Imagem:
A jovem Dilma Rousseff em foto histórica durante depoimento para torturadores
da ditadura, que, envergonhados, escondem seus rostos.
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Adriano
Diogo e Joana Monteleone, Viomundo - Pragmatismo Político
Nos
anos que antecederam o golpe militar, foi criado um instituto para coordenar a
relação entre civis e militares. Chamava-se Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais — Ipês. Dentre os seus diversos atributos estava a coordenação da
mídia, que ficava a cargo do escritor Rubem Fonseca.
Fonseca
ainda não era um autor publicado (viria a ser pelas edições GRD, que recebia polpudas verbas de um programa da inteligência
norte-americano). Não passava de um executivo da Light destacado para atuar
no Ipês.
O
Ipês fazia filmes de propaganda anticomunista e peças publicitárias, que eram
espalhados pelo país e exibidos nos cinemas. Também pagava anúncios em jornais
e rádios. Espalhava panfletos de mão em mão, também, dizendo que o diabo era
vermelho e que Jango era seu profeta brasileiro.
Mas
não era só isso. O instituto contratava agências de publicidade para pautar
jornais, revistas, programas de televisão e rádio, que martelavam dia e noite
notícias contra o governo legitimamente eleito.
O
Ipês era financiado por industriais da Fiesp, mas também por agências
norte-americanas, mais ou menos sigilosamente. Ou seja, todo mundo sabia, mas
nunca era fácil de provar.
Uma agência de publicidade contratada pelo grupo, e isso é
menos conhecido, chamava-se CommonWealth, e tinha a sede na Park Avenue, em
Nova York.
Todo
mês a pauta contra o governo mudava – uma hora era contra as reformas de base,
outra pedindo mudanças trabalhistas para facilitar a vida dos patrões, depois
atacavam as ligas camponesas, e quando não tinha outro assunto, apelava para
denúncias, muitas inventadas, de “corrupção”, mas só dos governo do Jango. O
que a direita fazia, no Rio, com Carlos Lacerda, ou em São Paulo, com Ademar de
Barros, por exemplo, não era nunca considerado grave.
Como
era uma agência de publicidade que pautava os jornalistas, todo mês o instituto
recebia um relatório de mídia, com informações sobre quantas matérias tinham
saído, quantas entrevistas haviam sido dadas, como estava o clima “contra o
governo”, como haviam sido as conversas com os proprietários de jornal. E, para
dar molho à história, os acontecimentos de março de 1964 foram apelidados de
“Projeto B”. O golpe no Brasil de 1964 tinha até apelido.
O
Ipês e outro instituto chamado Ibad montaram uma enorme bancada no Congresso,
financiando candidaturas de políticos conservadores para a eleição de 1962. A
CPI do Ibad, ainda antes de 1964, investigou o caso e incomodou muita gente. Nela
se destacou o deputado federal paulista Rubens Paiva, que seria preso e morto
(seu corpo até hoje está desaparecido) pela ditadura militar.
O
objetivo do Ipês-Ibad era claro: desarticular a sustentação
político-parlamentar de Jango. Trabalhava como emissário ipesiano um poderoso
banqueiro carioca, Jorge Oscar de Mello Flores, diretor da Sul-América Seguros,
responsável por operacionalizar no coração do Poder Legislativo o pesado lobby
do instituto, cujo financiamento era sustentado por doações de grandes empresas
brasileiras e multinacionais aqui instaladas.
A
principal função de Mello Flores era coordenar uma rede suprapartidária de
parlamentares arregimentados pelo Ipês, para barrar os projetos do
governo no Congresso e por em xeque, permanentemente, a capacidade de
Jango de governar. Dessa forma, Jango se veria cada vez mais isolado na cena
política nacional, criando um clima de instabilidade que o levaria a
radicalizar o discurso e a ação.
A
preocupação com a mídia era uma constante nas reuniões dos diretores do
instituto. Tanto para saber como iam os deputados “aliados”, como para medir o
nível de pressão política exercida em Jango e como a sociedade se comportava. A
agência de publicidade também marcava reuniões para arrecadação de fundos para
se pagar o golpe – era preciso pagar viagens, telefonemas, deputados, filmes,
peças de publicidade.
Há
alguns institutos parecidos com o Ipês atuando por aí. Organizam eventos,
promovem debates, reúnem barões do empresariado e da mídia. Mas eles não são
nada perto do que foi o Ipês.
E
por que não há um grande Ipês? Por que não é preciso mais pagar um instituto
autônomo para fazer a coordenação de mídia do golpe. Existe um grande grupo de
mídia, que envolve TV aberta, TV a cabo, rede de rádio, internet, editoras de livros,
de revistas, sociedades explícitas e sociedades secretas, etc. etc. etc.
Hoje,
o Ipês é a Globo.
O
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1 comentário:
Golpe é governo MEDÍOCRE DO MEU PAÍS FINANCIANDO, COM O DINHEIRO DOS BRASILEIROS, PORTOS EM CUBA. GOLPE É PERDOAR DÍVIDAS DE PAÍSES AFRICANOS, QUE DEVERIAM TER MAIS COMPETÊNCIA EM LIDAR COM RECURSOS EXTERNOS.
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