(ALERTA A TODOS OS PROGRESSISTAS
DO MUNDO) - conclusão
“Não há independência verdadeira
sem socialismo”, palavras do Presidente António Agostinho Neto, a 1 de
Julho de 1979 – http://agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=689:nao-ha-independencia-verdadeira-sem-socialismo&catid=48:discursos&Itemid=232
Martinho Júnior | Luanda
4- O capitalismo neoliberal,
cuja “escola” tomou o miolo do poder anglo-saxónico (Wallstreat e
City) com o Republicano Ronald Reagan e a Conservadora Margareth Thatcher a
partir da década de 80 do século XX, em 1990 e com o colapso socialista, viria
a desencadear em África sucessivas ondas de choque, abrindo espaços aos
interesses mais “activos” da panóplia de suas multinacionais ávidas de minerais
e de petróleo.
Tudo isso tem sido contemporâneo
duma nova Revolução Tecnológica e, aos materiais e minérios característicos da
Revolução Industrial, o poder dominante fazia somar outros recomendados para
alimentar as tecnologias aplicadas no espaço, nas comunicações, na electrónica…
Tudo se congregou para que os
lucros da aristocracia financeira mundial passassem dum nível aritmético, para
um nível geométrico e, por via dum petrodólar predador instalado em
desequilíbrios que fomentam o saque, se abrissem as portas à especulação com o fim
do padrão ouro na utilização da “moeda global”.
O “berço” do choque
neoliberal em África ocorreu precisamente nessa altura nos Grandes Lagos
(holocausto do Ruanda em 1994), no colapso de Mobutu no Congo (em 1997) e em
Angola (transformações decorrentes dos acordos de Nova York, em 22 de Dezembro
de 1988 e de Bicesse, em 31 de Maio de 1991).
Uma guerra em cadeia devastadora
eclodiu dos Grandes Lagos ao Atlântico, estendendo-se depois à África
Ocidental, sobretudo à Serra Leoa e à Libéria.
Do rescaldo do choque, no
princípio do século XXI, sobraram países ainda mais desarticulados, vulneráveis
e “em ponto-rebuçado”para uma globalização decorrente dum império
hegemónico unipolar, cujos “mercados” propiciavam uma ressacada onda
de terapias dispostas a engrossar os lucros da aristocracia financeira mundial
e os dispositivos afins, ainda que surgissem “novos actores” como a
China e “velhos actores” como a Rússia, quaisquer deles poderosos
emergentes colaterais e em muitos sectores de concorrente actividade, “filtrados” pelo
poder económico e financeiro dominante, bem como por seus mecanismos promotores
de desequilíbrios e desigualdades…
5- Até 2010 ao choque sucedeu-se
sob controlo do império da hegemonia unipolar uma terapia capitalista
neoliberal, ofuscada pelos brilhos e luzes do “mercado” e pela
panóplia de suas alienações e diversionismos, absorvidos em África por um largo
espectro das elites do continente.
As doutrinas, filosofias e
ideologias neoconservadoras, social-democratas e neoliberais próprias dos “mercados
livres”, preencheram invariavelmente a superestrutura ideológica do poder dos
estados africanos, pelo que as elites se afoitaram ao jogo, alinhando com a
voracidade predadora, apossando-se sem ética, sem moral, sem mérito e sem
escrúpulos das riquezas disponíveis no corpo africano, assim tornado ainda mais
inerte.
Quando as cíclicas crises assolam
as economias ultraperiféricas, mergulhadas na terapia neoliberal, por dentro
das elites os clãs tornam-se entre si gladiadores à margem dos povos, perdidos
nos equívocos e nos labirintos criados pela superestrutura do poder capitalista
global do império da hegemonia unipolar e por si próprios, criando a ilusão de
mudança… está a ser assim em Angola, pois mantém-se a mesma doutrina, a mesma
filosofia e a mesma ideologia; mexem-se as águas à superfície, mas jamais nas
profundas casualidades das marés e das correntes!
Há sectores das elites angolanas
asfixiadas mentalmente pelos “mercados” que a todo o transe procuram
dominar as nascentes e os cursos dos rios, apropriando-se deles a fim de
garantir emparceiramentos mercenários, antipatrióticos e contra os interesses
mais legítimos de todo o povo angolano que deveria estar já mobilizado para
levar a cabo com os olhos num futuro a muito longo prazo numa geoestratégia
para um desenvolvimento sustentável no país e em África!
