Thierry Meyssan*
Todos os comentadores
sublinharam, no decurso dos quatro últimos anos, a impossibilidade para a
Rússia de colocar tropas terrestres contra os jiadistas na Síria face ao risco
de reviver a sua derrota do Afeganistão. Mas o que é verdadeiro se Moscovo se enfrenta
com mercenários interpostos por Washington, torna-se falso se os dois Grandes
se entendem quanto ao futuro não apenas da Síria mas da região. Thierry Meyssan
foi o primeiro no mundo a anunciar a chegada do exército russo à Síria, em
2015. Ele é hoje o primeiro a anunciar a entrada da sua infantaria.
Washington decidiu relegar o
projecto de destruição de Estados e de sociedades do Médio Oriente Alargado
para segundo plano das suas preocupações, e concentrar as suas forças para se
opor ao projecto chinês da Rota da Seda. É isso que teria ficado acordado entre
o Presidente Donald Trump e o Primeiro-ministro Australiano (representando os
Britânicos) Malcolm Turnbull, a 24 de Fevereiro na Casa Branca.
Não se trata simplesmente do
conflito tradicional entre o Império marítimo anglo-saxão, por um lado, e o projecto
comercial terrestre chinês por outro lado. Mas também do perigo que a indústria
chinesa faz correr à do conjunto do mundo desenvolvido. Rapidamente e em
resumo, enquanto na Antiguidade os Europeus estavam ávidos por sedas chinesas,
hoje em dia todos os Ocidentais temem a concorrência dos automóveis chineses.
Tendo Beijing renunciado a fazer
passar a Rota da Seda pelo seu traçado histórico de Mossul e de Palmira, os
Estados Unidos não têm mais interesse em patrocinar jiadistas para criar um
Califado a cavalo sobre o Iraque e a Síria.
Foi igualmente no dia 24 de
Fevereiro que a Rússia e os Estados Unidos apresentaram a Resolução 2401 no
Conselho de Segurança; texto que estava já pronto desde a véspera e de qual nem
uma palavra foi alterada enquanto se fingia prosseguir as discussões.
Supostamente adoptada em resposta
à campanha mediática (da mídia-br) francesa para salvar a população da Ghuta,
esta resolução trata na realidade da solução para quase toda a Síria.
Ela deixa em suspenso a questão
da retirada das tropas turcas e norte-americanas. Em relação a estas últimas,
não é impossível que elas recalcitrem a deixar o extremo Nordeste do país. Com
efeito, se a China decidisse fazer passar a Rota da Seda pela Turquia,
Washington sopraria sobre as brasas para criar um Curdistão em território curdo
(se admitirmos que a Anatólia do Sudeste não mais é território arménio depois
do genocídio) e cortar a “rota” de Beijing.
Moscovo deslocou novos aviões
para a sua base Hmeimim, entre os quais dois aviões furtivos Su-57 ; joias de
tecnologia que o Pentágono não imaginava operacionais antes de 2025.
Sobretudo, Moscovo (Moscou-br),
que até agora limitava seu envolvimento na Síria à sua Força Aérea e a algumas
Forças Especiais, encaminhou secretamente tropas de infantaria.
Na manhã de 25 de Fevereiro, As
Forças terrestres russas entrou ao lado do Exército Árabe Sírio na Ghuta
Oriental.
É agora impossível, seja para
quem for, atacar Damasco ou tentar derrubar a República Árabe Síria sem
provocar automaticamente resposta militar russa.
A Arábia Saudita, a França, a
Jordânia e o Reino Unido, que haviam secretamente constituído o «Grupo
Restrito», a 11 de Janeiro, a fim de sabotar a paz de Sochi, não mais poderão
empreender nada de decisivo.
As piruetas dos ministros
britânico e francês dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson e Jean-Yves Le
Drian, não podem mascarar o novo acordo entre a Casa Branca e o Kremlin assim
como a legalidade internacional da presença militar russa e a sua acção em
favor dos civis prisioneiros dos jiadistas.
Eles não podem pensar por em
causa este acordo como os respectivos países o fizeram em Julho de 2012, tal
foi a mudança de situação no terreno e no mundo.
Se necessário, fingiremos todos
não saber que as duas facções armadas presentes na Ghuta Oriental (a
pró-saudita e a pró-catari) são subordinadas à Alcaida. Elas serão
discretamente exfiltradas. Os oficiais do MI6 britânico e os da DGSE francesa
(que agiam sob cobertura da ONG “Médicos sem Fronteiras”) serão repatriados.
No conjunto do território a
guerra não está terminada, mas já o está em Damasco.
Foto: Vladimir Putin (Presidente
da Federação da Rússia) e o General Alexander Bortnikov (Director da
contra-espionagem russa — FSB)
*Intelectual francês,
presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas
análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana
e russa. Última obra em francês: Sous
nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable
imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand,
2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y
desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores,
2008).
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