segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Macau | Recusa de proposta de alteração da lei de protesto não tem base legal, afirma Sulu Sou


Sulu Sou entregou uma carta a Ho Iat Seng contestando a decisão do presidente da Assembleia Legislativa de rejeitar a proposta de alteração da proposta de lei do direito de reunião e manifestação. O deputado afirma que a legislação não sustenta a decisão.

Sulu Sou enviou uma carta de protesto ao presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng, por este ter rejeitado a sua proposta de alteração à legislação relativa ao direito de reunião e manifestação – actualmente a ser revista. O caso remonta a 31 de Julho, dia em que o diploma foi discutido e votado no plenário. De acordo com Sulu Sou, a decisão de Ho Iat Seng “não está em conformidade com a lei”.

“A minha proposta foi que o aviso para uma assembleia ou protesto dos cidadãos fosse entregue ao Chefe do Executivo e não à polícia, uma vez que se trata de garantir o exercício de um direito fundamental”, lembra Sulu Sou em comunicado. “O Presidente da AL rejeitou a minha proposta de alteração, argumentando que eu precisava de autorização do Chefe do Executivo para apresentar uma proposta de alteração à proposta, porque esta era uma questão de ‘política do Governo’”, aponta o deputado.

No documento de reclamação, o vice-presidente da Associação Novo Macau argumenta que “a matéria de direito de reunião e de manifestação não está abrangida pelo conceito de ‘política do Governo’, não estando qualquer iniciativa dos deputados nesta matéria sujeita a consentimento do Chefe do Executivo, muito menos para efeitos de uma mera proposta de alteração da proposta do Governo”.

Na sessão plenária que aconteceu no final de Julho, Ho Iat Seng submeteu o pedido de Sulu Sou à votação do hemiciclo – que acabou por ser chumbado. O presidente da AL acusou o deputado de “desrespeitar o trabalho da comissão que analisou o diploma”. “Respeito que você tem este direito, mas não podemos votar porque nem sabemos qual o conteúdo deste pedido. Isto é uma lição para respeitar os trabalhos dos membros deste hemiciclo. Aquando da suspensão do seu mandato também lhe demos o seu vencimento mensal”, disse, na altura, Ho Iat Seng. Face às declarações do presidente da AL, Sulu Sou reage agora afirmando que “o debate transformou-se em críticas pessoais”, ao invés de ser uma discussão sobre a substância da sua proposta.

Dez anos depois

Sulu Sou sustenta-se ainda na história legislativa da RAEM. Foi em 2008 que o mesmo diploma – lei de direito de reunião e manifestação – foi alterada “por projecto de Lei, ou seja, da iniciativa originária dos deputados”. Incluíam-se, por exemplo, os ainda deputados Kou Hoi In (actual 1º secretário de mesa), Chui Sai Cheong (actual vice-presidente da Mesa), Chan Meng Kam e Chan Chak Mo. Na altura, foram também acrescentadas alterações pelas comissões da AL. O deputado escreve ainda que “os projectos de lei são objecto de restrição constitucional se se tratar de matéria de política governativa” e que “as propostas de alteração não são objecto de restrição alguma”.

“Porque seria diferente hoje?”

“Temos de ser coerentes na aplicação da lei. Mais, deve ser indiscutível que a AL tem autoridade legislativa em questões relativas aos direitos fundamentais”, considera Sulu Sou na nota de imprensa. No mesmo documento enviado às redacções, o deputado refere também que a Lei Básica prevê que a AL tenha competência exclusiva para aprovar leis e que “o poder de rejeitar as leis do Governo abrange o poder de alterá-las, salvo em circunstâncias excepcionais. A Lei 2/93/M [de direito a reunião e manifestação] não é uma excepção, como evidenciado pela emenda de 2008”.

Sulu Sou defende ainda que a autoridade da AL deve ser respeitada e reforçada como órgão legislativo “feito de deputados democraticamente eleitos ou outros, de modo a que possa ser representativo da vontade do povo e expressar tal vontade através de legislação”. O deputado pró-democrata diz ter o direito de recorrer junto de Ho Iat Seng e que, se o resultado não lhe for satisfatório, poderá ainda recorrer à Mesa da AL e, depois, ao plenário.

Joana Figueira | Ponto Final | Foto in Macau Daily Times

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