domingo, 24 de dezembro de 2017

Guiné Equatorial | OBIANG CONTINUA A ASSASSINAR, CPLP FECHA OS OLHOS

ONG diz que persistem condenações à morte na Guiné Equatorial

A organização EG Justice revelou "violações sistemáticas" dos direitos humanos na Guiné Equatorial, incluindo condenações à morte, apesar da moratória em vigor, e violência contra ativistas e opositores políticos, num relatório apresentado hoje em Madrid.

O relatório sobre direitos humanos em 2016 e 2017, elaborado pela EG Justice, denuncia "sérios abusos e violações de direitos humanos na Guiné Equatorial entre 2016 e 2017, apesar de uma Constituição nacional e de compromissos acordados pelo Governo em fóruns internacionais para proteger e defender os direitos humanos", afirma a organização não-governamental (ONG), fundada pelo advogado equato-guineense pró-direitos humanos Tutu Alicante.

O documento relata que os últimos dois anos foram "marcados por violações sistemáticas dos direitos humanos e pelo agravamento da crise económica, causada pela queda dos preços do petróleo", principal fonte de rendimento do país, com um "impacto profundo nas condições de vida da maioria dos equato-guineenses".

No entanto, a Guiné Equatorial manteve "o maior rendimento nacional bruto per capita em África, estimado em 21 mil milhões de dólares".

A ONG relata que, em setembro de 2017, dois homens acusados de assassinarem um professor, foram condenados com pena de morte, acrescentando que, à data de publicação do seu relatório, "as condenações à morte ainda não se tinham realizado". O documento refere que esta condenação foi inclusive noticiada pela televisão pública, controlada pelo governo.

"Apesar da promessa da sua abolição, e apesar de [o fim da] pena de morte ser condição necessária para se juntar à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a Guiné Equatorial continua a pedir e a impor condenações à morte nos seus procedimentos criminais", refere a EG Justice.

A Guiné Equatorial entrou para a CPLP em julho de 2014 mediante um roteiro de adesão que incluía, entre outras matérias, o fim da pena de morte. Desde então, o Presidente, Teodoro Obiang Nguema, impôs uma moratória sobre a pena máxima, mas a abolição, entretanto aprovada pelas duas câmaras do parlamento, continua a aguardar a ratificação presidencial.

No relatório, a organização dá conta de vários casos de detenções arbitrárias, prolongadas e sem supervisão judicial e de tortura de ativistas e opositores políticos.
Além disso, a EG Justice aponta a continuação de ações de repressão à liberdade de expressão, de reunião e de associação, descrevendo um ataque das "forças de segurança" à sede do partido Cidadãos pela Inovação, em que seis pessoas ficaram feridas com gravidade.

As eleições presidenciais de 2016 -- através das quais Teodoro Obiang se manteve no poder, que ocupa desde 1979 -- e as eleições legislativas de novembro passado "estiveram repletas de irregularidades, fraude, violência e perseguição contra líderes da oposição".

Também os taxistas que realizaram uma greve em maio passado para contestar o aumento do custo das licenças decidido pelo Governo enfrentaram "uma reação severa" do executivo, com "muitos condutores detidos arbitrariamente".

"A corrupção judicial, o poder executivo que controla o poder judicial e a ausência de um quadro legal orientado para proteger os direitos humanos continuam a enfraquecer o Estado de direito", refere.

A "família Obiang mantém um controlo estrito sobre o poder legislativo e o poder judicial", lê-se no documento, que menciona investigações judiciais ao Presidente e familiares em Espanha, Suíça ou França por desvio de fundos públicos e branqueamento de capitais.

Por outro lado, o relatório diz que as condições de vida da população não melhoraram, apesar do aumento do rendimento do país: a educação "continua estancada", com taxas de retenção e abandono escolar elevadas, enquanto a saúde "viu pouco progresso".

"A esperança de vida permanece baixa, as taxas de mortalidade materna e infantil continuam a ser muito altas em comparação com outras nações da região menos desenvolvidas. Quase metade da população vive sem água potável", aponta.

O diretor executivo da EG Justice considera, num comunicado, que é "um dever cívico de todos e cada um dos cidadãos e cidadãs velar, documentar, denunciar as violações dos direitos humanos e das liberdades dos cidadãos cometidas" pelo Governo da Guiné Equatorial.

Lusa | em Diário de Notícias | Título PG

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