Expresso
Curto por Nicolau Santos, um senhor e uma brisa sempre renovada naquele poiso
do tio Balsemão do Bilderberg. Adiante que já é tarde.
A bancaria continua na
ordem do dia. Até Nicolau abre o Expresso Curto a referir os 140 anos da Caixa
Geral de Depósitos. O tal banco a que a União Europeia quer deitar as garras e
meter por lá o tais do capital privado – o mesmo é dizer que quer meter as
raposas dentro do galinheiro. Por outras palavras: quer meter na Caixa os ladrões
do costume e para quem os tais das instâncias avançadas da UE trabalham
afincadamente em prejuízo dos cidadãos contribuintes europeus e os que mais
vierem. 140 anos, parabéns Caixa.
Agora
por bancos. O PM Costa veio com uma lenga-lenga de criar um banco mau-mau na
linha do banco mau do BES. Ali, naquele mau-mau, despejaria todo o lixo, todos
os calotes que os amigos dos banqueiros geraram para levar os empréstimos (mal
parados) para offshores e deitarem-se de barriga ao sol a verem os
contribuintes às aranhas, na miséria, a pagarem com língua de palmo e meio o que esses tais
banqueiros e amigos dos banqueiros roubaram. E vem agora o PM Costa “inventar”
um outro banco mau, aliás, duplamente mau, por isso se deve definir por mau-mau.
A
ideia é pôr os contribuintes a pagar, pelo menos 20 mil milhões de euros. É
preciso muita lata! Muito descaramento! O Costa também virou amigo ou servidor
dos banqueiros e sócios salafrários?
Fica
a pergunta que será respondida num dia de São Nunca à Tarde ou pelas decisões
tomadas pelo PM. Que ele não está a explicar que se prepara para dar novo golpe de cutelo afiado aos portugueses, não está. E isso é mau. E isso é digno de um Chico Esperto tipo Passos, Portas ou Relvas... ou até Cavaco. O Costa sabe que a vida custa, Costa. Por isso... seja transparente e deixe-se de evasivas porque o que ele quer é lavar o lixo da bancaria e chapar com ele nas nossas trombas, algumas bastante famintas. Opacidade e desonestidade não, oh senhor Costa. E o PR Marcelo aproveita a "boleia" do Costa. Pois.
Entretanto
o PR Marcelo já disse que é muito boa ideia. Outro? Pois. Outro a afiambrar nos
otários que andam a pagar o que outros roubaram.
Nenhum
deles vem falar de justiça, de confrontar os ladrões com a justiça. Estão a
dizer que querem passar uma esponja por cima dos roubos que têm vindo a ser
feitos desde há muitos anos.
Quer
dizer que não se investiga a quem os banqueiros concederam as tais imparidades.
Imparidades, que é o nome atual dos calotes. Dos roubos. Ora investiguem lá. Ora
responsabilizem lá esses, os ladrões. Ora penhorem tudo o que os salafrários têm.
Ora vão lá ver os chamados “sacos azuis” dessa cambada.
PR
e PM em uníssono: “Vamos continuar a roubar aos portugueses e safar os nossos
amigos e senhores banqueiros.” É o que é mostrado. Esperemos que não façam
novos roubos aos portugueses para cobrir o roubo dessa máfia da bancaria com “engenharias”
que vão sempre dar no mesmo e em que são os portugueses que pagam impostos a
pagar o que lhes é roubado. Depois, duplamente roubado. E os salafrários, os ladrões, continuam a usufrir do produto dos seus roubos como se fossem indivíduos e entidades honestas que doam aos políticos milhões para campanhas eleitorais, para realizarem "aplicações" de chorudos lucro - como Cavaco e filha - para os tornar seus cúmplices. Cúmplices da bancaria que rouba e põe os contribuintes portugueses a pagar eternamente.
Mas quando é que há vergonha e decência por parte dos políticos e por parte da justiça!?
Mas quando é que há vergonha e decência por parte dos políticos e por parte da justiça!?
PR
e PM cúmplices num novo roubo a milhões de contribuintes?
