quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

COM O MPLA O POVO ANGOLANO ULTRAPASSARÁ ESTA ETAPA



Rui Peralta, Luanda
       
2016, é um ano que se prevê difícil, que será vivido numa conjuntura económico-financeira bastante desfavorável. Os contextos de crise, para serem ultrapassados, necessitam – em partes iguais – da inovação e da criatividade, o que implica uma dinâmica social que passa pela actualização de paradigmas, assim como, o surgir de novos paradigmas. Claro que esta dinâmica arrastará, também, paradigmas para o caixote de lixo da História. Estes últimos são os que estão imbuídos de lógicas autoritárias, etnocêntricas e patriarcais, lógicas onde predomina a retórica colonial. Também esta retórica é “reciclada”, assumindo a forma de lógicas recheadas de promessas persuasivas, especulativas, dominadas pelo “olhemos para o nosso umbigo”, que abrem as portas ao domínio neocolonial. Ora, estas são as lógicas e retóricas, que deveremos “encestar” no cesto dos papéis, não para reciclar, mas para as incinerar.

Para termos as condições necessárias para vencermos estas dificuldades, para termos o contexto que nos permita criar, inovar, actualizar, necessitamos de optimismo e de ânimo.

E esse optimismo e ânimo vamos nós, angolanos, encontrar no MPLA, um partido batalhador, que já venceu muitas batalhas, algumas tão difíceis como esta. Por isso, para os inimigos de Angola, o MPLA é sempre – e em qualquer circunstância - o alvo a atingir. Foi assim na luta de libertação nacional contra o colonial-fascismo, foi assim na luta pela manutenção da soberania nacional, após a independência, é assim, hoje. Qualquer arma serve: a repressão, a guerra, o boato, a mentira, a desestabilização, tudo é arma de arremesso, com o intuito de dividir o povo angolano e destruir as conquistas alcançadas.

É assim que, sob o pretexto dos recentes ajustamentos dos preços dos combustíveis, os inimigos da Paz tentaram, uma vez mais, confundir o Heróico e Generoso Povo Angolano, espalhando pelas redes sociais a preparação de eventuais marchas de protesto contra estas medidas, a efectuar pelo…MPLA. Esta farsa constitui uma violação clara dos princípios do Estado Democrático de Direito – que assenta na verdade e na transparência dos actos – e dos direitos dos cidadãos, que vêm-se confrontados com uma campanha caluniadora, que visa intoxicar a opinião pública nacional.

Angola enfrenta uma crise económica e financeira que será ultrapassada através da diversificação da economia, da criação de mais riqueza e da melhor e mais efectiva distribuição dessa mesma riqueza, criada por todos nós, cidadãos angolanos. A actual crise será vencida pelo nosso génio criativo e pela nossa capacidade de inovação, no encalço do aprofundamento da democracia e da edificação de uma sociedade mais justa, sustentável nos princípios da democratização politica, social, económica e cultural, onde cada cidadão viva uma vida digna, com autonomia social, uma vida que mereça ser vivida. Mas, este é também um momento em que os nossos inimigos, explorando as dificuldades, tentam tirar o máximo proveito.

Não será através da calúnia e da mentira que os bandos desestabilizadores, que nutrem-se da depredação e colonização de territórios e da submissão dos cidadãos aos seus desígnios hegemónicos e totalitários, destruirão os vínculos sociais que permitem a construção quotidiano da cultura da Paz. Angola não se deixa intimidar pelos bandos que têm como objectivo antigo e permanente a destruturação da Nação (a “somalização” como certos sectores afirmam). Venceremos esta etapa difícil da vida da Republica de Angola. Com coragem, determinação e inteligência, características inerentes ao nosso Povo, e que marcam as posições, desde sempre, do MPLA.

Angola entrou, definitivamente, numa Nova Era, efectivando o Estado Democrático de Direito. Uma Nova Era de esperança, alicerçada na cultura da Paz, nos valores do Trabalho, em Liberdade. Iremos edificá-la no nosso esforço quotidiano, na continuidade da luta e na certeza da Vitória, sob a sábia liderança do Presidente José Eduardo dos Santos. Avante Angola.

Angola. UM GENERAL COM PEITO PARA LUANDA



Reginaldo Silva – Rede Angola, opinião

O novo governador de Luanda é conhecido em certos círculos que lhe são mais ou menos próximos por “peito alto”, o que parece ser uma referência à sua capacidade de enfrentar os problemas com a necessária frontalidade.

Esta sua alcunha espalhou-se depois para a opinião pública e hoje pensamos que ela já é bastante conhecida na hora de se fazer a identificação do cognome com a pessoa.

Esta conotação física do General Higino Carneiro é interpretada como estando também relacionada com a forma mais ou menos ríspida como ele ataca ou resolve os problemas que lhe vão surgindo pelo caminho, sempre que é chamado a desempenhar alguma missão.

Aqui o seu “peito alto” pode querer significar mais força do que jeito, mais arrogância do que diplomacia.

No que toca a esta sugestiva expressão, o que todos conhecemos é que ela é a designação dada àquela parte rija mas saborosa da carne de vaca com ossos, destinada especialmente a fazer o prato nacional mais famoso da gastronomia angolana.

Estamos a falar, obviamente, do “funje de peito alto”, que é efectivamente uma das iguarias mais apreciadas pelos angolanos.

Se desse para misturar todos os significados e conotações da expressão “peito alto” numa só pessoa e numa perspectiva funcional, talvez ela fosse a chave do segredo para resolvermos todos os problemas que nos afligem enquanto país e sociedade ainda a braços com a resolução de problemas básicos que afligem a maior parte da sua população.

Conhecido ou não por “peito alto”, o que é facto é que Luanda tem um novo Governador e é com ele que vamos iniciar mais uma campanha, na sequência de tantas outras que já vimos passar por esta “cidade-estado” com as habituais promessas dos seus titulares que foram ficando pelo caminho.

Quantos governadores e quantos projectos de mudar Luanda para melhor ou de a transformar na nossa casa comum já passaram por nós, é, certamente, uma resposta vasta que só mesmo um livro seria capaz de dar, a reflectir uma pesquisa que não nos parece que seja muito difícil de levar a cabo.

Temos a certeza de que nenhum deles ficaria para a posteridade com outras letras que não significassem fracassos mais ou menos estrondosos, seguidos de exonerações e de novas nomeações, num desfile mais ou menos fúnebre que levou um destes titulares que já passou à história a considerar Luanda como sendo um “cemitério de quadros”.

O interessante desta premonitória avaliação, recorde-se, teve a ver com o facto dela ter sido feita antes mesmo do referido titular ter sido nomeado para o cargo de Governador, numa altura em que ele, na sequência de mais uma intriga palaciana, quase que jurava a pés juntos que jamais aceitaria ser o “number one” da província mais problemática do país.

