sexta-feira, 29 de abril de 2016

Administrador de Gorongosa nega existência de vala comum no centro de Moçambique



O administrador de Gorongosa, centro de Moçambique, desmentiu a existência de uma vala comum no distrito, contrariando o relato de um grupo de camponeses que asseguraram à Lusa terem observado dezenas de corpos depositados no local.

Num comunicado citado pela Agência de Informação de Moçambique (AIM), Manuel Jamaca afirma que uma equipa do governo distrital foi enviada ao local, na zona 76, posto administrativo de Canda, mas não encontrou a referida vala comum, que, segundo os camponeses, terá mais de 100 cadáveres.

A zona é descrita como de difícil acesso e de risco elevado, dada a presença de militares no contexto da atual crise militar que opõe as forças do Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido de oposição.

Lusa

Comissão de Direitos Humanos de Moçambique quer esclarecer revelação de vala comum

A Comissão de Direitos Humanos de Moçambique (CDHM) quer apurar a veracidade dos relatos da descoberta de uma vala comum com mais de cem corpos no centro do país, adiantado que, a confirmar-se, é um caso "muito preocupante".

Salientando a existência de informações contraditórias sobre o caso, o presidente da CDHM, Custódio Duma, disse que, "se for um facto real e comprovado, é muito preocupante", referindo que a primeira atitude da instituição "é apurar se aquela situação aconteceu" e instando o Ministério Público também a investigar.

O administrador de Gorongosa desmentiu hoje a existência de uma vala comum no distrito, contrariando o relato de um grupo de camponeses que asseguraram à Lusa terem observado uma vala comum com mais de cem cadáveres na zona 76, posto administrativo de Canda, no distrito da Gorongosa.

Lusa

Angola. O DITADOR NO SEU LABIRINTO



José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

Certos erros parecem capazes de desacreditar uma obra inteira. Imagino Deus observando, de longe, o confuso desfile da humanidade. Vem Miguel Ângelo e Deus se alegra. Vem Louis Armstrong e Deus quase ri. Vem Josephine Baker, rodopiando, com os alegres seios soltos e Deus perde a gravidade e aplaude e ri. Mas eis então que surge um Mussolini, um Kangamba, um Bolsonaro e Deus estremece, horrorizado:

“Também isto é obra minha?!”

Ou talvez Deus olhe para os homens cruéis e estúpidos como um escritor olha para os seus personagens cruéis e estúpidos, não enquanto erros, mas enquanto seres humanos em transitório estado de erro que, por vezes, a morte interrompe antes que se corrijam.

Um homem que fosse inteiramente um erro, um erro definitivo e denso, não seria humano. Há (tem de haver) em todos os homens errados, uma, ainda que muito remota, possibilidade de acerto. Hitler que era um medíocre pintor de aguarelas – ainda assim pintou aguarelas. Ou seja, havia algures dentro dele um homem que buscava a beleza. Que se alegrava diante da beleza.

Penso nisto enquanto leio as sombrias notícias que todos os dias me chegam de Angola. Não obstante a pavorosa soma de erros quero acreditar que ainda existe uma porta à espera de ser aberta por aqueles que tanto vêem errando. Dizer que quando um tirano prende um homem justo, é o tirano quem se torna prisioneiro desse mesmo homem, pode ser um clichê; é, certamente, um clichê. Contudo, há nisso uma sólida verdade. Os clichês não são outra coisa senão verdades às quais deixamos de prestar atenção.

O tirano torna-se prisioneiro dos seus erros. Hitler, no bunker onde se suicidou, olhava para a juventude distante e sentia possivelmente saudades do pintor (falhado) que poderia ter sido. Um artista mal sucedido é alguém que acerta, mesmo enquanto falha o alvo. Um ditador bem sucedido é alguém que alcança êxito no próprio erro.

Ao libertar os seus prisioneiros o ditador estaria a corrigir-se a si mesmo. Estaria a libertar-se. Essa primeira correcção daria um sinal de esperança. Aberta a primeira porta, outras se abririam a seguir. A liberdade é um caminho que se vai alargando à medida que se percorre. A liberdade é um vício que se entranha.

O futuro modifica o passado. Regressemos, por exemplo, àquele humilde pintor de aguarelas, de vinte anos, chamado Adolf Hitler. É difícil olhar para ele, hoje, sem ser com horror. Nenhum horror despertaria, contudo, se tivesse sido a vida inteira um medíocre pintor de aguarelas.

Se o ditador for ainda capaz de se libertar a si próprio – libertando os seus prisioneiros – pode ser que amanhã consigamos olhar para ele e vê-lo não como um erro definitivo, mas como um homem que errou e se corrigiu. Porém, se a morte o interromper antes que se corrija, aí sim, será para sempre um erro. Eternamente um erro. Um erro do princípio ao fim.

Angola. TEM 13 ANOS. TERÁ ROUBADO UMA PEN-DRIVE. ESTÁ DETIDO HÁ DOIS MESES



Bastos Mateus Elias está detido desde a primeira semana de Março na Comarca de Viana (Angola), por suspeita de furto de uma pen-drive. Nasceu a 11 de Janeiro de 2003: tem 13 anos.

Rafael Marques de Morais*

Encontrava-se detido na Caserna D6, onde estão cerca de 50 reclusos, entre condenados efectivos e indivíduos em prisão preventiva. Passou antes pelo “Penal”, onde, de acordo com alguns reclusos, são frequentes as violações sexuais e a troca de sexo por comida. Como abaixo se descreve, Bastos Mateus Elias já vai na terceira transferência, dentro do mesmo estabelecimento prisional: desta feita, seguiu para as “tendas”, onde as condições não são melhores.

A mãe de Bastos, Samba Mateus, explica ao Maka Angola que o seu filho foi detido na vizinhança do Bairro Calauenda – Papá Simão, no município de Viana, onde residem. “Eu não lembro o dia exacto em que ele foi preso, porque eu estava na província do Kwanza-Sul”, explica Samba Mateus.

Nas visitas que fez à cadeia para levar alimentos ao filho, Samba Mateus relata: “Ele disse-me que foi acusado de ter furtado uma pen-drive. Foi interrogado na esquadra descartável. É assim que chamamos à esquadra mais próxima aqui do bairro.”

“Eu nunca o vi a trazer uma pen-drive para casa. Não há lógica nenhuma em meter o miúdo na cadeia por causa de uma pen-drive”, reclama Samba Mateus.

Mãe de cinco filhos e com 36 anos, Samba Mateus explica que a sua extrema pobreza a impede de contratar um advogado para lutar pela libertação do filho. Vive com a irmã. “Se visse as condições em que vivo, entenderia a minha situação. Se tivesse meios para lutar, o meu filho já não estaria na comarca”, desabafa.

A mãe de Bastos Mateus Elias acrescenta que está separada do pai do petiz há 11 anos e que não mantém qualquer contacto com ele. O progenitor nem sequer sabe que o filho está preso.

Bastos Mateus Elias “é um menino que não refila. Tem bom comportamento em casa”, revela a mãe. Lamenta apenas que ele não esteja a estudar devido às condições de miséria em que vivem e por acreditar que “ele não tem boa mente para os estudos”, tendo concluído apenas a 2.ª classe.

Um dos condenados que conviveu com Bastos na Caserna D6 atesta o comportamento exemplar do petiz: “Ele é mesmo inocente, pequeno e não tem ar de malícia.” Afirma ainda que esta caserna alberga uma mistura de condenados e detidos em prisão preventiva por crimes diversos, desde violação sexual, assalto à mão armada, posse de estupefacientes e homicídio. “Isto aqui é uma sanzala, mas nós protegemos e alimentámos o miúdo até ele ser transferido para as tendas”, prossegue.

O condenado, cujo nome Maka Angola omite por razões de segurança, revela ainda que o petiz já vai na terceira transferência interna. “Ele esteve detido no Penal, onde há muitos abusos sexuais porque há ali muita fome. Troca-se comida por sexo. Por isso, por ordens superiores, os serviços prisionais entenderam colocá-lo na nossa caserna, para maior protecção.”

De acordo com o entrevistado, Bastos passou para as “tendas” para evitar que os “revús”, os condenados do Processo dos 17, obtenham mais dados, “pela proximidade de celas” e decidam denunciar o caso.

