Ana
Sá Lopes – jornal i, opinião
Pode
alguém ser quem não é? Poder, pode, mas não seria a mesma coisa.
A
declaração de ontem do Presidente da República foi um remake do “Exame” da TSF,
o antigo programa que Marcelo conduziu aos sábados de manhã nos anos 90. Só
faltou o gran finale: o Presidente da República a dar a nota a António Costa e
Mário Centeno. Mas pelo discurso, percebeu-se que terá sido 13 ou 14. Bem, com
14 já dispensavam e Marcelo deixou as mãos livres para levar os examinandos a
uma eventual prova oral lá para o ano de 2017.
Não
havia novidade na promulgação rápida pelo Presidente da República do Orçamento
do Estado – isso estava pré-anunciado. A novidade foi o tom explicativo num
Presidente da República, o tom entre o professor e o comentador político que
Marcelo utilizou na sua primeira mensagem ao país. Se não tivéssemos a
experiência de Marcelo comentador, poderíamos ser tentados a afirmar que estava
a adotar o estilo das conversas em família de um outro Marcelo que esteve para
ser seu padrinho. Mas aquilo não foi uma conversa em família. Foi apenas
Marcelo, igual a si próprio, a justificar ao povo “do afeto” o ter dado o sim
ao Orçamento.
Um
ponto ficou evidente: Marcelo gostou do Orçamento. A expressão utilizada pelo
Presidente – “É indiscutível que há, embora mitigada pelo compromisso com as
instituições europeias, uma preocupação social dirigida a certas camadas da
população” – é uma declaração de concordância genérica.
Claro
que há riscos, e Marcelo enumerou-os todos, desde a instabilidade mundial até
ao de não ser cumprido o “rigor” que pediu insistentemente. Foi um “Exame”
pedagógico e avaliador do governo. Se Marcelo tivesse aparecido a fazer uma
comunicação ao país utilizando o tom de Cavaco Silva – o agora Presidente da
República esforçou-se um pouco na campanha para arranjar um bocadito de
gravitas que nem sequer funcionava lá muito bem –, não seria Marcelo.
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