor foi fundamental para o resgate da Argentina da pior crise da sua história.

Sabemos agora, 5 anos depois, como a morte do Néstor – junto as comemorações do bicentenário da independência da Argentina – forma marcos para a emergência de uma nova geração de jovens militantes, que hoje anima as lutas populares na Argentina.

Estávamos no segundo turno das eleições presidenciais no Brasil – assim como agora a Argentina enfrenta essa circunstância, pela primeira vez -, quando Lula nos surpreendeu dizendo que "é sempre melhor ganhar no segundo turno, porque a contraposição de posições é mais clara, assim como o presidente é eleito com mais apoio."

Nos parecia um consolo, uma racionalização para nossa incapacidade para ter trinfado no primeiro turno em 2002, em 2006, em 2010 – e, agora, em 2014. Mas depois nos convencemos de que há uma lógica política importante nessa afirmação de Lula. No primeiro turno – no Brasil, na Argentina e em outros países da região – há uma proliferação de candidatos, de posições, que dificultam a compreensão dos grandes dilemas colocados para as nossas sociedades.

Foi fundamental para o triunfo de Lula em 2006, de Dilma em 2010 e e 2014. Os dilemas centrais das nossas sociedades se dão em torno da manutenção ou da superação do neoliberalismo. Não por acaso os países da região que começaram a empreender o caminho da superação desse modelo – privilegiando as políticas sociais, a integração regional e o resgate do papel do Estado – avançaram no combate à pobreza e à miséria, na afirmação da soberania nacional, da auto-estima das pessoas. O contrário acontece com os países que mantém o modelo centrado nos ajustes fiscais, na centralidade do mercado, no livre comércio.

No segundo turno as alternativas econômicas e o papel das políticas sociais se tornam centrais no debate dos dois candidatos e nas suas posições. Em geral os candidatos da direita tratam de esconder os fundamentos da sua política econômica, afirmando inclusive que vão manter os avanços sociais conseguidos pelos governos progressistas. É fundamental explicitar nos debates do segundo turno a contradição entre essa promessa e os fundamentos da sua proposta econômica.

No Brasil, na eleição de 2014, apesar de prometer que manteriam as políticas sociais dos governos do PT, os candidatos da oposição faziam afirmações tais como que “A economia não cresce porque o salário mínimo é muito alto”(sic), “Dos bancos públicos não vai sobrar quase nada” (como se as politicas sociais pudessem ser implementadas por bancos privados), como alguns exemplos do desmascaramento das contradições e das verdadeiras intenções dos candidatos da direita.

Além de que, no segundo turno tem sido possível sempre fazer grandes atos de mobilizações de artistas, intelectuais, movimentos sociais, forças de esquerda em geral, em torno das duas grandes alternativas das nossa sociedades países - avançar na superação do neoliberalismo ou o retrocesso brutal nos planos econômico, político, social e cultural, com a repressão correspondente.

As campanhas do segundo turno, pela experiência brasileira, têm sido decisivas para as vitórias eleitorais, para evitar os retrocesso e para avançar na continuidade e no aprofundamento dos processos de construção de sociedades mais justas, mais solidárias, mais humanas.

Brasil. OPERAÇÃO: ZELOTES. ALVO: LULA



Não se tem notícia de nenhuma ação espetacular da PF nas empresas, bancos e grupo de mídia que cometeram um rombo de mais de R$ 19 bilhões. O alvo é o Lula

Jeferson Miola - Carta Maior

A Operação “Zelotes”, uma alusão da Polícia Federal ao “deus cioso”, investiga um esquema de corrupção no âmbito do CARF [Conselho Administrativo de Recursos Fiscais]. O CARF é o órgão público que recebe e julga recursos de contribuintes – pessoas físicas e empresas – relativos a pendências e dívidas fiscais e previdenciárias.

O CARF é composto por 216 conselheiros, dos quais metade são auditores fiscais concursados da Receita Federal, ou seja, funcionários de carreira. A outra metade é formada por pessoas indicadas por confederações e entidades de classe que “representam os contribuintes” – leia-se, o influente grande capital empresarial, midiático e financeiro.

É importante sublinhar que dentre os conselheiros estatais, todos são funcionários concursados; nenhum deles é um dos 3.000 cargos de confiança [daqueles que podem ser indicados legalmente pela autoridade eleita] que serão extintos pela inócua decisão “austericida” do governo. De maneira explícita: nenhum deles foi indicado pelo PT.