No meio de uma crise financeira sem precedentes, tendo em conta a actual conjuntura sócio-económica, com o lixo a marcar desta vez o pesado compasso da incapacidade das autoridades locais em dar solução aos problemas básicos da capital e arredores, Higino Carneiro vai segurar no leme de uma governação que não garante nada a ninguém para além do desafio em si que será como sempre gigantesco, como se estivesse tudo a começar de novo.

Ao que consta, Higino Carneiro foi especialmente escolhido para arrancar com a implementação da primeira fase do Plano Director Geral Metropolitano de Luanda.

A confirmar-se que foi esta a principal motivação do regresso do General à capital, onde já esteve alguns meses a gerir Luanda no âmbito de uma efémera comissão administrativa, fica um pouco difícil tentar adivinhar quais serão as suas prioridades diante da urgência dos problemas imediatos que há para atacar, sendo sem dúvidas o lixo o maior deles nesta altura.

Pelos vistos este ambicioso mas nada consensual plano, para passar do papel, onde já custou milhões, para o terreno de uma Luanda futurista, vai precisar de algo mais do que um simples Governador.

Era o caso do anterior e que estava claramente a interinar, situação que, ao que julgamos saber, Graciano Domingos vive pela segunda vez na sua trajectória pelos corredores do GPL.

Com ele temos apenas o mais recente caso de um Governador que vai ficar na história de Luanda como tendo sido mais um que por aqui passou e nada deixou para que nos recordemos dele com um mínimo de saudade.

O ex-governador corre, entretanto, o sério risco de ficar para a história como sendo aquele que mais suja deixou a nossa metrópole.

E aqui a terminar, voltamos novamente à história da alcunha dada ao General Higino Carneiro, para dizer que o plano em causa, pelos vistos, vai mesmo precisar de dirigentes com muito “peito” para ser executado dentro dos prazos previstos.

Em Angola, quando no discurso oficial se fala de homens com “peito”, está a falar-se de uma necessidade muito específica para se lidar, nomeadamente, com as populações mais pobres na hora de se tomarem as decisões mais sensíveis e que mexem com direitos fundamentais.

Desta vez não parece que venhamos a ter o general no seu labirinto, mas vamos ter de aguardar mais um bocado para saber exactamente o que o traz Higino Carneiro de volta a Luanda, quando no KK ele estava a fazer uma obra de relançamento regional que nos chegava pela TPA com as melhores e mais luminosas referências.

Angola. HÁ MUITO PARA FAZER



Jornal de Angola, editorial

As pequenas e micro empresas, bem como iniciativas simples de negócios devem continuar a merecer a atenção quer por parte de pequenos empreendedores como das autoridades para que o processo de criação de postos de trabalho e criação de riqueza avance.

O processo de diversificação da economia tem de acelerar preferencialmente com o fomento de pequenas iniciativas, contrariamente à ideia de que temos de contar somente com os grandes projectos. Em tempos de dificuldades de natureza económica e financeira, urge fazer a apologia do potencial criativo dos angolanos e angolanas para as iniciativas que fazem “andar” a economia. Nada está  perdido, independentemente das expectativas optimistas serem aparentemente ofuscadas por incertezas, próprias dos fenómenos económicos cíclicos acontecem no mundo.

As dificuldades actuais não podem servir de pretexto para que   pequenos negócios deixem de exercer o seu papel, na medida em que é urgente maximizar as vantagens resultantes deste período. Como sucede com boa parte das economias, hoje muito interdependentes e vulneráveis a fenómenos imprevisíveis, as fases de dificuldades acarretam tanto vantagens como  desvantagens. É verdade que a prudência aconselha a um optimismo comedido para lidar com a presente situação económica e financeira, mas a transformação das vantagens em oportunidades não devem ser postas de lado.

Há dias foi lançada uma plataforma para viabilizar a realização de negócios, uma ferramenta virada para empreendedores e todos quantos dão o primeiro passo no mundo dos negócios. Trata-se da Rede Crédito Angola, um produto de uma instituição financeira não bancária que tem como objectivo  a localização  e promoção de bens e serviços.

Numa altura de dificuldades económicas e financeiras experimentados por várias famílias, comunidades e a população economicamente activa, a Rede Crédito Angola surge para cobrir um vazio.

Sem dúvida  que, ao lado das instituições financeiras bancárias, a Rede Crédito Angola de crédito vai ter um papel importante na promoção do crédito ao consumo, além de outras esferas de intervenção. Com as atenções viradas para todos os segmentos da população, a iniciativa aposta no mercado com o crédito Grupo, Investimento, Jovem e o Amigo, denominação dos produtos que vão estar disponibilizados no mercado angolano. Com taxas de juro atractivas, não há dúvida de que estamos em presença de uma iniciativa há muito esperada por todos quantos queiram  ver os seus projectos financiados.

Sedeada em Luanda e com autorização do banco central angolano, a Rede Crédito Angola vai inicialmente operar em nove províncias, citando apenas algumas como a de Cabinda, Huambo, Benguela, Lubango, Malanje, Namibe, Cuanza Norte. Acreditamos que à medida que o negócio se expande, outras províncias vão merecer   a presença desta importante iniciativa, virada essencialmente para os jovens empreendedores e empresários.  A administradora executiva do projecto esclareceu que os procedimentos para acesso  aos produtos da sua instituição estão desburocratizados para facilitar o processo. Instamos  todos os empreendedores e empresários a fazer prova contrária das alegações, muitas vezes levantadas, segundo as quais escasseiam os meios e vias para financiamento dos seus projectos.

Estão abertas as portas da Rede Crédito Angola cujos valores para financiamento, nesta fase inicial, vão de duzentos dólares a seis milhões de dólares, segundo informação da a Rede Crédito Angola.

Com ao auxílio desta instituição financeira podemos ver solucionada parte dos problemas, em matéria de financiamento,  que inviabilizam a criação de uma rede retalhista bem estruturada no país. As actividades comerciais, de pequena e média dimensão, o trabalho dos vendedores ambulantes e de produtores pode conhecer um novo ímpeto à medida que a Rede Crédito Angola se expanda pelo país.

Esperamos que a criação de parcerias nas áreas de entretenimento, pesca, agricultura, turismo, hotelaria, moda, entre outras, conheça uma nova fase para fomentar o auto-emprego, o nascimento de vários postos de trabalho, criação de riqueza e bem-estar para as famílias. Está na hora de os nossos empreendedores e empresários fazerem jus ao ditado segundo o qual se acredita que um país grande se constrói com pequenas iniciativas, tais como as dos nossos dedicados   homens e mulheres de negócios.

O Estado angolano conta com este segmento, cujas pequenas iniciativas têm um potencial muito grande para fazer crescer a economia. Vivemos tempos de dificuldades, é verdade, mas podemos  livrar-nos das amarras desta fase ou, pelo menos, contrariar significativamente os seus efeitos.

