sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

EXPRESSO CURTO, À FALTA DE MELHOR NO GÉNERO



Diretamente do produtor. Bom fim-de-semana, se possível.

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Ricardo Marques – Expresso

As ilhas de Alex

A noite não foi boa, mas, sem vítimas nem grandes estragos, não foi tão má como se antecipou.

A esta hora estamos ainda na fase crítica da passagem do estranho e improvável Furacão Alex pelos grupos Central e Oriental do arquipélago dos Açores, ambos em alerta vermelho desde ontem à noite. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera anunciou vento muito forte, chuva intensa e ondas entre seis a 12 metros, estando previstas vagas com até 18 metros de altura.

O mar já galgou algumas estradas e o vento sopra com força nas zonas ribeirinhas. Devido à chuva das últimas semanas, que deixou os solos saturados, teme-se que possam ocorrer deslizamentos de terras. A situação deverá começar a melhorar ao início da tarde, mas durante todo o dia mais de metade das ilhas açorianas vão estar a menos de meio gás. Pelas piores razões, o fim de semana chegou mais cedo.

Por decisão do Governo regional, que instalou um centro de operações na Terceira, foram fechadas todas as escolas, creches e jardins de infâncias, e emitidos alertas para o risco de qualquer atividade junto à beira-mar. As autoridades relembraram a importância de desobstruir os sistemas de escoamento de águas e de consolidar a segurança de todas as estruturas provisórias. Os trabalhos de preparação começaram cedo, refere o Açoriano Oriental.

O Alex é uma raridade meteorológica, como explica o meteorologista Pedro Viterbo, do IPMA, neste artigo. É a primeira grande tempestade do ano, é também a primeira vez, desde 1978, que o primeiro nome da lista de tempestades violentas vai para um fenómeno formado no Atlântico e, por fim, é também o primeiro furacão registado em janeiro desde 1938. Se quiser ficar a saber a lista completa de nomes de furacões até dezembro pode consultá-la aqui, na versão americana do National Hurricane Center, ou dar um salto aBerlim para ver como se baptizam tempestades na Europa (onde qualquer um pode fazê-lo, desde que faça antes uma doação).

OUTRAS NOTÍCIAS

Nuno Melo decidiu que não entra na corrida à liderança e escolheu quem vai apoiar. Saiu do palco mesmo antes de entrar e apontou o holofote na direção de Assunção Cristas. A ex-ministra da Agricultura e do Mar parece ser a senhora que se segue. É a primeira candidata oficial e, tudo indica, poderá ser ela a entrar pela porta que Paulo decidiu abrir ao deixar a liderança do CDS.

Tem aqui um primeiro retrato da possível futura líder (muitos se vão seguir) e algumas leituras sobre o rumo que Assunção quer impor ao CDS: a do Expresso, a do Observador e a do Público.

A campanha presidencial está na rua - ainda que mal se dê por isso - e os candidatos andam às voltas pelo país à procura da estrada que os leve a Belém. Um à frente, nove atrás dele. Ontem foi mais um dia morno. Maria de Belém discutiu o papel da NATO numa sala cheia de embaixadores, Sampaio da Nóvoa foi candidato e professor numa aula estranha, Marisa Matias encontrou família e amigos em Coimbra, Marcelo Rebelo de Sousa falou de filmes e exames escolares, Henrique Neto comparou o Governo de António Costa ao de José Sócrates, Edgar Silva discutiu a corrupção e Paulo Morais virou o discurso para a segurança. Hoje há mais e estará tudo na página especial que o Expresso criou.

Nas manchetes dos jornais há de tudo e para todos os gostos: o Correio da Manhã escreve que a "Gripe A deixa 31 em risco de vida"; o JN lembra que Manuel Godinho, o sucateiro que deu origem ao processo Face Oculta, deve 40 milhões de euros ao Fisco; o Público e o i dão conta do impacto do Banif poode ter na saída de Portugal do procedimento por défice excessivo e o DN anuncia que a pílula para prevenir o VIH vai ser testada em Portugal.

Lá por fora, houve novo debate para as presidenciais norte-americanas. Foi o sexto no campo Republicano e o The New York Times levou a jogo o departamento de "fact checking" , preparado para confirmar ou desmentir rapidamente aquilo que cada candidato diz.

