Ricardo
Costa traz o “Picareta Falante” neste Expresso Curto que temos o vício de
apresentar sem abuso no Página Global. Dessa alcunha de Picareta o referido é
António Guterres, ex-primeiro-ministro de Portugal. Alcunha pouco simpática dada por Vasco Fudido Valente mas assimilada pelos mídia e identificativa da pessoa que assumiu o primado da governação e
deixou a marca de ter sido o melhor PM… para os pobres. É “fazer as contas”.
Só
quem tem uma vida pela frente, por trás e para os lados de uma vasta coleção
de carências económico-financeiras e materiais percebe o que aqui é dito. Os que estão de
barriga cheia ou de barriga assim assim, mesmo que percebam alguma coisa
preferem usar o depósito do cólon como cérebro e partir para os pensamentos do futebol ou da
gaja muito boa que caminha em frente com o traseiro a dar a dar. Nem mesmo que
não tenham dentes para aquilo, prá boazona – que afinal só merece aquela
definição por ser uma pessoa (provavelmente) escultural. Aquilo também é arte.
Arte que muitas vezes num machismo exacerbado só se vê a parte do “marisco”, as gâmbias,
as mamas. Lá por dentro, o miolo, que se lixe. Adiante, que isto está a azedar.
Pouco
resta para dizer de elogio a António Guterres. Um mal-amado e incompreendido. Um
homem bom e um bom homem. Atualmente virado para a ONU. Sim, porque em Portugal
não há lugar para governantes daquele calibre de humanidade. Em Portugal e no mundo. Guterres
vai falhar na ONU, não será o “escolhido” para Secretário-Geral da organização.
O mundo é como em Portugal, talvez ainda pior: ingrato e alienado. Propriedade
dos 1% que são donos disto tudo. Esses, os que limitam e formatam cérebros com “histórias”
da Carochinha da maldade, da indiferença às misérias e mortes que causam devido
às suas ganâncias do demónio dinheiro. Para eles as vidas dos que povoam este
planeta nada vale - a não ser servirem para explorar, dar lucro. Mais que não seja estrume, fertilizante para as terras que também exploram.
Com
esses monstros globais da ganância não existem consensos possíveis, António. Muito
menos com um homem bom que é muito bom homem. (MM / PG)
Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Ricardo
Costa – Expresso
Guterres,
de picareta falante a máquina diplomática
Bom
dia,
Quem acompanhou a carreira de António Guterres, na política nacional e depois como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, não pode ter ficado surpreendido com a qualidade da prestação do ex-primeiro-ministro (resumo da SIC Notícias) nasprimeiras audições para secretário-geral da ONU, ontem em Nova Iorque.
Quando anunciou que ia abandonar o governo, no célebre discurso do pântano na noite da pesada derrota autárquica de 2001, Guterres era um líder cansado, desiludido por ter falhado a maioria absoluta por apenas um deputado em 1999 e já muito longe da sua primeira vitória de 1995. O homem dos consensos, do diálogo e da descompressão pós-Cavaco tinha ganho fama (e algum proveito) de hesitante, de fugir de ruturas, de facilitar na condução orçamental, de ser melhor a pensar que a governar.
Mas António Guterres era, em simultâneo, um dos políticos mais fulgurantes que Portugal tinha visto em décadas e décadas. Aluno brilhante do Técnico, tinha uma velocidade de raciocínio incrível, o dom da palavra e do argumento parlamentar, um absoluto à vontade na televisão, uma cultura geral enciclopédica e um dom natural para a diplomacia e para as línguas estrangeiras.
A facilidade com que falava sobre tudo e mais alguma coisa deu-lhe direito a um magnífica alcunha – “picareta falante”, por Vasco Pulido Valente – e a pelo menos um episódio embaraçoso, o da gafe do PIB, de que eu e o meu colega Luís Pinto fomos responsáveis, numa reportagem que fizemos para a SIC em 1995 e que ainda hoje corre no Youtube, envolvida em vários mitos urbanos e versões fantasiosas (O PIB de Guterres contado na primeira pessoa é a minha versão do que se passou).