Independentemente do período menos bom por que passa o país, as famílias e as empresas, em termos económicos e financeiros, muita coisa se pode fazer, sendo fundamental promover a ideia de que nem tudo está perdido.

O LABORATÓRIO AFRICOM – XIV




Com as experiências adquiridas em São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial no seguimento do“Africa Oil Policy Innitiative Group”, o Pentágono tirou lições de articulação a partir das “Private Military Companies”, onde quer que fosse possível estender o poder da aristocracia financeira mundial, agenciadora de oligarquias e de elites.

As “Private Military Companies” aprestavam-se a um flexível leque de ingerências e manipulações maior que os meios militares de bandeira, em guerra como na paz.

Em guerra (como no Iraque), em paz (como em São Tomé e Príncipe e sobretudo na Guiné Equatorial).

Essa experiência seria muito importante para o “Laboratório AFRICOM”:

- Demonstrava previamente as capacidades a instalar no Comando África do Pentágono, integrando “componentes civis” fossem organizações governamentais como a USAID, fossem organizações não-governamentais, como por exemplo o “National Endowment for Democracy”, de forma aberta ou velada (conforme aos ensinamentos recolhidos com as “Private Military Companies” logo no início da “era Bush”);

- Possibilitava assim um maior empenho da panóplia de serviços de inteligência (CIA, DIA, NSA…) que passaram a ter opções e disponibilidades mais variadas e ao mesmo tempo, possibilidades de gestão integrada dos meios ao seu dispor e melhor sincronização na tomada de decisão em relação às actividades entrosadas, militares e civis entre sobretudo as potências anglo-saxónixas;

- Integrava nos dispositivos, as elites de forma a, ao moldá-las de acordo com os interesses e conveniências da aristocracia financeira mundial, agenciá-las e implantar seus próprios interesses e conveniências neo coloniais nos vulneráveis espaços nacionais e regionais africanos;

- Acoplava ao expediente a experiência “FrançAfrique” (para além do seu “pré carré”);

- Incentivava também os africanos e outros, às iniciativas instrumentalizadas nas “parcerias público-privadas” ao sabor do capitalismo neoliberal decorrente da hegemonia unipolar rampante e sem obstáculos.

Os conceitos que foram desenvolvidos pelo Pentágono no início do século em relação a África, conforme aos acontecimentos em São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial, acabaram também por moldar a CPLP:

- A Guiné Equatorial seria integrada nessa comunidade, sendo a oposição conservadora portuguesa “um filme” frouxo, com uma argumentação quase inóqua, perante as evidências insufladas pelo Pentágono (na verdade Portugal demonstrou-se muito obediente devido à inserção histórica na NATO desde a sua fundação, que não teve qualquer dúvida numa altura em que o Estado Novo era fascista e colonialista);

- A mensagem das articulações público-privadas estava lançada e passaria a ser influente em todos os membros da CPLP e particularmente em Portugal e em Angola, inclusive nos seus inter-relacionamentos bilaterais, “acomodando-se” à “The New World Order”!

A esta distância e no momento da eclosão duma IIIª Guerra Mundial não declarada que se reflecte hoje em Angola com o “fim da era Bush”, no momento em que na 70ª Assembleia Geral da ONU se pode constatar a eclosão da emergência multipolar, pode-se hoje fazer uma melhor avaliação do que escrevi em 2004, ainda no “ACTUAL”!

SÉCULOS DE SOLIDÃO, GUINÉ EQUATORIAL – “BÚFALOS FORA DE HORAS”

Menos de um ano depois do golpe de estado na vizinha República de São Tomé e Príncipe, (um golpe de estado que faz este mês o seu primeiro aniversário), que teve como eixo de sua concretização os remanescentes do “Batalhão Búfalo” naturais do pequeno arquipélago do Golfo da Guiné, um novo golpe de estado teve início em relação à República da Guiné Equatorial, ainda com remanescentes daquelas forças outrora alimentadas pelo regime do “apartheid”.

À falta de cidadãos naturais da Guiné Equatorial desta feita garantiu-se uma mobilização de cidadãos originários de vários países, entre eles angolanos (que foram aliás efectivo maioritário no“Batalhão 32” por força da sua origem, da história de sua aplicação e dos objectivos em relação aos quais foi garantido no quadro das SADF e dos serviços de inteligência do regime do “apartheid”).

Tal como o “expediente” relacionado com São Tomé e Príncipe, a iniciativa do golpe de estado na Guiné Equatorial não teve o rótulo duma “Private Military Company”, dadas aliás as características da acção, mas é justo notar que, quando os interesses em jogo precisam de garantir coberturas, ou dar um carácter mais oficial às iniciativas, então elas surgem pela via duma “PMC”; neste caso havia a conveniência das coisas se passarem em perfeita clandestinidade, pelo que uma vez mais se garantiu:


- O recrutamento de velhos efectivos que serviram no Batalhão 32, particularmente angolanos (o factor da língua era importante, pois na Guiné Equatorial fala-se o espanhol, castelhano, uma língua próxima do português).

- Ter também, uma vez mais a África do Sul como fulcro da “operação”, de acordo com factores políticos, económicos e sociais favoráveis a tal tipo de acção, bem como às “tradições” até hoje“preservadas” naquele país, em relação a antigas instituições e iniciativas.

Na África do Sul, “nação arco – íris”, apesar do fim do “apartheid” e da ascensão do ANC, a direita actuante que teve alicerces fortes quer nas SADF quer nos serviços de inteligência e da polícia sul africana, refugiou-se em círculos de pouco impacto político, mas conotados com os empreendimentos de segurança um pouco por todo o país, particularmente a segurança industrial ligada à poderosa e omnipresente indústria mineira.

Tendo as multinacionais mineiras da nebulosa da “Anglo American Corporation” e da “De Beers”,o comando de praticamente todas as acções no ramo e em muitos outros sectores de actividade na África do Sul, necessariamente os grupos de segurança assim formados depois do desmantelamento do “apartheid” e o advento dos Governos do ANC tendem a responder aos interesses que habitualmente servem dentro ou fora da África do Sul, independentemente das bandeiras, das nacionalidades e até das diferentes cores políticas e opções.

O sinal democrata, cujo “lobby” assenta nos interesses ligados à indústria mineira duma forma geral e nos interesses do cartel dos diamantes muito em particular, tem assim “tentáculos”perduráveis, naturalmente muito para lá do tempo útil do regime do “apartheid”, que foram sendo utilizados ao longo da década de noventa do século passado e ainda subsistem.

