Expresso Curto fora de horas.
Sim. Pois. Talvez não. O tema de abertura é interessante e o autor de hoje,
Ricardo Marques, dá-lhe umas cores que podem causar dores mas também sorrisos e
comentários do estilo “somos muito parvos”, nós, os eleitores. Outros dirão:
“mas estes chulantras andam a brincar com a gente”. Pois. Sim. Talvez. Alguns
andam. Outros não… mas dão cobertura aos que andam na brincadeira. Certo é que
andamos a sustentar as mordomias desses avacalhados que aparentam abundar na
AR. Pois. Sem dúvidas. Pagamos e já nem bufamos. Onde já vimos isto? Ah! Foi
quando o Salazar nos distribuiu a pílula dourada que nos fez suportar a
repressão, a exploração, a fome, a guerra e outros terríveis males da ditadura
colonialista. Sim. Pois. Não sendo igual há pormenores que são pares desses
tempos de ditadura. Pois. Portanto, porque parece não haver nada a fazer, tire
os cavalinhos da chuva porque nesta chuveirada de democracia poluída ainda
adoecem ou fenecem. Ah, pois.
Vão lá, sem mais. Ler o Curto ‘muita
fixe’, melhor que o Soares, que o jornalista do Expresso matraqueou para nós. Obrigadinho
e boas festas aos animais que não mordem mas também não abanam a cauda em
submissão. Esses é que são íntegros e fazem muita falta neste país de carneiros
mal paridos e amorfos. Pois.
Ora tomem lá (os memés) que já
almoçaram (os que tiveram o que comer). Bumba. (MM | PG)
Bom dia este é o
seu Expresso Curto
Pim-Pam-Pum, cada voto aprova um
Ricardo Marques | Expresso
Sente a cabeça pesada,
o corpo dorido e não há maneira de conseguir concentrar-se e
começar a dar algum sentido ao dia? Está como se tivesse bebido duas
garrafas de vinho, três litros de cerveja e 27 shots de absinto ao jantar?
(Isto é um mero exercício
especulativo. Lembre-se: o álcool deve ser consumido com moderação)
Calma. Não há motivo para
preocupação. Está apenas a sofrer de ressaca legislativa. Ao contrário da
ressaca normal, a legislativa não pressupõe qualquer ação da sua parte,
antes pelo contrário - o que ajuda a explicar que se sinta tão mal e,
como eu, provavelmente não tenha saído do sofá.
O que se passa é que os 230
representantes do povodedicaram-se durante o dia de ontem a uma espécie
de October-Fest-Queima-das-fitas de votações: mais de uma centena de
diplomas para despachar, do leite com chocolate às explicações,
porque estamos quase em agosto e já cheira a silly season. É, eles vão
de férias e
nós ficamos com a pior parte.
Portanto, prepare-se para
um dia inteiro a tentar perceber o que se passou na festa, a procurar uma
explicação para a nova realidade legal e para o quadro político
e seus possíveis cenários, isto tudo ao mesmo tempo em que dá por si a
lamentar que, tal qual pedras e palavras, os dias não voltem para trás.
Como sempre sucede na manhã
seguinte, tudo parece estranho e nubloso. Não se sabe para que lado é
a esquerda e onde fica a direita, nem se a geringonça ainda é um bloco
central na política portuguesa ou se uma nova maquineta emerge ao
centro, num bloco coeso capaz de deixar partido o tradicional
esquema entre a esquerda e a direita.
Deixo-lhe aqui um pequeno
resumo e aproveito para lhe desejar boa sorte.
Conta quem lá esteve que a
esquerda inteira, o grupo mais popular do liceu, aprovou um novo regime para o
alojamento local, mas depois chateou-se e parte dela, da esquerda - a
que não inclui o PS, mas apenas os partidos que apoiam o Governo do PS -
votou contra o novo pacote
laboral.
Provavelmente porque o PSD e
o CDS, e mais o rapaz do PAN- aquele que está sempre sozinho nas festas todas,
menos nas touradas, porque a essas ele não vai - se abstiveram. Ou se calhar
foi ao contrário, e eles abstiveram-se porque os outros votaram contra
e estas coisas, já se sabe, são muito complicadas.
