quinta-feira, 19 de julho de 2018

Parece que não há nada a fazer, tirem os cavalinhos da chuva


Expresso Curto fora de horas. Sim. Pois. Talvez não. O tema de abertura é interessante e o autor de hoje, Ricardo Marques, dá-lhe umas cores que podem causar dores mas também sorrisos e comentários do estilo “somos muito parvos”, nós, os eleitores. Outros dirão: “mas estes chulantras andam a brincar com a gente”. Pois. Sim. Talvez. Alguns andam. Outros não… mas dão cobertura aos que andam na brincadeira. Certo é que andamos a sustentar as mordomias desses avacalhados que aparentam abundar na AR. Pois. Sem dúvidas. Pagamos e já nem bufamos. Onde já vimos isto? Ah! Foi quando o Salazar nos distribuiu a pílula dourada que nos fez suportar a repressão, a exploração, a fome, a guerra e outros terríveis males da ditadura colonialista. Sim. Pois. Não sendo igual há pormenores que são pares desses tempos de ditadura. Pois. Portanto, porque parece não haver nada a fazer, tire os cavalinhos da chuva porque nesta chuveirada de democracia poluída ainda adoecem ou fenecem. Ah, pois.

Vão lá, sem mais. Ler o Curto ‘muita fixe’, melhor que o Soares, que o jornalista do Expresso matraqueou para nós. Obrigadinho e boas festas aos animais que não mordem mas também não abanam a cauda em submissão. Esses é que são íntegros e fazem muita falta neste país de carneiros mal paridos e amorfos. Pois.

Ora tomem lá (os memés) que já almoçaram (os que tiveram o que comer). Bumba. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Pim-Pam-Pum, cada voto aprova um

Ricardo Marques | Expresso

Sente a cabeça pesada, o corpo dorido e não há maneira de conseguir concentrar-se e começar a dar algum sentido ao dia? Está como se tivesse bebido duas garrafas de vinho, três litros de cerveja e 27 shots de absinto ao jantar?

(Isto é um mero exercício especulativo. Lembre-se: o álcool deve ser consumido com moderação)

Calma. Não há motivo para preocupação. Está apenas a sofrer de ressaca legislativa. Ao contrário da ressaca normal, a legislativa não pressupõe qualquer ação da sua parte, antes pelo contrário - o que ajuda a explicar que se sinta tão mal e, como eu, provavelmente não tenha saído do sofá.

O que se passa é que os 230 representantes do povodedicaram-se durante o dia de ontem a uma espécie de October-Fest-Queima-das-fitas de votações: mais de uma centena de diplomas para despachar, do leite com chocolate às explicações, porque estamos quase em agosto e já cheira a silly season. É, eles vão de férias e nós ficamos com a pior parte.

Portanto, prepare-se para um dia inteiro a tentar perceber o que se passou na festa, a procurar uma explicação para a nova realidade legal e para o quadro político e seus possíveis cenários, isto tudo ao mesmo tempo em que dá por si a lamentar que, tal qual pedras e palavras, os dias não voltem para trás.

Como sempre sucede na manhã seguinte, tudo parece estranho e nubloso. Não se sabe para que lado é a esquerda e onde fica a direita, nem se a geringonça ainda é um bloco central na política portuguesa ou se uma nova maquineta emerge ao centro, num bloco coeso capaz de deixar partido o tradicional esquema entre a esquerda e a direita.

Deixo-lhe aqui um pequeno resumo e aproveito para lhe desejar boa sorte.

Conta quem lá esteve que a esquerda inteira, o grupo mais popular do liceu, aprovou um novo regime para o alojamento local, mas depois chateou-se e parte dela, da esquerda - a que não inclui o PS, mas apenas os partidos que apoiam o Governo do PS - votou contra o novo pacote laboral.

Provavelmente porque o PSD e o CDS, e mais o rapaz do PAN- aquele que está sempre sozinho nas festas todas, menos nas touradas, porque a essas ele não vai - se abstiveram. Ou se calhar foi ao contrário, e eles abstiveram-se porque os outros votaram contra e estas coisas, já se sabe, são muito complicadas.

