Muitos
ex-soldados angolanos que combateram contra o colonialismo português e na
guerra civil que terminou em 2002 enfrentam hoje sérias dificuldades. Os baixos
subsídios que recebem não chegam para as despesas diárias.
O
feriado é assinalado todos os anos em Angola. O dia 4
de fevereiro de 1961 é considerado um marco importante no combate ao
colonialismo português em África. Mas a data não reúne consenso entre o
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a Frente de Libertação
Nacional de Angola (FNLA), dois dos três movimentos que lutaram pela libertação
de Angola. O MPLA defende que foi a 4 de fevereiro que começou a luta armada. A
Frente de Libertação Nacional de Angola diz que foi a 15 de março.
Polémicas
à parte, em comum todos têm uma questão: a valorização dos ex-militares.
Cinquenta e seis anos depois do início da luta armada, muitos antigos
combatentes vivem praticamente na miséria.
Luís
José Vatas, de 67 anos, foi guerrilheiro do Exército de Libertação Nacional de
Angola (ELNA), o antigo braço armado da FNLA.
Reclama
uma maior dignificação dos veteranos da luta armada e considera irrisórios os
vinte mil kwanzas (cerca 111 euros) que recebe do Estado.
Diz
que não chegam sequer para suprir metade das suas necessidades. "O próprio
Presidente disse que os soldados do ELNA não têm direito a estar inscritos na
caixa social. Só devem receber vinte mil kwanzas, que não chegam", lamenta
o antigo combatente, que dá graças por ter aprendido ainda muito jovem o ofício
de sapateiro. Hoje, é isso que o ajuda a sustentar a família.
Abandonados
Luís
António combateu pelas FAPLA, Forças Populares de Libertação de Angola, afetas
ao MPLA. Hoje diz estar votado ao abandono e sobrevive com a ajuda da família.
A esposa deixou-o por causa das dificuldades financeiras. "Ela foi para a
casa da mãe dela e levou os dois filhos", conta.
O
antigo combatente faz biscates no bairro onde mora. Mas apesar dos esforços que
faz para contribuir para as despesas de casa, é a tia, vendedora de carvão com
quase 80 anos, que se sacrifica para alimentar a família. "Se ela não
vender carvão ou petróleo, não fazemos nada, não podemos fazer refeições",
diz.
Domingos
Maurício fez parte do braço militar da UNITA, as Forças Armadas de Libertação
de Angola (FALA), movimento militar criado por Jonas Savimbi. Diz que não se
justificam as dificuldades por que têm passado os antigos combatentes dos três
movimentos de libertação.
Acusa
ainda o Governo de estar a marginalizá-los. "Os antigos combatentes já não
têm valor, só estão a valorizar os que estão a entrar agora. Se o Governo
soubesse que antes destes estão os que começaram a guerra, deveria resolver a
situação dos antigos combatentes"m sublinha Domingos Maurício.
José
Adalberto (Huambo) | Deutsche Welle (fevereiro 2017) | Foto: Luís José Vatas,
antigo guerrilheiro do Exército de Libertação Nacional de Angola, trabalha como
sapateiro para sobreviver
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