terça-feira, 3 de julho de 2018

Miudezas, Merkelices, Madonadas e o que mais couber


A imagem acima é de Pablo Picasso e tem por título La crucifixion (1932). Cruxificados é o estado da situação em que a maioria dos humanos se encontra planetáriamente. Imediatamente a seguir disponha do Expresso Curto, sem tirar nem pôr. Abre com os miúdos retidos numa caverna tailandesa. Magrinhos e fartos de esperar por salvação. Que chegou. Agora vai ser difícil saírem dali, trabalho para mais de um mês, dizem. É que as monções estão a infligir com o poder das intempéries habituais por esta época. Dramático será que as cavernas fiquem ainda mais inundadas pelas águas das chuvas torrenciais. Está ali um grande bico-de-obra. É uma questão de tempo e salvam-se todos. Oxalá. (PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Merkel capitulou mas os miúdos estão todos bem

Rui Gustavo | Expresso

Uma das das regras com mais exceções do jornalismo é que uma boa notícia não é notícia. “Good news, no news.” Eu devia começar pelo pacto que Angela Merkel se viu obrigada a assinar para salvar o Governo na Alemanha, mas há uma notícia melhor: as imagens que hoje vão inundar as televisões e os sites de todo o mundo mostram uns miúdos magrinhos e sorridentes numa caverna escura e húmida iluminada por lanternas de mão.

Os doze jogadores de futebol, com idades entre os 11 e os 16 anos e o seu treinador, de 25, passaram quase dez dias desaparecidos na gruta de Tham Luang, na Tailândia e mobilizaram milhares de pessoas entre militares americanos e britânicos, monges budistas e voluntários do mundo inteiro. Foram encontrados por mergulhadores britânicos e americanos, mas ainda não foram resgatados. Terão sido encurralados pelas chuvas que varreram o país e agora terão de receber um curso rápido de mergulho para conseguir escapar. Mas ainda não se sabe quanto tempo mais terão de passar na gruta. “You are very strong”, resumiu um dos mergulhadores. A prioridade agora é passar comida, água e medicamentos aos rapazes que terão passado nove dias sem comida mas conseguiram, de algum modo, sobreviver. Grande notícia.

Na Alemanha, longos dias de negociação entre a CDU e a CSU, parceiros do Governo, terminaram num acordo que evitou a demissão do ministro do Interior, Horst Seehofer e a queda do executivo. Uma hipótese, que tal como o Expresso Diário explicou, “não deveria satisfazer nenhum democrata”. Uma boa notícia.

Mas não há negociação sem cedência. O facto de ter sido Seehofer, que defende uma política mais restritiva de imigração, a anunciar o acordo e a admitir que estava “muito satisfeito”, não prenunciava nada de bom. E de facto, com um sorriso amarelo, a chanceler Angela Merkel admitia minutos depois que a Alemanha, o país europeu com uma política mais aberta e que mais migrantes recebeu, vai construir centros de asilo na fronteira com a Áustria e devolver aos países de onde vieram os migrantes apanhados em situação ilegal. Ou seja, quase todos. O New York Times diz que a chanceler, a cara e o símbolo da política de tolerância europeia na crise dos migrantes,capitulou e que se está a chegar o fim da era Merkel.

Os próximos tempos e o efeito dominó que a própria Angela Merkel dizia temer dirão se esta previsão é exagerada ou se de facto vêm aí dias ainda piores para quem é obrigado a fugir do próprio país par salvar a vida.

Os miúdos tailandeses salvaram-se e salvaram o dia.

OUTRAS NOTÍCIAS

Lisboa Don’t Preach. Hoje há assembleia municipal em Lisboa e está previsto ataque cerrado à presidência por causa da cedência de 15 lugares de estacionamento à diva pop Madonna, que escolheu a capital portuguesa para passar o outono da vida. Fernando Medina não deverá estar presente e será o número dois, Duarte Cordeiro, a andar na Borderline.

Quando o Expresso noticiou o caso, a Câmara recusou-se a dar detalhes sobre o contrato que ontem, tardiamente, decidiu tornar público. A cantora americana vai pagar 720 euros por mêspor um espaço nas traseiras do Palácio Pombal e só enquanto durarem as obras no Palácio do Ramalhete, onde decidiu morar com os filhos e restante entourage. O jornal Eco fez as contas e concluiu que se fosse um comum mortal, Madonna teria de pagar, no mínimo, mais 255 euros por mês. A opção mais cara chegaria aos 2800 euros mensais. Os vizinhos da rua das Janelas Verdes, ouvidos pela SIC, não compreendem o tratamento de exceção e vão pedir explicações ao presidente. Fernando Medina, Like a Virgin, escondeu o contrato aos vereadores da câmara e tem tentado passar entre os intervalos da trapalhada que criou. A boa notícia é que Madonna continua a postar vídeos da vida em Portugal e a fazer publicidade grátis ao nosso turismo.

Mamie Jihad é a alcunha de uma mulher francesa de 52 anos que em 2011 se converteu ao Islão e decidiu emigrar para a Síria para ir ter com o filho, Tyler Vilus, um emir do Estado islâmico. Christine Rivière foi presa e condenada em 2017 a dez anos de prisão pelo crime de apologia do terrorismo e por ter recrutado jovens para a organização terrorista. A imprensa francesa relatou o julgamento ao detalhe, explicou que a mulher agiu por amor ao filho. Hoje deverá ser conhecida a decisão do tribunal de recurso a que Mamie Jihad recorreu por considerar a pena demasiado alta.

