O jornal The Wall Street Journal
publicou recentemente um artigo intitulado “Europa Pondera Nova Ordem Mundial
Enquanto seus Laços Transatlânticos se Rompem”. Para o colunista da Sputnik,
Ivan Danilov, este artigo demonstra que, para que tudo corra bem nos EUA, tudo
deve correr mal nos outros países.
O artigo do The Wall Street
Journal, escrito pelo cientista político Simon Nixon, oferece um prognóstico
pessimista. "Os pobres laços de Trump com os aliados da Europa Ocidental
levantam a possibilidade de 2018 ser um ano de desarticulação ideológica, como
1989 foi para a Europa Oriental", indica o artigo.
Desta vez, o império que irá
perder a sua influência na Europa da noite para o dia não será a União
Soviética, mas sim os Estados Unidos.
"Da perspetiva europeia, o
risco de o continente enfrentar um colapso da ordem norte-americana na Europa é
comparável ao colapso da ordem soviética de 1989. Naquele ano, o controle que a
Rússia mantinha sobre a Europa Central e Europa do Leste colapsou praticamente
da noite para o dia quando se evaporou a ideologia na qual o sistema de regras
comuns se baseava. Isso obrigou [os países do Leste] a buscarem
alternativas", escreveu Nixon no seu artigo.
Quem terá que procurar
alternativas agora é a Europa. Para Ivan Danilov, os europeus ainda se lembram
muito bem e tomaram muito a sério as opiniões uma vez expressas pelo seu
aliado, Donald Trump, de que a "Europa é pior do que a China" e que
"a União Europeia não fomenta os interesses norte-americanos". Assim,
para os europeus, o caminho escolhido pela administração Trump demonstra que
Washington já não quer tratá-los como seus aliados, com os quais se deve
compartilhar os frutos da geopolítica norte-americana. Por isso, adverte Nixon
(opinião compartilhada por Danilov), entre os EUA e a Europa podem surgir
divergências ideológicas.
Para entender a nova posição de
Washington relativamente à Europa, é preciso levar em consideração a saúde da
economia estadunidense. Como chefe de Estado, Donald Trump "está
obrigado" a manter a aparência de que a economia do país vai bem e que no
futuro estará ainda melhor, explica Danilov. Mas nem sempre foi assim.
"Durante a campanha
eleitoral ele era muito mais sincero e deixou bem claro que a economia
norte-americana era 'uma grande bolha'. O estado da economia é o principal
problema e dor de cabeça do líder dos EUA. E são as tentativas de corrigir
este estado crítico por conta de outros […] que definem a estratégia política
externa da administração estadunidense", ressaltou o analista russo.
Para que esta "bolha"
não expluda, os EUA precisam que as empresas chinesas, europeias,
japonesas, mexicanas, canadenses e outras, bem como seus empregados por todo o
mundo, lucrem muito menos e gastem mais dinheiro comprando produtos americanos.
Isso permitirá que as empresas e seus empregados nos Estados Unidos
lucrem, por sua vez, muito mais, avança Danilov.
"Trump precisa de 'saquear'
todo o mundo de uma vez e o mais rápido possível, caso contrário,
as contas não baterão certo", assinala o colunista.
Para Danilov, para resolver esta
situação os líderes europeus devem adotar medidas bastante radicais, que
implicarão sérias mudanças geopolíticas.
Em particular, podem transformar
o desafio existencial em um instrumento de consolidação e centralização da
Europa sob um único centro de governo, como propõe o presidente francês
Emmanuel Macron. Podem também tentar estabelecer alianças táticas com a China e
a Rússia, acrescenta Danilov, ou tentar combinar ambos os cenários.
"Até agora, tanto a
chanceler alemã, Angela Merkel, como o próprio Macron têm se comportado como se
houvesse uma terceira opção: esperar até que os Estados Unidos tomem juízo. Mas
depois da falhada cúpula do G7, poucos acreditam nisso", conclui Danilov.
Sputnik | Foto: AFP 2018 /
MOLLY RILEY
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