Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite* | Porto Alegre
| Brasil
No
distante ano de 1530, dom João III, rei de Portugal, enviou uma expedição para
explorar o litoral brasileiro. Comandada por Martim Afonso de Souza
(1500-1564), nela se encontrava, numa das naus, o seu irmão e escrivão Pero
(Pedro) Lopes de Souza (1497- 1539), que registrou, em seu Diário de Navegação
(1530 -1532), as anotações de tudo o que havia observado durante a viagem.
Graças a ele, ao alcançar o sul do Brasil, ficou registrada a única via de
acesso em nosso litoral – o sangradouro da Lagoa dos Patos – analisado, de
forma errônea, como um rio caudaloso. A importância histórica deste documento
veio a público, no século 19, quando o historiador Francisco Adolfo de
Varnhagem (1816-1878) fez a transcrição do mesmo, resultando na publicação de
um livro.
Diante
da descoberta, com o intuito de homenagear o irmão, Martim Afonso de Souza
batizou o local com o nome de Rio de São Pedro. Este nome foi registrado , em
1534, no mapa pioneiro do cartógrafo Gaspar Viegas. Passados 16 anos, em 1550,
no mapa de Desvaliers, o lugar passou a chamar-se Rio Grande. A partir deste
período, os dois nomes se alternariam até formarem uma terceira
denominação: Rio Grande de São Pedro.
De
acordo com Moysés Vellinho (1902-1980), “tal topônimo se irradiaria, aos
poucos, como gota de azeite sobre papel e acabaria cobrindo todo o território
desta parte do Brasil.” Como registra a nossa história, ali se fundou, em 1737,
sob o comando do brigadeiro José da Silva Pais (1679- 1760), o ponto inicial,
em Rio Grande, de povoamento do nosso Estado: o Forte Jesus, Maria e José.
Durante
muito tempo, devido à extensão das terras, nosso Estado foi chamado de
Continente do Rio Grande de São Pedro. No primeiro livro “O Continente“ (1949),
que compõe a famosa trilogia “O Tempo e o Vento”, de Erico Veríssimo
(1905-1975), o autor registrou esta denominação. Já então como capitania
autônoma do governo do Rio de Janeiro, recebemos , no dia 19 de setembro
de 1807, a denominação oficial de Capitania Geral de São Pedro do Rio Grande do
Sul.
Realizada
a Independência do Brasil, por dom Pedro I, em 07 de setembro 1822, mudou-se o
nome para Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Com o passar do
tempo, a antiga tradição, que remetia à figura do escrivão da Expedição de
1530, Pero (Pedro) Lopes de Souza, desvaneceu-se, passando o nome do nosso
estado a ser associado apenas com o santo católico São Pedro. Este, considerado
padroeiro do Rio Grande do Sul, é comemorado, inda hoje, junto com São Paulo,
no dia 29 de junho, no período das festas juninas.
Esta
tradição junina foi trazida pelos colonizadores portugueses. Conhecido como o
“Apóstolo Pescador”, São Pedro protege os que dependem da pesca, controla as
chuvas e o clima, em geral , sendo o dono das chaves do céu. Nas
religiões de matriz africana, no Rio Grande do Sul, é sincretizado com o Orixá
Exu Bará, devido ao fato de que este governa os caminhos e encruzilhadas, sendo
também o dono da chave.
Ainda
no período imperial, o general farroupilha Antônio de Sousa Netto (1801-1866),
em 11 de setembro de 1836 , proclamou a República Riograndense (1836-1845). Com
o Acordo de Ponche Verde, em 1º de março de 1845, a Província de São
Pedro foi reintegrada ao império brasileiro. De duração efêmera, o Estado
Riograndense, nunca foi reconhecido pelo governo imperial.
Com
o golpe que instituiu a República dos Estados Unidos do Brasil, proclamada pelo
general Deodoro da Fonseca (1827-1892), em 15 de novembro de 1889, uma nova
Constituição foi redigida, em 1891, separando a Igreja do Estado. Este fato,
aliado à filosofia positivista, inspirada em Augusto Comte (1798- 1857), fez
com que o nome de São Pedro fosse, literalmente, substituído por outro sem
conotação religiosa, para denominar a unidade federativa do extremo sul do
Brasil: nascia assim o Estado do Rio Grande do Sul.
*Pesquisador
e Coordenador do Setor de Imprensa do Museu da Comunicação
Bibliografia
LESSA,
Luiz Carlos Barbosa. Calendário histórico Cultural do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre: Corag / IEL, 1985.
KÜHN,
Fábio. Breve História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Leitura XXI,
2007.
PESAVENTO,
Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 2002.
Imagens
e texto
1-
Mapa / Capitania de Rio Grande
2-
Mapa / Província de São Pedro
3-
Diário de Navegação (1530-1532)
4
- Padroeiro do Rio Grande do Sul / São Pedro
5
-Texto: Um Rio Grande de muitos nomes
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