A
opinião de Ana Sá Lopes, no jornal i, não podia ser mais pertinente. Maviosa
nas palavras mas nem por isso irrealista. Os jornalistas (existem exceções cada
vez mais raras) não dão a conhecer o país real, eles próprios parece que
preferem não o conhecer. Vai daí mostram-nos o que lhes pagam (muito bem) para nos
mostrarem, assumindo a adversariedade com os milhões que são a maioria dos que
sobrevivem (mal) no país real.
Salvo exceções, não existem jornalistas ricos por via daquela profissão, mas não são pobres. São produto daquilo a que se sujeitam e a que se vendem (quando se vendem). Podem ter uma vida sossegada e confortável se não gastarem mais que aquilo que ganham no seu trabalho.
O mais grave é existirem imensos cuja pobreza de espírito é confrangedora. Desses, vimos, lê-mos e ouvimos a produção de enormes barbáries que põem a profissão e os profissionais a sério numa situação de "caldeirada", em que todos são medidos pela mesma bitola. Injusto. E não, não acontece só nas televisões. O que existe na comunicação social - certa e incerta - é do piorio e da devassa da nobre (em tempos) profissão.
Sem mais considerações, porque a realidade jornalística
mete nojo, passemos ao artigo de opinião de Ana Sá Lopes, no jornal i. (PG)
O
país que passa na televisão está cheio de ricos
Ana
Sá Lopes – jornal i, opinião
Um
jornalista radical, Serge Halimi, escreveu um dia que desde que os jornalistas
começaram a viver com os salários das classes altas, nos bairros das classes
altas, a ir aos restaurantes das classes altas, começaram instintivamente a
defender os interesses das classes altas, dos banqueiros, dos grandes
empresários, e a ignorar os trabalhadores comuns que sobreviviam com
dificuldades. Num passado remoto, o jornalista era um operário como os outros.
Depois dos anos 80, as coisas mudaram.
Este
livro de Serge Halimi é antigo e, entretanto, o panorama do setor da
comunicação social alterou-se: os salários dos jornalistas são baixíssimos e
alinham genericamente pela classe média nacional, onde um vencimento de 1500
euros líquidos é considerado bom. Os salários que não mudaram – a par dos
administradores dos bancos e das grandes empresas – foram os dos mais
conhecidos comentadores políticos.
A
menos que se trate de uma qualquer “síndrome de Estocolmo” – que existe sob as
mais estranhas formas –, o facto de o país comentador ter vindo abaixo com o
anúncio de um novo imposto para o património mais elevado, que vai substituir o
imposto de selo criado pelo governo Passos/Portas, prova que quem tem acesso à
televisão não conhece o país em que vive, onde o salário médio é de 800 euros e
a acumulação de património com valor tributário de 500 mil euros é uma
raridade. Não é valor de mercado: é valor tributário, o que é radicalmente
diferente.
É
evidente que a maneira como o novo imposto foi apresentado não podia ter sido
mais desastrada. Quando Costa vem ontem dizer que, praticamente, não existe
imposto nenhum, é uma tentativa de controlo de danos – a 25 dias da
apresentação do Orçamento – desesperada.
Mas
uma coisa é a forma, outra o conteúdo. A unanimidade dos comentadores não
representa o país real. Alguém que faça o favor de lhes diminuir os salários de
forma a permitir que tenham possibilidades de obter um melhor conhecimento de
causa.
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