Hong
Kong, China, 21 dez (Lusa) -- Várias personalidades críticas do Partido
Comunista Chinês anunciaram ter-lhes sido recusado visto para Hong Kong,
denunciando a existência de uma "lista negra secreta" de indesejáveis
que testemunham a influência crescente de Pequim sobre a cidade.
Os
académicos de Taiwan Wu Rwei-ren e Wu Jieh-m, da Academia Sínica de Taipé,
deviam participar na sexta-feira numa conferência na antiga colónia britânica.
Ambos viram rejeitados os pedidos de visto sem nenhuma explicação.
Em
outubro, Benedict Rogers, defensor britânico dos direitos humanos, foi impedido
de entrar na cidade pelos serviços de imigração, depois de ter aterrado em Hong
Kong para, disse na altura, uma visita privada.
O
também vice-presidente da comissão dos direitos humanos do Partido Conservador
britânico no poder, tinha-se insurgido, semanas antes, contra a detenção de
ativistas pró-democracia em Hong Kong.
Nos
termos do acordo sino-britânico ao abrigo do qual foi feita a entrega de Hong
Kong a Pequim em 1997, o território é uma região semiautónoma que goza de
liberdades inexistentes no interior da China. A governação segue o princípio
"Um país, dois sistemas", teoricamente em vigor até 2047.
No
entanto, muitos sentem que essas liberdades estão a deteriorar-se e que Pequim
está em processo de negar esse acordo.
A
Lei Básica (miniconstituição) de Hong Kong estabelece que as questões de
imigração são da competência das autoridades locais.
Mas,
segundo analistas, as decisões dos serviços de imigração são cada vez mais
arbitrárias e opacas, tornando-se gradualmente uma questão política.
"As
coisas que antes não eram consideradas ameaça, passaram a sê-lo agora",
disse Edmund Cheng, professor na Universidade Batista de Hong Kong.
Questionada
pelos 'media' a propósito do caso de Bennedict Rogers, a chefe do Governo de
Hong Kong, Carrie Lam, recusou explicar o motivo da rejeição do visto, mas deu
a entender que em matérias controversas as questões de imigração podiam derivar
para a esfera da diplomacia, a qual já está é da competência de Pequim.
"Algumas
das fronteiras do [princípio] 'um país, dois sistemas' foram
redesenhadas", sublinhou Cheng.
A
deputada pró-democracia Claudia Mo considera que Hong Kong está a desistir das
suas prerrogativas.
"Tudo
isto seria impensável há dez anos, mas está a acontecer", disse.
O
taiwanês Wu Rwei-ren acusou o Governo de Hong Kong de ter "uma lista
negra", que está a crescer de dia para dia, e inclui académicos.
Para
Wu, Pequim quer impedir toda a comunicação entre os taiwaneses e as forças da
oposição de Hong Kong "para isolar e desarmar a sua sociedade civil".
Wu
é coautor de um livro sobre o nacionalismo em Hong Kong. O académico participou
igualmente no movimento "dos girassóis" de Taiwan, quando os
estudantes ocuparam o parlamento para protestar contra um acordo comercial com
a China.
O
outro universitário taiwanês impedido de entrar em Hong Kong, Wu Jieh-min, é
igualmente crítico em relação aos governos central chinês e de Hong Kong, e
participou em diversos movimentos sociais.
Académicos
taiwaneses, deputados e ativistas apoiaram em 2014 a ocupação das ruas pelos
democratas de Hong Kong, cujas figuras mais proeminentes viajam frequentemente
para Taiwan.
A
China, que não apoia a emergência de um movimento independentista em Hong Kong,
tem multiplicado as advertências àqueles que ousam questionar a sua soberania.
Os
serviços de imigração de Hong Kong recusaram-se a falar sobre a recusa em
conceder certos vistos ou a comentar a possibilidade de existência de uma
"lista negra".
O
ativista taiwanês T. Chang, que editou uma revista em Hong Kong, também disse
que recentemente lhe foi negado um visto para a cidade onde ele queria
participar num fórum cultural.
"É
triste não poder mais ir a Hong Kong", afirmou na rede social Facebook.
"A minha ligação com Hong Kong não será cortada por vocês", garantiu.
FV
// VM
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