Aparentemente desgarrados dos contextos, eles garantem sempre conotações ascendentes de conveniência que convergem para a super estrutura financeira que tutela a própria globalização, pelo que a sua actuação comporta sempre as colorações próprias dos grupos de pressão existentes e aumentam a capacidade de manipulação em todas as conjunturas onde hajam estados enfraquecidos e vulneráveis, particularmente em África.

O “Consórcio Internacional de Jornalistas Investigadores”, um grupo de jornalistas-investigadores reconhecidos internacionalmente, (http://www.icij.org), realizou vários trabalhos sobre o tema das“PMC” e dos mercenários (um tema actual que está longe de ser encerrado, uma vez que os Estados Africanos continuam a dar mostras de serem fracos e vulneráveis em relação aos espaços nacionais e regionais circunvizinhos).

Uma das muitas conclusões a que chegou foi que a esmagadora maioria das “PMC” são de origem“anglo saxónica”: norte-americana , britânica e sul-africana, precisamente as potências-chave da“Commonwealth” à escala global e à escala da África sub Sahariana, tendo como raiz os critérios do imperialismo britânico dos finais do século XIX, sob o signo de Cecil John Rhodes.

“De facto, uma investigação levada a cabo durante dois anos pela ICIJ, identificou pelo menos 90 companhias militares privadas (conforme preferem ser conhecidos alguns mercenários deste novo milénio), que operavam em 110 Países espalhados pelo mundo. A maior parte dessas companhias providenciavam serviços a forças militares nacionais que incluíam treinos militares, inteligência, logística, combate e segurança em zonas de conflito, com quartéis-generais nos Estados Unidos, Grã Bretanha e África do Sul, muito embora o grosso dos seus serviços fosse prestado em áreas de conflito em África, América do Sul e Ásia” (in “Privatizing combat, The New World Order”).

Uma outra conclusão a que os jornalistas-investigadores infelizmente não tiraram na altura, parece ser a de que os golpes de estado contemporâneos envolvendo mercenários (alguns dos quais que já serviram em “Private Military Companies”), estão a ser muito mais profusos, por razões históricas e conjunturais, em países que se expressam em línguas latinas, em África pelo menos, que nos países que se expressam em língua anglófona, ou seja, é a partir de países que constituem os esteios da aristocracia financeira mundial e lhe servem como “correias de transmissão” a nível global e regional, que se estão a accionar dispositivos mercenários com maior ou menor cobertura legal e / ou oficial, tendo como alvo principal os países de fora da “Commonwealth”, o que é um dos factores principais de manipulação e da moderna pirataria.

Essa situação é sinónimo histórico do facto de, ao ter beneficiado com a revolução industrial da parte mais suculenta do planeta no período do Império Britânico e antes da descolonização, a“Commonwealth” tende a ser um dos instrumentos que dá cobertura aos interesses das multinacionais operadoras das explorações minerais, que podem operar em áreas onde os “lobbies”de sinal democrata estão em perda, em relação aos “lobbies” de sinal republicano, sincronizados com as multinacionais do petróleo.

No fundo implementaram-se artificiosos processos de manipulação que resultaram em ganhos para as “nervuras” que se prendem ao processo de globalização, por uma via ou outra e se no caso de São Tomé e Príncipe visava-se a consolidação da democracia representativa e a integração de agentes nas suas forças armadas, na Guiné Equatorial fica o sério aviso àqueles que mantendo o poder, ainda não puseram sequer em marcha o processo de implantação da democracia representativa, tão de conveniência dos poderes globais.

Esse “aviso” foi dado com recurso a mecanismos de pressão internos que contrataram os “velhos Búfalos”, apesar do regime da Guiné Equatorial procurar recorrer a “PMC” a fim de formar as suas forças armadas, aproveitando a formulação dos conceitos próprios do “AOPIG”.

Para colocar na Guiné Equatorial em posição vantajosa, uma “PMC” como a “MPRI”, recorreu-se aos “Búfalos”, mobilizando alguns dos efectivos que já fizeram também parte, muito provavelmente, doutra “PMC” como a “Executive Outcomes”, que publicamente terá deixado de existir.

Por outro lado, é evidente que entre uma “PMC” ao nível duma “MPRI”, norte-americana e uma“Executive Outcomes”, sul-africana que recorre à mobilização de antigos oficiais dos serviços de inteligência do regime do “apartheid” e de antigos efectivos do “Batalhão Búfalo”, os “lobbies” do petróleo estão a fazer tudo para imporem os primeiros, chegando até a conferir-lhes cobertura legal, colada às linhas de força de sua geo estratégia.

De facto e ainda segundo o artigo “Privatizing Combat , The New World Order”, por causa dos interesses do petróleo na Guiné Equatorial o “Military Professional Resources Incorporated”(“MPRI”), identificada como uma das mais poderosas e influentes empresas de mercenários, estará em vias de obter a sua completa legalização nos Estados Unidos e uma completa aceitação na Guiné Equatorial.

“O MPRI tem agora o poder do departamento legal da L-3 Communications por detrás e algumas vezes um departamento do governo fará o lobby em relação a outro, em benefício da PMC. Em Abril de 2001 um Relatório do Pentágono obtido pelo ICIJ referia que o MPRI podia precisar do nosso apoio na obtenção da … licença do Estado, necessariamente para o caso da companhia propor contratos a fim de treinar forças militares na Guiné Equatorial rica em petróleo, acerca do qual o Pentágono considerava tratar-se do Kuwait do Golfo da Guiné”.

( … )
“Charles Snyder, o Adjunto do Secretário de Estado para os Assuntos Africanos, disse que a renovação de licenças tais como as propostas para o MPRI em relação à Guiné Equatorial, tal como era considerado pelo seu staff, era algo valioso para a política norte-americana para aquela região: nós achamos que existe mérito ao se usar um contrato no exterior por que assim não estamos a empregar nem os uniformes americanos, nem nossos efectivos, disse. Um país como a Guiné Equatorial obterá possibilidades de treino onde quer que seja, então é melhor termos contratos norte-americanos no terreno. Por essa via pelo menos teremos conhecimento da informação de retorno tendo como base a informação oriunda de nossos profissionais, se os treinos tiverem ou não algum impacto”.

Movimentar os cenários desse modo é pois um objectivo em si dos grandes interesses, criando as ilusões que as manipulações e as por vezes artificiosas contradições geram e, nesse sentido, a utilização de observadores com interesses em vastas regiões com enorme capacidade de manobra, como Christian Rudolf Glaubrecht Hellinger, torna-se importante e “plenamente justificável”, especialmente quando esse tipo de personagens ganham capacidade em jogar em todos os tabuleiros, experimental e historicamente testados, independentemente das frentes, tal como seus eméritos professores, ao nível dos Rothschild, dos Oppenheimer, ou de Maurice Tempelsman.

