O
primeiro-ministro timorense advertiu hoje o Governo português que a sua atitude
em relação ao caso do casal português que fugiu de Timor-Leste pode ferir as
relações bilaterais e apelou a “um gesto” de Lisboa para esclarecer a situação.
Mari
Alkatiri disse à Lusa estar preocupado com o facto de a embaixada portuguesa em
Díli ter emitido os passaportes que Tiago e Fong Fong Guerra tinham quando
fugiram do país, apelando a Lisboa para que faça "um gesto" em
relação a esta situação.
"Estou
preocupado com a própria atitude da embaixada portuguesa ter emitido os
passaportes portugueses. Isso pode ferir as relações entre dois países irmãos,
e dentro da CPLP. Temos que gerir como deve ser esta situação", disse.
Nesse
sentido, Mari Alkatiri deixou um “apelo direto" ao Governo Português para
"encontrar formas de fazer um gesto” para convencer as autoridades
timorenses de que “isto foi um caso isolado que dificilmente poderá voltar a
acontecer".
O
caso de Tiago e Fong Fong Guerra tem marcado um dos momentos mais tensos das
relações bilaterais recentes entre Portugal e Timor-Leste nos últimos anos,
provocando uma onda de críticas na sociedade timorense.
Condenados
a oito anos de prisão em Díli - o caso ainda não transitou em julgado porque
foi alvo de recurso - Tiago e Fong Fong fugiram para a Austrália, onde
chegaram, de barco, a 09 de novembro, tendo chegado a Lisboa a 25 de novembro.
Mari
Alkatiri admitiu ainda estar preocupado que a comunidade portuguesa em
Timor-Leste esteja a ser alvo de insultos e possa agora ser "alvo de
perseguição" da justiça na sequência do caso.
Um
português e dois timorenses já foram detidos e dois deles, incluindo o
português, estão em prisão preventiva na prisão de Becora, acusados de
envolvimento na fuga do casal.
A
entrega de passaportes ao casal pela embaixada portuguesa em Díli foi criticada
em Timor-Leste, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto
Santos Silva, garantiu que a legislação portuguesa foi respeitada, conclusão de
um inquérito urgente que tinha ordenado.
Apesar
disso, as críticas aos portugueses e a Portugal têm-se multiplicado em
Timor-Leste com vários portugueses ouvidos pela Lusa a relatarem terem sido
insultados na rua.
Nas
redes sociais têm também aumentado os comentários críticos e insultos contra
Portugal e os portugueses por parte de alguns timorenses, muitos deles com
dupla nacionalidade e alguns dos quais ainda a receber pensões e apoios do
Estado português.
"A
segunda maior preocupação que tenho é com a comunidade portuguesa em
Timor-Leste. Espero que isto não se generalize", afirmou.
"A
partir de agora se houver algum português que seja suspeito de qualquer coisa
dificilmente terá Termo de Identidade e Residência. Porque há perigo de fuga,
tem que ir a prisão preventiva e seria péssimo que isso acontecesse. Essa é a
minha maior preocupação: começar a colocar cidadãos portugueses como alvo de
uma perseguição da justiça", disse o chefe do Governo.
Mari
Alkatiri considerou que se corre o risco de "criar uma situação em que
portugueses que eram considerados como irmãos passam agora a ser pessoas sempre
alvos de críticas, ou de outro tipo de atitudes".
Por
isso, deixou um apelo à sociedade timorense "para não generalizar esta
questão".
A
situação atual tem sido exacerbada pela tensão que se vive, semanalmente, em
frente à embaixada de Portugal em Díli onde se reúnem centenas de timorenses
que estão a tratar dos seus pedidos de passaportes.
A
pressão é tão grande, com ameaças e insultos, que a embaixada já teve que
fechar várias vezes o atendimento ao público, tendo a polícia timorense sido
chamada.
Jornalistas
timorenses juntam-se às críticas acusando em artigos na imprensa ou em ‘posts’
no Facebook, a embaixada de cumplicidade na fuga do casal, afirmando que vários
pedidos de informação ou declarações feitas à missão diplomática estão sem
resposta.
A
missão diplomática está a aguardar que o novo embaixador, José Pedro Machado
Vieira, apresente as suas credenciais, mas a data ainda não foi marcada.
Lusa
| em SAPO TL
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