Contactada por Maka Angola, a advogada Luísa Rangel argumenta: “O nosso sistema judicial vai de mal a pior. O Ministério Público devia ter resolvido isto imediatamente. Misturar o miúdo com adultos condenados por homicídio e violação sexual, por causa de uma pen-drive, é inqualificável.”

Na opinião da advogada, agindo desta forma o Ministério Público está a “dar-lhe preparação para que ele se torne um verdadeiro delinquente”.

“Com 13 anos, o menino não tem capacidade jurídica. É inimputável a culpa de cometimento de crime, porque ele só tem 13 anos. A idade de culpa é a partir dos 16 anos. Se o menino cometeu algum ilícito, as autoridades deviam ter envolvido o INAC [Instituto Nacional de Apoio à Criança] e o Julgado de Menores. É muito triste terem colocado um menino de 13 anos numa unidade prisional de adultos”, lamenta Luísa Rangel.

Por sua vez, quando questionado sobre o caso, um magistrado do Ministério Público respondeu de forma directa: “É um abuso.”

O mesmo magistrado explica que é dever das autoridades judiciais confirmar a idade do suspeito e, por conseguinte, fazer cumprir a lei. “Se tem 13 anos não deve ser preso. É um abuso”, sublinha o magistrado.

Mas o facto é que Bastos Mateus Elias, com 13 anos de idade, está preso há quase dois meses.

Contactado por Maka Angola, o porta-voz dos Serviços Prisionais, Moisés Cassoma, garante diligência junto da direcção da Cadeia de Viana para apuramento dos factos. Tão logo haja resposta, a mesma será reportada.

*Maka Angola – em Folha 8, título Folha 8

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NÃO-RESIDENTES COM NOVOS LIMITES À SAÍDA DE DÓLARES DE ANGOLA



O Banco Nacional de Angola (BNA) anunciou hoje, em comunicado, que os cidadãos não-residentes cambiais apenas podem sair do país com metade da quantidade máxima de divisas até agora autorizada.

Esta informação, que complementa o anúncio feito a 08 de abril pelo governador do BNA, Valter Filipe da Silva, abrange os não-residentes cambiais, pessoas singulares com residência habitual no estrangeiro ou nacionais emigrados, colocando o novo limite em 5.000 dólares (metade face ao regime anterior) para maiores de 18 anos e 1.500 dólares para menores.

A 08 de abril, após reunião conjunta das comissões económica e para a economia real do Conselho de Ministros, realizada em Luanda, já tinha sido decidido e comunicado que o limite máximo de divisas na saída do país, para residentes cambiais, passaria para 10.000 dólares, para maiores de 18 anos, e 3.500 dólares, para menores, contra os anteriores 15.000 dólares e 5.000 dólares, respetivamente.

"Isto tem a ver com a necessidade de protegermos as divisas dentro do território nacional, porque verificamos que tem estado a haver uma fuga de divisas e a pôr em causa a nossa estabilidade monetária", anunciou na ocasião o governador do BNA.

No comunicado de hoje, o BNA acrescenta que em moeda nacional, cada cidadão só pode sair do país com um máximo de 50.000 kwanzas (260 euros).

"A medida [alterações aos limites de saída de divisas] aplica-se com o sentido de garantir a contínua prevenção e combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, bem como assegurar a gestão equilibrada das disponibilidades do país, em moeda estrangeira", lê-se no comunicado do BNA de hoje.

Mantém-se a obrigatoriedade de declarar à entrada do país montantes transportados superiores a 10.000 dólares ou equivalente em moeda estrangeira. Esta é também a única forma de sair do país com montantes em divisas superiores aos novos limites legais, explica o BNA.

Angola vive desde meados de 2014 uma forte crise financeira, económica e cambial decorrente da quebra das receitas da exportação de petróleo, recorrendo à emissão de dívida para garantir o funcionamento do Estado e a concretização de vários projetos públicos.

O FMI anunciou a 06 de abril que Angola solicitou um programa de assistência para os próximos três anos, cujos termos foram debatidos nas reuniões de primavera, em Washington, prosseguindo durante uma visita ao país, em maio.

O ministro das Finanças de Angola, Armando Manuel, esclareceu entretanto que este pedido será para um Programa de Financiamento Ampliado para apoiar a diversificação económica a médio prazo, negando que se trate de um resgate económico.

PVJ // EL - Lusa

Angola. OS SERVIDORES E OS CIDADÃOS



Jornal de Angola, editorial

Os municípios são circunscrições em que vivem muitos milhares de cidadãos, pelo que  faz todo o sentido que se preste hoje muita atenção às condições de vida dos que  lá vivem.

Há por exemplo municípios na província de Luanda com um número considerável de habitantes, o que tem levado as nossas  autoridades a tomar as medidas apropriadas para que os problemas mais graves sejam resolvidos com celeridade. 

Temos  em Luanda municípios com mais de cem mil habitantes, tendo-se constatado um rápido aumento da população em várias áreas, em virtude  sobretudo da guerra , que obrigou muitos angolanos que viviam no interior a refugiar-se na capital , em busca de segurança e de meios de subsistência.

Estamos em paz e é hora de se criarem máquinas administrativas nos municípios capazes  de  corresponder às exigências dos cidadãos e à complexidade dos problemas que decorrem do aumento considerável da população em muitos municípios.

Os municípios têm de estar dotados de quadros que possam dar solução aos problemas, devendo-se fazer tudo para  que  não haja vazios nas administrações municipais  em termos de pessoal qualificado para resolver este ou aquele problema.

É verdade que não se resolvem os problemas sem dinheiro. Mas também é verdade  que não se dá solução aos problemas sem ideias. E as ideias são necessárias quando   precisamos  de superar problemas complexos. Hoje, como não podia deixar de ser,  há uma grande preocupação  em relação  à vida nos municípios. Hoje os municípios da província de Luanda, que tem mais de seis milhões de habitantes, estão  a merecer uma atenção especial das autoridades, que vão resolvendo progressivamente  os problemas das populações. Apesar da magnitude dos problemas, as autoridades  têm  trabalhado  incessantemente para que chegue por exemplo a água a todos os cidadãos.

É verdade que muito há ainda a fazer para que todos os cidadãos que habitam em Luanda tenham água e energia eléctrica, mas também é certo que vai sendo cada vez maior o número de famílias que vai tendo acesso a estes produtos indispensáveis. Há programas já concebidos para se concretizarem projectos que vão ao encontro da melhoria das condições  de vida de muitos milhões de habitantes da província de Luanda. O importante  é que esses programas sejam bem executados  e que beneficiem efectivamente os cidadãos. Para uma boa execução de programas, é preciso entretanto que haja quadros  que possam  levar por diante  o que  se programou, tendo em vista alcançar bons resultados. Tudo deve ser feito nas administrações municipais para que as comunidades vivam cada vez melhor. As administrações municipais devem continuar a preocupar-se com a execução  eficiente dos programas para que os cidadãos tenham uma boa qualidade de vida. 

Tem também de haver o hábito de recrutamento para as administrações municipais de  quadros que tenham as mais diversas competências. Afinal há inúmeros problemas complexos nos municípios e isso justifica que as suas administrações tenham pessoal capaz de atender a situações diversas.

O facto de as nossas autoridades estarem a prestar uma atenção particular ao municípios revela que  têm consciência de que é prioritário resolver os problemas de muitos milhões de pessoas, sobretudo aqueles que não devem ser adiados. Nem todos os problemas podem ser resolvidos imediatamente. Mas há problemas a que as administrações municipais podem e devem dar solução imediata. Que as administrações municipais estejam sempre atentas aos problemas e que os resolvam com  celeridade,  nos casos em que isso for possível. E há problemas simples que podem ser resolvidos sem grandes custos e em pouco tempo. Basta haver vontade para os superar. As administrações municipais devem  também tomar medidas preventivas. Se se  puder evitar que os problemas aconteçam, isso é bom para as comunidades. Se se puder prever  o surgimento de um problema, que se tomem imediatamente medidas para que  ele não ocorra. Os servidores públicos das administrações municipais têm uma grande responsabilidade  no processo de desenvolvimento do país. O servidor público que trabalha na administração municipal tem também de dar, por exemplo,  a sua contribuição à erradicação  da pobreza e do analfabetismo, e colocar-se na linha da frente do combate ao subdesenvolvimento. 