Vamos
ficar atentos. Pois. (MM / PG)
Bom
dia. Este é o seu Expresso Curto
Nicolau
Santos - Expresso
Marcelo
muda de opinião, Isabel dos Santos sorri, há um poeta na Cultura e um treinador
que chora
Ontem, a
Caixa Geral de Depósitos fez anos: 140. Assinalou o facto com comemorações em
21 agências pelo país. Em Lisboa, o evento foi assinalado na agência de Belém,
situada pertíssimo do Palácio de Belém. Seguramente por isso, o Presidente da
República não teve de se incomodar muito para estar presente no local, ao lado
do ministro das Finanças, Mário Centeno, e do presidente da CGD, José de Matos.
Mas não terá sido por simpatia que Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a ocasião para apoiar o Governo na defesa da CGD tal como ela sempre tem existido e para fazer mesmo um “mea culpa” em relação ao que pensou no passado: “Mesmo aqueles que, em algum momento - e foi também o meu caso, já lá vão alguns anos - admitiram outro tipo de evolução para a CGD, tendem hoje a considerar que a CGD como instituição financeira pública, de controlo público, é uma peça fundamental no sistema financeiro português”. Marcelo não o disse mas entre “aqueles” que também defenderam “in illo tempore” a privatização da CGD está Pedro Passos Coelho, ex-primeiro-ministro e atual líder do PSD.
Marcelo sublinhou mesmo que "há consenso hoje" em Portugal relativamente ao controlo público da CGD. “É isso que os portugueses desejam, é isso que eles necessitam, é isso que o Presidente da República com a sua presença hoje aqui veio dizer”.
As palavras do Presidente não podem ser desligadas de outros dois eventos do dia de ontem. Um foi a longa entrevista do primeiro-ministro, António Costa, ao Diário de Notícias e à TSF, onde defendeu, sem margem para dúvidas, que as instituições financeiras públicas têm de cumprir os mesmos rácios de capital que os privados, mas não podem, ao mesmo tempo, ser os únicos bancos impedidos de serem capitalizados pelo seu acionista único. “Portanto, o entendimento do governo português é que o Estado deve proceder à capitalização da Caixa nos exatos termos que qualquer privado capitalizaria os seus próprios bancos, para cumprir os mesmos rácios”. E fá-lo-à “exclusivamente com dinheiros públicos, nos termos e no montante que vier a ser determinado face ao apuramento das contas de 2015 e às avaliações feitas pelo sistema de supervisão europeu.”
O primeiro-ministro também defende a criação de um veículo de resolução do crédito malparado, para "libertar o sistema financeiro de um mono”, ou seja, do crédito malparado. O problema é de onde vem o dinheiro. Dos contribuintes? O Bloco de Esquerda, que ontem comemorou 17 anos, já se manifestou contra. EBagão Félix diz que se trata de “uma ideia generosa mas inconsequente”.
O outro acontecimento que não terá deixado indiferente Marcelo Rebelo de Sousa foram as negociações entre o banco espanhol La Caixa e a empresária angolana Isabel dos Santos,concluídas ontem à noite, de acordo com um comunicado divulgado pelo BPI no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. O Banco de Portugal e o Banco Central Europeu também já foram informados. Não se conhecem ainda os traços gerais do entendimento mas o objetivo é há muito conhecido: Isabel dos Santos vende a sua posição no BPI ao CaixaBank e compra a participação de controlo que o banco liderado por Fernando Ulrich tem no Banco de Fomento Angola (BFA).
O certo é que Carlos Tavares, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, está à espera de todos os esclarecimentos. Por isso, as ações do BPI foram já suspensas esta manhã. Por outro lado, em seguida o La Caixa terá obrigatoriamente de lançar uma OPA sobre todo o capital do BPI. No final,mais um banco português ficará em mãos espanholas, depois do Banif ter sido comprado pelo Santander e do mesmo Santander ter já manifestado o seu interesse no Novo Banco – interesse que também o La Caixa, através do BPI, pode vir a manifestar. E o Banco de Fomento de Angola passará a estar cotado na bolsa de Lisboa.
