O
soldado António Manuel Ribeiro foi condenado à pena máxima pelo assassinato de
oito militares e três civis no destacamento de Monte Txota, em abril deste ano.
Familiares das vítimas acreditam que "foi feita justiça".
"Entany",
como é conhecido, foi esta quinta-feira (03.11) considerado culpado pelas 11
mortes que ocorreram a 25 de abril passado no destacamento militar de Monte
Txota, no interior da ilha de Santiago, onde está instalado o mais importante
centro de emissores de comunicações da rádio e televisão do país.
O
autor confesso dos crimes foi condenado pelo coletivo de juízes do Tribunal
Militar, em cúmulo jurídico, a 35 anos de cadeia, a pena máxima prevista no
código penal civil em Cabo Verde.
De
acordo com a sentença, lida na cidade da Praia, a capital, António Manuel
Silva Ribeiro foi condenado como autor material de dois homicídios de
superior hierárquico, a penas de 16 anos de cadeia cada um, seis homicídios
agravados de militares e três homicídios agravados de civis, cada um deles
punível com 15 anos de cadeia.
O
soldado de 23 anos foi ainda condenado a uma pena acessória de expulsão das
Forças Armadas cabo-verdianas e ao pagamento de uma indemnização de 11 milhões
de escudos (cerca de 99 mil euros) às famílias das vítimas.
"Foi
feita justiça"
Depois
da leitura da sentença, António Rocha, pai de Adérito Silva Rocha, um dos
soldados mortos, disse que a pena não traz de volta o filho. Ainda assim,
acredita que "foi feita justiça". "Se eu lhe perdoo? Claro, ele
não sabe o que fez, o acto que levou a cabo foi sem pensar", declarou.
Ana
Semedo Correia, mãe do soldado Nelson de Brito, igualmente assassinado, diz que
nunca vai perdoar ao autor dos crimes. "Ele matou o meu filho e a mim
também, porque a minha vida acabou, a minha saúde acabou com aquela barbárie.
Agora não consigo ver nem os militares nem os seus carros", revela.
Durante
a sessão, que decorreu no Comando da 3.ª Região Militar, Manuel António Silva
Ribeiro respondeu às perguntas relativas à sua identificação e pediu desculpas
ao país e às famílias das vítimas.
"Um
psicopata"
As
mortes aconteceram no dia 25 de abril e os corpos só foram descobertos no dia
seguinte. O militar foi detido pela polícia no dia 27, na cidade da Praia, onde
esteve a aguardar julgamento em prisão preventiva no estabelecimento prisional
militar.
O
tribunal deu como provado que depois de um desentendimento com o comandante do
posto militar de Monte Txota e de ter sido alvo de chacota dos colegas, Manuel
António Ribeiro entrou, na madrugada de 25 de abril, nos três quartos onde
dormiam os colegas, disparando sobre eles com a intenção de matar.
As
mortes das 11 vítimas foram causadas pelos disparos das armas AKM e Macarov,
que o autor dos crimes tinha em seu poder. O tribunal apresentou o suspeito dos
crimes como "um psicopata", com um "comportamento dúbio",
considerando que tinha consciência das consequências das suas ações.
Na
semana passada, a acusação pediu a condenação à pena máxima de prisão de 35
anos, de acordo com o direito penal comum, mais 12 anos que a pena máxima
prevista no direito militar. A defesa apontou a postura de colaboração do
arguido e os problemas que sofreu ao longo da vida como circunstâncias
atenuantes e apelou aos juízes para que fossem benevolentes.
Nélio
dos Santos (Praia), Agência Lusa | em Deutsche Welle
Imagem:
Destacamento de Monte Txota
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