Martinho Júnior | Luanda
“Criar um futuro partilhado num
mundo fracturado” – lema do Fórum Económico Mundial de 2018 em Davos.
“Apesar do avanço tecnológico e
da expansão das redes de informação e comunicação, a sensação que temos é a de
que os nossos países colaboram cada vez menos uns com os outros na construção
dum mundo melhor” – Presidente João Lourenço, extracto do seu discurso em
Davos.
“Falta-nos um desígnio colectivo,
capaz de criar sinergias e de mobilizar as nossas melhores capacidades” –
Idem.
1- No preciso momento em que se
realiza em Davos mais um Fórum Económico Mundial a OXFAM, ONG que tem sido
vocacionada para combater a pobreza, publicou mais um relatório onde expõe
que “1% dos mais ricos detêm 82% da riqueza mundial” e concluindo
que “o boom de bilionários não é sinal de uma economia próspera, mas um
sintoma do fracasso do sistema económico”!...
É evidente que a economia é por
si um indicador que reflecte apenas os fracassos do homem na sua conduta
genérica em relação à sua “casa comum”, o planeta Terra e em relação a si
próprio: num momento em que a humanidade ultrapassa os sete mil milhões de
seres, o capitalismo demonstra estar incapaz de encontrar soluções e com isso
prova que é um factor de contínua barbárie e não de civilização!
O estado do mundo não se
compadece com qualquer tipo de manobra cosmética e nesse sentido, afigura-se
que África está a chegar tarde ao “manjar dos deuses” e, se apanhar
algumas migalhas do banquete, tem em Angola um exemplo de mérito na sua
utilização, providenciando paz e respondendo aos mais legítimos anseios de
desenvolvimento sustentável do seu povo e dos povos do continente!
Todas as cosméticas
contemporâneas e seu caudal de alienações, diversionismos e mentiras, com que
os poderosos nutrem seus próprios “media”, se inscrevem nesse factor raiz
dos fracassos e estão indelevelmente inculcadas nele, pelo que África tem e
terá dificuldades acrescidas para fazer passar suas mensagens em busca dum
maior equilíbrio e igualdade nos relacionamentos entre os estados, as nações e
os povos de todo o mundo!
Nesse sentido o “timing” da
visita do Presidente João Lourenço a Davos, foi bem calculado: no momento em
que o Presidente Trump chegou à estância turística, já ele tinha regressado a
Angola!...
As “honras” de África
foram deixadas para um mais-que-suspeito Paul Kagame, presidente do Ruanda e o
homem que passou a estar à frente da tão filtrada quão impotente União
Africana!
2- Os fenómenos do aquecimento
global são outro sinal que a OXFAM pela natureza dos seus objectivos não
aborda, mas os dois“fenómenos”, aquecimento global e pobreza, são inerentes aos
fracassos da humanidade que tiveram início na alucinada avidez do lucro,
estimulado antes pelo âmbito expansivo da revolução industrial a que se veio
juntar mais recentemente a nova revolução tecnológica em curso.
Esse movimento capitalista tem
sido de tal modo poderoso que levou ao colapso do socialismo, que hoje se reduz
ao exemplo da ilha heroica de Cuba, quando ainda mais dele se poderia esperar
para salvar humanidade e planeta do abismo pré-anunciado pelo Comandante Fidel,
na Iª Conferência Mundial sobre o clima e o ambiente ocorrida no Rio de
Janeiro, a 12 de Junho de 1992:
“Una importante especie biológica
está en riesgo de desaparecer por la rápida y progresiva liquidación de sus
condiciones naturales de vida: el hombre”…
África é dos continentes que
melhor expõem, pela natureza do seu próprio estado crítico e ultraperiférico, a
estreita conexão entre aquecimento global, a pobreza e as subculturas
oprimidas, ou dependentes, que caracterizam os países fornecedores de matérias-primas
e à mercê do domínio da hegemonia unipolar: é no Sahel que se verifica a
expansão do grande deserto quente do Sahara em direcção a sul e onde a miséria
alastra apesar das imensas riquezas monerais, provocando ondas de migração,
quer a que é atraída à Europa, quer a que está em movimento para o centro e o
sul do continente em busca de espaço vital que só a água interior e as terras
férteis podem providenciar (Grandes Lagos, RDC e África Austral).
