Angola tem um novo Governo, mas
nem tudo mudou: as manifestações continuam a ser reprimidas e as obras nas
estradas são meras intervenções paliativas, denunciam analistas.
Angola tem um novo Governo desde
setembro de 2017 e um novo Presidente: João Lourenço. O desejo de mudança é
grande no país, mas, segundo o investigador Cláudio Fortuna, da Universidade
Católica de Angola, há um longo caminho a percorrer uma vez que ainda se sentem
os 38 anos de governação do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
"As marcas do passado
dificilmente se apagam. Também estamos a dar ainda o benefício da dúvida [ao
novo Governo], mas há alguns sinais que são repetitivos", comenta.
À semelhança do que acontecia
antes do Presidente José Eduardo dos Santos deixar o poder, há manifestações
que continuam a ser reprimidas. Em janeiro, a polícia desmobilizou protestos em
Luanda que exigiam o fim da corrupção nas escolas angolanas. Em fevereiro, na
Lunda-Norte, mais de 100 cidadãos foram detidos ao reivindicar a autonomia da
região diamantífera das Lundas.
Angola "a duas
velocidades"
A manutenção de alguns
comportamentos característicos da antiga administração levam o analista Cláudio
Fortuna a falar num país "a duas velocidades". "Tivemos há
bem pouco tempo o problema das Luandas em que uma senhora pelo facto de participar
numa manifestação viu a sua casa demolida e teve de se alojar num dos seus
anexos. Isto quer dizer que as liberdades fundamentais ainda não são uniformes
em todo o país”, denuncia o investigador.
Em fevereiro, cinco
cidadãos foram detidos acusados de tentar assassinar o vice-Presidente
da República, Bornito de Sousa. Na altura, Eugénia Lucas, esposa de um dos
detidos, ficou perplexa com a atitude das autoridades. "O meu marido é
chefe de família, as autoridades têm que ver esse assunto… O meu marido nunca
roubou, o meu marido é um bom homem. Vivo com ele há 15 anos e tenho com ele
cinco filhos. Nunca fez nada disso”, garantiu na altura a esposa do detido.
Entretanto, os cidadãos foram colocados em liberdade e as autoridades
descartaram a acusação de tentativa de assassinato, segundo a imprensa angolana.
Tapar buracos para as visitas do
Presidente
As velhas práticas mantêm-se
também noutras áreas. Nas obras públicas, por exemplo, era comum o anterior
Governo mandar arranjar as estradas sempre que o Presidente fizesse uma visita
de campo a um município ou província. Com o novo Executivo de João Lourenço,
pouco mudou. "Nas visitas de campo que o senhor Presidente da República
tem estado a realizar, notamos que há uma espécie de trabalho de campo
antecipado, no sentido de o Chefe encontrar um cenário diferente daquilo que
tem sido o quotidiano", observa Cláudio Fortuna.
Recentemente, o Presidente João
Lourenço visitou o hospital Neves Bandinha, uma das poucas unidades de saúde
vocacionadas para o tratamento de queimaduras. Nessa altura, os buracos nas
estradas do "Bairro Popular" foram tapados e o lixo removido.
"Doze horas antes houve uma
limpeza da zona. Limparam a área toda, deram um tratamento no saneamento,
tiraram as zungueiras para que parecessem que as coisas estavam bem”, confirma
o jornalista Jorge Neto, ouvido pela DW África.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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