A
acusação a Manuel Vicente obrigará a adiar a visita de Costa até ao próximo
ciclo político. Se o MPLA ganhar, Costa fala com João Lourenço
António
Costa não irá a Luanda enquanto José Eduardo dos Santos for presidente
angolano.
O
primeiro-ministro português tinha uma visita a Angola programada para breve,
mas fontes próximas do processo garantiram ao i que a ida de Costa a Luanda
deverá ser adiada para depois das eleições angolanas deste ano, ou seja, até à
reforma política de José Eduardo dos Santos, que é chefe de Estado daquele país
há mais de 37 anos.
A
acusação a Manuel Vicente tornou-a praticamente impossível de realizar – tendo
em conta as críticas que vieram de Luanda – mas a campanha eleitoral em Angola
também não era o melhor timing para uma visita.
“Mesmo
antes de o Ministério Público [português] acusar Manuel Vicente, que é a
segunda figura do Estado angolano, a visita já estava errada no tempo desde o
início”, aponta ao i fonte que se reservou ao anonimato. “Aconteceria sempre,
pelo menos, em clima de pré-campanha, e não tem sentido o primeiro-ministro
sujeitar-se a isso. Não teria qualquer substância.”
A
fonte recorda ainda que “visitas a São Tomé, por exemplo, foram também adiadas
em função de circunstâncias políticas locais” e, “que se saiba, não há qualquer
urgência em visitar Angola”. Nem vale a pena qualquer urgência agora: um membro
do corpo diplomático adiantou ainda ao i que “a visita já está comprometida”.
Qual
é a pressa?
Questionada
sobre a possibilidade de a acusação ao vice-presidente angolano, Manuel
Vicente, colocar em causa as relações bilaterais entre os países lusófonos, a
fonte disse apenas: “É possível.”
Em
comunicado, o governo angolano considerou que o processo relacionado com o seu
vice--presidente é obra “de forças interessadas em perturbar ou mesmo destruir
as relações amistosas” entre ambas as nações e um “sério ataque à República de
Angola, suscetível de perturbar as relações existentes entre os dois Estados”.
A
atuação do Ministério Público, para Luanda, terá sido “despropositada”,
“inamistosa” e baseada em “pseudofactos, prejudiciais aos verdadeiros
interesses dos dois países”, atingindo “a soberania de Angola ou altas
entidades do país, por calúnia ou difamação”.
O
governo angolano rejeitou assim totalmente “supostos factos criminais imputados
ao senhor engenheiro Manuel Vicente”. O “Jornal de Angola” acusou esta semana o
Estado português de “falta de vergonha”.
Agora
há uma questão nova em Angola com a crescente perda de poder de José Eduardo
dos Santos, aponta uma das fontes contactadas pelo i. “Há um inesperado
surgimento do setor militar dentro do MPLA [partido do regime] que levou ao
relegar para maus lugares nas listas eleitorais dos seus protegidos, a pressões
sobre a família que justificam a sua próxima saída de cargos.”
Na
segunda semana deste fevereiro, Augusto Santos Silva havia afirmado: “O que nós
acertámos basicamente nas conversas havidas, quer a nível dos dois ministros
das Relações Exteriores quer, depois, na minha conversa na audiência que o
Presidente da República me concedeu, o que nós conviemos foi que marcaríamos a
visita para a primeira data possível. A minha expetativa é que a visita do
primeiro-ministro de Portugal a Angola se realize ainda nesta primavera.”
Ao
que o i sabe, a expectativa de Santos Silva sairá frustrada. Pelo menos no que
toca à estação do ano escolhida. Angola só terá um novo presidente depois de
setembro. Se o MPLA vencer, será João Lourenço.
Ana
Sá Lopes e Sebastião Bugalho – jornal i
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