Marisa Matias apelou na terça-feira à coragem dos governos europeus para vetarem a proposta de criar
mais campos de retenção de migrantes nos países às portas da UE.
As políticas migratórias na
Europa e nos Estados Unidos foram o tema da sessão pública promovida pelo Bloco
de Esquerda, que juntou esta terça-feira em Lisboa as eurodeputadas Marisa
Matias e Ana Gomes e o comentador político Pedro Marques Lopes.
A poucos dias da realização da
reunião do Conselho Europeu que tem na agenda a revisão da política migratória,
com uma propostada Comissão para replicar o modelo dos campos de retenção de
migrantes nos países que fazem fronteira com a UE, como já acontece com a
Turquia em relação aos refugiados sírios, Marisa Matias afirmou que “a proposta
que vai ao Conselho Europeu desta semana é provavelmente das coisas mais
vergonhosas” alguma vez ali aprovada. “Espero que haja governos com a coragem
de vetar documentos desta natureza”, defendeu Marisa, acrescentando que esse
tipo de medidas contribuem para a “normalização de uma visão colonialista do
mundo”, com a UE “a ajudar a este recuperação da visão colonial”.
Também Ana Gomes se referiu à
proposta da Comissão como “uma maneira de externalizar as nossas responsabilidades”,
lembrando que o acordo com a Turquia para receber financiamento em troca de
reter migrantes e refugiados “foi imposto por alguns estados membros”.
Marisa Matias sublinhou ainda que
“o Egito, Líbia, Argélia, Turquia não são países seguros” para os migrantes que
a UE pretende deixar às suas portas nas chamadas “plataformas de desembarque
regionais”. O que devia estar em cima da mesa do Conselho, defenderam Marisa e
Ana Gomes, era a revisão das regras de asilo do Acordo de Dublin, que já teve luz
verde do Parlamento Europeu e continua a ser adiada e bloqueada pelos decisores
políticos governamentais.
Para a eurodeputada socialista
Ana Gomes, o modelo do acordo da Turquia está a ser seguido pelo governo
italiano em relação à Líbia, onde “fabricaram a ficção de que existe uma guarda
costeira”. “O que há são milícias que controlam, detêm e torturam os
migrantes”, afirmou Ana Gomes, acrescentando que “um terço do rendimento da
Líbia vem do tráfico de seres humanos”, alimentado por “máfias do lado de lá e
do lado de cá”.
“É a linha política do grupo de
Visegrado que está a dominar as forças da direita europeia”
Estas medidas em debate mostram
como o discurso oficial da UE já incorpora as ideias defendidas pelos governos
xenófobos. “É a linha política do grupo de Visegrado que está a dominar as
forças da direita europeia”, apontou Marisa Matias, alertando que “não há
países que estejam imunes à naturalização do racismo e da xenofobia”.
“A Hungria criminalizou há uma
semana a ajuda humanitária e não se ouviu uma palavra” dos responsáveis
europeus, enquanto “o Partido Popular Europeu convive perfeitamente bem com o
partido de Orbán na Hungria”, prosseguiu Marisa, apontando as responsabilidades
e sobretudo a “incapacidade das famílias políticas que governaram a europa
nesta reconfiguração profunda do espaço político e democrático”.
Marisa Matias contrariou ainda
algumas das “mentiras que são reproduzidas diariamente”: a “mentira da
invasão”, quando “já temos fluxos migratórios há muito tempo, e houve a exceção
da Síria, que foi o maior êxodo da história da humanidade”; a mentira de que as
ONG que salvam migrantes no Mediterrâneo têm ligações às redes criminosas,
“quando são as únicas que as combatem”; e a mentira de que é legal cada país
limitar a sua participação no acolhimento, uma vez que se trata de uma
“violação do direito internacional e dos acordos de proteção da vida humana”.
O colunista e comentador Pedro
Marques Lopes também elencou alguns mitos à volta do tema da imigração,
defendendo que “os imigrantes não constituem ameaça ao emprego na Europa” e que
“o que está a contribuir para a desagregação das nossas sociedades não tem a
ver com a imigração, tem a ver com a falta de expectativas”.
Para Pedro Marques Lopes, o
centro da questão está “no bloqueio completo do elevador social que temos nas
sociedades ocidentais”. “Em particular nos EUA, onde o american dream é a maior
treta que alguma vez existiu”, acrescentou, concluindo que “a erguer muros
entre nós e esses nossos irmãos concidadãos, não vamos a lado nenhum”.
Sem comentários:
Enviar um comentário