Alfredo
Barroso – jornal i, opinião
Já
com os pés na pátria, constato que a maior aberração política é o acordo
ortográfico de 1990, com que o então PM Cavaco Silva quis sentar-se à mesa com
os países de língua oficial portuguesa.
O
estado do mundo não é de fiar. Está a precisar do colo de Nossa Senhora de
Fátima, como aconselha a ex-militante estalinista Zita Seabra, convertida à
religião de São Paulo depois de ter percorrido afanosamente a sua “estrada de
Damasco”.
Uma
visita virtual ao número 1600 da Avenida Pensilvânia, em Washington D.C.,
confirma as minhas apreensões. A Casa Branca foi ocupada por um trio de loucos
furiosos e freaks racistas – Donald Trump, Steve Bannon e Kellyanne Conway –,
sem dúvida as mais perigosas aberrações políticas da actualidade. De acordo com
vários psicólogos, Donald Trump sofre de “narcisismo infantil”, e um estudo
efectuado pela Universidade Carnegie Mellon conclui que ele “fala como uma
criança” e só fica à frente de Bush filho por uma unha negra, “ao nível de uma
criança entre o quinto e o sexto ano” de escolaridade. Ou seja: o mundo está
mesmo perigoso!
No
Palácio da Alvorada, em Brasília, a coisa também está preta. A residência
oficial dos presidentes brasileiros foi abandonada por Michel Temer, o ridículo
chefe de Estado não eleito de uma república das bananas, levando consigo mulher
e filho: Marcela e Michelzinho. Disse Temer: “A energia não era boa. A Marcela
sentiu a mesma coisa. Só o Michelzinho, que ficava correndo de um lado para
outro, gostou. Chegamos a pensar: será que aqui tem fantasma?” Não era
fantasma, não. Era só fantasminha, paizão! Era o seu Michelzinho a correr dum
lado para o outro!
Passemos
a Bruxelas, sede da União Europeia. Como se já não bastasse o hilariante
luxemburguês Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia furiosamente
beijoqueiro e dado a alegrias pós-prandiais esfusiantes, irrompeu agora o até
há dias todo-poderoso presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem,
serventuário do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, a proferir
invectivas contra os meridionais, deste jaez: “Não posso gastar todo o meu
dinheiro em álcool e mulheres e continuar a pedir ajuda.” Suspeita-se que a
metáfora deste holandês encaracolado – de um partido da Internacional
Socialista que foi sovado nas recentes eleições – lhe ocorreu depois de uma
visita às montras do famoso Bairro Vermelho de Amesterdão. Ou seja, a UE
continua nas mãos de políticos aberrantes, supostamente abstémios e misóginos,
que desprezam os países do sul e estão acorrentados à serventia dos diktats
alemães. É grave.
Já
com os pés na pátria, constato que a maior aberração política é o acordo
ortográfico de 1990, com que o então PM Cavaco Silva quis sentar-se à mesa com
os países de língua oficial portuguesa (“palopes”) para partilhar com eles um
“pato de estabilidade” (ortográfica). Só que, 27 anos depois, nada se passou
como ele desejava e o “pato” (sem laranja) é um fiasco político, linguístico,
social, cultural, jurídico e económico. O AO90, em que abundam aberrações de
todo o tipo, é, aliás, mais um dos “monstro” gerados pela governação de Cavaco
Silva (o mais famoso dos quais é o da dívida pública). E aqui vão, tão-só,
dois exemplos.
O
primeiro é o da eliminação arbitrária do uso do hífen. Que me pôs a suspeitar
da razão pela qual a expressão “cor-de-rosa” tem hífen e a expressão “cor de
laranja” não tem! Terá sido uma profecia política que só agora se consumou, com
o traço de união entre o partido cor-de-rosa (PS) e a maioria parlamentar de
esquerda que aguenta o governo?! E o partido cor de laranja (PPD-PSD) terá ficado
sem hífen porque ameaça desmoronar-se?!
O
segundo é o da supressão arbitrária do acento agudo, a provocar situações
hilariantes. Veja-se o caso da expressão popular “Alto e pára o baile” (isto é,
“stop”). Escrita com acento agudo antes do AO90, passou a escrever-se sem
acento agudo – “Alto e para o baile” (isto é, “go”) – na grafia do AO90. Como
escreveu Nuno Pacheco, no “Público”: “O disparate é livre, mas para quê
abusar?” Perante a indiferença dos cidadãos, os paninhos quentes dos académicos
e a cumplicidade dos partidos, será que vamos ser meros “espetadores” (sem
espeto) da perpetuação deste atentado contra a língua e a cultura portuguesas,
pela via do facto consumado?!
Alfredo Barroso escreve
à sexta-feira no i
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