O
antigo vice-presidente do Parlamento moçambicano, Abdul Carimo, insurgiu-se
contra a impunidade de que gozam os corruptos no país. Esse é um dos principais
entraves ao crescimento, diz.
Não
há falta de leis para combater a corrupção, diz Abdul Carimo. O que falta é
aplicar a legislação em vigor.
Segundo
o antigo vice-presidente do Parlamento, que liderou a elaboração da proposta da
recente revisão do Código Penal, "o ambiente legal existe, as convenções
internacionais estão em vigor em Moçambique, há uma série de legislação que nós
já publicamos, mas há o problema da aplicação da lei." O segundo problema
é o da impunidade, refere.
Falando,
esta semana, numa palestra promovida pela Autoridade Tributária de Moçambique
subordinada ao tema "Ética, Integridade e Deontologia Profissional",
Abdul Carimo afirmou que os atuais níveis de corrupção no país são
preocupantes.
"A
corrupção atingiu quase todos os setores de atividade, incluindo o setor da
Comunicação Social. Hoje em dia, querer assassinar o caráter de uma pessoa
custa muito pouco dinheiro", denuncia Carimo.
Altos índices de corrupção
O jurista defende que um dos fatores que dificulta o combate à corrupção no país é a diferenciação punitiva dos infratores: "Há ações que são reprováveis numa determinada função, mas não são reprováveis noutra. Os deputados, por exemplo, podem ser empresários e exercer atividade privada, mas o juiz não pode".
Moçambique
regista elevados índices de corrupção, apesar das medidas em curso para a
combater. Um estudo divulgado no final de 2015 pelo Centro de Integridade
Pública (CIP) indica que a corrupção custou à economia moçambicana cerca de
cinco biliões de dólares durante 10 anos – o equivalente a 30% do Produto
Interno Bruto (PIB) de 2014 e 60% do Orçamento Geral do Estado para 2015.
Num
outro relatório, divulgado em janeiro pela organização Transparência
Internacional, Moçambique registou uma "derrapagem histórica" no
Índice de Percepção da Corrupção, descendo 30 posições. O país ocupa agora a
posição 112 de um total de 177 países avaliados. Acredita-se que contribuíram
para esta queda a descoberta de dívidas ocultas contraídas com garantias do
Estado a favor de três empresas, sem o conhecimento do Parlamento e dos
parceiros internacionais, assim como alegados "dossiers" de corrupção
internacional que estão a ser investigados.
As
dívidas ocultas, totalizando mais de dois mil milhões de dólares, acabam de ser
alvo de uma auditoria internacional e independente; o documento está desde 12
de maio na posse da Procuradoria-Geral da República. A Procuradoria garantiu
que vai partilhar os resultados da auditoria com o público depois de concluir a
sua análise para verificar se o relatório está em conformidade com os termos de
referência previamente acordados.
A
descoberta das dívidas ocultas levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os
parceiros internacionais de Moçambique a suspenderem a ajuda ao país, em 2016.
Leonel
Matias (Maputo) | Deutsche Welle
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