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Bhadrakumar, Indian Punchline | em Blog do Alok
"EUA já estão destruindo até
a OTAN... E a Rússia nem precisou ajudá-los!"
The Price of Partition: US Military Prepares to Get Kicked Out of Turkey
The Price of Partition: US Military Prepares to Get Kicked Out of Turkey
[EUA preparam-se para ser expulsos da Turquia: preço de insistirem em esfacelar a Síria]
2/4/2017, Rudy Panko, Russia Insider (ing.)
Prima
facie, nada há de comum entre a prisão pelo FBI em New York, na 2ª-feira, de um
banqueiro turco muito bem relacionado, e a chegada do secretário de Estado dos
EUA Rex Tillerson em Ankara dois dias depois. Mas o relacionamento
turco-norte-americano tem longa história de diplomacia por coerção.
A
Turquia sempre foi tradicional "estado de fronteira" na Guerra Fria,
e a importância que tem hoje para os EUA não é menor, com as relações entre EUA
e Rússia em perene deterioração e com as velhas linhas pontilhadas na Europa
Central, Bálcãs e Mar Negro já reaparecendo. (Na 3ª-feira, o principal
comandante dos EUA na Europa, general Curtis Scaparrotti falou à Comissão das
Forças Armadas da Câmara de Representantes em Washington, procurando conseguir que "brigadas blindadas e
mecanizadas" sejam deslocadas para a Europa para conter a Rússia;
no mesmo dia, o Senado dos EUA aprovou, por ampla maioria a inclusão do estado
de Montenegro como novo membro da OTAN.).
O
líder nacionalista turco Recep Erdogan tende com frequência a esquecer que seu
país é membro da OTAN e que suas políticas externa e de segurança devem seguir
cordatamente a linha dos EUA. A tentativa de golpe de Estado de julho passado
deveria tê-lo empurrado nessa direção, mas, ao contrário, só o tornaram mais
assertivo e mais resoluto na busca de políticas externas independentes. Até que
cruzou a "linha vermelha": fez aliança com a Rússia e adotou política
independente na Síria – nos dois casos enfraquecendo a estratégia regional dos
EUA.
Com a prisão de Mehmet Hakan Atilla, vice-presidente de banking internacional
do Halkbank (banco do Estado da Turquia) por investigadores do FBI em
New York na 2ª-feira, o Império revidou contra Erdogan. O advogado distrital de
New York está acusando Attila de participação "num esquema que já dura
anos, para violar as leis das sanções norte-americanas, ajudando Reza
Zarrab, grande comerciante de ouro, a usar instituições financeiras dos EUA
para transações financeiras proibidas, pelas quais milhões de dólares foram
canalizados para o Irã". Zarrab, cidadão turco com raízes no Irã e no Azerbaijão,
já está sob custódia numa prisão norte-americana. Tudo é muito, muito nebuloso.
Zarrab
é acusado de ter servido como intermediário para Turquia e Irã, quando
Washington mantinha o que esperava que fossem sanções absolutamente
impenetráveis contra o programa nuclear iraniano. Mas também é acusado de
implicação num escândalo de suborno de ministros do gabinete turco, inclusive
do então primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. Esse caso levou ao rompimento
entre o pregador islamista Fetullah Gulen e Erdogan, que até ali haviam sido
aliados. (Detalhes sobre esse escândalo que eclodiu em 2014, encontram-se aqui.)
Gulen por sua vez, parece ter laços com a CIA, o que
provavelmente explica por que Washington mantém-se surda aos repetidos pedidos
de Ankara para que Gulen seja extraditado por envolvimento na tentativa de
golpe contra Erdogan em julho passado.
Seja
como for, Ankara defendeu empenhadamente Attila e diz que a
prisão dele em New York foi "movimento completamente político",
planejado para atingir Erdogan. (Apenas duas semanas antes do referendo marcado
para 16 de abril na Turquia, pelo qual Erdogan espera obter poderes para mudar
o sistema presidencial do país.)
Seja
como for, Ankara já reagiu contra os EUA, ao insinuar que diplomatas
norte-americanos ativos na Turquia teriam mantido contatos ativos com os
golpistas de julho. As autoridades turcas distribuíram detalhes hoje segundo
os quais o consulado dos EUA em Istanbul continuou a ter contatos, mesmo vários
dias depois do golpe de julho, com Adil Öksüz, principal suspeito na tentativa
de golpe (o qual, por estranho que pareça, nunca foi preso e mantém-se
tecnicamente como fugitivo). Bem visivelmente, a Turquia está a um passo de alegar
que a CIA concebeu a tentativa de golpe contra Erdogan.
Feitas
todas as contas, se o objetivo dos norte-americanos foi meter medo em Erdogan,
ameaçando expor o próprio presidente e membros da família, que teriam acumulado
imensa riqueza em propinas por ajudar o Irã a escapar das sanções dos EUA e
vender petróleo no mercado mundial, Erdogan já conseguiu virar o jogo. O
presidente turco está agora em posição da qual pode acusar diplomatas dos EUA
de colaborarem com o golpista turco (fracassado e até hoje escondido em algum
lugar supostamente na Turquia).
O
plano dos EUA, para assustar Erdogan e obrigá-lo a se alinhar na relação com a
Síria parece ter saído pela culatra. A se dar crédito a notícias sobre a conferência de imprensa de Tillerson em Ankara hoje,
depois das conversações, tudo faz crer que ele voltará para casa de mãos
vazias. Aparentemente, os turcos falaram grosso. Agora, são as relações
turco-norte-americanas que azedam mais a cada minuto. Um pesado nevoeiro de
suspeitas mútuas desceu sobre as relações entre esses dois membros da OTAN, e tradicionais
aliados.
Nesse
quadro tão complexo, ainda resta saber como os EUA conseguirão prosseguir na
planejada ofensiva em Raqqa, capital de facto do ISIS/Daech na
Síria. O próximo movimento de Erdogan será observado muito de perto. Não se
descarta a possibilidade de o Sultão ordenar que os militares norte-americanos
evacuem a base de Incirlik, da qual parte quase todas as operações dos EUA no
norte da Síria. Claro, a participação de diplomatas norte-americanos na
tentativa de golpe na Turquia em julho é dinamite pura, suficiente para fazer
voar pelos ares, a qualquer momento, todos os laços diplomáticos entre os dois
países. Entrementes, Attila continua detido e sob interrogatório em New York, o
que só faz tornar o desfecho, a cada dia, mais iminente.*****
Postado
por Dario Alok – Tradução de Vila Vudu
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