E foi por tudo isto que Marcelo disse o que disse e esteve presente nas cerimónias comemorativas dos 140 anos da CGD. Porque “O quotidiano não cega / Nós é que andamos distraídos. / Não pensamos, ouvimos falar na televisão / pessoas que pensam que estão a pensar / e assim ganham a sua vida. / Dói-nos a vida mas dizem que merecemos, / porque pensámos em viver do mesmo modo / que as pessoas que pensam que estão a pensar / e falam na televisão. / Agora as pessoas que pensam que estão a pensar/ e ganham a vida na televisão / dizem-nos que perdemos a nossa / e é bem feito / e ainda devia doer mais! / O quotidiano não cega: nós / é que estamos distraídos”.
Quem escreveu estas palavras é diplomata, cosmopolita, poeta e vai ser o próximo ministro da Cultura, substituindo João Soares. Luís Filipe Castro Mendes, que tem essa “ocupação inocente” que é a poesia, era até agora o representante de Portugal junto do Conselho da Europa em Estrasburgo, tem uma sólida e longa carreira diplomática em diversos países e os elogios à sua escolha chovem, de Francisco José Viegas a Nuno Júdice, passando por José Eduardo Agualusa e Fernando Pinto do Amaral.Miguel Honrado é [ww.dn.pt/portugal/interior/miguel-honrado-e-o-novo-secretario-de-estado-da-cultura-5119850.html]o novo secretário de Estado da Cultura.
Chegados aqui, ainda não falei dos Panama Papers, que depois de terem vitimado o primeiro-ministro islandês, continuam a provocarembaraços ao primeiro-ministro David Cameron. “Não foi uma boa semana”, gracejou Cameron, que decidiu no entanto divulgar os seus rendimentos entre 2009 e 2015 para acalmar os ânimos, embora o The Guardian assinale que tem de ser cabalmente esclarecido se as duas tranches de 100 mil libras que recebeu de presente da sua mãe em 2011 foram ou não produto das aplicações dos seus progenitores na «offshore» de Jersey, no Reino Unido, criada pelo seu pai.
Sublinha Luke Harding no diário Guardian: “Se ele tivesse logo explicado o que estava em causa tinha salvo a semana: agora tem que enfrentar a pressão popular para se demitir, há casas de jogo a aceitar apostas sobre a possibilidade de uma nova liderança no seu partido ainda este ano, e as pessoas perderam a confiança no seu primeiro-ministro”.
As ondas de choque resultantes da divulgação dos Panama Papers vão no entanto continuar a fazer-se sentir por todo o mundo. No Expresso online e no Expresso Diário vamos continuar a acompanhar este dossiê, através de uma equipa de luxo (Pedro Santos Guerreiro, Micael Pereira, Miguel Prado, Raquel Albuquerque, Pedro Candeias, Cátia Bruno e Joana Azevedo Viana). No próximo sábado no Expresso faremos novas e importantes revelações sobre os implicados portugueses (empresas, escritórios de advogados, particulares) nos Panama Papers. É um enorme serviço que o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ao qual o Expresso e a TVI estão associados) está a prestar aos regimes democrátivos de todo o mundo. E é sempre bom não esquecer que a Mossak Fonseca, que está no epicentro de todo este escândalo e de onde saíram mais de 11 milhões de ficheiros que por lá passaram entre 1977 e 2015, é apenas a quarta mais importante que se dedica a este tipo de negócios. Imagine o que não estará nos arquivos das três primeiras…
Como escreve José Pacheco Pereira no Público de dia 9, não é de uma questão fiscal mas de uma questão de democracia que se trata. “Os offshores são, antes de tudo, do crime, da lavagem de dinheiro, da fuga ao fisco, uma questão que significa para as democracias a perda de um princípio básico — o de que o poder político legitimado pelo voto e pelo primado da lei se sobrepõe ao poder económico. A questão que muitas vezes é iludida é que não existe uma única razão económica sólida para que hajam offshores. Para que é que eles servem para a economia, para a produção, para o emprego, para a indústria, para o comércio, para o investimento limpo? Nada. Tudo aquilo para que os offshores servem é para esconder dinheiro e os seus proprietários, para esconder a origem do dinheiro, através de um conjunto de fachadas anónimas que depois vão desaguar aos grandes bancos sediados na Suíça ou em Londres (…)”. Nem mais.
