A saúde em Portugal está de rastos. Governos e corporações dos médicos e dos enfermeiros não se têm entendido. As corporações daqueles profissionais têm sido pacientes na espera da resolução dos problemas que afetam o setor nos hospitais e centros de saúde mas não há dúvidas de que por vezes complicam em vez de simplificar. Além de deixarem passar um dos principais atores da péssima situação (PSD/CDS) a que se chegou e só agora então tomarem posições de maior força que afetam ainda mais os que recorrem àquelas unidades de saúde pública. Com tudo isto quem tem ganho são os privados. Esses vão de vento em popa na navegação dos lucros exorbitantes. A agravar a situação é notório que existem agentes do privado a canalizar interesses que vão minando o público.
Certo é que o ministro da saúde e seus auxiliares não têm sido corretamente atuantes na assertividade imprescindível para com as corporações médicas e de enfermagem. Beneficiando o mau clima relacional. Mais certo ainda foi o prémio oferecido ao ex-ministro da saúde por tanto e tão bem ter contribuído para o desmonte do SNS e a razia provocada nos hospitais e centros de saúde, Paulo Macedo, batizado de Doutor Morte, no anterior governo de Cavaco/Passos/Portas/Toika. A opção do PM António Costa configura o quadro da entrega do ouro ao bandido quando nomeou Paulo Macedo para Presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Anotamos a parcial descrição do percurso do homem contra a "coisa pública" em beneficio da "coisa privada", via Wikipédia: "Paulo José Ribeiro Moita de Macedo,
é um gestor e
político português, antigo Diretor-Geral dos Impostos (2004-2007),
ex-administrador da Mádis e antigo Ministro da Saúde do XIX
Governo Constitucional de Portugal (Passos Coelho/Paulo Portas). Atual
Presidente da Caixa Geral de Depósitos."
Principalmente desde o governo de Durão Barroso que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem vindo a ser desmontado, em benefício dos interesses dos privados do mesmo ramo. José Sócrates não fez melhor e Passos/Portas tudo fizeram para a desmontagem completa e respetiva morte. Os benefícios para os privados foram enormes. E continuam a ser. O que devia mover os governantes e outros agentes diretos a operar na saúde pública em sintonia, repondo o que anteriores agentes do privado destruíram e defendendo o SNS.
Ao governo compete admitir muitos mais profissionais - médicos e enfermeiros - no setor e proporcionar-lhes materialmente as condições adequadas e necessárias para exercerem a profissão. Só depois então seria admissível que as remunerações fossem revistas. Não é isso que está a acontecer. Os médicos e enfermeiros não podem continuar a laborar sem medicamentos e material, nem os doentes podem continuar a ser maltratados como acontece na maioria dos hospitais públicos - ou em todos.
Mais médicos, mais enfermeiros, mais material, melhores condições. É prioritário no interesse das populações e do país. Só depois deste esforço é que a revisão justa dos vencimentos dos profissionais deve ser ajustada. Não é isso que o governo de Costa está a fazer. Prefere o "meias-tintas" e a manipulação gratuita destinada aos portugueses. O esforço que tem sido feito até agora na saúde pública não chega e se há para distribuir milhões por bancos e banqueiros porque não acontece o mesmo com a saúde de todos nós? As explicações do governo não são de boa-fé. Mudem de cassete ou de CD. (MM | PG)
Chefias médicas demitem-se em
bloco no Hospital de São José
Os chefes de equipa de medicina
interna e de cirurgia apresentaram a sua demissão em carta tornada pública,
devido às «inaceitáveis condições de segurança» daquela unidade e aos riscos
para os doentes
Uma «situação de emergência» que
requer um «plano de catástrofe» – é assim que os chefes de equipa de medicina
interna e de cirurgia geral do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC)
classificam a situação nas urgências do Hospital de São José e as medidas
necessárias para lhe fazer face.