Os nossos municípios devem ser prósperos. Os munícipes devem  poder satisfazer as suas necessidades , para que possam viver com dignidade. As nossas autoridades estão no bom caminho, ao priorizarem acções em prol do desenvolvimento  dos municípios. Que se  criem  mecanismos de auscultação e diálogo entre os cidadãos  e as administrações  municipais, para  que haja  uma interacção regular entre governantes  e governados. É fundamental que os servidores públicos com elevada responsabilidade ao nível dos municípios  estejam  permanentemente disponíveis para ir ao encontro dos cidadãos, a fim de saberem deles o que realmente se passa nas suas áreas de residência. Os munícipes querem justamente que os seus problemas sejam resolvidos e os  servidores públicos  não devem perder de vista as suas preocupações.

ASSESSORES DOS EUA REÚNEM EM SEGREDO COM LÍDERES DO ESTADO ISLÂMICO NO IRAQUE




Fontes iraquianas revelaram que recentemente, generais do exército americano se reuniram em segredo com líderes do Estado Islâmico (Daesh) no norte do país.

"Sete assessores militares americanos que coordenam as operações do exército iraquiano, as forças curdas (Peshmerga) e os combatentes populares iraquianos contra o Daesh, se encontraram em duas ocasiões, com os líderes deste grupo extremista, entre eles Abu Ahmad al-Alwani, nas proximidades da cidade de Mosul", informou na quarta-feira a agência curda iraquiana de notícias Dwarozh.

Al-Alwani, que atualmente dirige as operações do Estado islâmico em Mosul, era um ex-comandante do exército iraquiano e membro do Partido do Renascimento Árabe Socialista, Baas, agrupamento político do ex-ditador Saddam Husein, fundado em 1947, disse a fonte.

Em uma das reuniões dos generais americanos, realizada sob a mediação da tribo Shemer, ocorreu em 7 de novembro de 2015, próximo de Mosul, enquanto que a reunião seguinte ocorreu em 3 de fevereiro com a cooperação da tribo Yabur na cidade de Hawija, em Kirkuk, acrescentou a agência curda.

A agência curda alegou que o objetivo dos militares americanos ao garantir estas reuniões, é convencer os membros do Baas, que abandonem as fileiras do Estado Islâmico.

No domingo passado, a polícia iraquiana denunciou que os aviões americanos apoiam o Daesh na província de Al-Anbar, oeste do Iraque.

O presidente da Assembleia Suprema Islâmica do Iraque, Seyed Amar al-Hakim, pediu em fevereiro de 2015 explicações ao comandante do Comando Central dos EUA, o general Lloyd Austin, sobre o constante envio de armas através de aviões americanos, aos terroristas que operam no país árabe.

Anti Nova Ordem Mundial

EUA VIOLAM CESSAR-FOGO NA SÍRIA E ARMAM A AL-QAIDA



A 7 de Abril de 2016, a Jane’s revelava que o Comando de Despacho Marítimo da Marinha de Guerra dos EUA lançou, em 2015, duas propostas para o transporte de armas do porto romeno de Constança para o porto jordano de Aqaba [1].

As armas, que se puderam identificar, foram fabricadas na Bulgária, o que confirma o resultado da precedente investigação da Balkan Investigative Reporting Network (Rede de Jornalismo de Investigação dos Balcãs- ndT) [2] e a nossa [3].

O concurso foi ganho pela Transatlantic Lines, e o transporte efectuado pelo cargueiro Geysir (IMO: 7710733).

A primeira carga deixou a Roménia a 5 de Dezembro de 2015 e foi entregue, pela metade, em Taşucu (Turquia), e a outra metade em Aqaba (Jordânia). Era composta por um total de 117 contentores, de 2.007 toneladas. Além de Kalashnikovs e de metralhadoras, cerca de 50 lança-mísseis Faktoria, entre 796 e 854 mísseis, e 162 toneladas de explosivos.

A escolha dos mísseis anti-tanque Faktoria explica-se pela sua semelhança com os usados pelo Exército Árabe Sírio, os9K111 Fagots ATGW, dos quais são uma versão melhorada, de modo a que se possa acusá-lo dos mais diversos crimes que não cometeu.

Acaba de se saber que a segunda entrega, que era mais importante que a primeira, deixou a Roménia a 28 de Março de 2016 e foi entregue a 7 de Abril, ou seja, no dia da publicação do artigo Jane’s.

Por conseguinte, os Estados Unidos, eles próprios, violaram a declaração de cessação das hostilidades, assinada a 12 de Fevereiro de 2016. Eles aproveitaram-se da ingenuidade da Rússia e da Síria para rearmar os grupos jiadistas, exactamente como haviam feito no início de 2012, durante a Missão de observação da Liga Árabe, e depois durante a das Nações Unidas.

As armas foram remetidas pelo Pentágono, quer directamente, quer através do exército turco, para grupos qualificados de «moderados», quer dizer, que participam, ao mesmo tempo, nas conversações de paz de Genebra.

De acordo com observadores no terreno, aí incluídos aqueles opostos à República Árabe Síria, estes grupos que se coordenam no campo de batalha com a Al-Qaida, remetem, sistematicamente, metade das armas que recebem à organização terrorista internacional. São, pois, principalmente os Estados Unidos quem arma a Al-Qaida, exactamente como são os EUA quem tem, acima de tudo, armado o Daesh (E.I.), nomeadamente em 2014, organizando para tal a «perda» de armas que iam entregar ao Exército iraquiano.

Voltaire.net - Tradução Alva

Notas
[1] “US arms shipment to Syrian rebels detailed” («Detalhados envios por barco de Armas Americanas para os rebeldes Sírios»- ndT), Jeremy Binnie & Neil Gibson, Jane’s, April 7th, 2016.
[2] “War Gains : Bulgarian Arms Add Fuel to Middle East Conflicts” («Proveitos de Guerra : Armas Bulgaras Alimentam Conflitos no Médio-Oriente»- ndT), Maria Petkova, Balkan Investigative Reporting Network, December 21, 2015.
[3] “Como a Bulgária forneceu drogas e armas à Al-Qaida e ao Daesh”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 4 de Janeiro de 2016.

FILHOS DE COMUNISTAS



Hoje, nós, homens livres, somos todos filhos dos que resistiram

Artur Pereira – jornal i, opinião

Os comunistas clandestinos, presos, torturados, amavam os seus filhos, amavam a vida e a liberdade, por isso lutavam pelos outros homens e pelos filhos deles. Hoje, nós, homens livres, somos todos filhos dos que resistiram

O cascalho nacional pariu um tipo de cidadão-modelo do estilo “faz que és culto que eles acreditam barra na minha azia habita um democrata graduado em ficheiros secretos barra eu sei aquilo que nunca ninguém vos contou mas eu agora vou dizer.
É um produto muito luso, como o rabejar, cuspir no chão ou andar a pedinchar favor para posição pública a tudo o que é santinho, e depois fazer conferência televisionada contra a cunha e o compadrio.

É uma rapaziada fina como licor de estalar língua e esperta como alho. São uns estroinas a quem, para desenhar história de intervenção política, compromisso cívico ou ação solidária, sei lá, qualquer coisita que não seja emborcar adegas e medrar na arte de bem apunhalar o ente mais próximo, o biógrafo vai ver-se aflito.

A eles seria mais apropriado, em vez de perguntar onde estavam no 25 de abril de 1974, indagar por onde passeavam nos dias 24, 23 e por aí atrás, de onde facilmente se percebe que, para chegar às origens destes iluminados democratas, teríamos de ir em regressão no tempo, aventurando-nos a chegar a um buraco negro que não tem necessariamente de ser os estudados na astronomia.

Uns por tarefa ideológica, outros para expurgarem vergonhas e assombrações do passado, por terem cantado como grafonolas quando caíram perante os esbirros da PIDE, situação que nunca ninguém lhes reprovou, por entendimento humano dos que resistiram e não falaram, outros por cândida burrice e ainda outros por doença mental, a todos une um preconceito enfermiço e um ressentimento militante contra o PCP e a sua história.

