A percepção relativamente a
Angola é a de que o novo Presidente vai primeiro arrumar a casa, para depois se
concentrar na imagem e no envolvimento do pais a nivel externo. (Artigo do
Politólogo Raúl M. Braga Pires)
A percepção nas diversas
chancelarias Mundo afora, relativamente a Angola, é a de que o novo Presidente
está primeiro a arrumar a casa, para depois se concentrar no Política Externa.
Aliás, a recente e inédita conferência de imprensa dada por este, poderá muito
bem marcar a fronteira entre as prioridades do momento e as futuras.
Quanto à Política Externa,
Angola, tradicionalmente não costuma fazer muito alarido, nem ter mudanças
radicais, segundo o Africanista e Investigador luso-angolano Eugénio Costa
Almeida (CEI-ISCTE).
A mudança de Presidente é o
momento ideal para proceder a mudanças, mas para este especialista, uma das
prioridades externas angolanas continuará a ser a República Democrática do
Congo (RDC) e o interesse em manter a estabilidade deste aliado que tem agora
em Joseph Kabila um imbróglio constitucional, já que o 2º Mandato Presidencial
expirou em Dezembro de 2016 e Kabila não pode concorrer a um 3º Mandato.
Angola, enquadrada nesta que
parece ser uma nova Era para África, onde as eleições e a alternância
democrática se impõem à Cultura do Soba, a bem da estabilidade dos Grandes
Lagos, pretende ser um Fiel da Balança que prove saber agir e mediar este
processo dentro da constitucionalidade.
Angola tem ambições regionais com
alcance continental e nesse sentido, sempre projectei uma mudança de fundo que
envolvesse uma aproximação a Marrocos, como se constatou com o apoio dado à
reintegração do Reino na União Africana (UA). Essa aproximação teria como
culminar no longo prazo, um natural “desreconhecimento” da RASD/POLISARIO por
parte de Angola, descartando o Eixo Argel/Abuja/Pretória e integrando um novo
Rabat/Dakar/Luanda.
Eugénio Costa Almeida refreia-me
os ânimos e diz que será muito difícil de algo parecido acontecer, já que
Angola é a “porta de salvaguarda e de acesso pelas traseiras” da SADC, a
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (Angola, África do Sul,
Botswana, República Democrática do Congo, Lesoto, Madagascar, Malawi, Maurícia,
Moçambique, Namíbia, Seychelles, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbabwe), já
que a estes países não interessa uma África do Sul hegemónica.
“Essa força de Angola – se assim
se pode dizer – como a tal porta de salvaguarda, começou a ter mais importância
quando estes países da SADC verificaram que as intervenções sul-africanas nas
questões africanas, principalmente com Thabo Mbeki, na questão dos Grandes
Lagos, eram, ou visavam, mais a salvaguarda e a defesa dos seus interesses de
imagem política para o exterior, que resolver os problemas africanos. E foi aí
que Angola assumiu, ainda mais a sua força potencial – ou se tornou na efectiva
potência – da CEEAC”, conclui Costa Almeida. Esta Comunidade Económica dos
Estados da África Central (CEEAC), um segundo enquadramento institucional para
os angolanos, os quais definem bem as suas prioridades em Política Externa
continental e os constrange, de certa forma. SADC e CEEAC serão os palcos
privilegiados e uma deriva deste foco apenas prejudicaria uma posição firmada
de Luanda à República Centro Africana.
Na verdade e em rigor, há um
maior interesse de Marrocos em Angola, que o contrário. A banca e as empresas
marroquinas estão interessadas na potencialidade deste mercado, no petróleo e,
sobretudo em ganharem posições de força, créditos, para poderem influenciar, a
montante, decisões de Política Externa angolana, sobretudo nos dossiês
RASD/POLISARIO e Argélia e que se deverão depois reflectir no seio da União
Africana.
Tunísia regressa aos protestos, 7
anos depois
7 anos e 9 Governos depois, a
Tunísia voltou à rua, o que deverá ser considerado normal, para quem sempre viu
a "Primavera Árabe" como um processo.
Prova disso, é este protesto
contra a Lei de Finanças de 2018 unir os manifestantes, a população e, já não
os dividir entre laicos e islamistas. Ou seja, essa fase já passou e as
manifestações têm um aparente voluntarismo por parte da população, que a partir
das 20h dos últimos dias desta semana, se têm concentrado nas principais praças
do país, onde protestam contra o custo de vida dizendo, 7 anos depois
continuamos com fome! A inflação subiu até aos 6,4% em Dezembro, batendo todos
os recordes, houve alterações nas tarifas aduaneiras o que encareceu os
produtos importados e também foi criado um imposto Municipal para habitações,
que poderemos comparar ao famoso IMI em Portugal.
Há também que pagar empréstimos e
juros no estrangeiro.
Estas manifestações, que à
semelhança do 17 de Dezembro de 2010, início da Primavera Árabe, iniciaram-se
no Sul do país e têm-se alastrado território acima, têm tido picos de violência
entre manifestantes e Polícia, com centenas de detidos, múltiplos feridos entre
manifestantes e Polícia, pelo menos um morto e pilhagens atrás de pilhagens, o
que coloca a dúvida sobre quem estará nos bastidores a comandar os
acontecimentos e, desta vez, não deverá haver mão islamista a puxar as cordas.
Digo isto porque o Ennahda,
o Partido Islamista local e seu líder, Rachid Ghannouchi teriam muito mais a
perder que a ganhar, já que foram até aqui a razão para a estabilização da
Tunísia, no pós-eleições, já que entre 2011 a 2014 perderam a hegemonia,
aceitaram-na (caso inédito), fazendo aliás parte da “Geringonça” que governa o
país desde 2014. Promover a pilhagem nocturna, seria um regresso aos fantasmas
de 2011 e um perder da credibilidade de alguém, Ghannouchi e seu Partido, que
ambicionam uma Tunísia de modelo Turco, rejeitando ao mesmo tempo o modelo
extremista afegão e saudita.
É mais possível aliás,
tratarem-se de filhos e netos de militares e/ou polícias do antigo regime a
aproveitarem esta onda contestatária para a tornarem na clássica espiral de
violência do quanto pior melhor, já que nada têm a perder, do que o déjà
vue islamista que torna resultados eleitorais e manifestações democráticas
em arma de arremesso, subvertendo assim o processo e tomando a dianteira deste.
*Politólogo/Arabista/Colaborador VOA/Radar Magrebe
VOA
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