Por todo o lado essas elites afoitavam-se à privatização dos lucros, ao mesmo tempo que os frágeis estados socializam as perdas, ao ponto de serem obrigados a desvalorizar as moedas nacionais, agravando-se a crise com a queda dos preços do barril de petróleo como tem ocorrido na Nigéria ou em Angola.
No sector da saúde tanto pior:
com uma saúde mercenária ao serviço do “mercado” a factura paga-se
além do mais em perdas de vidas!
Em Angola, recorde-se, o poder do
império da hegemonia unipolar conseguiu durante o choque manipular com a
riqueza do país a ponto dos contentores no terreno se barricarem para fazer a
guerra: um lado no sector petrolífero, o outro no sector dos diamantes, algo
indispensável aos “lobbies” cruciais do poder nos Estados Unidos,
pois se dum lado havia o sinal republicano (petróleo), no outro subsistia o
sinal democrata (minerais) e ambos esperavam a sua hora de melhor aproveitar o
bolo.
No Congo o processo histórico
ainda foi mais drástico, tendo em conta o facto de ser um país central e
decisivo em relação à equação água-espaço vital do continente e um dos mais
ricos em coltan, um mineral indispensável nas aplicações de novas tecnologias!
Em todos os casos o poder
dominante começou a jogar de outra forma nas suas abordagens em relação à
existência ou não da água interior do continente, em função da dicotomia
contraditória entre as enormes extensões de desertos quentes (Sahara e Sahel) e
os espaços vitais equatoriais e tropicais, ricos em água interior (bacias do
Congo, do Zambeze, do Níger e do Nilo, assim como os Grandes Lagos e o Lago
Chade).
Para introduzir mais contradições
manipuladas e manipuladoras, em 2011 sucedeu-se o ataque à Líbia, “pedra
de toque” e“corolário” do choque neoliberal em África, com a
intervenção directa do Comando África do Pentágono e de “solícitos” membros
da NATO (na mesma composição do último ataque à Síria).
Com uma Líbia voltada para
África, Kadafi projectava o impensável e o “imperdoável”: um dirham (moeda
líbia de elevada cotação que desse modo iria fazer frente ao CFA do “pré-carré”)
para o norte de África, um exército comum em África, um satélite comum de
África…
A Grã-Bretanha alinhou conforme tem alinhado invariavelmente no âmbito estrito anglo-saxónico, eliminando qualquer veleidade de concorrência…
A França havia-se rendido
ao “diktat” do império da hegemonia unipolar desde a derrota dos seus
agentes no Ruanda, sepultando o gaulismo e abrindo o caminho a “presidenciáveis
interlocutores” como Sarkozy, “rendidos às evidências”, pois de outro
modo não lhes seria possível “defender seu pré-carré”, em especial na
África do Oeste e no Sahel…
A Itália, antiga potência
colonial da Líbia, submissa e voluntariosa, “cedeu” seu
território “ao abrigo da NATO” para as acções“punitivas” de
grande envergadura que fizeram soçobrar o obsoleto exército líbio…
A parada neocolonial atingindo
todo o continente africano subiu ainda mais a fasquia do saque e a
intensidade maquiavélica do seu perverso jogo ante a impotência africana!
6- Das cinzas da Líbia erigida a
pulso por Kadafi, resta um corpo disforme, inerte, dilacerado e, “aproveitando
o êxito”, os fundamentalistas islâmicos wahabitas, financiados por sectores
importantes das monarquias arábicas sunitas influentes no petrodólar,
aproveitaram para disseminar o caos, o terrorismo e a desagregação por todo o
Sahel a norte do Equador: até à Nigéria, à República Centro Africana e à
Somália.
A “nova” ameaça surgida
de manipulação em manipulação em África, “justifica” as campanhas afins
obrigando a unir sob jugo neocolonial as velhas potências coloniais, sobretudo
a França ciosa de possessivo “pré-carré” rico em petróleo, urânio,
produtos tropicais e moeda sob tutela (o Franco CFA, que Kadafi queria fazer
desaparecer).
