As
relações até há bem pouco tempo cordiais entre Kinshasa e Luanda parecem estar
a deteriorar-se. Angola manifesta-se descontente face à degradação da situação
de segurança na região limítrofe do Kasai.
Depois
do embaixador de Angola em Kinshasa ter sido chamado para Luanda para
consultas, as autoridades angolanas lançaram recentemente um pedido de ajuda à
comunidade internacional no sentido de apoiar o país a gerir de forma eficiente
os cerca de 30 mil refugiados congoleses em solo angolano. Estes fogem do
conflito armado e estão a obrigar o Governo angolano a fazer uma ginástica para
conseguir abrigá-los. A situação está a criar uma tensão entre os dois
vizinhos.
A
deterioração nas relações entre Angola e a República Democrática do Congo (RDC)
é também constatada pelo homem de negócios e colecionador de arte congolês
Sindika Dokolo. Ele é marido de Isabel dos Santos, a mulher mais rica de
África, de acordo com a revista Forbes, e filha do Presidente de Angola, José
Eduardo dos Santos.
Sindika
Dokolo diz que há preocupação regional em relação à crise na RDC
Numa
conversa com a DW África, Sindika Dokolo começou por dizer que
"existem sinais muito claros" dessa deterioração nas
relações entre os dois países.
Dokolo
argumenta que "o facto de os angolanos terem retirado o seu cooperante
militar de Kinshasa e de ter ouvido comentários no sentido de ser exigido à RDC
esclarecimentos sobre a natureza exata das instabilidades que produziram esta
vaga de refugiados, nomeadamente do Kasai para Angola, mostra de forma clara
uma deterioração das relações entre as duas administrações."
Entretanto,
o genro do Presidente Eduardo dos Santos esclarece que "não é somente o
caso de Angola, mas também da maioria dos vizinhos do Congo. Existe
uma perda de credibilidade e uma grande preocupação de todos os vizinhos
face ao nível de responsabilidade sobre a forma como o Presidente [Joseph]
Kabila está a gerir os equilíbrios da RDC que podem desestalibizar toda
a sub-região".
Sabe-se
que durante muito tempo Angola foi um apoio de peso à RDC, desde a chegada ao
poder, primeiro de Kabila pai e depois de Joseph, o filho. Questionado se esta
forte ligação está em vias de chegar ao fim, Sindika Dokolo respondeu:
"Penso que a visão angolana é que existem dois povos irmãos e vizinhos que
partilham dois mil quilómetros de fronteira e que, portanto, deve haver uma
relação fraterna, equilibrada e mutuamente respeitada. Não se trata de um apoio
pessoal a Joseph Kabila nem a nenhum clã de congoleses."
Dokolo
nega ligações com general Fautin Munene
Segundo
uma fonte de segurança em Kinshasa, os serviços que se ocupam de
"atividades anti-patrióticas" investigou eventuais laços que Sindika
Dokolo mantém com o general Faustin Munene, ex-chefe do Estado Maior do
exército congolês.
Esta
informação foi desmentida por Dokolo: "Não conheço este senhor e
pessoalmente estou completamente contra qualquer solução violenta e o uso da
força das armas para solucionar conflitos. Penso que não se acaba com o sofrimento
de um povo acrescentando mais sofrimento a esse povo e não penso que a solução
seja substituir o senhor Kabila por um outro senhor Kabila."
Face
à insistência da DW África de que fontes deram conta, por diversas vezes, em
Luanda, onde reside Sindika Dokolo, da presença do general Fautin Munene, Dokolo
respondeu de forma categórica: "Luanda conta com sete milhões de
habitantes e, portanto, há muita gente com quem que não me encontrei, mesmo que
essa pessoa esteja em Luanda. Não tenho interesse em manter contactos com
pessoas que têm planos para a desestabilização do Congo através das armas."
Eric
Topona, ar | Deutsche Welle
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