M. Azancot de Menezes. Díli
A
propósito da notícia veiculada pelo jornal Público (27/02/2016), estranhamente
com a foto de um conjunto de jovens com bandeiras da Indonésia, o que me surpreendeu,
pois não estamos a falar de um qualquer matutino, informando que o Ministério
da Educação português assinou contratos com 130 professores que viajarão para
Timor-Leste, na qualidade de cidadão timorense, lusófono, gostaria de tecer
algumas considerações críticas que de certa forma colocam em destaque a
incapacidade que o Estado português está a demonstrar em assumir o seu papel de
promotor da língua portuguesa, abrindo espaço no território timorense a outras
línguas, inglesa e malaia, dos nossos vizinhos, respectivamente, australianos e
indonésios.
Esta
notícia merece ser problematizada pelo (inexplicável) atraso da assinatura dos
contratos com os professores portugueses e que, não consigo fazer outra
leitura, decorre da má organização e da máquina burocrática do Ministério da
Educação português, para o caso agora não importa se estamos a falar do ex-1º
Ministro Dr. Pedro Passos Coelho, ou do actual 1ª Ministro Dr. António Costa,
pois, desde Setembro a Novembro de 2015, a DGAE – Direcção-Geral de Administração
da Educação já tinha a lista dos docentes destinados para Timor-Leste.
É
muito fácil afirmar-se que Timor-Leste é um “Estado falhado”, e que os seus
dirigentes não se entendem, como se fosse fácil administrar um país que
conquistou a sua independência há pouco tempo, com esparsos recursos humanos,
rico em petróleo e outros minerais, mais a pressão de países vizinhos, mais os
interesses inconfessos de muitos (não todos) empresários portugueses, nacionais
e de outras nacionalidades, tudo isto agravado com a falta de eficácia do
Ministério da Educação e do Instituto Camões sediado em Lisboa.
É
inadmissível e triste, são as palavras que me ocorrem, saber que só nesta
semana que passou (Fevereiro de 2016) a administração escolar portuguesa tenha
chamado os docentes portugueses para assinarem um contrato (!), ou seja, 3
meses de inoperância e falta de sentido de responsabilidade da administração
escolar portuguesa fizeram com que 7500 estudantes timorenses estivessem sem
aulas, a esquecer a língua portuguesa, enquanto os professores portugueses
ficavam em casa, a receber um salário, sem nada produzirem, e de forma
frustrada aguardavam que fossem chamados.
Esta
situação de apatia não é singular. Em Dezembro de 2015 estive em Portugal, na
qualidade de Pró-reitor de uma Universidade timorense na expectativa de ser
recebido pelo Instituto Camões, note-se, com recomendação da Embaixada de
Portugal em Timor-Leste, porque queria pedir apoio para abrirmos um curso de
formação inicial de professores em 2016, repare-se, um curso de licenciatura em
ensino de língua portuguesa. Chegado a Portugal, enviei uma mensagem por e-mail
(está gravado) à Directora de Serviços para a Área da Cooperação do Instituto
Camões na expectativa de ser recebido. Como não obtive resposta, decidi
contactar telefonicamente o Camões, por duas vezes. A primeira resposta foi “a
Senhora Directora está em reunião…”. Da segunda vez, após insistência minha,
recebi a resposta “o Senhor não será recebido...”. Como já estava farto do
“baile”, não me contive e disse “venho de Timor-Leste, recomendado pela
Embaixada de Portugal em Timor-Leste para falar da promoção da língua
portuguesa em Timor-Leste, e nem pelo porteiro sou recebido.”. Enquanto estas
burocracias e estranhos interesses se atravessarem em decisões estratégicas de
um Estado que se assume lusófono, a Indonésia e a Austrália vão oferecendo
livros em outras línguas que não são as oficiais, promovem cursos e agem com
agressividade, inteligência e eficácia.
No
próximo mês de Abril terminam as aulas do 1º período, haverá nova interrupção
em Agosto, o 3º Período termina em Novembro. Esperemos que à falta de
organização e seriedade de alguns, e este é o meu último desabafo, depois de
me/nos andarem a encher os ouvidos (e a gastar uns largos milhares de dólares)
relacionados com reuniões de grupos empresariais da lusofonia, também não se
venha a registar inoperância e (mais) atrasos do Ministério da Educação
timorense.
Díli,
28 de Fevereiro de 2016
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