Essas correntes humanas de “deserdados
da Terra”, são um húmus providencial para os fundamentalismos religiosos que
tiram partido da radicalização da própria vida para inculcar seu fanatismo,
injectando a alienação da conveniência dos poderosos, grande parte deles
financiando sintomaticamente a partir das monarquias arábicas, com a
cumplicidade de seus aliados de longa data nos Estados Unidos e na Europa,
precisamente feudos onde os interesses dos 1% mais se evidenciam!...
3- Em Angola essa conjugação de
cataclismos silenciosos e silenciados, repercute de forma contraditória num
país que luta contra o subdesenvolvimento e procura sair da cauda dos Índices
de Desenvolvimento Humano: ao mesmo tempo que avalanches de mão-de-obra barata,
ilegal ou legal e proveniente sobretudo do Sahel, se vão instalando na miragem
das minas de Salomão, (o escândalo geológico dos diamantes aluviais), o deserto
do Namibe (concomitantemente também o de Kalahári) provoca tensões no espaço
nacional, à medida que no sudoeste, no sul e no sudeste de sua periferia há a
tendência ambiental para se reduzirem quer os caudais hidrográficos
provenientes do fulcro que é a região central das grandes nascentes, quer as
águas subterrâneas que também daí são provenientes, enquanto na atmosfera
típica dessas latitudes e longitudes diminuem exponencialmente os índices
pluviométricos e de humidade relativa.
A seca em Caimbambo e os
problemas de água na província do Cunene, são sinais evidentes desses fenómenos
físico-geográfico-ambientais que atingem bacias hidrográficas à superfície,
como a do rio Cunene e do Cubango, assim como as subterrâneas, como a do
Cuvelai cujas águas desembocam no Lago Etosha, no norte da Namíbia.
O Ministério do Ambiente que
indicia estar por razões das estratégias financeiras sob influência do cartel
de diamantes e do “lobby”dos minérios, tão facilmente atraído como o foi
aos projectos do KAZA-TFCA, ao invés de ter um papel proactivo emitindo
alertas e forjando dispositivos apropriados onde se torna inadiável agir,
mantém-se apático, distante e silencioso, “mudo e quedo que nem um penedo”,
quer em relação à região central das grandes nascentes, onde é imperioso o
controlo das nascentes e cursos iniciais dos rios essenciais da rede
hidrográfica angolana, quer em relação aos pontos de maior incidência da
pressão expansiva do deserto quente do Namibe, conforme Caimbambo e a província
do Cunene!
O estado angolano está quando
muito apenas motivado à operação de último recurso de auxílio às comunidades
que sofrem com esse tipo de conjunturas, que são das mais pobres do país,
enquanto vai reagindo a contento apenas aos estímulos externos do âmbito das
alienações, diversionismos e cosméticas em relação à própria gestão ambiental
do espaço nacional, não acordando em relação às acções geoestratégicas para um
desenvolvimento sustentável nos termos que urgentemente se impõem!
Em Caimbambo por exemplo, há
notícias que referem que foram perdidos 80% da colheita de milho!...
4- O Presidente da República de
Angola foi também a Davos, onde entre outras intervenções exporá as iniciativas
da construção das barragens do médio Cuanza, fundamentais para a produção de
energia que o país tanto carece para os seus planos de desenvolvimento
sustentável, o que será responsável pelo desencadear dos impactos de natureza
antropológica que elevarão os níveis de vida em vastas extensões do território
nacional.
Criar essas infraestruturas
energéticas no âmbito dum plano do Médio Cuanza intrinsecamente nacional, faz
parte dos imensos resgates que devem mobilizar todo o povo angolano, na
sequência dos esforços históricos do movimento de libertação e do rumo que ele
tem vindo a apontar!
O Presidente João Lourenço
dissertou sobre o tema “Acelerar o acesso à energia em África” num
Fórum que, sendo uma emanação dos poderosos, necessariamente também da
aristocracia financeira mundial inscrita nos 1%, indicia ser mais cosmético do
que propenso às prementes soluções de fundo que a humanidade tanto carece.
Se é teimosamente justo encontrar
recursos económicos e financeiros a fim de continuar a saga de construção das
grandes barragens do médio Cuanza indispensáveis às estratégias de luta contra
o subdesenvolvimento que Angola está em paz a encetar (sendo essa até uma das
mais importantes iniciativas nesse âmbito), além de não se poderem deixar de
equacionar as questões de fundo numa época em que as catastróficas crises
capitalistas se vão acentuando e sucedendo umas às outras, é justo sacudir da
inércia imediatamente o Ministério do Ambiente em relação quer ao que se deve
fomentar sob o ponto de vista geoestratégico na e a partir da região central
das grandes nascentes, quer em relação aos avanços da influência dos desertos
quentes do Kalahari e do Namibe, no sudeste, no sul e no sudoeste angolano!...