A manipulação, as omissões, as afirmações feitas de uma ignorância convencida são as ferramentas dos que, sob a aparente diversão do seu apego a uma pureza democrática, mais não fazem que esforçar-se por silenciar e censurar o PCP, tentando inculcar a ideia de que os comunistas são naturalmente e de formação antidemocráticos.

Mas depois há a vida, e com ela vem a experiencia quotidiana das pessoas, e aí, quem os trabalhadores de todas as condições e setores encontram na aflição e na luta de todos os dias, solidários em defesa dos postos de trabalho, por melhores salários e reformas, contra as injustiças e em defesa dos direitos, são os comunistas.

Vem isto a propósito das beatas reações ao interessante livro “Os Filhos da Clandestinidade”, que relata o exílio e a vida na URSS de muitos dos filhos separados dos pais comunistas que lutavam contra a ditadura em Portugal.

Reparem que me refiro às reações, não ao livro. Pois é quase certo que quem utiliza o livro para um ataque de caráter aos comunistas e à propalada dureza de sentimentos do PCP nem sequer tenha lido mais que a capa.

É extraordinário que onde só se pode ler um excecional sacrifício e ato de amor, de pais se separarem dos seus filhos para os proteger, em circunstâncias duríssimas e terríveis, onde muitos dos que lutavam contra a ditadura não tinham nem rede familiar nem meios para os proteger, e que de outra forma seriam presa fácil dos verdugos da PIDE, das suas ameaças e violência, que ficariam abandonados ou pior, alguns só consigam enxergar frieza e desumanidade.

Afinal, não fizeram nada de diferente do que fizeram os da República Espanhola, os da Resistência francesa e belga, os ingleses que enviaram os seus filhos para o interior quando as cidades foram bombardeadas, os russos afastando os filhos do assalto nazi, os judeus enviando os seus filhos para a Suíça e para a América.

O problema é que observam míopes, vesgos de preconceito. O problema é que não conseguem nem imaginar a dureza desses tempos. Comparar a convicção da luta pela liberdade e pela democracia, que era pelo que se lutava, ao delírio de fanáticos de clube ou de seita mística, só por cínica má-fé ou por poucochinho.

Em criança, com o meu pai preso, assisti receoso e confuso à presença em nossa casa dos agentes da PIDE, às suas palavras provocadoras sobre a natureza e qualidade do meu pai, que era capaz de abandonar a mulher e os filhos para se meter com os comunistas. De mãos dadas, enquanto os via a remexer gavetas e a levar livros, percebi a intenção da ofensa ao meu pai, temi pela minha mãe e pelo irmão mais novo. Nunca mais esqueci nada desse momento. Amei o meu pai até ao fim. Ainda hoje amo.

É curioso que, hoje, os argumentos de propaganda que se utilizam para insultar os comunistas, e em particular os que protagonizaram a resistência, sejam afinal os mesmos que o regime fascista utilizava na sua ação psicológica.

Claro que esses tempos de excecional dureza deixaram marcas profundas, difíceis de sarar. Mas a anormalidade foi criada pelos fascistas que durante 46 anos obrigaram os portugueses a viver tempos de medo e sofrimento, não os que contra isso lutaram com o sacrifício da própria vida.

Os comunistas clandestinos, presos, torturados, amavam os seus filhos, amavam a vida e a liberdade, por isso lutavam pelos outros homens e pelos filhos deles. Hoje, nós, homens livres, somos todos filhos dos que resistiram.

Portugal. PSD. MARIA LUÍS NÃO EXCLUI POSSIBILIDADE DE SUCEDER A PASSOS COELHO



A ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque disse em entrevista ao Diário de Notícias (DN) que não exclui a possibilidade de suceder ao líder do PSD, Pedro Passos Coelho, na presidência do partido.

"Relativamente a matérias dessa natureza não se deve dizer nunca. Depende muito das circunstâncias. Se me pergunta se tenho vontade ou se tenho essa intenção, não a tenho, mas nestas matérias afirmações absolutas de nunca parecem-me contraproducentes", afirmou Maria Luís, lembrando que a questão da sucessão de Passos Coelho “não está em cima da mesa”.

Em relação ao caso Arrow, a empresa com a qual Maria Luís Albuquerque aceitou colaborar, a ex-ministra das Finanças explicou que aceitou o convite porque gostou da possibilidade de ter "uma experiencia nova e de aprender muitas coisas".

"Quem está na vida política tem de estar preparado para o impacto das suas decisões e para sentir críticas e, portanto, isso é uma coisa que vem no pacote. Faz parte. (...) A questão de 'em política o que parece é', é uma citação de Salazar, e eu, citações de Salazar, não aprecio. A questão foi colocada logo de início de forma errada, primeiro revelando uma enorme ignorância sobre o que é a atividade de uma empresa destas e até de um princípio errado que era uma atividade que eu teria tutelado enquanto ministra das finanças", afirmou.

Quanto à questão do Banif, Maria Luís reconheceu que o anterior governo, quando cessou funções, estava "muito confiante" de que o plano de reestruturação delineado teria para os cofres do Estado "um impacto que seria uma pequena parcela daquilo que foi efetivamente".

Na entrevista ao DN, Maria Luís reafirmou a sua confiança no governador do Banco de Portugal e disse ser da responsabilidade de todos os políticos "não colocar em causa o regulador do setor financeiro" se o que está em causa é a questão da estabilidade.

Jornal i – Foto: Miguel Silva

Portugal. Polícia Judiciária faz buscas nos Estaleiros de Viana e no Ministério da Defesa



O Ministério da Defesa confirmou à TSF que as buscas estão a decorrer desde esta manhã. Em causa estão suspeitas de gestão danosa, corrupção e participação económica.

A Polícia Judiciária (PJ) está a realizar oito buscas no âmbito de uma investigação relacionada com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC). As buscas estão a acontecer em várias localidades, esclarece a PJ, nomeadamente em "Viana do Castelo, Porto, Lisboa, Aveiro e Torres Vedras",

Num comunicado, a PJ diz que em causa estão eventuais "crimes de administração danosa, corrupção e participação económica" em negócio no âmbito da gestão de estaleiros navais situados no norte do país. "Em causa estão factos relacionados com a subconcessão dos Estaleiros de Viana e a venda do navio Atlântida", acrescenta a nota.

Entretanto, o Ministério da Defesa também confirmou esta informação à TSF e disse que as buscas estão a decorrer desde esta manhã. No comunicado, a PJ acrescenta que "até ao momento, o processo não tem arguidos constituídos".

Também em comunicado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou também que "as diligências de hoje ocorreram em Viana do Castelo, Porto, Lisboa, Aveiro e Torres Vedras, segundo a PGR, que alude a buscas no Ministério da Defesa Nacional(MDN) e na Empordef, a 'holding' estatal para as indústrias da Defesa".

TSF

Portugal. Protesto. MAIS DE QUATRO HORAS DEPOIS, TAXISTAS CHEGAM AO PARLAMENTO




Mais de quatro horas depois do início do protesto, a marcha lenta de taxistas que hoje se realiza em Lisboa chegou ao parlamento às 13:45, encabeçada pelos dirigentes das duas associações de táxis que convocaram a contestação.

Os dois dirigentes, da ANTRAL - Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros e da FPT - Federação Portuguesa do Táxi, empunhavam uma faixa a dizer "Uber ilegal é crime nacional".

Os taxistas começaram a concentrar-se às 13:45 em frente à escadaria principal da Assembleia da República (AR), que está vedada por um gradeamento, encontrando-se dezenas de polícias nas escadas.

Os taxistas entraram no parlamento às 14:05, onde vão ser ouvidos pela Comissão de Economia, pela Comissão de Ambiente e pelo chefe de gabinete do presidente da AR, Ferro Rodrigues.

A recebê-los, à entrada do parlamento, esteve a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Helena Roseta, que se manifestou solidária com os taxistas, defendendo que o "transporte deve ser justo, correto e com concorrência leal".

Na terça-feira vai decorrer um debate na Assembleia Municipal da capital sobre os transportes na Área Metropolitana de Lisboa (AML).

