Mariana Mortágua | Jornal de Notícias
| opinião
Desde o dia 5 de janeiro que
centenas de trabalhadoras da antiga Triumph, em Sacavém, às portas de Lisboa,
guardam dia e noite a fábrica a que deram vida e que agora são forçadas a
abandonar. A fábrica pertence-lhes, é muito mais delas que da empresa de fachada
(TGI-Gramax) que a comprou há um ano para abrir falência logo a seguir. E, ao contrário do ministro da Economia, que foi na conversa dos grandes
investimentos, quem lá trabalha nunca teve dúvidas: a Triumph deslocalizou a
produção para um lugar de mão de obra mais barata e encontrou um cangalheiro
para se desfazer do que deixou para trás. E para trás ficaram elas, as suas
famílias, os anos de trabalho dedicados a fazer o melhor possível da unidade
portuguesa de fabrico da multinacional do têxtil.
A fábrica pertence-lhes, e por
isso a guardam sem deixar que, depois de tudo, lhes levem também a dignidade.
Garantem que haveria clientes, houvesse também uma administração capaz de
conduzir o negócio e de estar à altura da qualidade do trabalho ali feito. Protegem
a fábrica porque sabem que, se não o fizerem, a TGI-Gamax virá limpar o que
resta. Tratará de vir buscar as máquinas e o produto acabado, ou seja, aquilo
que ainda lhes pode pagar os salários em atraso. Até lá, enfrentam o cansaço, o
frio, e a falta de dinheiro que começa a sentir-se em casa.
Em tempos de afetos e
solidariedades tão mediatizados, estas mulheres resistem para que as suas
reivindicações não desapareçam na velocidade dos telejornais. Ainda não
conseguiram arrancar uma visita ao presidente da República, nem do ministro da
Economia que batizou o truque da Triumph há um ano, nem romper com o silêncio
cúmplice de boa parte do Parlamento, incluindo do Partido Socialista.
As mulheres da fábrica da Triumph
não são vítimas nem casos de glória. Querem trabalho e respeito pelos seus
direitos. As mulheres da fábrica da Triumph estão a dar-nos uma rara lição de
dignidade. Obrigada.
*Deputada do BE
Sem comentários:
Enviar um comentário