Em Espanha, soma e segue o ata e desata das eleições legislativas. Discute-se a possibilidade de um "gobierno a la portuguesa", como ainda ontem lembrou um dos embaixadores que esteve à conversa com Maria de Belém. O El Espanol, jornal digital, não é exceção. Mas anuncia uma outratempestade, ao olhar para o síndrome Volkswagen e dar contada queda brutal das ações da Renault depois de o ministério da Justiça francês ter anunciado uma investigação à marca automóvel por suspeita de ter alterado os resultados dos testes de emissões nos seus veículos - que há anos são os mais vendidos em Portugal.

Tempestuosa e animada vai também a situação política na ainda bolivariana Venezuela, onde as contas e continhas de deputados (a oposição perdeu três e agora ninguém se entende sobre quantos são precisos para formar uma maioria qualificada) andam de mão dada com a celebração do culto da Divina Pastora.

Vale sempre a pena estar a par do que sucede por terras venezuelanas. Não só porque lá moram milhares de portugueses e de luso descendentes, não só porque é um dos principais produtores de petróleo do mundo, mas acima de tudo porque é, de facto, um país peculiar. A terra onde uma garrafa pequena de água é mais cara do que um depósito cheio de gasolina e onde, há uns anos, o atual presidente, Nicolas Maduro, foi abordado numa Igreja por um passarinho (na verdade, disse Maduro, era o espírito de Hugo Chavez) que lhe piou ao ouvido a certeza de que seria ele a ganhar as eleições. Hoje há mais uma sessão parlamentar e há três jornais venezuelanos que pode espreitar: umdoistrês.

Depois de Istambul, o Daesh reivindicou o ataque terrorista de ontem em Jacarta - que terá sido ordenado a partir da Síria. À conversa com um amigo português que mora na capital indonésia, ao início da noite, retive duas frases:"Isto esteve caótico" e "O problema maior é que eles estão preparados para morrer".

O que nos assusta ainda mais é não saber onde "eles" vão atacar a seguir.

Ontem foram conhecidos os nomeados para os Óscares. Na americana The New Yorker, o barbudo Richard Brody, que anda desde 1999 a ver filmes e mais filmes, atira-se aos membros da Academia. No Expresso, pode encontrar a lista completa - para imprimir, assinalar os seus favoritos e guardar até 28 fevereiro.

(Segue-se uma frase feita)

Esta história podia dar um filme: A família de Jonas Savimbiprocessou os criadores de um videojogo por difamação.

E este filme, o do Charlie Hebdo, é outra história.

Paulo Gonçalves está fora do Dakar. O piloto português - que ainda há dias tinha parado a moto para ajudar um adversário caído - sofreu um acidente e acabou a 11.º etapa (entre La Rioja e San Juan, na Argentina) no hospital 

A segunda volta do campeonato está aí: O Sporting joga hoje (20h30). O Benfica amanhã (20h45). E o Porto no domingo (20h30).

Morreu Alan Rickman, o professor Slate da saga Harry Potter, protagonista de inúmeros filmes e peças de teatro.

Rickman tinha 69 anos e é a segunda figura pública com essa idade a morrer esta semana. O primeiro foi David Bowie e, por falar nele, está já nas bancas uma edição especial da Blitzsobre a carreira do homem que nos garantiu que podemos ser heróis, para sempre. É um número para colecionadoresfeito em tempo recorde, e com qualidade máxima, pela equipa da Blitz - que também dá cartas na Internet.

Por ser sexta-feira (a que na Venezuela chamam sábado pequeno), ficam mais três notas rápidas.

Uma para o futuro, ou como David Cameron está a preparar o referendo sobre a permanência britânica na União Europeia. A inspiração vem do referendo sobre a permanência da Escócia no Reino Unido. A conservadora The Spectator chama-lhe "Projeto Medo" e pergunta como pode um euro-cético liderar a campanha pelo sim à Europa?

A segunda sobre o passado. As primaveras árabes foram há cinco anos e, como se pode ler neste artigo do Nouvelle Observateur, é provável que tudo ainda piore bastante antes de começar a melhorar.

A última é uma lista, e toda a gente adora listas. Foi publicado esta semana o ranking das companhias aéreas mais seguras para 2016, de acordo com o site Airline Ratings. A Qantas australiana surge no topo da lista, a TAP não está nas 20 primeiras. A The Economist tem um bom resumo, mas pode ser explorar o original aqui

FRASES

"O meu filho de 17 anos morreu de fome. Por favor, ajude-me a salvar os outros" - apelo de uma mãe de seis filhos que se lançou nos braços de Hanaa Singer, representante máxima da UNICEF na Síria, que esta semana esteve na cidade sitiada de Madaia.