De qualquer modo, e sem grande surpresa, passado um bocado todos os da esquerda viram o PS e PSD a dançarem juntos a canção da descentralização. Do Estado.

Não do estranho estado a que isto parece ter chegado.

OUTRAS NOTÍCIAS

Sem querer desvalorizar a demanda que está prestes a iniciar, atrevo-me a enumerar mais alguns assuntos de que provavelmente pode ouvir falar durante o dia de hoje. Além de um surtido de sugestões avulsas.

Começamos com o que parece ser uma boa notícia? Pois bem, a partir de hoje, como pode ler aqui, nos créditos à habitação com taxa variável indexada à Euribor "quando do apuramento da taxa de juro resultar um valor negativo, deve este valor ser refletido nos contratos de crédito”. O termómetro desce abaixo de zero e a carteira fica mais quentinha.

Conheça os vencedores dos prémios Gulbenkian deste ano. A cerimónia de entrega é amanhã.

Arranca às 10h00, a escaldante 37.ª Concentração Internacional de Motos em Faro. Este ano, a concentração - que proporciona sempre inesquecíveis momentos televisivos - começou a ser falada mais cedo, muito devido à operação da PJ que levou à detenção de dezenas de elementos do grupo Hells Angels. Ontem ficou a saber-se que 39 suspeitos investigados por vários crimes violentos vãoficar em prisão preventiva e, como tal, longe do Algarve e de um evento com segurança reforçada.

No Brasil, acelera o caso do Dr. Bumbum, cirurgião plástico brasileiro que marcava cirurgias pelo WhatsApp, e que esta semana desapareceu depois de levar uma paciente ao hospital – onde a mulher acabou por morrer. Ontem, ao Globo, a Miss Bumbum do Distrito Federal garantiu que o médico, Dennis Furtado, tinha bebido vinho e champanheantes de a operar. Uma novela para seguir, a partir daqui.

Sem qualquer prova de que exista outro líquido na história que se segue, além de água, claro, o El Pais revela a incrível aventurados novos submarinos da marinha espanhola. O caso permite concluir uma coisa: lá, como cá, não há navio como este para trazer problemas à tona. Primeiro não flutuavam, agora não cabem no cais. É a sina ibérica.

A Catalunha, que há coisa de um ano mergulhou a fundo numa grave crise, mantém-se no topo da atualidade política em Espanha. Ontem, o primeiro-ministro Pedro Sanchez revelou um novo plano para a região: um referendo a um novo estatuto de autonomia.

Em Cuba, está a ser preparada uma nova constituição que, entre outras coisas, proíbe a discriminação com base na identidade de género, reconhece a propriedade privada e institui a figura do Presidente da República, com mandato limitado a um máximo de dez anos. E não a eternidade.

Fica um artigo muito interessante sobre a complexa proximidade entre os nacionalistas cristãos americanos, que adoram Putin e Deus, e os russos, e que tem pelo meio um pequeno almoço nacional de oração. É a América sempre a surpreender.

Claro que isto tem tudo, e mais uma espia russa, a ver com Donald Trump e com o estreito cabo em que decidiu começar a caminhar em Helsínquia. Putin estava com ele ao inicio, mas quando a mão russa desapareceu o funâmbulo presidente dos EUA ficou sozinho lá em cima. À mercê de toda a espécie de ataques. Os jornais americanos não o largam

Surpreendente, e com uma dimensão muito mais trágica do que o episódio brasileiro, é o problema instalado nas zonas rurais da Índia, onde milhões de pessoas começam a entrar nas redes sociais. Nos últimos tempos, tem aumentado o número de linchamentos e ataques motivados por vídeos e notícias falsos que circulam no WhatsApp. O "The New York Times" conta em pormenor um dos casos.

Fique um pouco na página do diário norte-americano e leia o relato de um voo comercial histórico, e até há pouco tempo impensável, entre as capitais da Etiópia e da Eritreia.