De qualquer modo, e sem grande
surpresa, passado um bocado todos os da esquerda viram o PS e PSD a
dançarem juntos a canção da descentralização.
Do Estado.
Não do estranho estado a que
isto parece ter chegado.
OUTRAS NOTÍCIAS
Sem querer desvalorizar a demanda que
está prestes a iniciar, atrevo-me a enumerar mais alguns assuntos de que
provavelmente pode ouvir falar durante o dia de hoje. Além de um surtido
de sugestões avulsas.
Começamos com o que parece
ser uma boa notícia? Pois bem, a partir de hoje, como pode ler aqui, nos créditos à habitação com taxa
variável indexada à Euribor "quando do apuramento da taxa de juro
resultar um valor negativo, deve este valor ser refletido nos contratos de
crédito”. O termómetro desce abaixo de zero e a carteira fica mais
quentinha.
Conheça os vencedores dos prémios
Gulbenkian deste ano. A cerimónia de entrega é amanhã.
Arranca às 10h00, a escaldante
37.ª Concentração Internacional de Motos em Faro. Este ano, a concentração
- que proporciona sempre inesquecíveis momentos televisivos - começou
a ser falada mais cedo, muito devido à operação da PJ que levou à
detenção de dezenas de elementos do grupo Hells
Angels. Ontem ficou a saber-se que 39 suspeitos investigados por vários
crimes violentos vãoficar
em prisão preventiva e, como tal, longe do Algarve e de um evento
com segurança reforçada.
No Brasil, acelera o caso
do Dr. Bumbum, cirurgião plástico brasileiro que marcava cirurgias
pelo WhatsApp, e que esta semana desapareceu depois de levar uma paciente
ao hospital – onde a mulher acabou por morrer. Ontem, ao Globo, a Miss
Bumbum do Distrito Federal garantiu que o médico, Dennis Furtado, tinha
bebido vinho e champanheantes de a operar. Uma novela para seguir, a
partir daqui.
Sem qualquer prova de que
exista outro líquido na história que se segue, além de água, claro, o El
Pais revela a incrível aventurados novos
submarinos da marinha espanhola. O caso permite concluir uma coisa: lá, como
cá, não há navio como este para trazer problemas à tona. Primeiro não
flutuavam, agora não cabem no cais. É a sina ibérica.
A Catalunha, que há coisa de um
ano mergulhou a fundo numa grave crise, mantém-se no topo da atualidade
política em Espanha. Ontem, o primeiro-ministro Pedro Sanchez revelou
um novo plano para
a região: um referendo a um novo estatuto de autonomia.
Em Cuba, está a ser preparada uma nova
constituição que, entre outras coisas, proíbe a discriminação com
base na identidade de género, reconhece a propriedade privada e
institui a figura do Presidente da República, com mandato limitado a um
máximo de dez anos. E não a eternidade.
Fica um artigo muito
interessante sobre a complexa proximidade entre os nacionalistas cristãos
americanos, que adoram Putin e Deus, e os russos, e que tem pelo meio
um pequeno almoço nacional de oração. É a América sempre a
surpreender.
Claro que isto tem tudo, e
mais uma espia russa, a
ver com Donald Trump e com o estreito cabo em que decidiu começar a caminhar em
Helsínquia. Putin estava com ele ao inicio, mas quando a mão russa
desapareceu o funâmbulo presidente dos EUA ficou sozinho lá em cima.
À mercê de toda a espécie de ataques. Os jornais americanos não o largam…
Surpreendente, e com uma dimensão
muito mais trágica do que o episódio brasileiro, é o problema instalado
nas zonas rurais da Índia, onde milhões de pessoas começam a entrar nas
redes sociais. Nos últimos tempos, tem aumentado o número de linchamentos
e ataques motivados por vídeos e notícias falsos que circulam no
WhatsApp. O "The New York Times" conta em
pormenor um dos casos.
Fique um pouco na página do
diário norte-americano e leia o
relato de um voo comercial histórico, e até há pouco tempo
impensável, entre as capitais da Etiópia e da Eritreia.
Arrisco-me só a sugerir que
permaneça no ar mais uns minutos - será tempo suficiente para ler um
artigo sobre o regresso do ibis-careca, um pássaro negro e não muito
bonito. O que é importante é saber que está de volta aos céus da Europa.
