Presidente angolano prometeu
empenhar-se pessoalmente no processo de exumação do corpo do antigo líder da
UNITA Jonas Savimbi, abatido durante a guerra civil em 2002. Restos mortais
estão em Lucusse, à guarda do Estado.
A garantia foi dada por João
Lourenço ao presidente da União Nacional da Independência Total de Angola
(UNITA), Isaías
Samakuva, durante um encontro realizado esta terça-feira (14.08), no
Palácio Presidencial, o segundo desde que o chefe de Estado angolano chegou ao
poder, em setembro de 2017.
Isaías Samakuva não entrou em
detalhes sobre a real data que será concluído o processo, mas diz ter recebido
garantias do Presidente da República João Lourenço de que será ainda este ano.
“O senhor Presidente
comunicou-nos alguns passos novos, que constam até de uma decisão tomada
esta terça-feira (14.08) que ele fez constar no despacho interno e deu, de
facto, um limite temporal dentro do qual gostaria de ver este assunto
resolvido. Não vou mencionar aqui datas concretas, mas, pelo que nos disse,
este ano este assunto ficaria resolvido", explicou Samakuva.
A 6 deste mês, Samakuva lamentou
que o Estado angolano continue a reter os restos
mortais de Jonas Savimbi, morto em 2002, facto que o líder da UNITA disse
constituir "um testemunho gritante da política de exclusão entre
irmãos", acrescentando que a atitude de Luanda "simboliza a
necessidade imperativa da genuína reconciliação nacional" e está a impedir
a realização de um "funeral condigno".
O líder
histórico da UNITA nasceu a 3 de agosto de 1934, no Munhango, a comuna
fronteiriça entre as províncias do Bié e Moxico e viria a ser morto em combate
após uma perseguição das Forças Armadas Angolanas (FAA) a 22 de fevereiro de
2002, próximo de Lucusse, na província do Moxico, onde os seus restos mortais
permanecem sepultados, à guarda do Estado angolano.
Os familiares de Jonas Savimbi,
morto em combate, a 22 de Fevereiro de 2002, aguardam há mais de 15 a conclusão deste processo.
Rafael Massanga Savimbi, um dos filhos do malogrado, contactado pela DW,
limitou-se em afirmar que o “momento não é ainda de balanço, mas de ação”.
Exumação dos restos mortais
Na segunda-feira (13.08), o
Ministério do Interior angolano respondeu ao repto feito por Samakuva a 6 deste
mês, lembrando que o processo foi iniciado pelo líder da UNITA a 11 de dezembro
de 2014, precisamente numa carta endereçada ao então Presidente angolano, José
Eduardo dos Santos. Na carta, Samakuva informava que iria iniciar um processo
de exumação e inumação dos restos mortais de Savimbi, solicitando também a
indicação de um interlocutor do Governo para abordar o assunto.
O então chefe de Estado, lê-se no
documento, indicou o Ministério do Interior para representar o Governo e, por
sua vez, a direção da UNITA avançou com o nome do na altura vice-presidente do
partido, Ernesto Mulato, na qualidade de coordenador da comissão das exéquias
do líder fundador.
Em maio de 2015, segundo o
comunicado, o ministro do Interior reuniu-se com Ernesto Mulato, acompanhado
por vários membros da comissão, entre eles um
dos filhos do antigo líder, Rafael
Savimbi.
"No encontro, a delegação da
UNITA apresentou um caderno de encargos sobre as exéquias do Dr. Jonas Savimbi,
que previa atividades até ao primeiro trimestre de 2016. [Já houve) outros
encontros, quer com o presidente Samakuva, com o [atual] vice-presidente Raul
Danda, com o presidente da bancada parlamentar, Adalberto Costa Júnior, entre
outros, para a abordagem de questões pontuais", refere-se no comunicado.
No documento, o Ministério do
Interior manifesta disponibilidade para continuar a tratar do assunto, nos
termos da orientação política do executivo e dos resultados do encontro mantido
com a direção da UNITA e para tal enviou segunda-feira uma carta a Samakuva.
O Ministério do Interior adiantou
que a direção da maior partido da oposição angolana ainda não enviou os
documentos referentes ao processo, que não aborda o assunto no mecanismo da
comissão criada e que, "provavelmente, o então vice-presidente da UNITA,
Ernesto Mulato, não passou o processo ao atual vice-presidente, Raul
Danda".
O porta-voz e deputado da UNITA,
Alcides Sakala, sem, para já, avançar mais comentários, confirmou que a
comissão do partido continua a ser coordenada por Ernesto Mulato e que
doravante o partido irá avançar com novas iniciativas.
Reconciliação Nacional
Para além do tema da exumação, o
encontro entre o Presidente da República e Isaías Samakuva também abordou outro
assuntos como a reconciliação nacional.
“Achamos que deveríamos
aproveitar a oportunidade para tratar de várias questões relacionadas com o
processo de reconciliação nacional”, disse Samakuva à DW África.
Uma das questões por se resolver
é a integração dos ex -militares das FALA, então braço armado da UNITA. Em
recente entrevista à imprensa local, Marcial Dachala membro da Comissão
Política do Partido, referiu que cerca de 78 mil antigos combatentes
desmobilizados ainda não foram reintegrados até ao momento.
O jornalista Ilídio Manuel diz
que a posição tomada pelo Presidente João Lourenço abre um caminho para o
processo de reconciliação nacional em curso no país e que João Lourenço fez
aquilo que José Eduardo dos Santos vinha a adiar.
"Desde há muito que a UNITA
foi reivindicando o corpo do seu líder não sei quais são os receios que tiveram
em entregar o corpo tendo em conta que na tradição africana o corpo só acaba
com o enterro da pessoa", afirmou o jornalista.
Agência Lusa | em Deutsche Welle
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