quarta-feira, 1 de novembro de 2017

CRIME E CASTIGO | Soldado condenado a 35 anos de prisão por massacre em Cabo Verde



O soldado António Manuel Ribeiro foi condenado à pena máxima pelo assassinato de oito militares e três civis no destacamento de Monte Txota, em abril deste ano. Familiares das vítimas acreditam que "foi feita justiça".

"Entany", como é conhecido, foi esta quinta-feira (03.11) considerado culpado pelas 11 mortes que ocorreram a 25 de abril passado no destacamento militar de Monte Txota, no interior da ilha de Santiago, onde está instalado o mais importante centro de emissores de comunicações da rádio e televisão do país.

O autor confesso dos crimes foi condenado pelo coletivo de juízes do Tribunal Militar, em cúmulo jurídico, a 35 anos de cadeia, a pena máxima prevista no código penal civil em Cabo Verde.

De acordo com a sentença, lida na cidade da Praia, a capital, António Manuel Silva Ribeiro foi condenado como autor material de dois homicídios de superior hierárquico, a penas de 16 anos de cadeia cada um, seis homicídios agravados de militares e três homicídios agravados de civis, cada um deles punível com 15 anos de cadeia.

O soldado de 23 anos foi ainda condenado a uma pena acessória de expulsão das Forças Armadas cabo-verdianas e ao pagamento de uma indemnização de 11 milhões de escudos (cerca de 99 mil euros) às famílias das vítimas.

"Foi feita justiça"

Depois da leitura da sentença, António Rocha, pai de Adérito Silva Rocha, um dos soldados mortos, disse que a pena não traz de volta o filho. Ainda assim, acredita que "foi feita justiça". "Se eu lhe perdoo? Claro, ele não sabe o que fez, o acto que levou a cabo foi sem pensar", declarou.

Ana Semedo Correia, mãe do soldado Nelson de Brito, igualmente assassinado, diz que nunca vai perdoar ao autor dos crimes. "Ele matou o meu filho e a mim também, porque a minha vida acabou, a minha saúde acabou com aquela barbárie. Agora não consigo ver nem os militares nem os seus carros", revela.

Durante a sessão, que decorreu no Comando da 3.ª Região Militar, Manuel António Silva Ribeiro respondeu às perguntas relativas à sua identificação e pediu desculpas ao país e às famílias das vítimas.

"Um psicopata"

As mortes aconteceram no dia 25 de abril e os corpos só foram descobertos no dia seguinte. O militar foi detido pela polícia no dia 27, na cidade da Praia, onde esteve a aguardar julgamento em prisão preventiva no estabelecimento prisional militar.

O tribunal deu como provado que depois de um desentendimento com o comandante do posto militar de Monte Txota e de ter sido alvo de chacota dos colegas, Manuel António Ribeiro entrou, na madrugada de 25 de abril, nos três quartos onde dormiam os colegas, disparando sobre eles com a intenção de matar. 

As mortes das 11 vítimas foram causadas pelos disparos das armas AKM e Macarov, que o autor dos crimes tinha em seu poder. O tribunal apresentou o suspeito dos crimes como "um psicopata", com um "comportamento dúbio", considerando que tinha consciência das consequências das suas ações. 

Na semana passada, a acusação pediu a condenação à pena máxima de prisão de 35 anos, de acordo com o direito penal comum, mais 12 anos que a pena máxima prevista no direito militar. A defesa apontou a postura de colaboração do arguido e os problemas que sofreu ao longo da vida como circunstâncias atenuantes e apelou aos juízes para que fossem benevolentes.

Nélio dos Santos (Praia), Agência Lusa | em Deutsche Welle

Imagem: Destacamento de Monte Txota

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