Há um detalhe nesta história: há
uns anos havia 12 destes pássaros na Síria, mas a guerra reduziu o grupo a
um único animal que, entretanto, desapareceu.
Por falar em pássaros, fica uma
nota do dito noticiário local: a GNR de Bragança apreendeu 18 pintassilgos que
tinham sido capturados ilegalmente por dois homens, de 52 e 72 anos, em
Castelãos, Macedo de Cavaleiros. Os detidos vão hoje a tribunal.
No resto da imprensa, o JN garante
que há “Ambulâncias paradas por falta de técnicos do INEM”, o Público assegura
que o “Abate de animais pelas câmaras vai mesmo acabar em outubro”,
a Sábado descreve “O Assalto à PT” e a Visãorevela “Esquemas
suspeitos na reconstrução de Pedrógão”.
É impossível perceber o que
pensam os pássaros, pintassilgos ou ibis ou quaisquer outros, quando lá de cima
olham para o solo. É bem mais fácil, contudo, saber o que pensa do mundo
um sapo preso no fundo de um poço: imagina-o, ao mesmo tempo, grande e
pequeno. Uma pérola de sabedoria oriental que pode encontrar no
início de um longo artigo sobre
o crescimento do comércio online nas zonas rurais da China.
Prepare-se para uma escala completamente diferente.
Há duas semanas o Financial
Times publicou um impressivo artigo
de Chris Newens sobre as festas de San Fermim, em Pamplona, uma
espécie de tragédia anunciada que anualmente leva mais de um milhão de
pessoas aquela localidade espanhola - e que alimenta uma industria de
turismo de alto risco. Com os touros na rua, chegou a hora de espreitar
os vídeos. Prepare-se para dois minutos e 26 segundos de loucura absoluta.
E haverá por essa imprensa
fora notícia mais louca do
que a do barco russo Dimitrii Donskoi, desaparecido há 113 anos e
alegadamente com uma milionária carga de ouro a bordo, e agora descoberto na
Coreia do Sul?
Provavelmente só a história
de um OVNI em Monsanto. Intrigado? Então clique aqui e parta à
descoberta de um trabalho multimédia do Expresso sobre o restaurante
panorâmico que fez sonhar Lisboa. O que falhou?
Na cimeira da CPLP, que terminou
em Cabo Verde, a pergunta é parecida: e se tivesse falhado?. Se
tivesse falhado, a Guiné Equatorial - país onde ninguém fala
português e menos gente ainda pode falar contra o regime - assumiria a presidência durante
os próximos dois anos. Como não falhou, será Angola.
A história do maior
não-falhanço do ano continua a escrever-se e a caminhar
inexoravelmente para as mãos de Hollywood. Os rapazes tailandeses
resgatados da grutaderam a
primeira conferência de imprensa e o mundo, que não largou a televisão até
os ver a salvo, virou-se de novo para o ecrã. Foi assim o
relato dos dias em que a chuva os prendeu debaixo da terra.
Assinala-se hoje o Dia da
Reserva Natural do Estuário do Tejo. Aproveite para descobrir um pouco da reserva e,
quem sabe, inspire-se para as semanas de descanso que estão mesmo ao
virar da folha do calendário. Se está mesmo a contar os dias para as
férias, e até já tem voo marcado para a próxima semana – do género
encontrei uma promoção óptima - pode dar jeito ler aqui sobre a greve na Ryanair.
Na mesma semana em que se soube que
a CP vai acabar com o Alfa da manhã, entre Lisboa e Porto, os deputados do
PS eleitos por Leiria decidiram viajar na Linha do Oeste. O serviço de
agenda da Agência Lusa diz que partem às 13h10 das Caldas da Rainha e
que chegam a Entrecampos às 15h26. Às 15h30, e passo a citar a
agenda, “caso o comboio chegue a horas”, entregam no Ministério do
Planeamento propostas para a modernização da via. O Governo antecipou-se
e, qual TGV, anunciou ontem
um concurso para obras para “os próximos meses”.
São duas horas e 16 minutos para fazer, de comboio, os 75 quilómetros entre as Caldas e Lisboa.