"Está a haver uma revolução nos transportes da AML. Não sei se as pessoas da AML já se aperceberam disso", disse Helena Roseta.

As largas centenas de táxis estendem-se por toda a Avenida D. Carlos I e a Avenida 24 de Julho.

Às 13:45, a circulação no sentido ascendente da Avenida D. Carlos I, em direção ao parlamento, encontrava-se cortada ao restante trânsito.

No local estavam dezenas de polícias a controlar a manifestação e a controlar o trânsito e junto ao parlamento estão várias carrinhas da PSP.

Em Lisboa, os taxistas em protesto contra a empresa de serviço de transporte privado Uber partiram às 09:30, em marcha lenta, do Campus de Justiça, no Parque das Nações, em direção ao aeroporto de Lisboa.

A marcha lenta, com destino à Assembleia da República, passou pelo aeroporto, Rotunda do Relógio, Avenida Almirante Gago Coutinho, Avenida Estados Unidos da América, Entrecampos, Avenida da República, Avenida Fontes Pereira de Melo, Avenida da Liberdade, Rossio, Rua do Ouro, Câmara de Lisboa e Avenida 24 de Julho.

Esta iniciativa é o culminar de uma semana de luta destas duas associações para pressionar o Governo a suspender a atividade da Uber.

O serviço de transporte Uber permite chamar um carro descaracterizado com motorista privado através de uma plataforma informática, que existe em mais de 300 cidades de cerca de 60 países.

O protesto de taxistas decorreu também no Porto e em Faro.

TSF

SE A UBER INCOMODA MUITA GENTE, DESPREZAR O QUE É NACIONAL INCOMODA MUITO MAIS



Uber e táxis. Espanta-me a cabeça de certas pessoas. Ricardo Marques do Expresso salienta que o mundo está a andar a mil à hora para justificar uma multinacional entrar pelos países e dar inicio a um serviço de táxis sem serem propriamente táxis nem estarem licenciados para o transporte público. Para não estarem legalizados nos respetivos países. Concretamente em Portugal.

Porque o mundo anda a mil à hora devemos aceitar que esse mesmo mundo se transforme em cabaret da coxa. Em bagunça. Em ilegalidades. Em offshores. Em xicos-espertos que têm por vício e ganância atropelar tudo e todos, incluindo a legalidade?

Pois é. O mundo está mesmo muito diferente, anda tudo ou, pelos menos, gente demais, a olhar para os seus umbigos e os outros que se lixem. Quer dizer: os táxis têm de obedecer a regulamentos e mais regulamentos, a Uber não. Os táxis têm de pagar todos os impostos e mais alguns em Portugal, a Uber não – alega que paga na Holanda. Os táxis levam em média cerca de 5 a 10 minutos (muitas vezes nem isso) a chegar junto do cliente quando chamados pelo telefone (caso da Rádio Táxi em Lisboa), a Uber não faz melhor… Mas que tem a Uber de melhor que os táxis? Modernices? Só se é por isso. Vantagens não se constata, aos que, por exemplo, usam a Rádio Táxi. Mais barato? Não é muito mais barato, e não admira, afinal não pagam impostos nem têm de obedecer a regulamentação como os táxis. Segurança? Nem por sombras superam os táxis na maior parte dos casos.

Há os que referem o atendimento, a correção ou incorreção dos motoristas de táxis. Pois é. Como em tudo também nos táxis há “nódoas negras”. Provavelmente os ânimos aquecem quando os taxistas começam a ser desrespeitados pelos clientes. Sim, por que também existem clientes muito mal educados. Os taxistas têm má fama? Pois é, provável sim. Por causa de uns quantos pagam todos. Isso não é justo. Existe uma maioria de bons profissionais na classe dos taxistas. São portugueses, pagam os impostos em Portugal, podem ser os nossos vizinhos, os nossos pais, os nossos filhos, os primos, os irmãos. E a Uber é o quê? Uma multinacional xica-esperta (norte-americana) que se infiltra nos países, que adquire informações dos clientes (portugueses) e daí vai um passo para a NSA ou a CIA ou qualquer outra agência dos states saber se o Manuel se deslocou à casa da tia Mariquinhas das janelas com tabuinhas. E se vai lá muitas vezes. E onde vai mais o Manel, e o Zé, e a Olga… Claro que quem não deve não teme, em principio, mas dá para recordar que os states, os EUA, andaram por todo o mundo a raptar cidadãos para encafuá-los e torturá-los ou matá-los em diversas prisões. Guantanamo é um exemplo. Grande. E ainda existe.

Evidentemente que as referências do parágrafo anterior sobre Uber, NSA, CIA e etc., podem ser mera retórica mas… Quem garante que daqui por uns anos não vem ao conhecimento público que a Uber (ou outros do género) reúnem e facultam informações aleatoriamente sobre a privacidade dos portugueses a agências norte-americanas. E que não é só o lucro que visam mas sim a recolha de informações (mais) sobre os cidadãos do mundo?

Qualquer dia, para os EUA, os cidadãos do mundo são todos terroristas e potenciais suspeitos de terrorismo. Os EUA são os santinhos, os justos, os democratas, os polícias do mundo, os donos do mundo... Temos visto ao longo de séculos quão bonzinhos são os EUA, os seus políticos ao serviço do capitalismo selvagem, assassino, que rouba tudo e todos com a maior das descontrações e condenam os outros povos (até norte-americanos) à miséria, à desgraça, às guerras, à mortandade sem remorsos, desumanamente. Os EUA são um mau exemplo para o mundo em imensos aspetos. Quem não sabe isso!?

Se uma Uber incomoda muita gente – principalmente os taxistas – a falta de patriotismo, os que desprezam o que é nacional, incomodam muito mais. (MM / PG)

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Ricardo Marques – Expresso

Para onde o vento nos levar

Os miúdos acham que é magia e é por isso adoram carrinhos telecomandados. Dois objetos sem nada a ligá-los mas que funcionam como um só. Carregam num botão, e o carro anda para frente. Carregam noutro, e ele anda para trás. Há mais dois botões para mudar de direção, levando-o mais para a esquerda ou mais para a direita. Como? Estranha geringonça esta. Entre o comando e o carro não há nada.

Depois crescemos e a magia desaparece porque alguém nos explica que, na verdade, esse vazio está cheio de radio frequências (e não só) e é através delas que o comando faz o carro mexer. Agora queremos carros maiores, que não caibam na palma da mão, que andem mais depressa e não precisem de comando. Claro que, em dias como o de hoje, com um protesto de taxistas em marcha lenta por Lisboa, Porto e Faro a ameaçar paralisar as cidades "até ao natal", os carros ficam parados e (nessa e só nessa condição) pegamos no telemóvel para ler o Expresso Curto. Sobra tempo para a nostalgia e para contemplar o mundo lá fora à espera que a magia reapareça.

Não é difícil. Basta olhar as folhas que balançam nas árvores. Não vemos o vento que as faz mexer, mas sabemos que está lá (fraco num dia de sol, diz o IPMA). Como sabemos que nunca o conseguiremos parar com as mãos. E este é o problema daguerra entre os taxis e a Uber. Podemos discutir todas as implicações legais em todos os países do mundo e todos os pontos de vista, mas não podemos perder de vista o essencial: as sociedades modernas são sociedades de pessoas diferentes que querem as mesmas coisas de sempre. Quanto mais baratas melhor, quanto mais depressa melhor. Foi há três meses, mas parece que já foi há três anos, que em pleno Forum Económico de Davos ouvimos falar da Quarta Revolução Industrial e dos 5 milhões de empregos que vão desaparecer. Os pequenos carros telecomandados de ontem já não respondem aos botões.

Caminhamos para um mundo diferente, imparável, que avança para nós a mil à hora e a resposta dos taxis não podia ser mais simbólica: uma marcha lenta contra a Uber, um serviço online que funciona à base de telemóveis com Internet de alta velocidade. Pense no seguinte: Quantas vezes usou um táxi no último mês? Quantas vezes já pegou no telemóvel para usar conteúdos online hoje? Quantos minutos já perdeu na Internet esta manhã? Está a fazê-lo agora. Essa diferença explica tudo.O mundo está a mudar e é preciso ter consciência de que será muito difícil travar essa mudança. Claro que nada é inevitável, mas tudo tem consequências. Podemos bloquear o acesso à app da Uber, podemos inundar os tribunais de processos, podemos ilegalizar ou até desligar a Internet. A guerra é global e complexa.

