Jornalistas estrangeiros se
dirigiam, nesta quarta-feira (23), para a costa leste da Coreia do Norte, onde
acontece uma cerimônia para desmantelar seu centro de testes nucleares, um
gesto notório antes de uma histórica e ainda incerta cúpula com os Estados
Unidos.
No mês passado, o Norte informou
que iria destruir as instalações de Punggye-ri, no nordeste do país, detonando
os túneis de acesso. O anúncio foi aplaudido por Washington e Seul.
Em Punggye-ri, foram realizados
seis testes nucleares. O último, o mais potente até a data, aconteceu em
setembro e teria sido o de uma bomba de hidrogênio.
O desmantelamento será nestas
quarta e sexta-feiras, conforme as condições meteorológicas.
A Coreia do Norte apresentou esta
medida como um gesto de boa vontade antes da cúpula histórica entre Trump e o
líder norte-coreano, Kim Jong-un, prevista para 12 de junho, em Cingapura.
Mas a euforia que reinava após o
anúncio desse encontro deu lugar para dúvidas.
Na semana passada, o Norte
ameaçou com não participar da reunião e anulou as conversas com o Sul, acusando
Washington de querer forçá-lo a renunciar de forma unilateral a seu arsenal
nuclear. Na terça-feira, foi Trump que falou da possibilidade de adiar o
encontro.
"Talvez não funcione para 12
de junho", disse Trump, no Salão Oval junto com seu colega sul-coreano,
Moon Jae-in.
"Se não acontecer, talvez
possa acontecer mais tarde. Talvez aconteça em outro momento", mencionando
que é preciso haver "certas condições", sem especificar quais.
'Terreno escorregadio'
Mais tarde, o secretário de
Estado americano, Mike Pompeo, buscou reduzir a pressão e sugeriu que as
instruções não mudaram em relação aos preparativos.
"Continuamos trabalhando
para 12 de junho", insistiu o chefe da diplomacia americana.
Washington exige uma desnuclearização
"completa, verificável e irreversível" da Coreia do Norte. Mas
Pyongyang sempre afirmou que não renunciará às armas atômicas, desenvolvidas
para se proteger das ameaças americanas de invasão.
Koo Kab-woo, professor da
Universidade de Estudos Norte-Coreanos em Seul, disse à AFP que se trata de um
"terreno escorregadio".
"Trump quer uma
desnuclearização rápida, que aconteceria durante seu primeiro mandato. Mas, se
for o caso, tem de fornecer rapidamente à Coreia do Norte as garantias
correspondentes para sua segurança".
Os especialistas estão divididos
sobre o fato de se as instalações ficarão totalmente inutilizáveis. Alguns
deles estimam que talvez já estejam, enquanto outros acreditam que um centro
possa voltar a se ativar facilmente.
Vários especialistas consideram,
porém, que este anúncio de Pyongyang sem pedir nada em troca é um gesto que
merece destaque.
Para Go Myong-hyun, especialista
do Instituto Asan de Estudos Políticos, os dois lados tentam abordar a cúpula
da posição mais forte.
O desmantelamento diante das câmeras
estrangeiras permitirá a Pyongyang ganhar pontos em nível internacional, ainda
que a cúpula fracasse.
"A Coreia do Norte poderá
dizer para a comunidade internacional que fez todo o possível para conseguir a
desnuclearização por meio das negociações, mas que não conseguiu por culpa das
pressões americanas", disse.
Repórteres de China, Rússia,
Grã-Bretanha, Estados Unidos e Coreia do Sul foram convidados a cobrir o
desmonte das instalações. Partiram nesta quarta-feira da cidade norte-coreana
de Wonsan, de acordo com os tuítes de vários jornalistas.
A Agence France-Presse (AFP),
assim como outros grandes veículos internacionais, não foi convidada para
cobrir o evento.
AFP | Foto: AFP / Mandel Ngan
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