 O aparente êxito dos serviços de inteligência da África do Sul, do Zimbabwe e de Angola, ao despoletarem a “ameaça fora de horas dos Búfalos” em relação à Guiné Equatorial, (o que não foi conseguido em relação a São Tomé e Príncipe faz agora um ano), não deixa de ser um processo perfeitamente condicionado que além do mais “responde à virtude” de não pôr em causa no sentido mais lato o terrível fenómeno do mercenarismo enquanto fenómeno do interesse da Nova Era Global.

Os “velhos Búfalos” terão caído num engodo que eles próprios muitas vezes souberam tão bem ajudar a criar quando respondiam às SADF, ao regime do “apartheid” e mesmo às multinacionais mineiras post Botha, para obter vitórias sobre seus adversários.

Os seus responsáveis não fizeram uma suficiente avaliação de forças, tanto no Golfo da Guiné quanto na própria África do Sul e apesar do passado recente em vigor em praticamente toda a década de 90, começam a haver indícios que o sinal democrata está a abandonar o recurso ao mercenarismo típico da segunda metade do século XX, entregando neste caso os deserdados“Búfalos” às feras e acatando a conveniência da ascensão duma “PMC” como o “MPRI” para o plano privilegiado das actuações no Golfo da Guiné.

Nenhum serviço de inteligência tanto de países da SADC quanto da África Central, ou do Golfo da Guiné que puseram em causa a actuação desgarrada dos “Búfalos” , apanhados a meio caminho e detidos em Harare, ousaram levantar sequer a mínima suspeita sobre a actuação do “MPRI”.

Com a actuação dos “Búfalos fora de horas”, os grandes interesses dão-se por satisfeitos com as obedientes respostas de todos os componentes regionais e na Guiné Equatorial, podemos quase estar certos que até a implantação tímida duma democracia representativa pode estar indefinidamente adiada.

Imagens:
- Localização da Guiné Equatorial;
- Simon-Man um dos chefes dos mercenários capturados na tentativa de golpe de estado na Guiné Equatorial;
- Publicação no ACTUAL nº 403 de 17 de Julho de 2004 – “Búfalos fora de horas”.

*Por engano publicámos primeiro O LABORATÓRIO AFRICOM – XV em data anterior, está convidado(a) a conferir e ler Martinho Júnior.

GUINÉ-BISSAU INSTÁVEL À ESPERA DE NOVO GOLPE DE ESTADO COM CHEIRO A DROGAS




A Guiné-Bissau continua a reviver a amarga instabilidade. Políticos sem escrúpulos fazem do país um refém às suas ordens e ao sabor dos desentendimentos entre facções.

Os guineenses sentem-se novamente enganados pelos atuais mandantes. Após a crise desencadeada pelo PR José Mário Vaz sucedem-se desentendimentos que causam instabilidade no normal curso de um Estado de Direito. Já se fala num golpe de Estado. É dito à boca cheia que a presente crise tem por origem a traficância de droga. A esse propósito, em Bissau, Aly Silva, no Ditadura do Consenso, é bastante acutilante e preciso. Confira a seguir o que ele afirma no seu alerta.

A Guiné-Bissau só é um estado falhado porque assim convém aos políticos e barões da droga internacionais que estão em conluio. Ao longo de décadas têm sido os guineenses as grandes vítimas desse criminoso conluio. Compete à comunidade internacional agir sem paninhos quentes. Compete à ONU garantir aos guineenses o país que pretendem, já que a União Africana não o consegue.

Já que é hora de sobressaltos e de desconfiar de quase todos, não será demais desconfiar da honestidade e transparência da União Africana, para além da sua inoperacionalidade comprovada no terreno. Os resultados do fracasso estão à vista. A Guiné-Bissau carece de uma intervenção séria e decisiva e não de políticas de meias-tintas que só têm servido para uns quantos roubarem o país, enganar as populações, semear o caos, a destruição e a morte. Basta!

Do referido Ditadura do Consenso passamos a transcrever o alerta de António Aly Silva. (FS / PG)

ALERTA PALOP, CPLP, CEDEAO, UNIÃO AFRICANA, UNIÃO EUROPEIA, ONU

“A 'crise política' desencadeada pelo presidente JOSÉ MÁRIO VAZ e que se alastrou ao parlamento, tem um nome: Tráfico Internacional de Drogas. A batata quente está agora nas vossas mãos.

O Povo da Guiné-Bissau AGUARDA impaciente. Descoberta que está a trama, vem aí um GOLPE DE ESTADO não tarda nada... AAS”

Guiné-Bissau. Quinze deputados do PAIGC exigem “diálogo sério” com a direção do partido



Quinze deputados do PAIGC, partido no poder da Guiné-Bissau, anunciaram esta quarta-feira (13.01) que vão votar contra o programa do Governo no próximo dia 18 "se não houver diálogo sério" com a direção do partido.

Em conferência de imprensa realizada em Bissau, o grupo de 15 deputados do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) que se absteve durante a votação do programa de Governo e que fez com que o documento não alcançasse votos suficientes para ser aprovado, deixou entender que não vai aprovar, na próxima segunda-feira (18.01) o programa do Executivo, em votação pela segunda vez, pelo facto de este não ter sido apresentado pelo Comité Central do PAIGC, órgão máximo entre dois congressos.

O deputado Soares Sambu e atualmente conselheiro do Presidente da República, disse que não está em causa o conteúdo do programa, mas sim as leis que foram tidas em conta.

“Que fique claro: o órgão que aprova o programa do Governo é o Comité Central do partido. Neste caso, é verdade que se apresentou um programa da legislatura pelo presidente do PAIGC e chefe do então Governo. Mas houve uma rutura na governação e havendo esta rutura há um novo figurino. Face a este novo quadro, todo o procedimento deve ser retomado”.

Soares Sambu afirmou que "naturalmente" os 15 deputados não poderiam caucionar o documento, o que, disse, não colocará em causa os projetos de desenvolvimento do país ou as relações com a comunidade internacional.

Diálogo sem pré-condições

O grupo diz-se aberto ao "diálogo sério, sem pré-condições", mas avisa que não claudicará perante o que classifica como atitudes sectárias, divisionistas e de perseguições no seio do PAIGC.

De acordo com Soares Sambu, o grupo está aberto para encontrar "soluções globais" dentro do partido e que possam viabilizar a governabilidade da Guiné-Bissau.

Ameaças e intimidações contra os 15

Os 15 deputados foram unânimes ao afirmar que têm estado a receber ameaças e intimidações vindas da própria cúpula do PAIGC, para que viabilizem o programa de Governo.

Segundo Soares Sambú são “correspondências panfletárias e anónimas entregues nas nossas casas dizendo que as nossas residências vão ser incendiadas, que vão amedrontar os nossos familiares, vão espancar os 15 deputados, etc., etc.”.