Na edição de 23 de junho do Expresso contámos a história de Catarina Almeida, a portuguesa que foi para a Síria ao encontro do filho Dylan Omar, e acabou presa num campo para refugiados. O filho está numa cadeira de rodas mas escapou com vida. Nenhum dos dois foi ainda acusado ou julgado.

Os professores escreveram uma carta aberta ao Governo apelar a negociações. A falta de acordo por causa do descongelamento das carreiras está a provocar brechas no acordo do PS com o Bloco de Esquerda e o PCP e ainda hoje Jerónimo de Sousa diz ao I que “o mito acabou”. Os professores estão em greve, há serviços mínimos para as avaliações e várias notícias nos jornais de hoje: O JN diz que “maioria dos alunos do 10º e do Básico ainda sem notas”. O Público conta que “nunca houve tão poucos alunos a chumbar no país”, notícia já ontem revelada na edição online do Expresso.

Ainda nas manchetes de hoje, destaque para o Público (que está sem diretor depois da demissão de David Dinis) que noticia o facto de o Fisco abrir “120 processos a bancos por falhas nos dados de offshores”.

Nos desportivos, destaque para a hipótese de Cristiano Ronaldo deixar o Real Madrid para se juntar à Juventus. Seria a primeira experiência do capitão da seleção portuguesa em Itália mas provavelmente a história acabará com renovação do contrato com o Real Madrid.

É verdade que o Mundial perdeu metade da graça desde que Portugal foi eliminado num jogo madrasto contra o Uruguai. Mas continua a ser engraçado. Hoje, há um jogo de “underdogs” entre a Suécia e a Suíça, o penúltimo dos oitavos de final. A organização escandinava (que não parece estar a sentir muito a falta de Zlatan Ibrahimovic, o autoproclamado Deus dos campos) contra uns surpreendentes suíços que têm dado espetáculo muito à conta de jogadores de origem kosovar como Xhaka e Shaquiri. Aposto na Helvécia.

Depois, o desafio entre duas das equipas com melhores jogadores mas poucos títulos: Inglaterra, que apesar da soberba e dos bons jogadores não ganha nada desde 1966 e a Colômbia, que conta com alguns “portugueses” como Falcao e James Rodriguez e não tinha uma equipa tão excitante desde Valderrama e Asprilla. Meto o meu dinheiro nos “cafeteros” .

Ontem, houve duas jogatanas, talvez os melhores jogos desde que o Mundial começou: México Japão deram tudo contra Brasil e Bélgica, mas no final passaram as duas favoritas que têm equipa para levar a taça Jules Rimet para casa. Pelo menos jogam futebol espetáculo. Neymar mostrou o talento para marcar golos e fazer assistências e falta dele para a representação. A Bélgica estava a perder contra 0-2 contra o Japão a vinte minutos do fim mas duas substituições certeira do contestado selecionador Martinez, que é espanhol, deram a vitória àquela equipa que joga muito e não ganha nada. Se quisesse encarnar Zandinga, diria que os belgas são os meus favoritos à vitória. Para já, têm o Brasil pela frente.

FRASES

“Querem negociar? Convoquem-nos. Nós estamos aqui para negociar”
Mário Nogueira, líder da Fenprof, sobre o diferendo com o Governo

“Ao fazer obra no IP3, estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos”
António Costa, primeiro-ministro, a dar algumas pistas sobre o que os professores podem esperar das negociações para o descongelamento das carreiras

“Somos o alvo a abater”
Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, a dar o mote para a nova temporada de futebol.

“A Europa é tão má como a China”
Donald Trump, numa declaração apaziguadora a prpósito da guerra comercial com a Europa

O que ando a ler

“O Bode Expiatório”

Raymond Chandler

Último romance do escritor americano que elevou o policial negro à categoria de literatura - na verdade o último a ser editado foi “A Morte veste de seda” que seria acabado por Robert Parker, já depois da morte de Raymond Chandler – conta mais um caso do detetive privado Philip Marlowe, desta vez a mãos com uma jovem viúva vítima de chantagem. Mais do que um mestre da dedução (engana-se e segue pistas erradas) ou um campeão de ação (são mais as vezes que leva pancada do que o contrário) o detetive imortalizado por Humphrey Bogart no cinema é um cínico que disfarça o facto de ser boa pessoa com humor autodepreciativo. Chandler, que criticava o estilo esquemático de Agatha Christie, prefere pôr as personagens a percorrer bares e motéis de segunda categoria enquanto se atacam umas às outras com balas e palavras. Clássico.

A Princesa de Gelo

Camilla Läckberg

Descrita na capa do livro como a “a nova Agatha Christie que vem do frio” Camilla Läckberg ainda tem de comer algum arenque fumado para lá chegar mas a sua escrita tem a eficácia de um hit dos Abba. Neste policial nórdico (é um estilo) Alexandra Wijkner é encontrada morta na banheira da casa de fim-de-semana. Tem os pulsos cortados e está congelada pelo frio escandinavo. A investigação ao aparente suicídio vem destapar segredos mal escondidos numa cidadezinha feliz e a maestria de Läckberg (era economista e está milionária com os livros que escreve) está na forma como multiplica os pontos de vista e desenvolve as histórias das diferentes personagens. E, tal como Christie, dá as pistas necessárias para resolvermos o caso. No fim pode não ficar grande coisa, mas é impossível parar de ler. Os especialistas chamam a isto um “page turner”.

Por hoje é tudo. Pode continuar a ler boas notícias e notícias boas no Expresso.pt e às seis, no Expresso Diário.

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