Se a facilidade de falar lhe causou um ou outro embaraço, garantiu-lhe muitos mais sucessos. A prestação de ontem foi mesmo muito boa e em absoluto contraste com o que se costuma ver na ONU. Se a diplomacia assentasse na simples escolha do melhor, António Guterres estaria muito bem lançado para ser o próximo secretário-geral. Mas a luta é muito mais renhida, sobretudo quando as prioridades vão para alguém que represente a Europa de Leste e preferencialmente seja mulher.
Guterres não cumpre nenhum desses requisitos, mas ontem confirmou que a “picareta falante” é uma máquina diplomática. Num processo longo e com várias fases, é perfeitamente natural que passe esta primeira fase com distinção e siga por mais algum tempo na corrida. Mas o seu sucesso vai depender também dos nomes que forem caindo, ou por má prestação diplomática ou por vontade de países do Conselho de Segurança e que mantêm o direito de veto. Vai ser uma corrida longa.
Quem acompanhou a carreira de António Guterres, na política nacional e depois como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, não pode ter ficado surpreendido com a qualidade da prestação do ex-primeiro-ministro (resumo da SIC Notícias) nasprimeiras audições para secretário-geral da ONU, ontem em Nova Iorque.
Quando anunciou que ia abandonar o governo, no célebre discurso do pântano na noite da pesada derrota autárquica de 2001, Guterres era um líder cansado, desiludido por ter falhado a maioria absoluta por apenas um deputado em 1999 e já muito longe da sua primeira vitória de 1995. O homem dos consensos, do diálogo e da descompressão pós-Cavaco tinha ganho fama (e algum proveito) de hesitante, de fugir de ruturas, de facilitar na condução orçamental, de ser melhor a pensar que a governar.
Mas António Guterres era, em simultâneo, um dos políticos mais fulgurantes que Portugal tinha visto em décadas e décadas. Aluno brilhante do Técnico, tinha uma velocidade de raciocínio incrível, o dom da palavra e do argumento parlamentar, um absoluto à vontade na televisão, uma cultura geral enciclopédica e um dom natural para a diplomacia e para as línguas estrangeiras.
A facilidade com que falava sobre tudo e mais alguma coisa deu-lhe direito a um magnífica alcunha – “picareta falante”, por Vasco Pulido Valente – e a pelo menos um episódio embaraçoso, o da gafe do PIB, de que eu e o meu colega Luís Pinto fomos responsáveis, numa reportagem que fizemos para a SIC em 1995 e que ainda hoje corre no Youtube, envolvida em vários mitos urbanos e versões fantasiosas (O PIB de Guterres contado na primeira pessoa é a minha versão do que se passou).
Se a facilidade de falar lhe causou um ou outro embaraço, garantiu-lhe muitos mais sucessos. A prestação de ontem foi mesmo muito boa e em absoluto contraste com o que se costuma ver na ONU. Se a diplomacia assentasse na simples escolha do melhor, António Guterres estaria muito bem lançado para ser o próximo secretário-geral. Mas a luta é muito mais renhida, sobretudo quando as prioridades vão para alguém que represente a Europa de Leste e preferencialmente seja mulher.
Guterres não cumpre nenhum desses requisitos, mas ontem confirmou que a “picareta falante” é uma máquina diplomática. Num processo longo e com várias fases, é perfeitamente natural que passe esta primeira fase com distinção e siga por mais algum tempo na corrida. Mas o seu sucesso vai depender também dos nomes que forem caindo, ou por má prestação diplomática ou por vontade de países do Conselho de Segurança e que mantêm o direito de veto. Vai ser uma corrida longa.