Soares Sambu citou ainda na conferência de imprensa a ameaça de agressão feita por alguns dirigentes, nomeadamente pelo primeiro-ministro, Carlos Correia, no caso de os 15 deputados votarem novamente contra o programa do Executivo. “O primeiro vice-presidente do partido e primeiro-ministro disse que não resta mais nada senão dar umas pauladas na cabeça dos 15 deputados”.

PRS e 15 deputados do PAIGC travaram aprovação do programa do Governo

Recorde-se que, a 23 de dezembro, um grupo formado por 15 deputados do PAIGC se absteve durante a votação do programa de Governo , uma medida que permitiu travar a aprovação do documento apresentado pelo primeiro-ministro Carlos Correia.

Apesar de o PAIGC ser maioritário, o programa de Governo não obteve votos suficientes para ser aprovado uma vez que à abstenção do grupo dos 15 juntaram-se os 41 eleitos pelo Partido da Renovação Social (PRS), na oposição.

Na votação, apenas 45 dos 101 deputados votaram a favor, aquém da maioria necessária (52 votos).

Sanções contra os 15 deputados

Domingos Simões Pereira disse ter sido "surpreendido" com o posicionamento dos 15 deputados, que, afirmou, “terão agora que se sujeitar à disciplina partidária, enfrentando sanções à luz dos estatutos.

“Ficamos surpresos, entre aspas, com o posicionamento desses deputados porque de facto, apesar de alguma contestação nunca imaginei que levassem essa posição ao Parlamento e decidirem votar contra a indicação do partido”.

Domingos Simões Pereira receia que as querelas políticas no país possam bloquear as instituições do Estado. O repto do líder do PAIGC é dirigido, entre outros, ao Presidente da República, José Mário Vaz - com quem mantem desavenças pessoais -, no sentido de este deixar o Governo executar as suas tarefas, "a bem do país".

O governo de Carlos Correia deverá voltar a apresentar o seu Programa de Governo na próxima segunda-feira (18.01) e em caso seja chumbado, o executivo cai automaticamente.

Braima Darame – Deutsche Welle

PORQUE NÃO FUNCIONA O SISTEMA POLÍTICO NA GUINÉ-BISSAU?



Foi esta a pergunta que a DW África fez ao sociólogo guineense Leonardo Cardoso. O historiador acredita que há pessoas e capacidade para governar o país. O problema são os que querem servir-se do Estado para enriquecer.

A crise política na Guiné-Bissau continua a arrastar-se. O Programa do Governo de Carlos Correia volta a ser apreciado pelos deputados a 18 de janeiro. Quinze deputados do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder) já anunciaram que vão votar contra "se não houver diálogo sério" com a direção do partido.

Se o Programa do Governo for novamente rejeitado, o Executivo cai. O impasse na Assembleia Nacional Popular (ANP) tem gerado muita inquietação e um clima de instabilidade, com troca de acusações e ameaças entre os atores políticos.

A DW África perguntou ao sociólogo e mestre em Ciências Sociais Leonardo Cardoso qual poderá ser a solução para a instabilidade que impera na política guineense.

O historiador guineense rejeita a hipótese de uma administração internacional sob a liderança das Nações Unidas para o país, como defendem vários analistas que consideram que a Guiné-Bissau é "praticamente ingovernável".

DW África: Será que os partidos já não têm nenhuma força aglutinadora? Isto visto que, mesmo com maioria absoluta no Parlamento, o PAIGC não consegue governar...

Leonardo Cardoso (LC): Não creio que o PAIGC esteja em condições de aglutinar as forças na Assembleia Nacional Popular, porque apesar da maioria que detém no Parlamento, anda de costas viradas com uma parte dos deputados (15). E pela forma como as coisas têm sido conduzidas, com cada um, por seu lado, a proferir declarações em conferências, não creio que haja condições para uma reconciliação imediata para se poder constituir como única força no Parlamento.

DW África: Acha que este grupo de 15 deputados do PAIGC vai voltar a impedir a aprovação do Programa do Governo, mesmo com a ameaça de sanções à luz dos estatutos do partido?

LC: Eu creio que sim porque parto do pressuposto de que são pessoas adultas e responsáveis. Qualquer decisão do partido por causa dos estatutos baseia-se na Constituição enquanto lei magna. E a Constituição confere a cada um dos deputados o direito de decidir de acordo com a sua consciência. Para além do mais, tanto quanto é do meu conhecimento, há algumas movimentações internas no sentido de se provocar a realização de um congresso extraordinário. Cada um está a jogar a sua cartada.

DW África: Por outro lado, fala-se também numa alegada "compra de votos" dos deputados por figuras políticas influentes. Como avalia esta situação? Que consequências podem ter estas práticas?

LC: Não creio que seja algo real, que as pessoas possam comprovar. Há uma acusação mútua. Há quem afirme que a direção do partido, na pessoa do seu presidente, ande a fazer também os seus jogos políticos, ande a oferecer carros. E, por outro lado, a direção do partido diz que, do outro lado, há também compra de consciências. Não sei quem, de facto, anda a fazer jogo sujo. Isto é lamentável, nem que seja prática ultimamente.

DW África: Acha que esta crise do sistema democrático na Guiné-Bissau poderá vir a servir de desculpa para uma maior influência política dos militares?

LC: Não vejo os militares metidos nisto. Há sim quem se queira aproveita da situação evocando o nome dos militares. Estou convencido que a instituição militar – porque eu faço sempre uma distinção entre militares e a instituição militar – em nenhuma circunstância estaria envolvida em jogos políticos. Pelos comportamentos militares que tenho estado a seguir, até diria que a instituição militar é a instituição que mais se tem adaptado às mudanças democráticas no país.

DW África: Há também quem considere que a Guiné-Bissau é praticamente ingovernável. Vários analistas defendem uma administração internacional sob a liderança da ONU para o país. Acha que seria uma solução viável?

LC: Penso que não. Já ouvi muitas análises. Neste mundo, toda a gente se tornou analista político, mesmo não conhecendo bem a essência das coisas, das causas. O que existe efetivamente na Guiné é que as pessoas não querem tomar juízo. E há pessoas que querem servir-se do aparelho do Estado para enriquecimento ilícito. Mas não creio que não existam pessoas e capacidades internas para governar o país. Elas existem.

DW África: Na sua opinião, qual seria a solução para o problema político da Guiné-Bissau?

LC: Não sei se estou em condições de me pronunciar sobre a solução, mas proporia talvez que houvesse estudos mais sérios sobre a realidade da Guiné-Bissau porque há bons exemplos de alternância da democracia, que existem no seio dos diferentes grupos étnicos. Nós tentamos introduzir alguns métodos de governação, de democracia, sem que as próprias populações estivessem preparadas. Foi tudo feito à pressa, na tentativa de importar ou fazer face às pressões internacionais. Mas se tivermos tempo e nos dermos ao luxo de estudarmos as estruturas sociais, os modelos de alternância política que existiam e que ainda existem na Guiné-Bissau, de certeza estaremos em condições de escolher o modelo que mais poderá servir para a Guiné-Bissau e, então, iremos entender-nos.

