A propósito do caso de Tancos (e
não só), não é só o poder político mas também a estrutura superior do Exército
que não ficam bem na fotografia.
AbrilAbril | editorial
As audições de ontem na
Assembleia da República sobre o caso de Tancos, em particular a do general
chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), revelam bem a trapalhada em que se
envolveram responsáveis políticos e militares quando, deliberadamente, se
expuseram mediaticamente para mostrar serviço, em vez de assumirem
responsabilidades, serem determinados na resistência a pressões diversas e na
defesa das instituições e do Estado.
Cada vez mais se percebe a
inconveniência da conferência de imprensa do CEME, anunciando aquilo que,
segundo explicou ontem, afinal não queria anunciar porque o Exército não tomou
posse formal do material roubado. Só não se entende porque sabe então o
Exército que apareceu «uma caixa» a mais…
Outra questão que se levanta tem
a ver com a própria capacidade de gestão e de direcção do Exército ao longo dos
últimos anos. Quando o CEME afirmou ontem que já se sabia que Tancos não reunia
condições, há questões que merecem resposta: o Exército só deu conta disso
depois do desaparecimento do material? Se estavam previstos investimentos no
reforço da segurança de Tancos até ao desaparecimento do material, isso
significa que se não tivesse acontecido o que aconteceu o erário público iria
suportar gastos nuns paióis que, afinal, não reuniam as condições necessárias?
E não há responsáveis?
O CDS-PP, por exemplo, vem agora
pedir a demissão do CEME esquecendo que também tem grandes responsabilidades, a
par do seu anterior parceiro de governação, na actual situação.
A Defesa e, em particular, a
instituição militar andam demasiado na «boca do mundo» mediático. Lembramos: a
demissão abrupta do vice-almirante Rocha Carrilho, que interpôs uma providência
cautelar e posteriormente voltou a assumir reponsabilidades inerentes ao seu
posto; a polémica pública que envolveu a atabalhoada nomeação para funções no
Estado-Maior General das Forças Armadas, na perspectiva de uma promoção a
tenente-general que não chegou a acontecer, do general recém-nomeado assessor
militar do primeiro-ministro; a polémica que hoje envolve promoções a
oficial-general na Marinha e que já chegou aos tribunais. Isto, sem falar na
oportunidade de algumas das condecorações impostas na passada segunda-feira
pelo Presidente da República e Comandante Supremo das Forças. Falamos da
condecoração de um general cuja presidência do Instituto de Acção Social das
Forças Armadas (IASFA) tem suscitado polémica ou da condecoração do
vice-CEME, no momento em que o CEME está debaixo de fogo, nomeadamente devido
ao caso de Tancos.
Por fim, voltando às audições de
ontem, dá que pensar no emaranhado daquilo que é o Sistema de Segurança
Interna, e não só, quando a sua secretária-geral ou o então secretário-geral do
Sistema de Informações da República souberam do desaparecimento das armas em
Tancos pela comunicação social. Palavras para quê!
Foto: Armando Babani / EPA
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