Bastos
Mateus Elias está detido desde a primeira semana de Março na Comarca de Viana
(Angola), por suspeita de furto de uma pen-drive. Nasceu a 11 de Janeiro de
2003: tem 13 anos.
Rafael Marques de Morais*
Encontrava-se
detido na Caserna D6, onde estão cerca de 50 reclusos, entre condenados
efectivos e indivíduos em prisão preventiva. Passou antes pelo “Penal”, onde,
de acordo com alguns reclusos, são frequentes as violações sexuais e a troca de
sexo por comida. Como abaixo se descreve, Bastos Mateus Elias já vai na
terceira transferência, dentro do mesmo estabelecimento prisional: desta feita,
seguiu para as “tendas”, onde as condições não são melhores.
A
mãe de Bastos, Samba Mateus, explica ao Maka Angola que o seu filho foi detido
na vizinhança do Bairro Calauenda – Papá Simão, no município de Viana, onde
residem. “Eu não lembro o dia exacto em que ele foi preso, porque eu estava na
província do Kwanza-Sul”, explica Samba Mateus.
Nas
visitas que fez à cadeia para levar alimentos ao filho, Samba Mateus relata:
“Ele disse-me que foi acusado de ter furtado uma pen-drive. Foi interrogado na
esquadra descartável. É assim que chamamos à esquadra mais próxima aqui do
bairro.”
“Eu
nunca o vi a trazer uma pen-drive para casa. Não há lógica nenhuma em meter o
miúdo na cadeia por causa de uma pen-drive”, reclama Samba Mateus.
Mãe
de cinco filhos e com 36 anos, Samba Mateus explica que a sua extrema pobreza a
impede de contratar um advogado para lutar pela libertação do filho. Vive com a
irmã. “Se visse as condições em que vivo, entenderia a minha situação. Se
tivesse meios para lutar, o meu filho já não estaria na comarca”, desabafa.
A
mãe de Bastos Mateus Elias acrescenta que está separada do pai do petiz há 11
anos e que não mantém qualquer contacto com ele. O progenitor nem sequer sabe
que o filho está preso.
Bastos
Mateus Elias “é um menino que não refila. Tem bom comportamento em casa”,
revela a mãe. Lamenta apenas que ele não esteja a estudar devido às condições
de miséria em que vivem e por acreditar que “ele não tem boa mente para os
estudos”, tendo concluído apenas a 2.ª classe.
Um
dos condenados que conviveu com Bastos na Caserna D6 atesta o comportamento
exemplar do petiz: “Ele é mesmo inocente, pequeno e não tem ar de malícia.”
Afirma ainda que esta caserna alberga uma mistura de condenados e detidos em
prisão preventiva por crimes diversos, desde violação sexual, assalto à mão
armada, posse de estupefacientes e homicídio. “Isto aqui é uma sanzala, mas nós
protegemos e alimentámos o miúdo até ele ser transferido para as tendas”,
prossegue.
O
condenado, cujo nome Maka Angola omite por razões de segurança, revela ainda
que o petiz já vai na terceira transferência interna. “Ele esteve detido no
Penal, onde há muitos abusos sexuais porque há ali muita fome. Troca-se comida
por sexo. Por isso, por ordens superiores, os serviços prisionais entenderam
colocá-lo na nossa caserna, para maior protecção.”
De
acordo com o entrevistado, Bastos passou para as “tendas” para evitar que os
“revús”, os condenados do Processo dos 17, obtenham mais dados, “pela
proximidade de celas” e decidam denunciar o caso.
Contactada
por Maka Angola, a advogada Luísa Rangel argumenta: “O nosso sistema judicial
vai de mal a pior. O Ministério Público devia ter resolvido isto imediatamente.
Misturar o miúdo com adultos condenados por homicídio e violação sexual, por
causa de uma pen-drive, é inqualificável.”
Na
opinião da advogada, agindo desta forma o Ministério Público está a “dar-lhe
preparação para que ele se torne um verdadeiro delinquente”.
“Com
13 anos, o menino não tem capacidade jurídica. É inimputável a culpa de
cometimento de crime, porque ele só tem 13 anos. A idade de culpa é a partir
dos 16 anos. Se o menino cometeu algum ilícito, as autoridades deviam ter
envolvido o INAC [Instituto Nacional de Apoio à Criança] e o Julgado de
Menores. É muito triste terem colocado um menino de 13 anos numa unidade
prisional de adultos”, lamenta Luísa Rangel.
Por
sua vez, quando questionado sobre o caso, um magistrado do Ministério Público
respondeu de forma directa: “É um abuso.”
O
mesmo magistrado explica que é dever das autoridades judiciais confirmar a
idade do suspeito e, por conseguinte, fazer cumprir a lei. “Se tem 13 anos não
deve ser preso. É um abuso”, sublinha o magistrado.
Mas
o facto é que Bastos Mateus Elias, com 13 anos de idade, está preso há quase
dois meses.
Contactado
por Maka Angola, o porta-voz dos Serviços Prisionais, Moisés Cassoma, garante
diligência junto da direcção da Cadeia de Viana para apuramento dos factos. Tão
logo haja resposta, a mesma será reportada.
*Maka
Angola – em Folha 8, título Folha 8
Leia
mais em Folha 8
2 comentários:
https://www.youtube.com/watch?v=NZmvogXnmRs
Assistam, nagolanos, assistam.
Digo, angolanos.
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