Na foto: As ruínas do antigo Palácio Presidencial, em Bissau

Maria João Pinto – Deutsche Welle

PREÇO DO PETRÓLEO: RÚSSIA QUEBRARÁ O MONOPÓLIO DE WALL STREET



F. William EngdahlNew Eastern Outlook - Traduzido por Vila Vudu – Oriente Mídia

Rússia acaba de dar passos significativos para quebrar o atual monopólio que Wall Street impõe ao preço do petróleo, pelo menos para parte significativa do mercado mundial de petróleo. O movimento é parte de estratégia de mais longo prazo para descolar a economia da Rússia e, especialmente sua muito significativa exportação de petróleo, do dólar norte-americano – que é hoje o calcanhar de Aquiles da economia russa. 

No final de novembro, o Ministério de Energia da Rússia anunciou que começaria a testar um novo preço referencial para o petróleo russo. Talvez pareça café pequeno para muitos, mas é importantíssimo. Se o experimento for bem-sucedido, e não há razão para que não seja, os contratos futuros negociados para o cru russo nas bolsas russas, serão denominados em rublos, não mais em dólares norte-americanos. É parte de um movimento de desdolarização que Rússia, China e número crescente de outros países já iniciaram sem alarde.

A fixação de um preço referencial [orig. oil benchmark price: preço para o cru que serve como referência, facilitando para vendedores e comparadores a determinação dos preços de incontáveis variedades de crus e misturas] é o eixo de distribuição de todo o sistema que os grandes bancos de Wall Street usam para controlar os preços mundiais do petróleo.

Hoje, o petróleo é a principal mercadoria negociada em dólares em todo o mundo. O preço do cru russo está hoje referenciado a um preço chamado “preço Brent”.[1] O problema é que o campo de Brent, como outros grandes campos do Mar do Norte estão já em declínio, o que implica dizer que Wall Street pode estar usando uma referencial em vias de esgotamento, para controlar o preço de quantidades gigantescas de petróleo. O outro problema é que o contrato Brent é controlado essencialmente por Wall Street e pela manipulação dos derivativos em bancos como Goldman Sachs, Morgan Stanley, JP MorganChase e Citibank.

O fim do ‘petrodólar’

A venda de petróleo denominado em dólares é essencial como apoio ao EUA-dólar. Por sua vez, manter a demanda por dólares em todos os bancos centrais, como moeda básica das reservas nacionais para pagar pelo petróleo importado, em países como China, Japão ou Alemanha, é essencial para que o EUA-dólar continue a ser a principal moeda de reserva em todo o mundo. O status de principal moeda de reserva no mundo é um dos dois pilares da hegemonia dos EUA desde o final da 2ª Guerra Mundial. O segundo é a força militar armada.

EUA financia suas guerras com dólares dos outros

Porque todos os países têm de comprar dólares para pagar pelo petróleo e por praticamente todas as mercadorias que importam, países como Rússia ou China (para ficar nesses exemplos) investem em papéis do governo dos EUA ou outras securities semelhantes do governo dos EUA – portanto, em dólares –, o excedente que suas empresas acumulam. O único segundo candidato suficientemente grande para esses investimentos, o euro, passou a ser visto como de mais alto risco desde a crise da Grécia em 2010.

O papel de liderança do EUA-dólar na função de moeda de reserva é o que permite, desde agosto de 1971, quando o dólar foi desvinculado do lastro ouro, que o governo dos EUA sobreviva apesar de infindáveis déficits no orçamento, sem ser forçado a subir a taxa de juros – como alguém que pudesse usar um ‘cheque especial’ bancário infinito, sem limite nem prazo.

É também o que permitiu que Washington criasse dívida federal recorde de $18,6 trilhões, sem nenhuma preocupação. Hoje, a relação dívida federal/PIB do governo dos EUA é 111%.

Em 2001, quando George W. Bush assumiu a Casa Branca, e antes de torrar trilhões na “Guerra ao Terror” no Afeganistão e Iraque, a mesma relação EUA-dívida/PIB era a metade do que é hoje: 55%.

Daí que os falastrões em Washington vivam a dizer que “dívida não é problema”: porque têm certeza de que Rússia, China, Japão, Índia, Alemanha estão para sempre condenados a ter de comprar a dívida dos EUA com os dólares excedentes que consigam acumular.

Manter esse ‘poder’ – a condição de principal moeda internacional de reserva – é prioridade estratégica para Washington e Wall Street, vitalmente ligada ao processo pelo qual o mundo determina os preços do petróleo.

No período até o final dos anos 1980s os preços mundiais do petróleo eram determinados, em grande proporção, pela relação real diária entre oferta e demanda. Ali ainda reinavam os corretores de petróleo, os que compravam e vendiam. Então, Goldman Sachs decidiu comprar uma pequena corretora de mercadorias que havia em Wall Street, J. Aron, nos anos 1980. Já haviam posto o olho na possibilidade de transformar o modo como, dali em diante, o petróleo seria negociado nos mercados mundiais.

Foi o advento do “petróleo papel”, petróleo vendido em contratos futuros – contratos independentes de entrega do cru físico, que podem ser muito mais facilmente manipuláveis por grandes bancos, cujos preços são muito sensíveis a boatos e a operações clandestinas sórdidas ‘de mercado’, e quanto mais sórdidas mais lucrativas. Esse ‘mercado’ era meia dúzia de bancos de Wall Street que denominavam as vendas futuras de petróleo e sabiam que posições preservar e que posições vender – funçãoinsider muito conveniente, da qual não se fala em reuniões sociais da boa sociedade.

Foi o começo da conversão do mercado de petróleo em cassino, no qual Goldman Sachs, Morgan Stanley, JP MorganChase e uns poucos outros bancos gigantes de Wall Street controlam as mesas de roleta.

Depois do aumento do petróleo da OPEP em 1973, quando o preço chegou a quase 400% em apenas alguns meses depois da Guerra do Yon Kippur em outubro de 1973, o Tesouro dos EUA enviou emissário de alto nível a Riad, Arábia Saudita.

Em 1975, o secretário-assistente do Tesouro dos EUA Jack F. Bennett foi enviado à Arábia Saudita para firmar um acordo com a monarquia, pelo qual o petróleo saudita e de toda a OPEP passaria a ser negociado exclusivamente em EUA-dólares, não mais em ienes japoneses, ou marcos alemães, ou o que fosse. Imediatamente depois, Bennett assumiu um alto posto na Exxon.