O jogo geoestratégico dos Estados
Unidos passou a fundamentar-se por via do Comando África do Pentágono
(AFRICOM), aglutinando:
. As “justificadas” políticas
prioritárias de segurança antiterrorista por todo o Sahel e Grandes Lagos, do
Senegal à Somália, até aos Camarões, República Centro Africana e Uganda, assim
como as medidas anti-pirataria no Golfo da Guiné e na Somália;
. As “justificadas” políticas
de conexão dos “lobbies” do petróleo e minerais, procurando a todo o
transe arregimentar os interesses e as opções das elites africanas afoitas
aos “mercados” neoliberais;
. As “justificadas” medidas
duma globalização de “mercados abertos” capazes de integrar
sub-repticiamente os colaterais emergentes e concorrentes, uma vez que por todo
o continente há carência de estruturas, infraestruturas e todo o tipo de vias
de comunicação, com o agravamento de em muitos países se travar uma autêntica
luta pela sobrevivência duma parte importante de suas populações e comunidades;
. As “justificadas” políticas
explorando e reinterpretando a dicotomia contraditória com implicações
antropológicas, entre os povos habitantes das enormes áreas desérticas
trespassadas pelo “jihadismo” e os povos habitantes dos espaços
vitais ricos em água interior.
Decorrente deste último jogo geoestratégico,
migrações descontroladas de africanos lutando por sobrevivência expandem-se a
norte pelo Mediterrâneo, para dentro da Europa e a sul por dentro do
continente, em direcção à África Austral.
Com essa migração em busca de
sobrevivência, germinam todo o tipo de tráficos…
Em conformidade isso obriga
África a enfrentar um choque neoliberal em regime de “fogo lento” e
para além dos limites de suas capacidades levadas á exaustão, para que a
terapia neoliberal ao sabor dos interesses do império de hegemonia unipolar e
do petrodólar se torne ainda mais pressionante, quer na Europa (com uma União
Europeia “rompendo pelas costuras” a debater-se internamente com as
múltiplas opções “à direita”, adoptadas em relação às migrações), quer em
África.
Os “concorrentes” da
emergência colateral de tendência multipolar em África, não possuem projectos
geoestratégicos ao nível da transcontinental euro-asiática Rota da Seda, pelo
que mobilizar os seus meios implica procurar construir estruturas,
infraestruturas e vias de comunicação, que no essencial não afectam o domínio
exercido sobre os insípidos “mercados de matérias-primas” e “mão-de-obra
barata”, típicos da ultraperiférica economia africana, sem alternativas
suficientes, que incluem as tradicionais vias típicas das economias de
recolecção e de auto-subsistência, para contribuírem para fazer sair os países
africanos da cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano.
Mesmo o “pan-africanismo” ao
abrigo da União Africana, está a ser projectado com os pés de barro dos “mercados” dependentes
de índole neoliberal, proliferando cosméticas, alienações, manipulações e
ilusões, na miragem dum desenvolvimento que tarda em ser sustentável e
socialmente justo.
O renascimento humano é assim um
mito, apesar de tão urgente que ele é e não será com indexações
social-democratas, neoconservadoras ou neoliberais, que prevalecem na
superestrutura ideológica do poder dos estados em África, que as imensas
tarefas no âmbito da luta contra o subdesenvolvimento poderão prevalecer, num
ambiente global conforme o que pende sobre as cabeças dos africanos, estando-se
a perder o legado de luta de libertação e o sentido histórico do mesmo.
Em África, na ausência dum plano
como a Rota da Seda e na ausência de resistências, a emergência multipolar
reduz-se ao que o bastião da África Austral poderá criar de forma independente
e soberana, pois o resto do continente está reduzido a frangalhos, a retalhos e
a feudos “sob controlo”, ou “sob vigilância” do império da
hegemonia unipolar.
A prova está que sendo um “colonizador-de-terceira” no
Sahara, mesmo assim Marrocos voltou à União Africana…
Martinho Júnior - Luanda, 14 de Abril de 2018
Imagens:
A parelha que foi decisiva para a
vitória do capitalismo neoliberal em benefício do império da hegemonia
unipolar;
Refugiados do Ruanda migrando em
assa para o Congo;
Náufragos africanos no
Mediterrâneo;
O Boko Haram actuando à volta do
Lago Chade;
O Rei de Marrocos, colonizador do
Sahara, após 33 anos de ausência regressa á União Africana.
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