OUTRAS
NOTÍCIAS
Não sei se é da época, mas ontem caiu mais um membro do governo. O secretário de Estado do Desporto, João Wengorovius Meneses deixou a pasta da Juventude e do Desporto em “profundo desacordo” com o ministro da Educação e disse-o (onde havia de ser?) na sua página do Facebook… Por este andar, o maior problema do governo não é dívida nem o orçamento, mas o Facebook.
Ah, já agora, registe o nome do novo secretário de Estado e faça like na página dele não vá dar-se o caso de se zangar com o ministro da Educação nos próximos dias e resolver divulgar os seus estados de alma. Chama-se João Paulo Rebelo e é deputado do PS por Viseu.
Para terminar esta parte, aconselho a seguir o facebook de João Soares, muito animado nos últimos dias e com Vasco Palmeirim a cantar a… lambada. Isso mesmo.
Quem está sob forte pressão é o ministro da Defesa. A demissão do Chefe de Estado-Maior do Exército, na sequência de uma polémica sobre o Colégio Militar está a enfurecer os militares. Hoje é a vez de Vasco Lourenço, na capa do jornal i, apelar para que nenhum militar aceite ser Chefe de Estado. A polémica começou na semana passada mas tem crescido e está a embaraçar o ministro Azeredo Lopes. Vale a pena estar atento.
Outro caso que se vai arrastando é o de Diogo Lacerda Machado, o amigo de faculdade do primeiro-ministro que, como advogado, tem sido encarregue de negociar alguns dos dossiês mais difíceis do governo, desde a reversão parcial da privatização da TAP até aos lesados do BES. Depois de muita pressão, o gabinete do primeiro-ministro anunciou ontem um contrato formal de prestação de serviços de 2 mil euros brutos. Não acredito que a polémica diminua porque a questão está na informalidade de um amigo negociar dossiês ultra complexos do Estado e a oposição já percebeu o filão. O governo nem por isso.
A operação Tax Free, da Polícia Judiciária, que ontem levou à detenção de 15 pessoas, entre os quais 8 funcionários do fisco, está na capa de todos os jornais. O DN explica que os funcionários da Autoridade Tributária foram vigiados pela PJ durante um ano e meio, com telemóveis sob escuta, computadores e encontros vigiados.
O caso Tax Free (a PJ arranja sempre bons nomes para estas coisas) é manchete no JN, que explica que a rede de corrupção foi criada em ações de formação e que os suspeitos alegadamente vendiam informações sigilosas e declarações de regularização de dívida para permitir participação de empresas em concursos.
Os Panama Papers continuam a fazer estragos por cá. Depois deIlídio Pinho ter sido apanhado em contra-mão, agora foi a vez deLuis Portela. As versões que deram no sábado ao Expresso não são especialmente rigorosas (estou a facilitar) e os documentos entretanto divulgados contradizem boa parte das curtas respostas. Só Manuel Vilarinho é que respondeu logo a tudo. Nestes processos, com fugas gigantes de documentos, mais vale ser muito frontal e direto do que andar a correr atrás do prejuízo (não é uma piada fiscal…).
“Crédito a habitação dispara com guerra dos spreads”. Não, não é uma notícia dos anos 90 ou do virar do século, é a manchete do Jornal de Negócios de hoje…
Lá fora, mais um alerta num aeroporto, agora em Schipol, Amsterdão, um dos mais movimentados da Europa. O aeroporto foi evacuado ao início da noite de ontem devido a uma ameaça de bomba. Uma mala suspeita obrigou à evacuação de centenas de pessoas por parte das autoridades que detiveram três indivíduos. A identidade dos homens ainda não foi revelada.
Na frente económica, o mundo ainda está a digerir os alertas do FMI sobre um crescimento que deve abrandar. Portugal recebeu um aviso pouco simpático, mas os avisos globais são bem mais preocupantes. No meio dos alertas destaca-se a previsão da inflação na Venezuela em 2017, que é de, abra bem os olhos, 2200%!
