José
Ribeiro – Jornal de Angola, opinião
O
líder do maior partido da oposição angolana é uma pessoa extremamente crítica
quando se refere à governação do país.
A
única ideia que retive da longa entrevista que Isaías Ngola Samakuva deu à TPA
é que ele considera megalómanos os projectos desenvolvidos pelo Governo.
Aproveitando agora o tempo das vacas magras, Isaías Ngola Samakuva volta a jogar com a sua teoria do caos e da confusão, lançada em 2012 em cima do primeiro dia da deslocação dos eleitores às urnas, em que bradava contra a falta de condições e exigia o céu e o paraíso.
Desta vez, Samakuva finge ignorar o efeito causado pelo choque externo da descida do preço do petróleo no mercado internacional e acaba por misturar as condições económicas do passado e do presente do país, confundindo conjunturas favoráveis e adversas. Quer tudo igualmente bem em todas as circunstâncias.
Esta liderança feita de uma geometria de critérios muito variável é a verdadeira UNITA que conhecemos. Não gostará certamente Isaías Samakuva que se recorde que o seu partido político obedeceu a uma estratégia colonial e do apartheid, enquanto simultaneamente reivindicava a independência nacional e exigia o melhor que a democracia mundial tem para oferecer.
Quem classifica de megalómanos os projectos nacionais mostra que não tem ainda a dimensão de destruição a que o país chegou, nem faz ideia do esforço tecnológico e cultural que este país está a fazer para virar o estado em que as coisas ficaram.
Durante a semana, Isaías Samakuva voltou a apresentar essa face da UNITA quando visitou o Hospital Prisão de São Paulo, ao elogiar as condições de trabalho e de atendimento dos reclusos, ao mesmo tempo que a delegação do seu chefe parlamentar, Adalberto Júnior, irrompia pelo município do Cubal e protagonizava incidentes violentos que causaram a morte de três cidadãos.
A estratégia da liderança da UNITA de querer ter tudo e o seu contrário é muito habilidosa e faz-me lembrar alguém que está em estado de insatisfação e de ansiedade permanente.
É evidente que esta técnica é muito eficaz e funciona para quem acredita nela. Tanto é assim que a liderança da UNITA continua a usá-la. O grande partido da nossa oposição exige o voto electrónico, reclama meios luxuosos para os deputados na capital e nas províncias, pede a transmissão em directo dos debates parlamentares, solicita o crédito bancário indiscriminado, reivindica o uso da energia solar e o fim do recurso aos combustíveis fósseis. Mas quando isso é instalado, já Samakuva quer o voto presencial, opta por deputados a andar de bicicleta para se poupar a camada de ozono e defende a cozinha à lenha.
Parece anedótico e caricatural, mas não, é a pura verdade. O discurso político do maior partido da oposição é errático e resume-se, em poucas palavras, a uma vontade de Isaías Ngola Samakuva de desejar ao mesmo tempo, e de imediato, para o nosso país, os benefícios da modernidade, da pós-modernidade e da tradição – e depois de os obter, recusá-los todos.
Eu já defendi aqui que as sociedades contemporâneas são feitas hoje de uma amálgama desses três conceitos, o que não esperava era que houvesse alguém que erigisse a defesa de um e outro a ideário político conforme as conveniências. Recordo-me que as pressões internacionais já passaram por essa fase de critérios variáveis: quando criámos o Tribunal de Contas, este já não servia, o melhor era uma Alta Autoridade contra a Corrupção; quando foi nomeado o Provedor de Justiça, já queriam um Provedor do Cidadão. Na sector dos “media”, a brincadeira é a mesma: os bons profissionais de jornalismo não precisam de nenhum pacote para exercerem a profissão, mas a UNITA mete-se no assunto e fala em nome dos jornalistas, pedindo algo de urgência discutível, que depois, evidentemente, irá questionar.
No final de contas, o que temos com isto é a confusão e o caos de que fez alarde o líder da UNITA no dia 31 de Agosto de 2012 e contra o qual o Executivo vem respondendo com a melhor estabilidade possível.
Este é o momento ideal de fazermos votos para que o conflito social que atravessa a França, por causa de um projecto de reforma laboral, não degenere em nenhuma confusão que possa colocar em causa as contas bancárias do líder da UNITA e seus familiares, sem que isso seja objecto de nenhuma crítica nem entendido como megalomania.
A estratégia da liderança da UNITA é manhosa e só engana os mais desprevenidos. Mas como disse Abraham Lincoln, “podeis enganar toda a gente durante um certo tempo, podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo, mas não vos será possível enganar sempre toda a gente”.
O que realmente o líder da UNITA quer é o poder, mas para que isso aconteça é preciso que a mensagem que transmite tenha consistência e credibilidade e, mais do que isso, consiga conquistar os votos do eleitorado.
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