O
ex-presidente timorense, José Ramos-Horta, afirmou à Lusa, na quarta-feira, que
só em outubro decidirá se é ou não candidato presidencial nas eleições de abril
de 2017, na sequência de vários apelos nesse sentido em Timor-Leste.
Nas
últimas semanas a imprensa timorense e as redes sociais têm referido a
possibilidade de uma recandidatura de Ramos-Horta à presidência em 2017, algo
que o líder timorense ainda não tinha comentado publicamente.
"Ainda
não tomei uma decisão em definitivo se me recandidato ou não. Têm sido semanas
de ouvir muitos timorenses preocupados com as eleições de 2017, quer as
presidências de março, quer as legislativas em julho de 2017",
disse nesta quarta-feira, questionado pela Lusa sobre essas notícias.
"Ouvi
muitas pessoas de um leque muito alargado que insistem, apelam, a que me
candidate. Porque estão preocupados e, eu também, com os próximos cinco anos,
até 2022", considerou.
José
Ramos-Horta falava à Lusa antes de partir de Timor-Leste numa deslocação pela
Europa e Estados Unidos da qual só regressará a Díli em outubro, mês em que se
celebra o 25º aniversário da atribuição a si e ao bispo D. Ximenes Belo, do
Prémio Nobel da Paz.
"Estou
50-50. Volto a 04 de outubro e anunciarei a decisão nessa altura", afirmou.
O
líder histórico timorense disse que as preocupações sobre os próximos anos se
prendem com a necessidade de ter um presidente "como alguma autoridade,
capacidade de mediação, de diálogo, de fazer pontes, entre as forças
políticas".
"Não
estou filiado em nenhum partido, tenho as minhas opiniões sobre as diferentes
personalidades, mas não milito em nenhuma força", explicou.
Uma
preocupação que se deve em especial ao "embate de três grandes figuras
nacionais da resistência", nomeadamente o CNRT (liderado por Xanana
Gusmão), a Fretilin (liderada por Francisco Guterres Lu-Olo e Mari Alkatiri) e
o recém-criado PLP que, ainda sem um anúncio oficial até ao momento, poderá ser
liderado pelo atual presidente, Taur Matan Ruak.
A
preocupação deve-se ainda, referiu, à situação económica e à pressão sobre a
queda no preço do petróleo e a incerteza sobre o que acontecerá depois de findo
o atual único poço que injeta dinheiro no Fundo Petrolífero, o Bayu Undan.
Incertezas
sobre o futuro do eventual poço de Greater Sunrise e a demora até que esse
projeto possa avançar deixam sérias pressões sobre o orçamento público nacional.
"Tudo
isto cria muitas preocupações entre vários quadrantes. E é nesse cenário de
possíveis dificuldades que querem ver um candidato não ligado a uma força
política", disse.
Ramos-Horta
admite que sem o apoio de uma força política, no regime semipresidencialista
timorense, é difícil que o chefe de Estado consiga fazer avançar as suas
preocupações, mas destaca que é essencial que o futuro Presidente seja alguém
que modere e mantenha a serenidade entre as várias forças políticas do país.
"O
embate será fundamentalmente político. Estamos a falar de pessoas altamente
responsáveis e eles saberão impor aos seus seguidores, quadros médios e
disciplina na linguagem", disse.
"São
três grandes forças que se vão enfrentar e é preciso o esforço de todos,
incluindo de mim, de outros, da igreja, para ajudar a serenar os ânimos. O
presidente terá depois que encontrar uma solução governativa que assegure o
país", frisou.
A
avançar, seria a terceira candidatura consecutiva de Ramos-Horta ao cargo de
presidente, depois da vitória em 2007 - na segunda volta - e da derrota, logo
na primeira volta, em 2012.
José
Ramos-Horta exerceu o cargo de presidente entre 20 de maio de 2012 e 20 de maio
de 2007, estando impedido - depois de ser baleado - de exercer funções entre 11
de fevereiro e 17 de abril de 2008.
Nessas
eleições, José ramos-Horta foi o segundo candidato mais votado na primeira
volta (21,81% dos votos), perdendo para Francisco Guterres Lu-olo (27,89%),
conseguindo no entanto somar apoios na segunda volta, contra o líder da
Fretilin, obtendo 69,13% dos votos.
Em
2012, Ramos-Horta foi o terceiro mais votado na primeira volta, com 17,3% dos
votos, atrás de Francisco Guterres (28.76%) e Taur Matan Ruak (25.71%), sendo
este último o vencedor na segunda volta.
Antecipa-se
que Francisco Guterres volte a ser candidato em 2017 com observadores e
analistas a considerarem que é o favorito, tendo o atual chefe de Estado, Taur
Matan Ruak, confirmado à Lusa no ano passado que não se recandidatará.
SAPO
TL com Lusa
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