Parece muito? Imagine que de
bicicleta leva 10 dias a fazer Paris-Lisboa. Como é que sei? Um grupo de
ciclistas, quase todos portugueses, parte hoje
de Villejust - ou melhor, já partiu, há coisa de duas horas - para uma
viagem de homenagem aos emigrantes. Chegam cá a 29, domingo.
Em França ficam os
profissionais. O Tour está sensivelmente a meio e a etapa de
hoje é de montanha. O El Mundo tem uma página muito
engraçada para seguir a prova, cheia de bonecos, gráficos e cores.
É bem provável que a sede do
Google esteja um bocado assim, a rebentar com gráficos, bonecos e cores - mas
em tom de emergência. Provavelmente mais pela multa que a Comissão
Europeia anunciou ontem (4,34 mil milhões de euros, como pode ler aqui)
, do que pelo processo que o Benfica interpôs na Califórnia (o
clube queixa-se de ter sido atacado por um hacker e considera que a
empresa, como outras também processadas, é co-autora do crime).
Falar do Benfica sem falar
do Sporting é como falar do Google sem falar do Facebook. E falar do Facebook
sem falar de Bruno de Carvalho é como falar do Sporting sem falar das
eleições. Isto complica-se quando se fala das eleições no Sporting e não
se pode falar de Bruno de Carvalho (Jaime Marta Soares não aceitou a candidatura
do presidente deposto), ainda que Bruno de Carvalho tenha dito que sim,
que vai mesmo a
votos nas eleições do Sporting a 8 de setembro.
Já se ouvem os acordes
finais. Lembra-se desta?
Os Kussondulola foram preciosos para dar o título a este Expresso
Curto, mas não vão estar no Super Bock Super Rock. Se quer conhecer tudo,
e mais alguma coisa, sobre o festival que hoje começa, nada como ler quem
sabe do que escreve. Um guia com
o selo de qualidade Blitz.
A propósito de festivais, e é
mesmo a última, o Correio da Manhã diz em manchete que o “Estado
avalia pureza da droga em festival”. Isso mesmo: quem for ao Boom, em Idanha-a-Nova pode
testar as substâncias estupefacientes que levar…
O QUE ANDO A LER
A ser verdade que não se
deve julgar um livro só pela capa, há uma série de regras a seguir quando chega
um exemplar novo.
Desde logo, é um erro ficar
apenas pelo título: “O Budismo tem razão - A ciência e a filosofia da meditação
e da iluminação”.
É importante ler também as
letrinhas pequeninas. No caso concreto, aquelas em que António Damásio, o
neurocientista português, surge, na capa, a garantir que não só concorda
com o autor, como o aplaude.
E quem é o autor? Robert
Wright. Quem? Exatamente. Também não sabia, mas parece que trabalhou numa
série de jornais americanos e ingleses, é professor universitário e alguns
dos seus livros anteriores foram finalistas em prémios importantes.
Depois é preciso ter
sorte e, ao abrir uma página ao acaso, a 181, e encontrar uma coisa
assim:
“Certo dia, um homem de 59 anos
perguntou à mulher onde estava a sua mulher. Fred não estava brincar (…) Fred sofria
de delírio de Capgras, que consiste em estar convencido de que alguém
(normalmente um parente; por vezes um amigo intimo) e um impostor - e um
impostor muito bom, uma réplica exata, pelo menos no exterior. Mas não no
interior. Aquela pessoa pode parecer-se na perfeição com, por exemplo, a sua
mãe, mas falta-lhe aquilo a que poderíamos chamar ‘a essência da sua mãe’”.
Ainda não cheguei a este
capítulo. Não devo demorar muito. Um livro que me garante que a mente
humana foi concebida para, com frequência, nos enganar sobre nós próprios e
sobre o mundo é bem capaz de ser a melhor coisa que me aconteceu este verão.
Isto se estiver a pensar bem, mas pode ser um tiro no escuro.
Neste dia, há 204 anos,
nascia em Hartford, no Connecticut, um menino chamado Samuel Colt que
cresceu e inventou uma coisa chamada revólver. Pim. Pam. Pum.
Esqueça-o e tenha uma quinta-feira
pacífica. É tudo uma ilusão.
O mundo está no Expresso
online e em versão atualizada no Expresso Diário, às seis da tarde.
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