Análises
da Plataforma Transgénicos Fora, feitas pela primeira vez, revelam que existe
elevada contaminação com glifosato em Portugal. Bloco propôs proibição mas AR
recusou. O deputado Jorge Costa declara que situação “é totalmente inaceitável”
e espera que a posição ambígua do governo se altere em breve.
A
Plataforma Transgénicos Foradivulgou os resultados das análises, realizadas à
urina de 26 pessoas portuguesas e a algumas amostras de alimentos, e concluiu
que foram evidenciados “níveis inesperados e absolutamente assombrosos de
glifosato (mais conhecido por Roundup), o pesticida químico sintético mais
usado na agricultura portuguesa – e até agora o mais ignorado”.
A
plataforma denuncia que “embora o Ministério da Agricultura mantenha, ao longo
de sucessivos governos, um plano anual de monitorização em alimentos que testa
a presença de mais de 300 resíduos de pesticidas, o glifosato tem sido excluído
das análises.O mesmo se passa com a água de consumo, uma vez que o Ministério
não inclui o glifosato na lista de substâncias a pesquisar pelas entidades
fornecedoras". Questionado já este ano, o ministério da Agricultura “não
apresentou quaisquer análises, nem mesmo as previstas pelas diretivas técnicas
da União Europeia”.
As
análises, às pessoas que se voluntariaram para o estudo, revelaram que “o
glifosato foi detetado em 100% das análises efetuadas à urina” (ver quadro ao
lado). Estes números são muito superiores aos de outros países europeus: um
levantamento feito, em 2013, pela associação Amigos da Terra em 18 países
europeus, revelou contaminação em 44% das pessoas. “O português menos contaminado
tem três vezes mais glifosato que o pior caso alemão”, realça a plataforma.
A
análise a alguns alimentos, mostra que “o glifosato pode estar a entrar
regularmente na alimentação dos portugueses”, apesar dos valores estarem abaixo
dos limites legalmente estabelecidos.
Pelo
menos 89 câmaras usam glifosato
A
plataforma alerta que o glifosato é usado em zonas urbanas de norte a sul do
país, nomeadamente por municípios, para controle de ervas nas estradas e
caminhos.
Sobre
o uso pelas autarquias, o “Diário de Notícias” de hoje lembra que o Bloco de
Esquerda perguntou às câmaras do país se usavam glifosato e em que quantidades.
Em 107 respostas que recebeu, 89 câmaras municipais disseram que sim e 18 que
não.
O
Bloco de Esquerda apresentou na Assembleia da República um projeto de resolução
recomendando ao governo o “voto contra a renovação do uso do carcinogénico
Glifosato na UE e proibição do uso no país”, mas o projeto foi chumbado no parlamento no passado dia 15
de abril, pelos votos contra de PSD e CDS e a abstenção de PS e PCP.
Iniciativas semelhantes do PAN e do PEV também foram rejeitadas.
Jorge
Costa: Situação “é totalmente inaceitável”
Em
declarações à TSF, o deputado do Bloco de Esquerda Jorge Costa realçou a grande
utilização do glifosato no nosso país, salientando que “nos últimos anos houve
uma substituição, devido às políticas de austeridade, de trabalhadores
municipais pela utilização intensiva deste veneno, que está identificado pela
organização Mundial de Saúde (OMS) como 'potencialmente cancerígeno' e é
totalmente inaceitável que persista esta utilização intensiva”.
Jorge
Costa considerou ainda que o governo português tem tido uma posição ambígua,
esperando que essa posição se altere em breve. Foi essa a resposta do Governo a
um requerimento do Bloco de Esquerda.
Em
entrevista à RTP, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, disse, neste
domingo, que quando chegou ao ministério existia uma orientação para que
Portugal votasse na União Europeia (UE) a favor do glifosato e que recomendou
que, em vez de votar a favor, Portugal se abstenha no comité de Peritos da UE,
que deverá decidir a 18 de maio de 2016.
Capoulas
Santos disse que se trata de um “assunto muito melindroso”, considerou que “
"não é líquido" quais os efeitos do glifosato na saúde, apontando a
necessidade de mais estudos.
O
ministro da Agricultura defende que um primeiro passo pode passar pela
proibição da utilização do glifosato nos centros urbanos e defende a proibição
imediata da taloamina, que é um coadjuvante.
A
Plataforma Transgénicos Não alerta, em relação ao glifosato, para “a gravidade
dessa poluição silenciosa, invisível e provavelmente mortal (segundo a
Organização Mundial de Saúde o glifosato é provavelmente carcinogénico em
humanos e demonstradamente carcinogénico em animais de laboratório)".
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