É por isso que às vezes sentimos uma raiva a nascer-nos nos dentes, quando os dias se tornam azedos, como canta Sérgio Godinho. E nos comovemos quando vemos um homem de 70 anos, com um brilhozinho nos olhos, emocionado, em público, a atravessar um campo de futebol. Um homem não chora, escreveu Luis de Sttau Monteiro. Mas quando se está à beira de se tocar um sonho impossível, quando se está no fim da carreira e já nada parecia possível, quando se foi despedido há ano e meio da seleção grega por ter perdido com as ilhas Faroe, quando se treina há um ano uma equipa modesta, condenada à partida a lutar por não descer de divisão e de repente se está à beira de conquistar o mais emocionante e disputado de todos os campeonatos europeus, a Liga inglesa, então qualquer um de nós percebe a mais que compreensível emoção de Claudio Ranieri.
Hoje em dia, o Leicester, que está a três vitórias em cinco jogos de se tornar campeão da Inglaterra e emociona o mundo, “é o clube de toda a gente, da nobreza e do povo”. E da nobreza porque esta semana até o princípe William disse: “Estou morto porque ganhem a Liga”. No desporto, na política e na economia,atualmente somos todos Leicester. Queremos que ganhem os bons, os menos afortunados, os que não são importantes – mas que com o seu trabalho honrado, o seu talento inquestionável e o seu dinheiro limpo são os verdadeiros suportes dos Estados livres e democráticos. Queremos que o Leicester seja compeão. E todos nós nos sentiremos um pouco melhor se isso acontecer.
Mas não terá sido por simpatia que Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a ocasião para apoiar o Governo na defesa da CGD tal como ela sempre tem existido e para fazer mesmo um “mea culpa” em relação ao que pensou no passado: “Mesmo aqueles que, em algum momento - e foi também o meu caso, já lá vão alguns anos - admitiram outro tipo de evolução para a CGD, tendem hoje a considerar que a CGD como instituição financeira pública, de controlo público, é uma peça fundamental no sistema financeiro português”. Marcelo não o disse mas entre “aqueles” que também defenderam “in illo tempore” a privatização da CGD está Pedro Passos Coelho, ex-primeiro-ministro e atual líder do PSD.
Marcelo sublinhou mesmo que "há consenso hoje" em Portugal relativamente ao controlo público da CGD. “É isso que os portugueses desejam, é isso que eles necessitam, é isso que o Presidente da República com a sua presença hoje aqui veio dizer”.
As palavras do Presidente não podem ser desligadas de outros dois eventos do dia de ontem. Um foi a longa entrevista do primeiro-ministro, António Costa, ao Diário de Notícias e à TSF, onde defendeu, sem margem para dúvidas, que as instituições financeiras públicas têm de cumprir os mesmos rácios de capital que os privados, mas não podem, ao mesmo tempo, ser os únicos bancos impedidos de serem capitalizados pelo seu acionista único. “Portanto, o entendimento do governo português é que o Estado deve proceder à capitalização da Caixa nos exatos termos que qualquer privado capitalizaria os seus próprios bancos, para cumprir os mesmos rácios”. E fá-lo-à “exclusivamente com dinheiros públicos, nos termos e no montante que vier a ser determinado face ao apuramento das contas de 2015 e às avaliações feitas pelo sistema de supervisão europeu.”
O primeiro-ministro também defende a criação de um veículo de resolução do crédito malparado, para "libertar o sistema financeiro de um mono”, ou seja, do crédito malparado. O problema é de onde vem o dinheiro. Dos contribuintes? O Bloco de Esquerda, que ontem comemorou 17 anos, já se manifestou contra. EBagão Félix diz que se trata de “uma ideia generosa mas inconsequente”.
