Rui Peralta,
Luanda
Após o 11 de Setembro de 2001 os conceitos de “Império” e de “Imperialismo”
ressurgiram. Termos como “ambição imperial da América”, “Elite Imperial” (que
abarcava na sua composição o advogado dos direitos humanos), “exportação da
democracia”, “Poder responsável”, “Imperialismo democrático”,
repercutiram-se. Esta euforia em torno de um novo discurso (e prática)
imperialista passou rapidamente para a Europa. Muitos foram os que escreveram e
falaram sobre a Europa como nova potência mundial. Ambos os lados do Atlântico
ensaiavam uma nova ordem mundial, reabilitando o imperialismo, transformando-o
em “ético”, retomando o discurso colonialista do século XIX, a posição do
civilizador que carrega o fardo.
Esta
“nova ordem internacional” representa um programa contrário ao
universalismo jurídico que levou á fundação da ONU (uma reforma fundamental do
direito internacional). Contrário porque é necessário às potências ocidentais
que as guerras imperialistas tornassem a ser aceitáveis, que funcionassem como
um paradigma (iniciado com Reagan e Thatcher e ampliado pelas sucessivas
administrações republicanas ou democratas nos USA e pela maioria dos principais
membros da NATO) pós guerra fria, conducente com os projectos da globalização
capitalista, que apregoava a difusão das democracias liberais, segundo os
modelos ocidentalizados. Este paradigma – hoje dominante, embora com algumas
variantes – torna aceitáveis as guerras imperialistas na periferia, ao mesmo
tempo que provoca a impressão de ruptura com os velhos interesses políticos.
O discurso anti-imperialista afirma-se em finais do século XIX e foca-se nas
conexões entre capitalismo e colonialismo. Com a I Guerra Mundial além das
relações de Poder entre as principais potências capitalistas e as causas
económicas e políticas do militarismo e da política bélica, o discurso
anti-imperialista passa a focar as questões fundamentais do capitalismo da
época e redefine o imperialismo como um conceito de periodização de uma
específica fase de desenvolvimento do capitalismo. Perante os diversos níveis
de desenvolvimento da concorrência no capitalismo caracterizado pela
constituição de grandes corporações da indústria pesada nos mercados internos,
a análise ao imperialismo (ás politicas imperiais no capitalismo) tornaram
obsoletas as analises ao Império nas economias pré-capitalistas (tributárias).
Imperialismo não é apenas Império. Imperialismo é uma forma que o capitalismo
assume como consequência dos processos de mundialização da economia.
A II Guerra Mundial aprofundou esta análise e este discurso, permitiu
aprofundar a questão do militarismo (através das analises ao fascismo, logo no
pós I Guerra Mundial e acompanhamento do desenvolvimento do fascismo até ao
eclodir da II Guerra Mundial) e participou no universalismo jurídico, de forma
progressista, permitindo as aberturas de portas ao anticolonialismo. Os
discursos anti-imperialistas centraram-se nas relações de desigualdade e
dependência entre centro e periferia, mesmo após a dissolução dos regimes
coloniais. Tiveram como centros de referência as guerras abertas (Indochina) e
ocultas (América Latina) assim como as guerras de libertação nacional em África
(Argélia versus imperialismo francês, Angola, Guiné e Moçambique versus
colonial-fascismo português, que era membro da NATO, etc.), enquanto construía,
em simultâneo, um amplo movimento pela Paz a nível mundial (prática que foi
comum á politica das correntes revolucionarias e não-reformistas do movimento
operário na I Guerra Mundial).
A
complexidade do contexto foi adulterada pelo facto de se considerar que,
afinal, entre os centros do capitalismo existia uma profunda interdependência
económica, que acabaria por anular a concorrência em termos imperialistas, uma
vez que as crises nas décadas de 60, 70 e 80 não tinham provocado rupturas na
interdependência das economias capitalistas. A questão é que a concentração da
produção e do capital, efectuada pela hegemonia dos monopólios – actualmente,
oligopólios – e que no terceiro milénio atingiu o seu expoente máximo, conduziu
á submissão do capital industrial, convertendo o capital financeiro em sector
dominante. A exportação de capitais, efectuada da periferia para o centro é,
actualmente a forma principal como se manifesta a divisão internacional do
trabalho, a forma como as relações soberania-dependência se manifestam e se
desenvolvem. Por isso os conflitos assumem maior amplitude nas regiões da
economia-mundo de maior interesse geoeconómico (água, energia), geoestratégica
(posicionamento dos recursos) e geopolítico (domínio sobre os recursos).
O capitalismo está em permanente transformação, não através de metamorfoses mas
sim da geração de novas estirpes, de forma viral. No estágio final de cada
processo da sua transformação surge o imperialismo e a guerra como manifestação
da nova forma assumida.
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