Em contraciclo, os jornais internacionais de economia dão hoje destaque a previsões mais animadoras para as exportações chinesas e à subida do preço do petróleo (já está acima dos 44 dólares), em antecipação a uma reunião decisiva de alguns dos maiores países exportadores do ouro negro, prevista para este fim de semana.
Em Espanha, os partidos continuam empenhados em demonstrar que a política portuguesa é um paraíso de normalidade. O Rei Felipe VIanunciou que vai fazer uma última ronda com os partidos para tentar um acordo, que tarda em chegar depois das eleições de… dezembro.
Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo. Foram três golos do avançado português numa noite de “remontada” em que o Madrid conseguiu inverter a desvantagem de dois golos que trazia da primeira mão em Wolfsburgo. Os adeptos do Real Madrid renderam-se novamente a Cristiano Ronaldo, que levou a equipa às costas para a eliminatória seguinte. Espreite e fotogaleria.
Hoje é dia de Benfica-Bayern, depois de um excelente resultado dos encarnados na primeira mão em Munique. Perder por um golo no campo do Bayern é um feito, mas agora Rui Vitória tem que virar a eliminatória. Vai ter o Estádio da Luz cheio e o país a torcer numa grande noite europeia. Se correr bem, amanhã o Expresso Curto vai ter que começar pelo Benfica..
FRASES
“O António Guterres conseguiu surpreender-me, conhecendo-o eu há mais de quarenta anos…”. António Vitorino, elogiando a prestação de Guterres, no espaço de comentário que tem com Pedro Santana Lopes na SIC Notícias
“Guterres é muito bom e a diplomacia portuguesa também é muito boa neste tipo de processos”. Pedro Santana Lopes, idem
“QUE GRANDE ERES!”. Manchete da Marca sobre a exibição de Cristiano Ronaldo, ontem a Champions
“Un colosal Cristiano clasifica al Madrid”. Título do El País
O QUE EU ANDO A LER
A Memória de Shakespeare e Nove Ensaios Dantescos, de Jorge Luís Borges. Descobri o livro, recentemente editado pela Quetzal, numa curta crítica de Pedro Mexia na Revista E, do Expresso. É um dos últimos livros de Borges, publicado três anos antes da sua morte.
O que me fez ir comprar o livro (já tinha lido há muitos anos os Nove Ensaios Dantescos) foi o conto que deu o título ao livro, talvez por estarmos à beira de assinalar os 400 anos da morte de Shakespeare – dia 23 de abril - e o mundo esteja cheio de (justas) homenagens ao genial escritor.
O conto não é o melhor de Borges, longe disso, mas é Borges de uma ponta à outra. Uma mistura inimitável de erudição e concisão, uma imaginação prodigiosa e um cruzamento constante de autores preferidos, livros passados, obsessões e fantasias.
A história é mirabolante, com a memória de Shakespeare a ser passada entre personagens como um dom único e maior, que acaba por tomar conta e esmagar a memória e os sentidos de quem a recebe. Em apenas 12 páginas, Shakespeare é homenageado numa rápida de lição de literatura, que vai de De Quincey a Ben Jonson.
Como escreveu Jorge Calado, num artigo que publicou há poucas semanas no Expresso, sobre os 400 anos do maior de todos os escritores, “na obra de Shakespeare estão todos os problemas humanos, todos os sentimentos e estados de alma”.
No Expresso Online não apanha isso tudo, mas garanto-lhe que muitas das coisas que nos atormentam, divertem, animam ou emocionam vão andar por lá ao longo do dia (é ir espreitando). Ao fim da tarde chega o Expresso Diário e mais revelações sobre os Panama Papers e amanhã por esta hora fecha-se o ciclo com oExpresso Curto. E depois começa tudo de novo… Aproveite o dia.
Sem comentários:
Enviar um comentário