Arrisco-me só a sugerir que permaneça no ar mais uns minutos - será tempo suficiente para ler um artigo sobre o regresso do ibis-careca, um pássaro negro e não muito bonito. O que é importante é saber que está de volta aos céus da Europa. Há um detalhe nesta história: há uns anos havia 12 destes pássaros na Síria, mas a guerra reduziu o grupo a um único animal que, entretanto, desapareceu.

Por falar em pássaros, fica uma nota do dito noticiário local: a GNR de Bragança apreendeu 18 pintassilgos que tinham sido capturados ilegalmente por dois homens, de 52 e 72 anos, em Castelãos, Macedo de Cavaleiros. Os detidos vão hoje a tribunal.

No resto da imprensa, o JN garante que há “Ambulâncias paradas por falta de técnicos do INEM”, o Público assegura que o “Abate de animais pelas câmaras vai mesmo acabar em outubro”, a Sábado descreve “O Assalto à PT” e a Visãorevela “Esquemas suspeitos na reconstrução de Pedrógão”.

É impossível perceber o que pensam os pássaros, pintassilgos ou ibis ou quaisquer outros, quando lá de cima olham para o solo. É bem mais fácil, contudo, saber o que pensa do mundo um sapo preso no fundo de um poço: imagina-o, ao mesmo tempo, grande e pequeno. Uma pérola de sabedoria oriental que pode encontrar no início de um longo artigo sobre o crescimento do comércio online nas zonas rurais da China. Prepare-se para uma escala completamente diferente.

Há duas semanas o Financial Times publicou um impressivo artigo de Chris Newens sobre as festas de San Fermim, em Pamplona, uma espécie de tragédia anunciada que anualmente leva mais de um milhão de pessoas aquela localidade espanhola - e que alimenta uma industria de turismo de alto risco. Com os touros na rua, chegou a hora de espreitar os vídeos. Prepare-se para dois minutos e 26 segundos de loucura absoluta.

E haverá por essa imprensa fora notícia mais louca do que a do barco russo Dimitrii Donskoi, desaparecido há 113 anos e alegadamente com uma milionária carga de ouro a bordo, e agora descoberto na Coreia do Sul?

Provavelmente só a história de um OVNI em Monsanto. Intrigado? Então clique aqui e parta à descoberta de um trabalho multimédia do Expresso sobre o restaurante panorâmico que fez sonhar Lisboa. O que falhou?

Na cimeira da CPLP, que terminou em Cabo Verde, a pergunta é parecida: e se tivesse falhado?. Se tivesse falhado, a Guiné Equatorial - país onde ninguém fala português e menos gente ainda pode falar contra o regime - assumiria a presidência durante os próximos dois anos. Como não falhou, será Angola.

A história do maior não-falhanço do ano continua a escrever-se e a caminhar inexoravelmente para as mãos de Hollywood. Os rapazes tailandeses resgatados da grutaderam a primeira conferência de imprensa e o mundo, que não largou a televisão até os ver a salvo, virou-se de novo para o ecrã. Foi assim o relato dos dias em que a chuva os prendeu debaixo da terra.

Assinala-se hoje o Dia da Reserva Natural do Estuário do Tejo. Aproveite para descobrir um pouco da reserva e, quem sabe, inspire-se para as semanas de descanso que estão mesmo ao virar da folha do calendário. Se está mesmo a contar os dias para as férias, e até já tem voo marcado para a próxima semana – do género encontrei uma promoção óptima - pode dar jeito ler aqui sobre a greve na Ryanair.

Na mesma semana em que se soube que a CP vai acabar com o Alfa da manhã, entre Lisboa e Porto, os deputados do PS eleitos por Leiria decidiram viajar na Linha do Oeste. O serviço de agenda da Agência Lusa diz que partem às 13h10 das Caldas da Rainha e que chegam a Entrecampos às 15h26. Às 15h30, e passo a citar a agenda, “caso o comboio chegue a horas”, entregam no Ministério do Planeamento propostas para a modernização da via. O Governo antecipou-se e, qual TGV, anunciou ontem um concurso para obras para “os próximos meses”.

São duas horas e 16 minutos para fazer, de comboio, os 75 quilómetros entre as Caldas e Lisboa.

