terça-feira, 4 de julho de 2017

Sindika Dokolo reconhece sinais de deterioração nas relações Angola - RDC



As relações até há bem pouco tempo cordiais entre Kinshasa e Luanda parecem estar a deteriorar-se. Angola manifesta-se descontente face à degradação da situação de segurança na região limítrofe do Kasai.

Depois do embaixador de Angola em Kinshasa ter sido chamado para Luanda para consultas, as autoridades angolanas lançaram recentemente um pedido de ajuda à comunidade internacional no sentido de apoiar o país a gerir de forma eficiente os cerca de 30 mil refugiados congoleses em solo angolano. Estes fogem do conflito armado e estão a obrigar o Governo angolano a fazer uma ginástica para conseguir abrigá-los. A situação está a criar uma tensão entre os dois vizinhos.

A deterioração nas relações entre Angola e a República Democrática do Congo (RDC) é também constatada pelo homem de negócios e colecionador de arte congolês Sindika Dokolo. Ele é marido de Isabel dos Santos, a mulher mais rica de África, de acordo com a revista Forbes, e filha do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

Sindika Dokolo diz que há preocupação regional em relação à crise na RDC

Numa conversa com a DW África, Sindika Dokolo começou por dizer que "existem  sinais muito claros" dessa deterioração nas relações entre os dois países.

Dokolo argumenta que "o facto de os angolanos terem retirado o seu cooperante militar de Kinshasa e de ter ouvido comentários no sentido de ser exigido à RDC esclarecimentos sobre a natureza exata das instabilidades que produziram esta vaga de refugiados, nomeadamente do Kasai para Angola, mostra de forma clara uma deterioração das relações entre as duas administrações."

Entretanto, o genro do Presidente Eduardo dos Santos esclarece que "não é somente o caso de Angola, mas também da maioria dos vizinhos do Congo. Existe uma perda de credibilidade e uma grande preocupação de todos os vizinhos face ao nível de responsabilidade sobre a forma como o Presidente [Joseph] Kabila está a gerir os equilíbrios da RDC que podem desestalibizar toda a sub-região".

Sabe-se que durante muito tempo Angola foi um apoio de peso à RDC, desde a chegada ao poder, primeiro de Kabila pai e depois de Joseph, o filho. Questionado se esta forte ligação está em vias de chegar ao fim, Sindika Dokolo respondeu: "Penso que a visão angolana é que existem dois povos irmãos e vizinhos que partilham dois mil quilómetros de fronteira e que, portanto, deve haver uma relação fraterna, equilibrada e mutuamente respeitada. Não se trata de um apoio pessoal a Joseph Kabila nem a nenhum clã de congoleses."

Dokolo nega ligações com general Fautin Munene

Segundo uma fonte de segurança em Kinshasa, os serviços que se ocupam de "atividades anti-patrióticas" investigou eventuais laços que Sindika Dokolo mantém com o general Faustin Munene, ex-chefe do Estado Maior do exército congolês.

Esta informação foi desmentida por Dokolo: "Não conheço este senhor e pessoalmente estou completamente contra qualquer solução violenta e o uso da força das armas para solucionar conflitos. Penso que não se acaba com o sofrimento de um povo acrescentando mais sofrimento a esse povo e não penso que a solução seja substituir o senhor Kabila por um outro senhor Kabila."

Face à insistência da DW África de que fontes deram conta, por diversas vezes, em Luanda, onde reside Sindika Dokolo, da presença do general Fautin Munene, Dokolo respondeu de forma categórica: "Luanda conta com sete milhões de habitantes e, portanto, há muita gente com quem que não me encontrei, mesmo que essa pessoa esteja em Luanda. Não tenho interesse em manter contactos com pessoas que têm planos para a desestabilização do Congo através das armas."

Eric Topona, ar | Deutsche Welle

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