O outro acontecimento que não terá deixado indiferente Marcelo Rebelo de Sousa foram as negociações entre o banco espanhol La Caixa e a empresária angolana Isabel dos Santos,concluídas ontem à noite, de acordo com um comunicado divulgado pelo BPI no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. O Banco de Portugal e o Banco Central Europeu também já foram informados. Não se conhecem ainda os traços gerais do entendimento mas o objetivo é há muito conhecido: Isabel dos Santos vende a sua posição no BPI ao CaixaBank e compra a participação de controlo que o banco liderado por Fernando Ulrich tem no Banco de Fomento Angola (BFA).
O certo é que Carlos Tavares, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, está à espera de todos os esclarecimentos. Por isso, as ações do BPI foram já suspensas esta manhã. Por outro lado, em seguida o La Caixa terá obrigatoriamente de lançar uma OPA sobre todo o capital do BPI. No final,mais um banco português ficará em mãos espanholas, depois do Banif ter sido comprado pelo Santander e do mesmo Santander ter já manifestado o seu interesse no Novo Banco – interesse que também o La Caixa, através do BPI, pode vir a manifestar. E o Banco de Fomento de Angola passará a estar cotado na bolsa de Lisboa.
E foi por tudo isto que Marcelo disse o que disse e esteve presente nas cerimónias comemorativas dos 140 anos da CGD. Porque “O quotidiano não cega / Nós é que andamos distraídos. / Não pensamos, ouvimos falar na televisão / pessoas que pensam que estão a pensar / e assim ganham a sua vida. / Dói-nos a vida mas dizem que merecemos, / porque pensámos em viver do mesmo modo / que as pessoas que pensam que estão a pensar / e falam na televisão. / Agora as pessoas que pensam que estão a pensar/ e ganham a vida na televisão / dizem-nos que perdemos a nossa / e é bem feito / e ainda devia doer mais! / O quotidiano não cega: nós / é que estamos distraídos”.
Quem escreveu estas palavras é diplomata, cosmopolita, poeta e vai ser o próximo ministro da Cultura, substituindo João Soares. Luís Filipe Castro Mendes, que tem essa “ocupação inocente” que é a poesia, era até agora o representante de Portugal junto do Conselho da Europa em Estrasburgo, tem uma sólida e longa carreira diplomática em diversos países e os elogios à sua escolha chovem, de Francisco José Viegas a Nuno Júdice, passando por José Eduardo Agualusa e Fernando Pinto do Amaral.Miguel Honrado é [ww.dn.pt/portugal/interior/miguel-honrado-e-o-novo-secretario-de-estado-da-cultura-5119850.html]o novo secretário de Estado da Cultura.
Chegados aqui, ainda não falei dos Panama Papers, que depois de terem vitimado o primeiro-ministro islandês, continuam a provocarembaraços ao primeiro-ministro David Cameron. “Não foi uma boa semana”, gracejou Cameron, que decidiu no entanto divulgar os seus rendimentos entre 2009 e 2015 para acalmar os ânimos, embora o The Guardian assinale que tem de ser cabalmente esclarecido se as duas tranches de 100 mil libras que recebeu de presente da sua mãe em 2011 foram ou não produto das aplicações dos seus progenitores na «offshore» de Jersey, no Reino Unido, criada pelo seu pai.
Sublinha Luke Harding no diário Guardian: “Se ele tivesse logo explicado o que estava em causa tinha salvo a semana: agora tem que enfrentar a pressão popular para se demitir, há casas de jogo a aceitar apostas sobre a possibilidade de uma nova liderança no seu partido ainda este ano, e as pessoas perderam a confiança no seu primeiro-ministro”.
