O nível do sentimento de
insegurança entre os angolanos, em Luanda, é de 80%, sobretudo à noite, mesmo
sem que, nos últimos seis meses, tivessem sofrido algum crime, revela um estudo
realizado este mês e conhecido hoje.
A investigação, lançada esta
semana em Luanda, é de autoria do Instituto Superior Politécnico Sol Nascente e
da Universidade Jean Piaget da província de Benguela, com a colaboração de
alguns consultores, que inquiriu 2.600 pessoas para medir até que ponto os habitantes
da capital de Angola se sentem ou não seguros.
Em declarações hoje à agência
Lusa, o investigador David Boio, do Instituto Superior Politécnico Sol
Nascente, disse que o que o motivou a realização do estudo foi a missão das
universidades de produzir conhecimento e a atual questão da segurança, muito debatida
e abordada pela comunicação social.
"Face à relevância do tema,
procuramos investigar", disse David Boio, salientando que o resultado da
investigação dá conta que a generalidade das pessoas "sentem-se bastante
inseguras, essencialmente no período noturno".
Segundo o investigador angolano,
para a escolha de Luanda concorreu a sua importância no contexto do país -
Luanda tem um terço da população angolana, cerca de oito milhões de pessoas -,
facto que pode facilitar a compreensão de outras realidades, a partir de uma
outra mais complexa, a de Luanda.
David Boio referiu que foram
inqueridas pessoas dos municípios de maior população, nomeadamente Luanda,
Viana, Cazenga e Cacuaco, "onde o nível do sentimento de insegurança foi
maior", Maianga e Belas.
Para se garantir alguma
representatividade, foram inqueridos os cidadãos de bairros mais complicados e
de zonas mais calmas da baixa de Luanda.
Como constrangimentos na
elaboração do estudo, o investigador apontou sobretudo questões de natureza
técnica, tendo em conta que foi utilizado um "tablet", através de um
"software" "on-line" e algumas áreas da província possuem
ainda uma baixa cobertura de rede de internet.
Neste momento está a ser
concluído o relatório final do estudo, que pretendem disponibilizar à Polícia
Nacional, ao Ministério do Interior e a outras instituições, entidades com as
quais pretendem ver a possibilidade de, em conjunto, conceberem um observatório
de segurança, com o fito de permitir que levantamentos desse tipo sejam feitos
com maior regularidade.
"Como no país não há prática
desse tipo de estudos, não há noção da variação. Por exemplo, o estudo indicou
que mais de 80% das pessoas sentem-se inseguras, essencialmente à noite,
portanto, o nível de insegurança é bastante alto. Não sabemos como é que foi o
ano passado ou há dois anos, ou três. Não há termos comparativos",
adiantou.
"A ideia é, em colaboração
com o Ministério do Interior, concebermos esse observatório de segurança. [Um
estudo idêntico] pelo menos semestralmente, ia permitir sabermelhor qual é
a tendência", indicou.
Esta sistematização de
informação, segundo David Boio, iria permitir que as entidades com poder de
decisão, prevenção e análise das causas do fenómeno possam tomar decisões
"com base nos dados recolhidos cientificamente".
De acordo com David Boio, às
pessoas inquiridas se, nos últimos seis meses, foram alvo de crime, 2
"sim" foi de apenas 23%, taxa que levaria à perceção de que o
sentimento de insegurança fosse proporcional à vitimização.
"Acontece, porém, que não. O
que se passa é que há insegurança. O facto que faz as pessoas sentirem-se
inseguras ultrapassa a experiência pessoal de ter vivido uma situação de
crime", disse, apontando que, para isso, "há uma série de fatores que
se levanta", como maior divulgação do assunto pela imprensa ou maior fluxo
de informação, entre outros.
"Durante muito tempo, o país
durante esteve focado na questão da guerra e todos os outros problemas eram
relativizados. Quando isso, felizmente para o país, ficou resolvido, outros
temas de natureza social começaram a ganhar relevância na comunicação
social", referiu.
Benguela e Huambo podem ser as
próximas províncias escolhidas para a nova investigação, acrescentou.
NME // PVJ | Lusa
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