Pode
ser que Martin Schulz ainda venha a ganhar as eleições na Alemanha e resgate os
socialistas europeus da irrelevância em que se transformaram.
Ana Sá Lopes –
jornal i, opinião
As
sondagens que recentemente deram o SPD, que agora candidata o antigo presidente
do Parlamento Europeu, taco a taco com o partido de Angela Merkel produziram
alguma alegria nos tão debilitados sociais- -democratas da Europa. Não havendo
(pelo menos ainda) um social-democrata no poder na Alemanha, António Costa é o
único rosto vitorioso entre os amarfanhados socialistas europeus.
Vitorioso
não porque o PS tivesse conseguido ganhar as eleições – perdeu-as contra todas
as probabilidades estatísticas depois de quatro anos de governo de troika –,
mas pela sua capacidade de negociar um acordo com a esquerda que não só lhe
permitiu ascender ao poder como cumprir escrupulosamente os compromissos
europeus, ter paz social (há poucas manifestações e greves sem grande dimensão)
e fazer o seu partido disparar nas sondagens muito para além do resultado
obtido nas legislativas. Não é pouco. Agora, na entrevista que deu ontem à
Renascença, António Costa vem anunciar que, mesmo no caso de ter maioria
absoluta nas próximas legislativas, gostaria de ter na mesma uma “geringonça”
para governar o país.
É
normal que assim pense: poder governar com o apoio do PCP e do Bloco de
Esquerda desde que não esteja em causa a Europa é uma bênção para qualquer governo
socialista, nunca até agora experimentada. Conseguir renovar o acordo com
maioria absoluta seria extraordinário. Não é fácil, para o Bloco e para o PCP,
responder a este ato de prodigalidade do primeiro-ministro, ainda que as
eleições venham longe.
Na
realidade, BE e PCP só têm força negocial se o PS não tiver maioria absoluta –
caso contrário, transformam-se em partidos- -vereadores do executivo, um pouco
como aconteceu com Sá Fernandes e Helena Roseta. Dar um não rotundo à proposta
de Costa pode estimular o voto útil. Como é que o nosso primeiro-ministro não
haveria de ser o socialista mais contente da Europa?
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