As ondas de choque resultantes da divulgação dos Panama Papers vão no entanto continuar a fazer-se sentir por todo o mundo. No Expresso online e no Expresso Diário vamos continuar a acompanhar este dossiê, através de uma equipa de luxo (Pedro Santos Guerreiro, Micael Pereira, Miguel Prado, Raquel Albuquerque, Pedro Candeias, Cátia Bruno e Joana Azevedo Viana). No próximo sábado no Expresso faremos novas e importantes revelações sobre os implicados portugueses (empresas, escritórios de advogados, particulares) nos Panama Papers. É um enorme serviço que o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ao qual o Expresso e a TVI estão associados) está a prestar aos regimes democrátivos de todo o mundo. E é sempre bom não esquecer que a Mossak Fonseca, que está no epicentro de todo este escândalo e de onde saíram mais de 11 milhões de ficheiros que por lá passaram entre 1977 e 2015, é apenas a quarta mais importante que se dedica a este tipo de negócios. Imagine o que não estará nos arquivos das três primeiras…
Como escreve José Pacheco Pereira no Público de dia 9, não é de uma questão fiscal mas de uma questão de democracia que se trata. “Os offshores são, antes de tudo, do crime, da lavagem de dinheiro, da fuga ao fisco, uma questão que significa para as democracias a perda de um princípio básico — o de que o poder político legitimado pelo voto e pelo primado da lei se sobrepõe ao poder económico. A questão que muitas vezes é iludida é que não existe uma única razão económica sólida para que hajam offshores. Para que é que eles servem para a economia, para a produção, para o emprego, para a indústria, para o comércio, para o investimento limpo? Nada. Tudo aquilo para que os offshores servem é para esconder dinheiro e os seus proprietários, para esconder a origem do dinheiro, através de um conjunto de fachadas anónimas que depois vão desaguar aos grandes bancos sediados na Suíça ou em Londres (…)”. Nem mais.
É por isso que às vezes sentimos uma raiva a nascer-nos nos dentes, quando os dias se tornam azedos, como canta Sérgio Godinho. E nos comovemos quando vemos um homem de 70 anos, com um brilhozinho nos olhos, emocionado, em público, a atravessar um campo de futebol. Um homem não chora, escreveu Luis de Sttau Monteiro. Mas quando se está à beira de se tocar um sonho impossível, quando se está no fim da carreira e já nada parecia possível, quando se foi despedido há ano e meio da seleção grega por ter perdido com as ilhas Faroe, quando se treina há um ano uma equipa modesta, condenada à partida a lutar por não descer de divisão e de repente se está à beira de conquistar o mais emocionante e disputado de todos os campeonatos europeus, a Liga inglesa, então qualquer um de nós percebe a mais que compreensível emoção de Claudio Ranieri.
Hoje em dia, o Leicester, que está a três vitórias em cinco jogos de se tornar campeão da Inglaterra e emociona o mundo, “é o clube de toda a gente, da nobreza e do povo”. E da nobreza porque esta semana até o princípe William disse: “Estou morto porque ganhem a Liga”. No desporto, na política e na economia,atualmente somos todos Leicester. Queremos que ganhem os bons, os menos afortunados, os que não são importantes – mas que com o seu trabalho honrado, o seu talento inquestionável e o seu dinheiro limpo são os verdadeiros suportes dos Estados livres e democráticos. Queremos que o Leicester seja compeão. E todos nós nos sentiremos um pouco melhor se isso acontecer.
OUTRAS
NOTÍCIAS
O primeiro-ministro, António Costa, está hoje de visita à Grécia, a convite do seu homólogo, Alexis Tsipras. A visita deverá desbloquear a vinda de mais refugiados para Portugal. António Costa, que viaja acompanhado dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Administração Interna, vai visitar um campo de refugiados.
No Perú, a filha do ex-presidente Fujimori, Keiko Fujimori vai à frente nas sondagens à boca da urna nas eleições presidenciais deste domingo no Peru, mas terá de ir à segunda volta em junho.
Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama admitiu à Fox que o pior erro das suas presidências foi "Provavelmente, não planear o 'dia seguinte' do que, penso, foi a decisão correta de intervir na Líbia".
Em França, o primeiro-ministro, Manuel Valls, considerou queos novos ataques que a célula terrorista de Bruxelas projetava realizar em Paris constituem "a prova das ameaças elevadas que pesam sobre a França".