"Nada foi feito nas costas do povo, aqui nas costas do Ministério Público, não se podendo dizer que em qualquer das decisões do Tribunal da Relação houve um efeito surpresa" -Decisão do Juiz Rui Rangel que considerou não admissível um recurso do Ministério Público a contestar uma decisão do juiz Rui Rangel, no âmbito da operação Marquês.

"Portugal está em dia com as suas obrigações com o FMI. Na verdade, está adiantado, já que no ano passado foram feitos pagamentos antecipados”. Reação de um responsável do FMI à notícia de que Portugal vai abrandar o pagamento dos reembolso antecipados à instituição dirigida por Christine Lagarde

"Consigo ver o ridículo em todas as coisas do mundo. E quanto mais as pessoas se levam a sério mais ridículo se torna, e mais fácil é fazer pouco disso". Hugo Tavares, criador de "A criada malcriada" e "Cavaca para Presidenta", entrevistado pelo Expresso Diário

O QUE ANDO A LER

Um livro, dois artigos e mais um livro (que começa amanhã)

"Vaidade e ganância no século XXI" é o livro.

Pode parecer preguiçoso começar assim? Admito que sim. Mas às vezes é certeiro. A primeira das três citações na contracapa deste livro apresenta-o bem. "Sendo um comentário filosófico arguto sobre um tópico cultural de enorme importância, este livro apresenta um crítica mordaz ao narcisismo e a outros vícios do ego desmedido", diz Rae Langton, do MIT sobre o trabalho de Simon Blackburn.

Blackburn, que ensinou filosofia em Oxford e Cambridge, faz um retrato muito detalhado deste complicado mundo em que vivemos. Não vale a pena elaborar muito (embora fique por fazer uma série de merecidos elogios), o melhor mesmo é deixar três passagens (estas são mesmo do livro):

"O smartphone é a maldição do espaço públicoenquanto as pessoas continuam a clicar com a lente apontada principalmente para si mesmas e apenas secundariamente para aquilo que as rodeia. O egoísta imagina todos os seus amigos fascinados com aquilo que comeram ao pequeno-almoço ou com o aspeto que têm postados em frente da Mona Lisa ou do Taj Mahal, ou obscurecendo-os parcialmente"

"Um homem (são habitualmente homens) no conselho de administração de um banco poderá convencer-se de que é requerido um génio extraordinário para oferecer àqueles que emprestam dinheiro ao banco (os clientes) um por cento dos juros, mas só o emprestar a quem dele precisa com 16,5 por cento de juros, e embolsar dessa diferença o máximo que conseguir"

"As pessoas geralmente razoáveis, rodeadas por cortesãos, precisam de acreditar, e por conseguinte acham que é fácil acreditar, que são merecedoras devido às suas excecionais aptidões, bom-senso e inteligência. Qualquer coisa inferior a, digamos, quatrocentas vezes o rendimento médio dos trabalhadores das suas empresas seria injusto, uma simples incapacidade de lhes recompensar adequadamente os seus espantosos dotes. Esta crença pode dominar até as pessoas razoáveis, mas como se sabe, nós já falámos da prevalência dos tipos de personalidade psicopática no cimo da escala empresarial"

Já que se fala de extremos, do topo e da base, deixo-lhe aqui os dois artigos. São ambos do The New York Times e capazes de baralhar a escala a qualquer um.

No primeiro discute-se a grande destruição e as formas que o homem lhe vai dando. Na Coreia do Norte, o regime anunciou há dias o ensaio de uma bomba de hidrogénio. Coisa em grande, portanto. Os americanos, ao contrário, estão a fazer pequeno o que já foi muito maior.

No segundo fala-se de como pode ser civilizada uma troca de murros entre dois homens adultos nas traseiras de uma casa à beira da estrada. Em especial quando a alternativa é resolverem os problemas a tiro. É o retrato de uma América que, mesmo sabendo que existe, não vemos muitas vezes com tanta nitidez.

Um sugestão. O Expresso oferece amanhã o primeiro fascículo do livro "Cultura, tudo o que é preciso saber", de Dietrich Schwanitz. A propósito, e para os que ainda não tiveram oportunidade, fica mais uma vez o link para a excelente entrevista que a Luciana Leiderfarb fez a Eduardo Lourenço.

Não se esqueça: às seis da tarde, o Expresso Diário. Amanhã, o Expresso do costume. E segunda-feira, primeiro dia da última semana de campanha eleitoral, o madrugador Expresso Curto com a assinatura, politicamente certificada, do Bernardo Ferrão.

Bom fim de semana.

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