João
Lourenço, a partir de 26 de Setembro presidente de Angola, tornou-se o
principal responsável pela dívida de cerca de cinco mil milhões de dólares que
Angola deve a Portugal. Ainda que a sua legitimidade democrática seja nula,
dadas as múltiplas alegações de fraude eleitoral, a sua responsabilidade
financeira é total.
Paulo
de Morais* | Folha 8 | opinião
A origem
da dívida está na mega fraude luso angolana que foi a falência do Banco
Espírito Santo em Portugal e do seu associado em Angola, o BESA (BES Angola).
Ao longo de anos, o BES concedeu empréstimos sem garantias a personalidades
ligadas a José Eduardo dos Santos. Muitos, entre os quais o próprio João
Lourenço, foram bafejados com dinheiro a rodos.
No
topo da lista dos beneficiados estava Marta dos Santos, irmã do ex-presidente,
que usufruiu dum crédito de 800 milhões de dólares, utilizados em projectos
imobiliários em Talatona. Sem quaisquer contrapartidas ou garantias! O conjunto
de bafejados pelo BESA com muitos milhões é extenso, com destaque para membros
da cúpula do MPLA, para além de João Lourenço: de Roberto Almeida a França
Ndalu, passando por muitos outros.
Muitas
aquisições de angolanos em Portugal terão mesmo sido efectuadas com o capital
do BES. A herdade que os filhos de Dos Santos adquiriram perto de Lisboa
resultava aparentemente duma entrada de dinheiro angolano. Mas os milhões
gastos pertenciam afinal aos depositantes do BES em Portugal.
Em
2013, e face ao escândalo que esta situação provocou em Lisboa e Luanda, o
ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, responsável maior de toda esta burla,
deslocou-se ao Palácio Presidencial angolano, onde Eduardo dos Santos lhe terá
prometido uma garantia soberana do Estado de cerca de cinco mil milhões de
dólares. Este montante destinar-se-ia a pagar, com dinheiro do povo angolano,
todo este regabofe de créditos sem garantias para os protegidos do regime;
seria ainda uma forma de branquear todas estas irregularidades. Este encontro
motivou primeiras páginas de jornal, do “Expresso” de Lisboa ao subserviente
“Jornal de Angola”, em Luanda.
Apesar
de Salgado se ter feito acompanhar de Daniel Proença de Carvalho, o mais
influente advogado português; e não obstante Salgado ser íntimo amigo de
Marcelo Rebelo de Sousa, actual presidente da República em Portugal, facto é
que, até hoje, o dinheiro não chegou a Portugal. E, neste momento, é o Estado
português que está comprometido com garantias de 3,5 mil milhões de euros na
sequência do processo de salvação da banca, designado de “resolução”, que dividiu
o ex-BES português em BES e Novo Banco.
Instalado
agora no Palácio Presidencial, João Lourenço, deveria começar por honrar a
promessa do seu antecessor. Em primeira instância, recuperando todo este
dinheiro junto de quem dele beneficiou, familiares de Eduardo dos Santos e
membros da cúpula do MPLA. Deve ele próprio por dar o exemplo e devolver os
milhões com que então se abotoou. Os angolanos agradecem! De seguida, Angola
poderá pagar a Portugal os mais de cinco mil milhões de dólares devidos por
força deste despautério. Os portugueses também agradecem!
Só
desta forma se poderá tapar o colossal buraco criado nas finanças públicas de
Angola e de Portugal, cujos principais responsáveis são Eduardo dos Santos e o
seu cúmplice, íntimo amigo de Marcelo, Ricardo Salgado. Cabe a Marcelo Rebelo
de Sousa, presente na posse de João Lourenço, desencadear, a nível diplomático,
este assunto.
*
Presidente da Frente Cívica
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