Dezasseis médicos apresentaram a demissão em carta
dirigida à administração do CHLC «por considerarem que as condições da urgência
do hospital de São José não têm níveis de segurança aceitáveis», como refere a Agência
Lusa, que teve acesso ao documento. Alguns extractos significativos da carta
foram conhecidos hoje através dos meios de comunicação.
A carta e alguns dos seus mais
significativos extractos
«Os chefes de equipa de medicina
interna e de cirurgia geral, responsáveis pelos cuidados médicos de urgência
prestados durante o seu período de serviço, consideram que as actuais condições
de assistência no Serviço de Urgência do Hospital de São José ultrapassaram, em
várias das suas vertentes, os limites mínimos de segurança aceitáveis para o
tratamento dos doentes críticos que diariamente a ele recorrem», refere a
carta, segundo a SIC Notícias, que destaca igualmente a afirmação de que a
assistência médica prestada na urgência polivalente no CHLC «tem vindo a
sofrer, ao longo dos últimos anos, uma degradação progressiva constatada por
todos os profissionais» que aí trabalham.
«A falta de pessoal não se
verifica apenas nas equipas de medicina interna e de cirurgia geral, mas também
noutras especialidades implicadas na assistência aos doentes que recorrem ao
serviço de urgência», escreve a SIC Notícias, citando de novo a carta,
segundo a qual o elemento mais diferenciado na equipa de urgência é,
frequentemente, «o interno dos últimos anos da respectiva especialidade»,
situação inaceitável num hospital de referência «que recebe todos os casos mais
complicados e os doentes mais críticos, muitas vezes enviados de outros
hospitais».
Os profissionais demissionários,
segundo a mesma fonte, referem que alertaram para a situação várias vezes e
que reclamavam «uma gestão racional de recursos financeiros e humanos centrada
no doente e com envolvimento dos responsáveis directos pelo seu tratamento».
«A política de recursos humanos,
ou a sua ausência, não procedendo à contratação de médicos mais jovens que
rejuvenesçam as equipas, cada vez mais envelhecidas», não compensa «as saídas
que, pelos mais diversos motivos, se têm verificado» e tem conduzido «a uma
delapidação progressiva dos médicos que as integram», referem ainda os médicos,
considerando «fundamental uma avaliação profunda das razões que levaram à
acentuada diminuição da procura de formação no atual CHLC, em oposição franca à
que anteriormente se verificava, bem como das razões que levaram ao abandono
precoce de muitos especialistas e mesmo à inexistência de candidatos nalguns
concursos que foram abrindo».
Situação vai repetir-se noutras
unidades hospitalares, afirma-se
O bastonário da Ordem dos
Médicos, ouvido pela LUSA, afirmou à agência que «a gravidade da situação
relatada» o levou a «programar uma visita ao hospital» já na próxima semana e
que «as demissões de chefias, como aconteceram no hospital de São José, vão
repetir-se noutras unidades».
O bastonário Miguel Guimarães
afirmou à agência ter notícia de que «noutros grandes hospitais do país as
coisas vão acontecer provavelmente até de forma mais grave», acusando o
ministro da Saúde de se encontrar num estado de «negação permanente da
realidade».
Entre outras situações, os
clínicos referem a existência de «internos (médicos em formação) a fazer
urgência sozinhos, sem apoio directo de médicos especialistas», o que «viola
completamente as regras dos internatos médicos», afirmou o bastonário, que,
durante a sua visita, quer apurar com as equipas demissionárias e a
administração hospitalar «que internos, de que especialidades».
Sobre a constituição das equipas
de urgência Miguel Guimarães referiu que apenas por «muitos médicos com mais de
55 anos» continuarem a aceitar fazer urgência (quando a partir daquela idade
estariam dispensados) os serviços se têm «mantido à tona de água».
