Dirigentes
sociopatas e assassinos com o destino do mundo nas mãos estão livres e à solta,
protegidos, acarinhados até como salvadores dentro da bolha mediática. Se não
forem os cidadãos livres, inconformados e informados a dar o alerta quem o fará
por eles?
José
Goulão | AbrilAbril | opinião
O frequentador,
ainda que ocasional, da bolha mediática que envolve o mundo de hoje vive sob
anestesia daqueles que serão, com elevado grau de probabilidade, os
derradeiros tempos da situação planetária tal como a temos conhecido. Entretido
com as peripécias engendradas para instaurar a censura férrea na internet a
pretexto das fake news (notícias falsas) nas redes sociais – uma
campanha conduzida pelos grandes operadores mediáticos, que assim pretendem
reservar para si o monopólio das fake news – o desprevenido cidadão
passa ao largo da multiplicação de manobras letais conduzidas por mentes
assassinas que ascenderam ao governo mundial.
É
verdade que conhecemos ao pormenor as intenções do agora benquisto presidente
dos Estados Unidos para castigar o atrevimento do seu congénere da Coreia do
Norte, que pretende ter bombas atómicas tal como Israel, por exemplo, com a
diferença de que não esconde as suas intenções.
No
entanto, quem se der por informado através do conteúdo dos telejornais, das
publicações sensacionalistas ou de referência, tanto faz, fica a ignorar as
duas outras facetas do mesmo problema: que a ameaça de Donald Trump e dos senhores
da guerra que agora ocupam por completo a sua corte se dirige verdadeiramente
contra a China; e que, como um espelho de feira da sua metade Norte, ampliando
e distorcendo os defeitos, a Coreia do Sul é uma colónia norte-americana
infestada de armas nucleares e funcionando em ditadura maquilhada de modo a
parecer uma democracia neoliberal.
A
versão incompleta, logo distorcida, transformou-se em regra na abordagem dos
temas de envergadura mundial que se vão sucedendo nas manchetes e gritaria
mediática, através das quais se repetem as mensagens primárias e maniqueístas
para cada um decorar e multiplicar. O essencial fica por explicar, para não
maçar as pessoas com coisas complicadas, para não sobrecarregar a sua limitada
capacidade de atenção, ou porque não há tempo e os anunciantes reclamam o seu
espaço, principescamente recompensado em numerário.
Através
desta estratégia censória esconde-se da generalidade dos cidadãos o abismo para
o qual o mundo caminha agora apressadamente, iluminado pela tese cada vez mais
ganhadora de que os avanços tecnológicos e científicos no domínio militar
permitem a utilização circunscrita de bombas atómicas, sem que haja risco de
uma hecatombe nuclear generalizada.
E
na bolha mediática não irrompe qualquer abcesso de inquietação, ao menos para
gritar uma advertência do género salve-se quem puder. Pelo contrário, se acaso
o assunto é aflorado por ilustres comentadores, uma tal tese é considerada
verídica, podemos então dormir descansados, a desgraça será longínqua e
limitada.
O
Centro de Informação Nuclear das Forças Armadas dos Estados Unidos anunciou que
foram testados há pouco, com êxito absoluto, os componentes inertes da nova
bomba atómica B61-12, na verdade um novo engenho com capacidade para furar
bunkers de silos nucleares e dispondo de quatro opções de potências
selecionáveis entre 0,3 e 50 quilotoneladas, o que
permite «dimensionar» os danos pretendidos.
Além
disso, a Boeing forneceu um novo sistema de orientação que permite ao engenho
procurar o alvo, dispensando-se o lançamento na vertical, considerado menos
preciso. Enfim, tudo mais controlável, com a vantagem de a nova bomba ser
utilizável pelos já existentes F-16 e Tornado, evitando a espera pelos míticos
F-35, já vendidos a uma série de países da NATO sem existir um único protótipo.
A
recepção da nova bomba atómica começou, aliás, a ser preparada no interior da
NATO através do treino de pilotos de várias nacionalidades, designadamente
italianos, belgas, alemães, holandeses e, para que conste, também turcos e
polacos – oriundos, portanto, de uma ditadura fundamentalista islâmica e de um
regime fascizante.
Em
simultâneo, decorreu em Nova Iorque uma simulação de operações de socorro no
caso de um ataque nuclear. Os comentários advertindo que um exercício deste
tipo só faz sentido para precaver a defesa contra uma resposta nuclear a um
eventual ataque norte-americano foram qualificados, obviamente, como fruto de
teorias da conspiração, talvez de fake news das não toleráveis. Sim
porque existe aquele incontestável soundbite garantindo que todas as
armas norte-americanas são defensivas, Washington jamais atacará primeiro.
Por
isso se condena a ousadia da China ao exigir a retirada do sistema THAAD de «defesa» antimíssil
que os norte-americanos instalaram na Coreia do Sul; a exemplo dos escudos
«defensivos» operacionais na Polónia, na Roménia e outros países da Europa
de Leste, que eram contra o «perigo iraniano» e acabaram convertidos em
prevenção contra a «ameaça russa»; tal como os SCUD oferecidos a Israel
enquanto a NATO destruía o Iraque, a Líbia, a Síria, o Iémen, a Somália, o
Afeganistão, o que mais adiante se verá.
Do
mesmo modo que no caso da China, devem condenar-se igualmente os injustificados
protestos russos e de países árabes contra os engenhos
«defensivos» plantados nos territórios vizinhos. Portem-se bem e nada
terão que temer.
Porém,
em boa verdade o melhor ataque é a defesa. Os sistemas antimísseis
multiplicados pelas Forças Armadas norte-americanas em zonas de conflito e
frente às potências rivais pretendem assegurar a impunidade depois de um
primeiro golpe; isto é, têm como principal objectivo garantir que a resposta de
um país atingido pelo primeiro ataque será sempre menos eficaz do que este. E
como agora já podem dosear-se os efeitos de uma agressão atómica, eis uma
situação comprovando a tese da guerra nuclear limitada.
Wilbur
Ross, secretário do Comércio de Trump, disse esta semana, durante uma
conferência na Califórnia, que o bombardeamento contra a base de Cheirat na
Síria, provocando a morte de vários civis, foi «uma sobremesa», um
«divertimento» no final do jantar que o presidente norte-americano
oferecia na ocasião ao homólogo chinês. Uma mensagem servida com um drink,
em jeito de brinde. Em Roma, o circo para sacrificar seres humanos era limitado
ao Coliseu; agora tem dimensões planetárias.
Sabe-se,
entretanto, que os últimos lugares vagos na corte de Trump deixados por
nomeados que se opunham à política de confrontação militar foram ocupados por
Kurt Volker e Tom Goffus, duas figuras republicanas da máxima confiança do
falcão John McCain, por sinal o elo de ligação entre o establishment norte-americano
e os principais grupos terroristas ditos islâmicos, entre eles o Daesh ou Estado
Islâmico.
Enquanto
isso, as Forças Armadas dos Estados Unidos fizeram dois testes com mísseis
balísticos intercontinentais «para validar e verificar a eficácia,
prontidão e precisão do sistema de armas nucleares».
Dirigentes
sociopatas e assassinos com o destino do mundo nas mãos estão livres e à solta,
protegidos, acarinhados até como salvadores dentro da bolha mediática. Se não
forem os cidadãos livres, inconformados e informados a dar o alerta quem o fará
por eles?
Foto:
Donald Trump e Wilbur RossCréditos/ Agência Lusa
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