Ontem à tarde, véspera do grande protesto, a Uber enviou um email aos clientes a alertar para as complicações desta manhã e a prometer fazer tudo o que fosse possível para os ajudar a chegar depressa ao destino. O Expresso preparou um guia para evitar problemas. Em Lisboa, onde são esperados cerca de quatro mil lentos táxis, arrancam da zona do Parque das Nações às nove e só devem chegar à Assembleia da República às 13h00. Portanto, se não conseguiu escapar, aproveite a pausa no trânsito e veja aqui como o problema não é exclusivo de Portugal - em Nova Iorque, a Uber já ultrapassou os táxis (este artigo tem uns dias). E se quer mesmo espantar-se, imagine o dia em que taxistas e condutores da Uber vão marchar, lentamente, lado a lado contra a Car2Go...

Ivo Andric, em "A Ponte sobre o Drina", escreveu sobre 1914 uma frase cheia de atualidade

"Estava-se num período de fronteira entre duas épocas da história humana, de onde era muito mais fácil avistar o fim da época que se encerrava do que o principio dessoutra que se abria."

OUTRAS NOTICIAS

Marcelo está a caminho de Moçambique e Moçambique está a caminho de qualquer coisa que ainda não se percebeu bem o que é. Mas, pelos sinais, não parece bom. Ontem foi descobertauma vala comum o centro do país. O Presidente da República tem viagem marcada para o início da próxima semana.

Aqui pode ouvir as hesitantes respostas que Carlos Albuquerque, diretor do Departamento de Supervisão do Banco de Portugal vai dando a uma deputada do PSD até admitir que o primeiro-ministro, António Costa, é um dos responsáveis políticos que diminuíram a confiança no Banif.

Dois eurodeputados comunistas apresentaram no Parlamento Europeu uma declaração escrita em que defendem a renegociação da dívida dos países mais endividados – algo que António Costa já por várias vezes recusou. Sendo algo que parece ser mas não é, ou que é e não parece, a coisa vai andando, como fez questão de garantir António Costa no debate no Parlamento

Qualquer artigo que tenha a palavra "secretos" no título é irresistível. Este tem também as palavras "Centeno" e "números". E às 23h57 de ontem, na homepage do Expresso, estava logo a seguir a um outro artigo cujo título é "Governo nega envio de plano de contingência secreto para Bruxelas" . Prepare-se porque vai ouvir falar muito do Plano de Estabilidade durante o dia de hoje.

Na Síria, a ONU considera catastrófica a situação em Aleppo e o representante das Nações Unidas admite que o cessar fogo assinado a 27 de fevereiro está em estado crítico.

"Two months ago, across an assembly-room table in a factory in Jacksonville, Fla., President Barack Obama was talking to me about the problem of political capital". Começa assim o enorme artigo de Andrew Ross Sorkin no The New York Times que faz o balanço da presidência Obama em matéria de economia. A não perder. Mesmo.

Já que está pelo jornal americano, e agora que Donald Trumpparece irremediavelmente lançado para a corrida presidencial, perca uns minutos a perceber como tudo podia ser diferente se ao menos tudo fosse diferente. É um exercício político e matemáticoengraçado: numa eleição a três, em vez de ganhar o que tem mais votos (mesmo que tenha menos votos do que os outros dois juntos), devia ganhar o preferido das pessoas. Ou seja, em vez de votar em um candidato, os eleitores votavam nos três, mas por ordem de preferência. Se fosse assim, John Kasic seria Donald Trump.

É um grande jornal, o The New York Times - e com um grande problema: duas funcionárias negras, sexagenárias, acusam um dos responsáveis do jornal de promover uma cultura que favorece os funcionários brancos, jovens e solteiros.

Há tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo no Brasil que é difícil, e arriscado, destacar o que quer que seja. Para não correr o risco de ficar desatualizado, e para evitar que suceda o mesmo consigo, o meu conselho é que vá dando um salto à Folha de S. Pauloou à Veja.

A Venezuela é o mundo virado ao contrário. Primeiro acabaram as sextas-feiras, tornadas sábados, agora os funcionários públicos só trabalham duas manhãs por semana. E nada disso é bom. A mais recente aposta do presidente para derrotar a crise económica, anunciou o próprio (Nicolas Maduro aproveitou também para anunciar que quer ficar mais dois anos na presidência e que reduziu o poder do parlamento após ter sido aprovada uma moção de censura), são os Comités Locales de Abastecimiento y Producción, os Clap, agora transformados em micro-governos de cada comunidade. Não fosse trágica a situação de milhões de pessoas, e se não houvesse entre elas milhares de portugueses e lusodescendentes, e se não pairasse no ar a ameaça de algo muito grave... Sim, se o mundo fosse ao contrário, talvez desse para aplaudir com um "clap, clap". Mas não é.

A greve dos Estivadores é a excepção que confirma a regra. O vento pode soprar forte, o mundo pode mudar, mas enquanto houver mar, navios e carga, haverá sempre uma greve de estivadores. Ontem, depois de a Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares alertar para as consequências da greve em curso - "particularmente dramática para a indústria de alimentos compostos para animais, mas que pode rapidamente afetar a alimentação humana", e depois de o Governo decretar serviços mínimos, o sindicato anunciou que estendeu o pré-aviso para o Porto de Lisboa até 27 de maio.

Calado fala. Ao Expresso, o antigo jogador José Calado fala do Benfica, que joga hoje com o Guimarães, e do Sporting, que joga amanhã com o Porto. Jogos que pode ver nos canais pagos ou, sinal dos tempos, à borla através de sites ilegais na Internet.

FRASE

"No último set, tive alguns problemas físicos que se calhar me impediram, a nível físico e mental, de acabar bem o encontro", João Sousa, melhor tenista português da atualidade, após ter sido eliminado no Millenium Estoril Open, que deixou de ter atletas nacionais

MANCHETES

Correio da Manhã: "Vice de Pinto da Costa gere máfia da noite"
Público: "Governo prepara medidas para aumentar impostos indirectos"
Jornal de Noticias: "Autoestradas-fantasma ameaçam contas do Estado"
Diário de Notícias: "Ser um dia líder do PSD? Não se deve dizer nunca" (Maria Luís Albuquerque)
i: "A tauromaquia é uma das piores formas de trabalho infantil" (André SIlva)

O QUE ANDO A LER

Mal soube do protesto dos táxis fui buscar o livro. Já o li tantas vezes que já o leio por vício.

Chama-se "D. Camilo e o seu pequeno mundo", passa-se na Itália do pós-Guerra, entre 1946 e 1947. D. Camilo é um padre brutamontes, capaz de pegar num banco e derrubar seis ou sete homens. Normalmente, são seis ou sete membros do partido comunista da terra, cujo presidente, e líder comunista inflexível, é Peppone – igualmente bruto.

Todo o livro se faz à volta da relação de D. Camilo com Peppone e de D. Camilo com o Cristo crucificado que está na Igreja, e que fala com ele. Simples como o mundo.

Giovanni Guareshi escreve assim, logo ao início:

"A história não são os homens que a fazem: os homens submetem-se à história como se submetem à geografia. Procurando corrigir a geografia, furando montanhas e desviando rios, tentam convencer-se de que imprimem novo rumo à história; afinal, não modificam mesmo nada, pois um belo dia tudo se vai de roldão: as águas engolem as pontes, quebram os diques, tornam a encher as minas; vão abaixo as casas, os palácios, as choupanas; a erva cresce nos escombros; e tudo volta à terra de onde veio. E os sobreviventes terão de combater as feras à pedrada e a história recomeçará: a história do costume".

A história acaba assim:

"Daqui a mil anos, os homens hão de correr a seis mil quilómetros à hora, em aviões a jato superatómico - e para quê, afinal? Para chegarem ao fim do ano e ficarem de boca aberta diante do mesmo Menino de gesso que o camarada Peppone retocou, uma destas noites, com o pincel mais fininho".