Os sauditas exigiram altas garantias militares e equipamento de ponta, em troca do ‘acordo’ e, daquele ponto em diante, por mais que países importadores de petróleo tenham protestado, o petróleo é vendido em dólares em todos os mercados do mundo, a preços determinados por Wall Street mediante o controle dos derivativos e do mercado de futuros, como se faz na Bolsa Intercontinental Exchange, ICE em Londres, na Bolsa de Mercadorias NYMEX, em New York, ou na Bolsa Mercantil de Dubai, que determina o preço de referência para o cru árabe. Todas essas instituições são propriedade de um fechadíssimo grupo de bancos de Wall Street (Goldman Sachs, JP MorganChase, Citigroup e outros). Foi quando se diz que o secretário de Estado Henry Kissinger teria dito que “Se você controla o petróleo, você controla nações inteiras”. O petróleo sempre foi o coração do Sistema EUA-dólar, desde 1945.

Importância do preço referencial russo

Hoje, os preços do petróleo que a Rússia exporta são fixados conforme o preço Brent negociado em Londres e New York. Com o lançamento do preço referencial da Rússia, isso deve mudar, provavelmente muito dramaticamente. O novo tipo de contrato para o cru russo em rublos será negociado na Bolsa Mercantil Internacional de São Petersburgo (SPIMEX).

Os contratos referenciados ao preço Brent são usados atualmente para fazer preço não só do petróleo cru russo. Fazem preço também de mais de 2/3 de todo o petróleo negociado internacionalmente. O problema é que a produção do Mar do Norte está caindo, a ponto de que hoje míseros 1 milhão de barris de Brent ali produzido fazem o preço de 67% de todo o petróleo comercializado no mundo.

Contratos denominados em rublos russos podem dar mordida considerável na demanda por petrodólares, tão logo comecem a aparecer.

A Rússia é o maior produtor de petróleo do mundo; a criação de um referencial independente para o preço do petróleo russo, que seja independente do dólar, é evento muito significativo, para dizer o mínimo. Em 2013 a Rússia produziu 10,5 milhões de barris/dia, pouco mais que a Arábia Saudita. Dado que país usa predominantemente o gás natural, os russos podem exportar 75% de todo o petróleo que extraem. A Europa é, de longe, o principal consumidor do petróleo russo, comprando 3,5 milhões de barris/dia, ou 80% do total das exportações russas.

O petróleo Urals Blend, mistura de vários tipos de petróleo russo, é o item mais exportado da ‘carta’ de petróleo russo. Principais consumidores são Alemanha, Países Baixos e Polônia. Para avaliar com mais clareza o peso do preço referencial que os russos estão criando, basta considerar que os demais grandes fornecedores de cru para a Europa – Arábia Saudita (890 mil barris/dia), Nigéria (810 mil b/d), Cazaquistão (580 mil b/d) e Líbia (560 mil b/d) – ficam muito abaixo da Rússia, na relação de fornecedores para a Europa.

E, também, a produção doméstica de petróleo na Europa já entrou em declínio acentuado. O petróleo extraído em toda a Europa caiu abaixo de 3 mi b/d em 2013, acompanhando o declínio ininterrupto também no Mar do Norte, base do referencial Brent.

Fim da hegemonia do dólar não prejudica os EUA

O movimento dos russos para negociar petróleo em rublos para os mercados mundiais, especialmente para a Europa Ocidental, e cada vez mais para China e Ásia pelo oleoduto SOOP (Sibéria Oriental-Oceano Pacífico) [ing. ESPO, Eastern Siberia–Pacific Ocean] e por outras vias, precificado pelo novo referencial russo, na Bolsa Mercantil Internacional de São Petersburgo não é, de modo algum, o único movimento concebido por países dependentes do dólar, para escapar dessa dependência na compra de petróleo.

Em algum momento, no início do próximo ano, a China, segundo maior importador de petróleo do mundo, planeja lançar seu próprio contrato para compra de petróleo a ser pago, não em dólares, mas em yuan chineses – a ser negociado na Bolsa Internacional de Energia de Xangai.

Passo a passo, Rússia, China e outras economias emergentes estão tomando medidas para reduzir o muito que dependem do EUA-dólar, para se “desdolarizar”. Petróleo é a mercadoria mais negociada no mundo e quase inteiramente em EUA-dólares. Se essa relação desigual for rompida, a capacidade do complexo industrial militar norte-americano para fazer guerras sofrerá duro baque.

Talvez assim se abram algumas portas para ideias mais pacíficas, menos belicistas, sobre como gastar os dólares dos contribuintes norte-americanos para reconstruir a infraestrutura básica da economia dos EUA, hoje reduzida às mais escandalosas ruínas.

Em 2013, a Sociedade Norte-Americana de Engenheiros Civis estimou em $3,6 trilhões o investimento em infraestrutura básica de que os EUA carecem, se for feito nos próximos cinco anos (se demorar mais que isso, os números crescem).

Aquele relatório informa que de cada nove pontes nos EUA, mais de 70 mil pontes em todo o país, estão em estado precaríssimo. Quase 1/3 de todas as grandes rodovias nos EUA estão em más condições. Só dois, dos 14 grandes portos que há na costa leste têm condições de receber os super cargueiros que em breve estarão chegando pelo recém alargado Canal do Panamá. Já há no mundo mais de 224 mil quilômetros de trilhos para trens de alta velocidade; nem um metro deles em território dos EUA.

Esse tipo de gasto em infraestrutura básica seria fonte muito mais economicamente benéfica de empregos reais e de renda real para os EUA, que as infindáveis guerras de que John McCain fez meio de vida. Investimento em infraestrutura, como já escrevi incontáveis vezes, tem efeito multiplicador na criação de novos mercados. Infraestrutura cria eficiências econômicas e arrecadação da ordem de 11 dólares para cada dólar investido, porque toda a economia ganha eficiência.

Declínio dramático no papel do dólar como moeda mundial de reserva, se combinado com foco concentrado, à moda russa, na reconstrução da economia nacional, em vez de deslocalizar tudo, terceirizar tudo em todos os casos, seria excelente caminho para reequilibrar um mundo já completamente enlouquecido com tantas guerras.

Por paradoxal que pareça, a desdolarização – que negue a Washington os meios para financiar guerras futuras com o que o país recebe de chineses, russos e outros compradores de papeis da dívida pública dos EUA – pode vir a ser valiosa contribuição para um mundo de paz genuína. Não seria ótimo, para variar?

[1] Orig. Brent price. “Brent” é uma categoria de petróleo cru, que se subdivide em Brent Crude, Brent doce leve, Oseberg e Forties. O Brent Crude é originário do Mar do Norte. O nome ‘Brent’ foi criado por uma política interna da Shell, que originalmente denominava seus campos de produção com nomes de aves (neste caso, o ganso de Brent, ave típica do Mar do Norte) [NTs].

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