Mais uma vez os privados são
chamados a desempenhar o papel que deles se espera numa economia de mercado,
como a angolana, em que o Estado tem procurado, gradualmente, trocar o seu
papel interventivo a favor do regulatório.
Jornal de Angola | editorial
Já lá vai o tempo das históricas
e famosas “unidades económicas estatais”, também conhecidas pelas
iniciais “U.E.E.”, que caracterizavam as empresas detidas, geridas e
controladas pelo Estado. Pouco tempo depois da abertura à economia de mercado,
Angola testemunhou o ensaio de um conjunto de iniciativas, algumas que ficaram
na História como o “Programa de Redimensionamento Empresarial” que, entre
outros fins, visava dar espaços aos operadores privados.
Muito recentemente, quando sopravam os ventos das “parcerias público-privadas”, parecia crescer a tendência para o Estado envolver-se em sociedades com entidades privadas, uma experiência que se revelou desaconselhável a julgar pelo facto da balança quase sempre pender desfavoravelmente para o Estado.
Na verdade, em todos estes ensaios nem sempre o papel dos privados foi directamente proporcional às expectativas levantadas na medida em que se conhecem, até hoje, muito poucas experiências bem sucedidas. Contrariamente à ideia segundo a qual “Estado é o problema” e o “privado a solução”, quando se trata do papel a ser exercido como operador económico e comercial, a realidade angolana contraria um bocado essa percepção.
É verdade que as instituições do Estado devem continuar a fazer prova das reformas que promovem no sentido de assegurar aos privados as atribuições e papel que efectivamente estes devem desempenhar.
Precisamos rapidamente de evoluir para um estádio diferente do actual em que os privados continuam a olhar para o Estado como o seu parceiro e preferencial cliente. Em que grande parte das pessoas em busca do primeiro emprego pretendem ser empregados preferencialmente nas instituições do Estado.
Dificilmente Angola poderá transformar-se numa verdadeira economia de mercado se continuarmos a ter operadores económicos e comerciais que apenas tenham o Estado como o seu principal parceiro.
Em todo o caso, acreditamos que vamos ainda a tempo de fazer as correcções que se impõem, numa altura em que o Executivo volta, mais uma vez, a lançar o repto ao sector privado.
Esperemos que os empresários e empreendedores angolanos estejam preparados para o anúncio do ministro do Comércio segundo o qual, nos próximos dias, o Executivo vai apresentar um Projecto Integrado para a Comercialização da Produção Rural, para impulsionar o desenvolvimento, integração nacional e o escoamento de produtos do campo para os grandes centros de consumo. Tal como se espera em qualquer economia de mercado, ao Estado caberá essencialmente o papel regulatório, sendo o mais importante a possibilidade dos empreendedores privados contribuírem para o fomento de emprego e de criação de riqueza. No mundo rural há inúmeras oportunidades que, como pretendemos acreditar, com a intervenção dos operadores privados Angola vai ficar mais e melhor servida.
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