Parece muito? Imagine que de bicicleta leva 10 dias a fazer Paris-Lisboa. Como é que sei? Um grupo de ciclistas, quase todos portugueses, parte hoje de Villejust - ou melhor, já partiu, há coisa de duas horas - para uma viagem de homenagem aos emigrantes. Chegam cá a 29, domingo.

Em França ficam os profissionais. O Tour está sensivelmente a meio e a etapa de hoje é de montanha. O El Mundo tem uma página muito engraçada para seguir a prova, cheia de bonecos, gráficos e cores.

É bem provável que a sede do Google esteja um bocado assim, a rebentar com gráficos, bonecos e cores - mas em tom de emergência. Provavelmente mais pela multa que a Comissão Europeia anunciou ontem (4,34 mil milhões de euros, como pode ler aqui) , do que pelo processo que o Benfica interpôs na Califórnia (o clube queixa-se de ter sido atacado por um hacker e considera que a empresa, como outras também processadas, é co-autora do crime).

Falar do Benfica sem falar do Sporting é como falar do Google sem falar do Facebook. E falar do Facebook sem falar de Bruno de Carvalho é como falar do Sporting sem falar das eleições. Isto complica-se quando se fala das eleições no Sporting e não se pode falar de Bruno de Carvalho (Jaime Marta Soares não aceitou a candidatura do presidente deposto), ainda que Bruno de Carvalho tenha dito que sim, que vai mesmo a votos nas eleições do Sporting a 8 de setembro.

Já se ouvem os acordes finais. Lembra-se desta? Os Kussondulola foram preciosos para dar o título a este Expresso Curto, mas não vão estar no Super Bock Super Rock. Se quer conhecer tudo, e mais alguma coisa, sobre o festival que hoje começa, nada como ler quem sabe do que escreve. Um guia com o selo de qualidade Blitz.

A propósito de festivais, e é mesmo a última, o Correio da Manhã diz em manchete que o “Estado avalia pureza da droga em festival”. Isso mesmo: quem for ao Boom, em Idanha-a-Nova pode testar as substâncias estupefacientes que levar…

O QUE ANDO A LER

A ser verdade que não se deve julgar um livro só pela capa, há uma série de regras a seguir quando chega um exemplar novo.

Desde logo, é um erro ficar apenas pelo título: “O Budismo tem razão - A ciência e a filosofia da meditação e da iluminação”.

É importante ler também as letrinhas pequeninas. No caso concreto, aquelas em que António Damásio, o neurocientista português, surge, na capa, a garantir que não só concorda com o autor, como o aplaude.

E quem é o autor? Robert Wright. Quem? Exatamente. Também não sabia, mas parece que trabalhou numa série de jornais americanos e ingleses, é professor universitário e alguns dos seus livros anteriores foram finalistas em prémios importantes.

Depois é preciso ter sorte e, ao abrir uma página ao acaso, a 181, e encontrar uma coisa assim:

“Certo dia, um homem de 59 anos perguntou à mulher onde estava a sua mulher. Fred não estava brincar (…) Fred sofria de delírio de Capgras, que consiste em estar convencido de que alguém (normalmente um parente; por vezes um amigo intimo) e um impostor - e um impostor muito bom, uma réplica exata, pelo menos no exterior. Mas não no interior. Aquela pessoa pode parecer-se na perfeição com, por exemplo, a sua mãe, mas falta-lhe aquilo a que poderíamos chamar ‘a essência da sua mãe’”.

Ainda não cheguei a este capítulo. Não devo demorar muito. Um livro que me garante que a mente humana foi concebida para, com frequência, nos enganar sobre nós próprios e sobre o mundo é bem capaz de ser a melhor coisa que me aconteceu este verão. Isto se estiver a pensar bem, mas pode ser um tiro no escuro.

Neste dia, há 204 anos, nascia em Hartford, no Connecticut, um menino chamado Samuel Colt que cresceu e inventou uma coisa chamada revólver. Pim. Pam. Pum.

Esqueça-o e tenha uma quinta-feira pacífica. É tudo uma ilusão.

O mundo está no Expresso online e em versão atualizada no Expresso Diário, às seis da tarde.

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