A luta contra o
subdesenvolvimento e contra a pobreza não se pode limitar à construção de
barragens e a inserção do Ministério do Ambiente nessa luta obriga-o a uma
imediata revisão.
Os impactos de natureza
antropológica no povo angolano, resultantes da disseminação energética por todo
o território angolano, merecem, no que diz respeito ao ambiente, que o estado
nos seus organismos de vocação e responsabilidade abram espaço à cultura de
inteligência nacional numa lógica com sentido de vida, em função da premente
necessidade duma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável…
Quanto mais silêncio e cosmética
se aplicar em relação às questões de fundo que são desafios inadiáveis no âmbito
da geoestratégia para um desenvolvimento sustentável que tenho vindo a propor,
tanto pior para as heranças que deixaremos para as futuras gerações, tanto pior
para uma inadiável mobilização da nossa própria juventude, carente de
orientação e empenho, inclusive a nível das imensas investigações que há a
realizar cientificando o conhecimento e providenciando uma cultura de
inteligência nacional que se abrirá para a vida nos próximos séculos, numa
altura em que alguns apontam o colapso da civilização humana e o fim da vida no
planeta azul tal qual a conhecemos!...
“Corrigir o que está mal e
melhorar o que está bem” é um imperativo para a própria identidade
nacional!
Martinho Júnior - Luanda, 23 de Janeiro de 2018
Ilustrações:
- Pirâmide do ecossistema humano:
dos produtores sobreviventes aos grandes predadores;
- A água interior, com seu
sistema hidrográfico, face à expansão dos desertos no sul de Angola;
- Barragem de Capanda, no médio
Cuanza, uma das novas barragens de Angola;
- Barragem de Calueque,
indispensável à Namíbia, fica já no curso internacional do rio
Cunene.
Algumas intervenções anteriores
de Martinho Júnior:
A LÓGICA COM SENTIDO DA VIDA – I
I – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-i.html
A LÓGICA COM SENTIDO DA VIDA – II
– http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-ii.html
A LÓGICA COM SENTIDO DA VIDA – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-iii.html
A LÓGICA COM SENTIDO DA VIDA – IV – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/clicar-para-ampliar-martinho.html
A LÓGICA COM SENTIDO DA VIDA
– V – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-v.html
DESBRAVANDO A LÓGICA COM SENTIDO
DE VIDA – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2014/08/desbravando-logica-com-sentido-de-vida-i.html
DESBRAVANDO A LÓGICA COM SENTIDO
DE VIDA – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2014/08/desbravando-logica-com-sentido-de-vida.html
DESBRAVANDO A LÓGICA COM SENTIDO
DE VIDA – III – http://paginaglobal.blogspot.pt/2014/08/desbravando-logica-com-sentido-de-vida_15.html
GEOESTRATÉGIA
PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/geoestrategia-para-um-desenvolvimento.html
ACORDAR O HOMEM ANGOLANO – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/acordar-o-homem-angolano.html
QUO VADIS ANGOLA?! – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/12/quo-vadis-angola.html
PARA UMA CULTURA DE INTELIGÊNCIA
EM ANGOLA – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/11/para-uma-cultura-de-inteligencia-em.html
UMA CONSTANTE LUTA PELA VIDA – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/angola-uma-constante-luta-pela-vida.html
PELA VIDA PARA TODA A HUMANIDADE
– http://paginaglobal.blogspot.com/2017/02/angola-pela-educacao-morre-o-peixe.html
UM LONGO CAMINHO PARA A PAZ – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/09/um-longo-caminho-para-paz.html
O DESERTO DO NAMIBE TENDE A
ACELERADAMENTE EXPANDIR – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/o-deserto-do-namibe-tende.html
Outras consultas:
Outras consultas:
DISCURSO PRONUNCIADO EN RÍO DE JANEIRO POR EL COMANDANTE EN JEFE EN LA CONFERENCIA DE NACIONES UNIDAS SOBRE MEDIO AMBIENTE Y DESARROLLO, EL 12 DE JUNIO DE 1992 – https://www.youtube.com/watch?v=JF67BSRjTYc
ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA NA MATALA – 11 DE NOVEMBRO DE 2017 – http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2017/10/45/Integra-discurso-Presidente-Republica,d759edde-4e6c-4118-b510-75c011adea44.html
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