Mariana
Mortágua | Jornal de Notícias | opinião
Já
conhecemos a fórmula de Rui Moreira: a cidade espetáculo da "marca
Porto.", a repetição de anúncios por concretizar, a guerra aos partidos.
Assim se investiu vice-rei do Norte, ocupando o centrão nas impotentes barbas
de PSD e PS.
Há
quatro anos, Rui Moreira era o anti-Menezes: contra o político dinossauro e
esbanjador, a aposta no independente antipartidos que bate o pé a Lisboa. Por
conveniência, o PS submeteu-se à narrativa e, até ao fim de semana passado,
ajudou a fazer de Moreira o produto final da decomposição política no Porto.
Moreira é um caudilho que não hesita em devorar quem lhe abriu caminho,
roubando-lhes o palco e os velhos métodos.
Hoje
conhecemos melhor o presidente da Câmara do Porto. A política-espetáculo evita
a mobilização democrática, para que nada faça sombra ao projeto pessoalizado e
aventureiro. Politiquice primária e ausência de pensamento coletivo de um rumo
para a cidade que não vem no postal, a que perde população, onde a pobreza
persiste e é quase impossível arrendar casa.
Rui
Moreira mandou no Porto, incluindo em Pizarro. Enquanto na Assembleia da
República os dirigentes socialistas portuenses ajudavam a aprovar avanços
importantes (como a lei das rendas apoiadas ou o imposto sobre património de
luxo), na cidade calavam-se perante as críticas de Moreira a essas mesmas
medidas. Isto para não falar do apoio, tão entusiasmado quanto acrítico, ao
mandato do presidente. A subserviência foi inequívoca, de tal forma que o apoio
do PS à candidatura de Rui Moreira foi decidido por unanimidade. Tal votação
"não é comum com um candidato do PS, quanto mais neste cenário, o que
reforça o caminho que os socialistas estão a fazer no Porto", dizia há
seis meses o deputado e líder da Concelhia do PS, Tiago Barbosa Ribeiro.
Manuel
Pizarro foi mestre e executante deste processo de anulação política do PS.
Enfrentou tudo e todos defendendo a continuação do apoio a Moreira. Foi preciso
António Costa obrigá-lo a avançar, mesmo se a consequência é o vazio da
política: como pode quem, até sexta-feira, tanto elogiava o mandato de Rui
Moreira apresentar-se no sábado como uma alternativa política? A candidatura de
Manuel Pizarro à Câmara do Porto é uma impossibilidade programática. Quem
durante quatro anos apoiou Rui Moreira, queimando as pontes à Esquerda, não
pode ter um projeto credível.
Nesta
história de cortesãos, cabe pouco Porto. Moreira e Pizarro esqueceram-se dele.
Está fora das jogadas e do palácio, a ver a triste dança dos barões. E não tem
de ser assim.
*
Deputada do BE
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