Martinho Júnior, Luanda
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Outro livro em que sou coautor será publicado em breve em Luanda…
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Séculos por que, em imensas regiões, África era um continente impenetrável, um
continente opaco e quase apenas povoado de rotinas palúdicas, nas artes
vivenciais dos homens e até nas guerras entre irmãos...
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E esse tempo mede-se em solidão, nos termos da antropologia da vivência humana,
não só nas duas estações tropicais de cada ano, mas também do que emergiu do
adobe esventrado, ou da palha ensopada, ou da explosão das recém-chegadas
granadas, apenas um pouco para além das histórias típicas da luta pela
sobrevivência com os pés gretados e empoeirados nos ignotos trilhos, sulcando a
cadência de séculos!...
Nascer
para a história e para a humanidade em África, foi mesmo (ou ainda está a ser),
um parto difícil e ensanguentado, lento para além dos limites de várias
gerações e pejado de quadros terríveis e monstros, quadros dantescos de
escombros e armas, de quinquilharias e enfatuados ladrões, de limites
desenhados pelas garras dos abutres, quadros povoados de invasores gestos de
suave, ou de cruel opressão, para os tradicionais tempos que estão sendo
tragados tanto faz…
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Na voragem desses tempos agora em parto, as espécies evaporam-se nos longínquos
planaltos e nas alturas que dominam os grandes lagos, bem por dentro do coração
das trevas, seus genes são queimados entre vulcões…
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E nós mesmo estivemos e estamos por dentro desse colapso húmido, ou abrasador
de lava pungente, como pequenos náufragos, clamando por nossa mãe, porventura
saltando só agora do berço da própria humanidade!…
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Por vezes, houvera que ser, os pequenos náufragos, afrontarem os convulsivos
tempos revoltos e revolvidos, ainda que no meio das lavras ardentes, de armas
na mão!
Este
será ainda um tempo transitório, doloroso, a que se habituaram e nos habituaram
os europeus, sorvendo um planeta pequeno para a sua desmedida ambição
transcontinental e global, em nome do lucro, da máquina e da electrónica,
sepultando o cadenciar dos tambores ancestrais em cemitérios de onde não mais
irão poder sair, bem fundo nas entranhas duma terra que afinal não passa dum
pólen perdido no espaço sideral...
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Em África hoje o tempo ganha outra dimensão para muitas comunidades e até mesmo
para muitos povos, esvaídos que estão os tempos tradicionais que como ilhas se
refugiam meio envergonhados no que resta das grandes selvas, ou nos desertos
mais ardentes e inóspitos do globo, que não se cansam de avançar em múltiplas
direcções!...
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Em África há por isso uma dialética feita de sobressaltos constantes, por causa
desse (des)compasso entre dois campos humanos com tempos culturalmente
distintos e, quantas vezes, dilacerados, abissais, antagónicos, mas aspirando
como nunca a todas as vidas que lhe foram negadas e ainda hoje
quantas vezes lhe são negadas!...
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Em África acelera-se a busca pelo espaço vital e pela água incontinente do
interior, quando os desertos avançam com areias de soterrar o verde das
paisagens e tudo isso outrossim, para que o convulsivo tempo moderno que sopra
de fora, se imponha sobre a natureza, sobre os homens e sobre as mais legítimas
aspirações à clarividência da vida!
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África que se arrasta desde os tempos drásticos que vão deixando de ser
impenetráveis e opacos, sorvida em ventos que invadem a pele e revoltam as
entranhas do tambor, como um poderoso assassino de inocentes!...
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Podemos assim confessar, ganhando fôlego, que (sobre)vivemos aos dois tempos
antagónicos como muito poucos tiveram tão sensível quão palpável oportunidade
de (sobre)viver, com a convicção humilde, singular, dolorosa, mas ardente, que
finalmente África vai perenemente renascer e vencer o opróbrio de “Séculos
de solidão”!...
Apontamento
por um livro que urge continuar a escrever…
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