Também em declarações à LUSA,
o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre
Valentim Lourenço lembrou ser o Hospital de São José uma «unidade final de
referência», recebendo doentes de outras unidades hospitalares espalhadas pelo
país – o que obviamente agrava o caso e lhe merece uma «preocupação muito grande».
Os problemas em São José são conhecidos pelo clínico, que os constatou já em
Maio, durante visita que efectuou ao hospital, tendo informado dos mesmos a
administração hospitalar. Mas «em Maio [a administração] desvalorizou o
problema», referiu Valentim Lourenço, confessando não saber «se a
desvalorização vai persistir» e desafiando a administração do CHLC a «assumir
se consegue ou não fazer o seu trabalho de gestão e resolver os problemas».
Ministro da Saúde apanhado de
surpresa com demissões no São José
Segundo o Expresso, «o ministro da Saúde foi apanhado de surpresa
pela notícia das demissões», tendo remetido «todas as explicações para a
presidente do Conselho de Administração do CHLC, Ana Escoval», a qual fez saber
estarem a ser feitos «esforços para tentar encontrar uma solução para os
problemas apresentados» pelos chefes de equipa demissionários. Refira-se que o
CHLC agrega unidades hospitalares como o São José, o Curry Cabral ou a
Maternidade Alfredo da Costa, tendo ainda esta semana sido noticiado que, nesta
última, desde Abril se encontram encerradas três salas de parto por falta de
profissionais de saúde – sobretudo médicos e enfermeiros.
Governo e Ministério da Saúde
debaixo de fogo
A situação de degradação do
serviço hospitalar do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a incapacidade do
Ministério da Saúde em reconhecer os conhecidos problemas que lhe estão na
origem (nomeadamente a flagrante falta de profissionais de saúde, nomeadamente
médicos e enfermeiros) e em tomar as medidas de contratação de pessoal que se
exigem para garantir as condições mínimas de funcionamento para os hospitais do
SNS, têm fragilizado o ministro da Saúde e o governo.
Ainda recentemente, na comissão
parlamentar de Saúde, o ministro Adalberto Campos Fernandes foi alvo de
críticas insistentes das várias bancadas parlamentares (à excepção do PS),
tendo por fim admitido que não estaria em condições de admitir durante o
corrente ano os profissionais estimados necessários ao SNS, devido a
constrangimentos orçamentais.
Esta situação tem sido denunciada
pelas bancadas do PCP, BE e Verdes, que têm exigido a injecção de recursos para
salvar o SNS da sua prolongada depauperação e criticam simultaneamente o
governo e os partidos da direita, PSD e CDS-PP, por criticarem o governo pela
prática de uma política que eles mesmo praticaram nas legislaturas em que foram
maioria.
As organizações representativas
de médicos e enfermeiros, sejam as ordens ou os sindicatos, têm sido unânimes
na denúncia da grave situação que se vive de há anos no SNS, a qual antecede em
muito a questão pontual do novo horário dos enfermeiros, como PSD e CDS-PP têm
vindo a insinuar a fim de escamotearem as suas graves responsabilidades na
degradação do SNS, enquanto governos.
A carta dos chefes das equipas
médicas de Medicina Interna e Cirurgia Geral do CHLC, apontando «uma degradação
progressiva», «ao longo dos últimos anos», dos serviços de assistência médica
numa área tão crítica como a do Serviço de Urgência hospitalar, dá voz, mais
uma vez, aos profissionais de saúde e seu elevado sentido de responsabilidade,
pondo o dedo na ferida sobre as verdadeiras razões que, de há largos anos para
cá, têm vindo a conduzir o SNS à beira da ruptura, nomeadamente a política de
recursos humanos (ou a falta dele, como aponta a carta).
AbrilAbril
Nas fotos: 1 - Sala de operações no
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, em 2 de junho de 2018 | Paulo
Novais/ Lusa | 2 – Paulo Macedo, Google, montagem de PG nos tempos do governo
Passos/Portas.
Sem comentários:
Enviar um comentário