Porto, 24 mai (Lusa) --
Investigadores portugueses defenderam hoje no Porto a criação de uma plataforma
que agregue documentação histórica existente sobre Timor-Leste, muita ainda
desconhecida, que está nas mãos de privados, e outra que se encontra dispersa
um pouco por todo o mundo.
No âmbito do 1.º Colóquio
Internacional "Memória & História -- os Arquivos de e para
Timor", a decorrer hoje na Faculdade de Letras da Universidade do Porto
(FLUP), a diretora do departamento de História e Estudos Políticos
Internacionais daquela Faculdade, Inês Amorim, salientou a necessidade de
"criar pontes entre os diferentes interessados daquilo que é a valorização
da memória, escrita e oral" de Timor-Leste.
"Com exceção do Arquivo
Nacional de Timor, os documentos que existem foram criados por ocidentais e
dependem de instâncias ocidentais", disse a responsável, acrescentando que
"são muitas as instituições que têm zelado e procuram tudo isto".
Luís Pinto, coordenador deste
colóquio, afirmou que "qualquer tentativa de inventariar a documentação
existente exige colaboração internacional".
"Há períodos diferentes [na
história de Timor-Leste] e para os quais há coisas que são tratadas, coisas que
se conhecem, coisas que estão digitalizadas e a dificuldade é a
dispersão", porque os investigadores "trabalham em países diferentes,
estão muito afastados uns dos outros e muitas vezes têm acesso a documentação
em línguas diferentes".
Para Luís Pinto, "tudo isto
levanta problemas", quer para os investigadores, em geral, quer para os
estudantes e futuros investigadores timorenses, em particular.
"A ideia é juntarmos
esforços, ficarmos todos uns a saber o que os todos fazem, nos outros países e,
eventualmente pormos coisa 'online', sem bem que já há muita documentação na
Internet, para disponibilizar, essencialmente aos timorenses", frisou.
O investigador apontou como
"um bom exemplo do que se poderia fazer" o trabalho desenvolvido pela
The Clearing House for Archival Records on Timor (CHART), uma organização sem
fins lucrativos australiana que "começou a procurar entre ativistas"
do seu país "o que havia de publicações periódicas, boletins, documentação
e cartas" sobre Timor, digitalizando "tudo isso" e
disponibilizando essa informação na Internet.
"A história faz-se, mas é
feita por todos e precisamos de ter os materiais", disse Luís Pinto, para
quem este terá de ser o 1.º de muitos outros colóquios sobre este tema, uma vez
que "isto não fica nem por sombras resolvido agora, isto é um mundo sem
fim de descobrir as coisas, entre documentação indonésia, do Japão, as coisas
que estão nas mãos de privados e que ainda não se conhecem".
A diretora da FLUP, Fernanda
Ribeiro, destacou a importância e a ligação da instituição de ensino superior
ao tema, afirmando que a Faculdade "está disponível para colaborar com
Timor" nesta matéria, relembrando que havia uma proposta de criar um curso
superior no território para "preparar profissionais para arquivo".
Neste encontro, o historiador
Fernando Augusto de Figueiredo relatou ter encontrado documentação importante
da história de Timor em instituições como o Arquivo Nacional Ultramarino
(Lisboa), Torre do Tombo (Lisboa), Sociedade de Geografia de Lisboa, Arquivo
Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Biblioteca da
Ajuda, Academia das Ciências, bem como nos arquivos de Goa, da Austrália, de
Londres, de Haia e de Timor.
Referiu ainda que, apesar de não
conhecer os conteúdos, sabe que existe documentação que poderá ser relevante
para a história de Timor-Leste no arquivo do Banco Nacional Ultramarino (BNU),
no arquivo do Vaticano, além do que existirá, mas que não está disponível para
consulta, nos arquivos indonésios.
O jornalista Max Stahl, que
filmou e divulgou ao mundo o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli, a 12
de novembro de 1991, marca presença neste colóquio, falando sobre o seu Centro
Audiovisual em Timor, onde tenta preservar e divulgar uma coleção de documentos
audiovisuais sobre o território.
JAP // EL
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