É dispensável discorrer sobre os conselheiros “voluntários”, indicados pelos “contribuintes” – são seres “altruístas”, não recebem remuneração, se dedicam “espontaneamente” a este labor. As más línguas dizem, todavia, que eles não recebem do CARF porque são antes pagos pelas empresas, para defenderem os interesses delas na fraude contra o Estado.

Bem, o fato é que a Operação Zelotes investiga a associação formada por mega-empresas com funcionários públicos para a prática do crime de sonegação fiscal e previdenciária. De acordo com estimativas iniciais, somente nos últimos 8 anos [esqueçamos a pilhagem praticada por eles em 507 anos], esta associação criminosa lesou o erário em mais de 19 bilhões de reais, igual à metade do déficit do orçamento de 2016.

Empresas luminares em termos de eficiência, produtividade e modernidade; justamente aquelas que sempre querem dar aulas de boa prática de gestão ao Estado, estão entre as mencionadas no noticiário: Gerdau, Santander, Bradesco, RBS, Bank Boston, Safra, Pactual, FORD, Mitsubishi etc.

Tratam-se de empresas que apregoam a primeira lição da cartilha da “eficiência e da produtividade”, que começa com a tese de Estado-mínimo para a maioria da população e Estado-máximo para eles. Não é nada difícil presumir a fonte da eficiência e produtividade destas empresas “modelares” da modernidade do capitalismo, esse sistema tão “puro e limpo” que é contaminado pelo “mundo sujo da política”.

Pois bem, apesar da magnitude do escândalo que deveria ser investigado na Operação Zelotes, o condomínio policial-jurídico-midiático de oposição conseguiu a proeza de construir uma variante em paralelo: alegam supostas negociatas entre o governo Lula e a indústria automobilística para a aprovação de benefícios fiscais àquele setor. Na falta de qualquer elemento concreto contra Lula, não hesitaram em implicar nesta trama o filho dele.

Qual a alegação? Que a empresa de marketing esportivo pertencente ao filho do Lula, que foi criada em 2011 – portanto, 2 anos após a concessão de benefícios fiscais ao setor automobilístico – em 2014 [5 anos depois] recebeu 1,5 milhão de reais por serviços prestados a uma empresa envolvida nas fraudes no CARF. Qual o nexo entre a empresa do filho do Lula e a Zelotes? Nenhum, a não ser o fato de ser o filho do Lula.

O condomínio policial-jurídico-midiático mirou no filho de Lula para acertar no próprio Lula, coincidentemente na véspera do aniversário de 70 anos deste que, com sua obra, já é um dos maiores personagens da história do Brasil moderno.

Este método é parte de um plano estratégico de desconstrução, no imaginário popular, da imagem e do patrimônio simbólico que o Lula representa.

Antes, tentaram uma denúncia contra a nora de Lula, que também não colou. Agora, atacam com uma denúncia contra o filho do Lula. E, como esta armação também não vai vingar, passarão a atacar o bisneto, depois o tataraneto, até acabarem com todos os Lulas e tudo o que eles representam enquanto expressão de um Brasil mais justo e democrático.

Ao mesmo tempo, o “Ministro” Augusto Nardes [ex-deputado do PP], do “Tribunal” de Contas da União, cuja empresa de um sobrinho-sócio – essa sim citada por intermediação para o Grupo RBS no CARF –, segue sua cruzada militante pelo impeachment da Presidente Dilma.

Também não se tem notícia de nenhuma ação espetacular da Polícia Federal de busca e apreensão nos escritórios das empresas, bancos e grupo de mídia fraudadores. Aliás, apesar da cifra assombrosa, que é três vezes maior que o desfalque na Petrobrás, a Zelotes não andou porque o juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, obstruiu a investigação por longo período, e teve de ser afastado do caso pela Corregedoria Nacional de Justiça para não continuar obstruindo as investigações. Agora, quando a Zelotes é finalmente retomada, de maneira curiosa o alvo da Operação não são os criminosos que cometeram um rombo de mais de 19 bilhões de reais ao erário, mas sim o Lula.

Neste 27 de outubro, Lula completou 70 anos de uma trajetória vitoriosa de vida. O condomínio policial-jurídico-midiático lhe presenteou outra dose amarga do ódio que nutre não só em relação a ele, Lula, mas pelo ódio nutrido em relação à maioria do povo brasileiro que ele, Lula, trouxe à superfície de uma vida digna.

Para eles, Lula não pode sobreviver; tem de ter ser morto, tem de ser aniquilado, porque ele não pode voltar em 2018!

Créditos da foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula

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