Na Alemanha, o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, vai apresentar ao Eurogrupo um plano de 10 pontos que visa lutar contra os paraísos fiscais, destacando-se a criação de uma "lista negra única" desse tipo de destinos financeiros, noticia a imprensa berlinense.
No Brasil, os deputados votam hoje a destitutição da presidente Dilma Roussef.Uma maioria dos brasileiros 61% contra 68% em meados de março, segundo um inquérito do Instituto Data Folha) defende o fim do regime da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, mas também o do vice-presidente, Michel Temer, atualmente seu rival político.
Na Grécia, pelo menos 260 migrantes foram feridos ontem em Idomeni, localidade grega fronteiriça à Macedónia, em confrontos com a polícia macedónia, que "utilizou gás lacrimogéneo e balas de borracha", indicou à agência France Presse a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Em Angola, a situação dos ativistas angolanos condenados a longas penas de prisão por supostamente conspirarem para depor o Presidente José Eduardo dos Santos, vivem em condições desumanas nas cadeias onde se encontram: “Querem matá-los aos poucos, sem deixar provas”, afirmam os familiares.
Na Ucrânia, o primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk, anunciou ontem a sua demissão.
E no futebol, o FC Porto vai de mal a pior. Ontem nova derrota por 1-0 com o Paços de Ferreira na capital do móvel e a distância para o Benfica, que segue em primeiro lugar, já é de 12 pontos e de dez para o Sporting, que segue em segundo.
FRASES
“A grande diferença entre as empresas que são produtivas em Portugal e as que não são não é a legislação do trabalho”. António Costa, primeiro-ministro, Diário de Notícias
“As leis laborais são sempre uma escapatória justificativa para outros males”. Bagão Félix, economista, Diário de Notícias
“As offshores deviam terminar a nível global”. Luis Marques Mendes, comentador, SIC
“Ultimamente, tenho visto mais os abdominais do Cristiano Ronaldo do que os seios da minha mulher”. Oliver Kahn, ex-guarda-redes do Bayern de Munique, Record
O QUE ANDO A (RE)LER E A OUVIR
Ando a reler a poesia do novo ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes. E faço-o com um sentimento de culpa. É verdade que lhe pedi várias vezes desculpa. Mas foi imperdoável o que aconteceu. Com surpresa minha teve a gentileza de me convidar para ser, a par de Fernando Pinto do Amaral, um dos apresentadores do seu livro de poemas “A Misericórdia dos Mercados”. Mas fê-lo com tanta antecedência e nunca mais tivemos nenhum contacto que só dei que tinha falhado o evento uns dias depois de ele ter acontecido. É por isso que aproveito este espaço para me voltar a penitenciar por um esquecimento imperdoável.
Também comecei a ler um livro escrito a quatro mãos, o que não é normal, de Maria Manuel Viana e Patrícia Reis. Gramática do Medo” conta a história de duas jovens, que se apaixonam pelo mesmo homem, professor das duas. Depois, uma delas desaparece. E o resto não sei porque ainda só vou no começo.
E estou a acabar de ler “Acqua Toffana” da brasileira Patrícia Melo. Mas confesso que gostei bastante mais de “Mundo Perdido”.
Entre os CD’s que ando agora a ouvir está “Inquiétude” (assim mesmo, com assento no é), de Filipe Raposo que explica, no livrinho interior, que ele “resulta da aprendizagem que decorreu dos dois anos que passei em Estocolmo. Da minha residência como compositor e músico mas também como ser humano, da aprendizagem que advém da adaptação a uma nova realidade, uma nova luz e silêncio”. E na contracapa, o projeto de excelente jazz é explicado por uns versos de António Ramos Rosa: “Toda a viagem é um regresso ao ponto de partida / para partir de novo entre a água e o vento.” Assim seja.
O Expresso Curto fica por aqui. Amanhã será servido pelo Pedro Santos Guerreiro, que anda embrenhadíssimo nos Panama Papers, para durante esta semana e no próximo sábado lhe servir a si, caro leitor, novas e escaldantes revelações contidos nos ficheiros da Mossack Fonseca. Tenha um excelente dia.
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