Falta muito para o Natal, mas o tempo, que não anda de táxi nem de Uber, avança sempre. mesmo quando estamos parados.

Se já está há meia-hora no trânsito, não se enerve. Aproveite o momento e a estranha sensação de saber que o presente é igual ao passado e, a julgar pela fila à sua frente, não muito diferente do futuro.

Às seis da tarde, quando chegar o Expresso Diário, já estará longe. Logo à noite, quando for para o ar o Expresso da Meia Noite, já nem se vai lembrar da marcha lenta. Muito menos amanhã, quando chegar às bancas o Expresso.

Tenha um bom dia e um óptimo fim de semana.

Brasil. A “REPÚBLICA PRESIDENCIALISTA” ESTÁ PODRE, SUA ESSÊNCIA É A CORRUPÇÃO



Segundo Moniz Bandeira, a corrupção não começou com os governos do PT e as privatizações do governo FHC foram um poderoso veículo para os corruptos

Luiz Alberto Moniz Bandeira* - Carta Maior

Após a decisão da Câmara dos Deputados do Brasil, de dar início ao juízo político da presidenta Dilma Rousseff, LA ONDA digital, realizou uma entrevista por e-mail com o cientista político e historiador brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira, para conhecer sua opinião sobre as causas, o contexto político e social no qual se toma esta excepcional medida. Moniz Bandeira acaba de apresentar seu novo livro: “A Segunda Guerra Fria”, na Feira do Livro de Buenos Aires, que se realiza esta semana, na capital argentina.

– Após a vitória da oposição na Câmara dos Deputados, por uma margem bastante grande (367 votos a favor, 137 contra), foi declarado o início do juízo político contra a presidenta Dilma Rousseff. A pergunta que muitos se fazem na América do Sul é: como o partido do governo e o próprio governo chegaram a esta solidão, a este cenário de falta de apoio político?

– “A campanha subterrânea dos grupos internacionais se aliou à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de liberdade e garantia do trabalho”. Estas palavras foram escritas pelo presidente Getúlio Vargas, na carta que deixou antes de se suicidar, em 24 de agosto de 1954. Elas também explicam o que aconteceu na Câmara dos Deputados no dia 17 de abril de 2016. Mas, como disse Marx, a história se repete, uma vez como tragédia, a outra como farsa. Em 1954, o processo do golpe de Estado culminou com uma tragédia, o suicídio do presidente, que impediu a completa conquista dos objetivos por parte dos interesses nacionais e internacionais que moveram a campanha contra o seu governo. Já o que aconteceu na Câmara de Deputados no recente 17 de abril foi outro golpe de Estado, mas com as características ridículas de um espetáculo de circo. Uma Câmara de Deputados, composta, em 60% do seu total, por parlamentares acusados ou envolvidos indiretamente em processos de corrupção, fraude eleitoral, desmantelamento, sequestro, homicídio, e sob a presidência de um sujeito (Eduardo Cunha) que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF), também acusado de corrupção, lavagem dinheiro ilícito, com 40 milhões de dólares em contas secretas na Suíça e no Panamá, que aprovou o impeachment de uma presidenta honesta, que não cometeu nenhum crime.

A votação do último dia 17 foi um show de estupidez, no qual cada deputado que votou pelo impeachment demonstrou também sua vocação criminosa.

– Isso significa que o governo brasileiro e o PT, antes da derrota no parlamento, já havia perdido a credibilidade e a simpatia perante a sociedade?

– Sim, o governo brasileiro cometeu muitos erros, sobretudo na política econômica, e eles contribuíram para diminuir sua popularidade. Isso foi aproveitado por uma intensa campanha dos meios de comunicação da imprensa corporativa. No Brasil, a liberdade de imprensa é uma ficção. Está virtualmente restrita a quatro ou cinco famílias, que são as donas dos principais veículos de imprensa, rádio e televisão. Mas o golpe de Estado estava articulado desde antes da presidenta Dilma ser eleita pela segunda vez. O objetivo era o retorno do ex-presidente Lula, impedir sua eleição em 2018 e mudar toda a sua política externa.

As manifestações de junho de 2013 foram, sem dúvidas, organizadas por ativistas de ONGs, saídos de cursos de liderança e uso de técnicas de luta não-violenta, conforme os ensinamentos do professor Gene Sharp, autor de From Dictatorship to Democracy. Esses cursos são realizados nas universidades americanas, como Yale e outras, e também dentro da Embaixada dos Estados Unidos. O juiz Sérgio Moro, que conduz o processo contra a Petrobras, realizou cursos no Departamento de Estado, em 2007. No ano seguinte, em 2008, passou um mês num programa especial de treinamento na Escola de Direito de Harvard, em conjunto com sua colega Gisele Lemke. Em outubro de 2009, participou da conferência regional sobre “Illicit Financial Crimes”, promovida no Rio de Janeiro pela Embaixada dos Estados Unidos. A Agência Nacional de Segurança (NSA), que monitorou as comunicações da Petrobras, descobriu os indícios de irregularidades e corrupção de alguns militantes do PT e, possivelmente, passou a informação ao juiz Sérgio Moro, de Curitiba, já treinado em ação multi jurisdicional e práticas de investigação, inclusive com demostrações reais (como preparar testemunhas para delatar terceiros). E para começar um processo de impeachment, bastava inventar um motivo. O clima já existia.

O juiz Sérgio Moro, que deveria ser submetido a uma investigação sobre suas conexões com os interesses dos Estados Unidos, manipulou os antecedentes, com a desculpa de combater a corrupção, estimulando as classes sociais médias e altas, assim como grande parte da pequena burguesia e do empresariado, que nunca aceitaram de bom grado os programas sociais como o Bolsa Família e outros criados pelo governo de Lula, que foram mantidos pela presidenta Dilma Rousseff. Essas classes médias e altas tampouco conseguiram digerir o fato de ter um operário nordestino como presidente de Brasil.

O que ocorre no Brasil é também uma exacerbação da feroz luta de classes. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) gastou milhões de reais na campanha pelo impeachment da presidenta Dilma. A entidade não transparece esses números, mas se calcula que a FIESP teve um custo de pelo menos cinco milhões de reais em propaganda a favor do impeachment nas edições impressas dos jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, sem incluir o gasto nas edições digitais, suborno de deputados e outros. Houve e há muito dinheiro nacional e estrangeiro correndo no Brasil para financiar o impeachment.

– Mas os juízos políticos não estão previstos na Constituição brasileira? A Justiça processou alguns altos funcionários do governo e da estatal Petrobras. A presidenta não tem responsabilidade institucional e política nesses casos?

– O impeachment está previsto na Constituição, mas não se aplica aos casos que estão descritos no processo contra a presidenta Dilma Rousseff que estão sendo analisados no Legislativo. Não há prova nenhuma de que la cometeu algum crime de responsabilidade fiscal. Essa versão foi levantada pelo Tribunal de Contas da União, já com o propósito de justificar um processo de impeachment. Mas nada está provado, e o que aconteceu foi um atraso no repasse de verbas aos bancos públicos, dando momentaneamente uma cobertura às contas do governo. Todos os presidentes, inclusive Fernando Henrique Cardoso no Brasil e Ronald Reagan nos Estados Unidos, fizeram manobras similares. E isso não é motivo para um impeachment. Deve-se observar e discutir muito mais esta questão. Reitero, o processo para tirar a presidenta Dilma Rousseff do governo é resultado de um projeto político muito bem montado, há muito tempo.

– Durante a votação na Câmara dos Deputados, muitos parlamentares, em seus discursos, dedicavam seu voto a favor do impeachment “a Deus”. Isso quer dizer que os governos de Lula e Dilma perseguiram ou tentaram perseguir as religiões?

– Não, nada disso. Foram os deputados evangélicos, representantes de seitas que están infetando o Brasil, que votaram assim por livre e espontânea vontade. A votação na Câmara foi um espetáculo burlesco, que demonstra o baixo nível dos políticos brasileiros. E muitos certamente estiveram na folha de pagamento da FIESP ou das ONGs que recebem dinheiro do exterior.

