Ana
Sá Lopes – jornal i, opinião
Não
houve Presidente eleito na história democrática que não tivesse sido levado aos
píncaros de popularidade pelos cidadãos do país.
Mas
Marcelo é levado aos píncaros e ao colo. Marcelo dá colo, o povo leva Marcelo
ao colo. É uma relação quase sentimental – a dita “política dos afetos” que
criou uma consistente corrente afetuosa entre o Presidente e as pessoas normais
é um sucesso político e institucional.
Nunca
um Presidente esteve tão perto dos cidadãos que o elegeram e, ponto importante,
também dos cidadãos que não o elegeram. Essa corrente de afeto já existia entre
“o professor Marcelo” e o povo, através da familiaridade construída em mais de
15 anos de serões televisivos ao domingo – onde já a política, o comentário
político, era, como numa maionese, emulsionada com os afetos: basta lembrar
como Marcelo apresentava os livros, falava de futebol, de música, dos
portugueses que se notabilizam por isto ou por aquilo, etc. Marcelo é hoje “o
namoradinho de Portugal”.
Tirando
uma pequena aldeia gaulesa de próximos de Passos Coelho que não perdoam o apoio
explícito do Presidente ao governo, mais outra pequena aldeia gaulesa à
esquerda que considera que extravasa os seus poderes presidenciais, Marcelo
bate todas as sondagens de popularidade. A parte da colagem ao governo pode
doer muito à direção de Passos, mas Cavaco fez uma coisa muito parecida com
José Sócrates, de cujo “ímpeto reformista” foi entusiasmado apoiante. É verdade
que em Marcelo tudo parece eufórico – as suas declarações de apoio são sempre
eufóricas. A última e muito divertida foi quando recentemente contrariou
Teodora Cardoso que aludiu a “um milagre” para justificar a descida do défice.
Marcelo
respondeu com uma frase popular a la Jerónimo de Sousa: “Saiu-nos do pelo”. Mas
que a esquerda não se engane: Marcelo deixa margem para deixar cair o governo
quando assim o entender. Basta lembrar o caso Centeno: assassinou politicamente
o ministro e escondeu o cadáver.
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