– O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assegurou, num evento em São Paulo, que o governo de Dilma Rousseff “não tem mais condições de governar”, e que o Brasil vive uma democracia “corroída e corrompida”. É possível assegurar hoje que o sistema político brasileiro está em crise total?

– Sim, a República presidencialista está podre, sua essência é a corrupção, e essa não começou com os governos do PT. As privatizações, ocorridas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foram um poderoso veículo de corrupção dos políticos do seu partido. Mas a imprensa corporativa nunca disse nada sobre isso, e se esquece dos grandes escândalos, como a compra do sistema de defesa da Amazônia por parte de uma empresa norte-americana, na qual o presidente Bill Clinton atuou diretamente. E houve muitos outros escândalos. Infelizmente, Fernando Henrique está renegando o seu passado democrata, ao apoiar o golpe de Estado sob a forma de um impeachment. E ele, que faz parte dessa conspiração, é possivelmente o candidato a ser eleito depois que o vice-presidente Michel Temer, que também enfrenta um processo de impeachment na Câmara e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), seja impedido. Assim como o deputado Eduardo Cunha, que é réu no STF e que possivelmente perderá seu mandato, e tampouco poderá assumir o governo.

– Por que os BRICS, bloco do qual Brasil é integrante, não saiu em defesa do governo de Dilma?

– É um problema diplomático. É importante não intervir nos assuntos internos de outro país. Mas o impeachment da presidenta Dilma Rousseff é um meio de romper o bloco dos BRICS, que busca fortalecer o comércio fora do sistema do dólar, no qual se baseia a hegemonia dos Estados Unidos, o país que tem o absurdo privilégio e o poder exclusivo de emitir a moeda mundial de reserva. Na imprensa dos Estados Unidos, os principais jornais criticaram severamente o impeachment, como em quase toda a imprensa europeia. Entretanto, os setores neoconservadores dos Partidos Republicano e Democrata, os bancos e os interesses da indústria bélica, com o beneplácito do presidente Barack Obama, vem estimulando e financiando o processo contra Dilma, conjuntamente com as classes conservadoras, o empresariado brasileiro e os gritos das capas das revistas.

O regime iniciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou a independência econômica do Brasil. O plano estratégico nacional instituiu que o Brasil não pode importar nada sem um contrato que estabeleça transferência de tecnologia, algo que os Estados Unidos não admite. Há uma lei do Congresso norte-americano que não permite transferência de tecnologia. Por isso o Brasil desenvolve sua indústria nuclear, para exportação de urânio com tecnologia alemã, por isso não assinou o protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação (TNP), o que permitiria investigações intrusivas, completas e sem aviso da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), para descobrir os segredos das usinas de produção de urânio enriquecido. O Brasil constrói seu submarino nuclear e outros equipamentos com tecnologia francesa. Comprou helicópteros da Rússia e fabrica aviões em associação com a Suécia. E cancelou o acordo para construir uma base de lançamentos de mísseis com os Estados Unidos, na ilha de Alcântara, no norte do país.

Não esqueçamos que o governo de Lula, com seus dois grandes diplomatas, os embaixadores Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães, frustraram a implantação da ALCA (Área de Libre Comércio para as Américas), que hoje os Estados Unidos ainda tentam restaurar, através de vários diferentes acordos bilaterais. Logo, o governo de Dilma Rousseff denunciou a espionagem da NSA, e protestou contra o grampo no telefone pessoas da presidenta cancelando a visita de Estado a Washington, em 2013. Tudo isso levou os Estados Unidos a apostarem na troca de regime no Brasil.

– A imprensa argentina diz que o governo de Mauricio Macri deu vários sinais de alerta e preocupação por um possível avanço do juízo político contra a chefa de Estado brasileira.

– Qualquer que seja o governo no Brasil, a Argentina seguirá sendo sua prioridade. Não creio que isso possa afetar o comércio com o Brasil. Porém, no caso da União Europeia, as negociações parecem ser uma incógnita. Ainda é muito difícil prever. Mas se Michel Temer assumir o governo, também não será por muito tempo. Está condenado a cair, assim como o deputado Eduardo Cunha, presidente do Congresso, que responde processo no STF e não poderá assumir o governo.

– Nos últimos anos, vem surgido dados que configuram um certo tipo de crise do sistema capitalista. É interessante observar como os Estados Unidos, a Espanha e o Brasil, para citar alguns exemplos, tenham sintomas similares. Seria correto afirmar que o capitalismo entrou numa situação que pode finalizar numa crise generalizada e mais profunda que a desatada há 20 anos? A China também está mostrando elementos da crise que se manifesta a nível mundial. Significa que se se encerra a possibilidade de que esse país se transforme no gigante do mundo? Diante dessa realidade, o Terceiro Mundo deve se integrar?

– Sim, existe uma crise sistêmica do capitalismo, que vem se acentuando desde 2007 e 2008. Mas o capitalismo ainda não esgotou a capacidade de desenvolvimento das suas forças produtivas, muito menos na China, que ainda pode absorver grandes espaços de áreas não-capitalistas, pré-capitalistas ou ainda mais atrasadas, sobretudo agrícolas. Por isso os dirigentes do PC chinês estão prevendo o começo da socialização somente para daqui a 100 anos. E estão certos, conforme a doutrina de Karl Marx, que escreveu que uma formação social nunca desmorona sem que as forças produtivas dentro dela estejam suficientemente desenvolvidas, e as novas relações superiores de produção jamais aparecem em lugares onde as condições materiais para sua existência sejam incubadas nas entranhas da própria sociedade antiga. Marx e Engels jamais conceberam o socialismo como via de desenvolvimento econômico ou modelo alternativo para o capitalismo, mas sim como consequência do desenvolvimento histórico do próprio capitalismo. Quem pensa o contrário não aprendeu nada, nem mesmo com a experiência da história, como foi demostrado no colapso da União Soviética.

Com respeito ao Terceiro Mundo, ele não existe. Foi uma expressão política criada numa determinada época, mas todo o mundo está, de um modo ou de outro, integrado no sistema capitalista mundial, único modo de produção que teve capacidade e condições de se expandir, ainda que de forma desigual, irregular e combinada, em todos os continentes do planeta. É preciso que a esquerda leia Marx, Rosa Luxemburgo, Kautsky e todos os teóricos que desenvolveram o pensamento de Marx, no qual o método é o elemento mais importante e plenamente atual.

O desenvolvimento científico e tecnológico, dos meios de comunicação e dos instrumentos eletrônicos, aumentando a produtividade do trabalho e impulsando ainda mais a internacionalização e a globalização da economia, produzindo uma profunda mutação no sistema capitalista mundial, na estrutura social dos poderes industriais e no caráter da própria classe operária, provocou que esta já não seja a classe operária que algumas tendências políticas de esquerda ainda concebem na teoria, pensando o mundo como se ainda estivessem no Século XIX, ou começo do Século XX.

O deslocamento do centro da produção industrial aos países asiáticos foi acelerado, e hoje se busca mudar a arquitetura política internacional. Embora o capitalismo ainda exista, ele é como o rio, que se altera continuamente, pois as águas estão sempre correndo e passando. “Nós entramos e não entramos no mesmo rio, somos e não somos”, nos ensinou Heráclito. Isso não significa que o capitalismo seja eterno. Chegará dia em que todas as possibilidades de desenvolvimento capitalista estarão esgotadas, e a história mostrará o que acontece com todo sistema econômico: ele há de cair, pelo peso de suas próprias contradições, as violentas e/ou as não violentas. Isso ocorreu com o Império Romano e com o feudalismo.

Hoje, porém, o desenvolvimento da tecnologia digital, dos meios de comunicação e de transporte deram maior velocidade à civilização moderna. Entretanto, é possível que a queda do capitalismo ainda tarde algumas décadas. Mas chegará, e será dramática e violenta, como sua ascensão.

* Luiz Alberto Moniz Bandeira é doutor em ciência política, professor titular de história da política exterior brasileira da Universidade de Brasília (aposentado), possui mais de 20 obras publicadas, entre as quais estão: “Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque)” e “A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos (Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e ao Oriente Médio). Várias delas foram editadas em outros países, como Argentina, Chile, Alemanha, China, Rússia e Portugal.

Créditos da foto: Lula Marques

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